18 julho, 2010

Capítulo 1: 1893 a 1910 - Raízes nos socalcos do Douro (continuação - parte III)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 1: 1893 a 1910 - Raízes nos socalcos do Douro (Continuação – Parte III)

Futebol não, é perigoso…!

Em Agosto de 1896, António Nicolau d’Almeida, insigne fundador do Football Club do Porto, casou com Ilda Rumsey, irmã de Arthur e Lacy Rumsey, companheiros de Nicolau nas lides velocipédicas e futebolísticas. Ilda, que não era grande adepta da modalidade, depressa aproveitou o ensejo para pedir ao marido que renunciasse à prática do futebol por perigoso e socialmente malvisto. E, por via disso, ele passou a dedicar-se à mais segura e elegante modalidade do ténis, mas no coração ficou-lhe a amargura de ter de deixar desactivado o seu FC Porto. Que, assim, hibernou.

Ano de 1906, novo impulso por José Monteiro da Costa
2 de Agosto de 1906 – O “Grupo do Destino” e o destino do grupo...

Entre 1894 e 1906, o Football Club do Porto não passou de um nome, do sonho de um homem que teve de abandonar o projecto de criação do clube. António Nicolau d’Almeida lançou as sementes, mas a ideia germinou com José Monteiro da Costa, homem de méritos reconhecidos e valor extraordinário.

Tal como, anos antes, havia acontecido com o seu amigo Nicolau, Monteiro da Costa andou por Inglaterra e apaixonou-se pelo jogo da bola, lá chamado de “foot ball”. No Porto, o jogo era quase exclusivamente praticado por ingleses do Oporto Cricket Club e do Boavista Foot-Ballers Club. Mas, entusiasmado, José Monteiro da Costa falou da sua nova paixão aos amigos e jovens liberais do auto-intitulado "Grupo do Destino". Convenceu-os a avançar para a refundação do FC Porto e, em 2 de Agosto de 1906, extinguiu-se o grupo e o destino foi traçado: o Futebol Clube do Porto!

    "Algumas lágrimas se verteram de comoção e de belas recordações. Mas o novel clube, o Foot Ball Club do Porto, com outra missão a desenvolver pelos tempos fora, deu a todos o abraço de boas-vindas”.
    Tripeiros, nacionais e com as cores da "bandeira da Pátria"
José Monteiro da Costa, têmpera de “Dragão”, visionário, imaginoso, arrojado, batalhador, organizador nato, rapidamente traçou detalhado plano para o relançamento do “Football Club do Porto”.

Apesar de republicano convicto, decidiu manter, como cores do clube, o azul e branco da bandeira monárquica, as cores do FC Porto de Nicolau d’Almeida. Houve defensores de outras cores e quem alvitrasse as da cidade ou até vermelhidões… Prevaleceu a vontade de Monteiro da Costa e a sua tese:
  • “As cores devem ser as da bandeira da Pátria, porque temos esperança de que o nosso clube há-de de ser grande, não se limitando a defender o bom-nome da cidade, mas também o de Portugal em pugnas desportivas contra estrangeiros".


  • E mais disse: "O nosso clube deve chamar-se Football Club do Porto, por os seus fundadores serem na sua quase totalidade tripeiros natos, a sua sede na cidade do Porto e o principal desporto a que se vai dedicar — o futebol." Mas avisou, peremptório, que o seu projecto contemplava a prática de outros desportos.
Aprovado, com aclamação, todo o minucioso e grandioso projecto, nomeou-se uma comissão administrativa presidida por José Monteiro da Costa e secretariada por António Martins para lhe dar imediata execução.

