07 março, 2012

Capítulo 6: 1951 a 1960 - Contestação a Lisboa; a "dobradinha" (Parte II)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 6: 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte II)

Época 1951-1952

7 Out.1951 – À 4.ª jornada, FC Porto e Benfica não desarmavam. Os portuenses ganharam ao Salgueiros por 4-1 e seguiam à frente do Campeonato a par dos lisboetas.

14 Out. - Nas Salésias (Lisboa), equipa que empatou com o Belenenses (1-1), em jogo da 5.ª jornada do Campeonato. Evidenciaram-se Barrigana e Virgílio que, na foto, estão nos extremos da fila em segundo plano. Na fila em primeiro plano, ao meio, o polivalente Monteiro da Costa e, no extremo à direita, o veloz Carlos Vieira.

Na sexta jornada viveu-se emoção no Campo da Constituição, onde portistas e sportinguistas empataram a duas bolas. Aos 11 minutos de jogo o FC Porto já vencia por 2-0, com golos de José Maria. Goleada se cogitou. À beira do intervalo o Sporting reduziu. Mas, a 30 segundos do final, o empate em condições dramáticas: remates sucessivos, defesas de