Um rol de abnegados (re)fundadores e dignos associados

Naturalmente que os primeiros associados do Football Club do Porto emanaram do “Grupo do Destino”. Depois do périplo por britânicas terras, José Monteiro da Costa seduzido pelo “foot ball” e animado pelo fulgor de Nicolau d’Almeida, assumiu, com os amigos, o relançamento do Clube. Tão bem acolitado estava, que razões tinha para à agremiação augurar pujança no devir. Muitos nomes de intrépidos refundadores e de novos associados fizeram jus ao atributo “a vencer desde 1893”. Gente de muitos ofícios, participação transversal de classes sociais, Homens que, com orgulho e sangue de génio, se esmeraram no seu propósito e nunca deixaram que a descrença lhes abatesse o ânimo. Para qualquer portista que se preze é gratificante nomeá-los, faze-lo com empenho e um profundo sentimento de gratidão. Eis alguns deles:

    José Monteiro da Costa, Albino Costa (empregado comercial), Álvaro Osório da Silva Cardoso (empresário), Amadeu Maia (jornalista), António Augusto Batista Júnior (comerciante), António Calem, António Campos, António Elisabeth de Mesquita, António Martins, António Monteiro da Costa, António Moreira da Silva (comerciante), António Pinheiro, António Sá, Antunes Lemos, Camilo Figueiredo, Camilo Vouga Moniz de Matos, Cândido Pinto da Mota (despachante), Carlos Vouga Pinheiro, Eduardo Dumont Villares, Elísio Bessa, Eugénio Machado da Costa, Gaspar José de Sousa, Henrique Yerro, Ivo Lemos, Jerónimo Monteiro da Costa, Joaquim António Mendes Correia (comerciante), Joaquim Pereira da Silva (comerciante), Joaquim Pinto Rodrigues de Freitas (empresário), José Bacelar, José Barbosa, José Magalhães Bastos, Lopes Faria (empregado comercial), Manoel Sacramento (armador), Manuel Luís da Silva (despachante), Mendes Correia, Nuno Salgueiro, Romualdo Fernando Torres, Silvério Pinto Monteiro.
As instalações do arranco – Campo da Rua da Rainha (o primeiro campo relvado do país) e a sede na Rua de Santa Teresa.

Empolgados com a veemência arrebatadora de José Monteiro da Costa, os (re)fundadores do Clube lançaram-se na persecução dos objectivos gizados pelo timoneiro.

  • Primeiro objectivo: construir um campo relvado! É que Monteiro da Costa tinha visto os campos de Inglaterra com relva e, portanto, não concebia que se pudesse jogar em campos pelados. Com a ajuda de seu pai, Jerónimo Monteiro da Costa, homem de iniciativa e Presidente da União dos Jardineiros do Porto, surgiu a relva e o campo de jogos na Rua da Rainha (actualmente Rua Antero de Quental) com instalações modelares para a época: primeiro campo relvado do país já com medidas regulamentares, vestiário, balneário, bufete, ginásio, bancos para o público, tribuna. Pelos terrenos em que se implantara, o clube pagava uma renda anual de 1200 réis.

    Notícias da época asseguram que foi nessas "magníficas instalações que”, em Dezembro de 1906, “os rapazes do Grupo do Destino efectuaram o primeiro jogo-demonstração contra o Boavista Footballers Club”, formado quase na totalidade por empregados da Fábrica Graham e do qual mais tarde nasceria o Boavista Futebol Clube.


  • Segundo objectivo: a Sede. A primeira sede do FC Porto localizava-se na Rua de Santa Teresa (1906). Em 1907 foi transferida para a Rua da Rainha, a dois passos do campo.


  • Terceiro objectivo: promover o ecletismo no Clube. Para além do futebol começaram a ser praticadas outras modalidades tais como atletismo, boxe, cricket, ginástica, halterofilismo, patinagem, pólo aquático e ténis.
Os Precursores – A primeira equipa oficial do FC Porto em 1906. Repare-se na variedade de equipamentos. No segundo plano, à direita, Catullo Gadda, o italiano que muito ajudou o grupo. No terceiro plano, atrás de Gadda, está José Monteiro da Costa.

A equipa – Na 1.ª fila (defesa): Mendes Correia, o guarda-redes António Pinheiro e Elisabeth de Mesquita; na 2.ª fila (linha média): António Martins, Boadda e Catullo Gadda; na 3.ª fila (os avançados): José Bastos, Araújo, Hardy, José Monteiro da Costa e Joaquim Freitas.


Catullo Gadda - Engenheiro químico italiano da Fábrica Mariarini (às Devezas), dispôs-se a jogar no FC Porto. Recebido de braços abertos, pois era alguém que conhecia o foot-ball que se praticava além-fronteiras, logo demonstrou que era dotado para a modalidade (bom posicionamento em campo e remate poderoso). Pelos ensinamentos aos colegas jogadores e por ter assumido a orientação da equipa, é considerado como o primeiro treinador do FC Porto. Catullo Gadda foi um insigne portista, ajudou o neófito Clube a dar os primeiros passos e muito contribuiu para a promoção do desporto-rei na Cidade Invicta.

  • no próximo post: o primeiro treinador “a sério”; a primeira Assembleia Geral; primeiro encontro internacional de futebol disputado em Portugal; primeiro jogo do FCP no estrangeiro; equipas estrangeiras de visita ao Porto.

12 comentários:

  1. Pedaços da nossa riquíssima história, uma história de sucesso, cimentada na arte, engenho dedicação e valentia dos nossos fundadadores e que as sucessivas gerações foram dando continuidade.

    Um abraço

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  2. Mais um bom naco da nossa história, um cibo (como se diz popularmente) bem saboroso, da memória do que nos estremece!

    Abraço
    http://www.longara.blogspot.com/

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  3. Azul Forte, é absolutamente delicioso ler a história do nosso mágico clube.

    Os meus parabéns. Continue.

    Abraço

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  4. Muitos parabéns! Está fantástico mais este pedaço da nossa história.

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  5. Belo post! É sempre comovente ler sobre os primórdios do nosso clube, pois, apesar de dizer que o FCP "há-de ser grande, não se limitando a defender o bom-nome da cidade, mas também o de Portugal em pugnas desportivas contra estrangeiros", duvido que José Monteiro da Costa imaginasse aquilo em que o seu humilde projecto se viria a transformar (nem a dimensão que o futebol como modalidade desportiva viria a atingir).

    Catullo Gadda foi o nosso primeiro verdadeiro "craque", que contava já no seu palmarés com um Scudetto conquistado com a camisola do Milan.

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  6. Só me saem obrigados e mais obrigados!
    Obrigado a todo estes grandes e nobres senhores que sonharam e construíram aquilo que hoje é a nossa grande paixão!
    Obrigado mesmo!

    “As cores devem ser as da bandeira da Pátria, porque temos esperança de que o nosso clube há-de de ser grande, não se limitando a defender o bom-nome da cidade, mas também o de Portugal em pugnas desportivas contra estrangeiros".

    Estas palavras de Monteiro da Costa deviam aparecer a cada esquina do Estádio do Dragão!
    Só que os "estrangeiros" não estão assim tão longe quanto isso...

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  7. Belo documento histórico que revela o entusiasmo e a ambição de um punhado de homens de rija tempera.

    A excepcional semente de um Clube que se impôs, pela classe, no Mundo do Desporto.

    Parabéns por mais esta evocação e um grande abraço

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  8. Quem tem esta paixão pelo nosso clube só nos pode trazer/fazer recordar estes momentos históricos do nosso clube com a categoria que já todos lhe reconhecem...

    abraço

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  9. Continuo a devorar todos os posts deste homem, o nosso AzulForte.

    Já vamos numa Triologia bem interessante e que são um autêntico serviço publico.

    Meu caro os meus parabéns mais uma vez está um fantástico trabalho.

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  10. Dragão Azul Forte, mais uma delicia, não vou perder nenhum capítulo da nossa magnifica história!

    Parabéns, 15 dias demora muito???....;))))


    BIBÓ PORTO

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  11. pedaços da nossa história d'encantar, contados na 1ª pessoa, pelo «nosso» Fernando "Hermano Saraiva" Moreira ;)

    a cada post que passa, o entusiasmo vai crescendo... para além de enriquecer o meu conhecimento, que aqui e acolá, inda tá um nada pó fracote ;)

    então, resta aguardar mais 15 dias...

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  12. Parabéns! Mais um belo "retalho" da história do nosso Grandissimo clube, F.C. Porto.
    Quem tem um enorme amor pelo clube só pode ter uma enorme vontade de recordar estes momentos históricos, com enorme dedicação.

    Continua :D

    BIBÓ PORTO!!

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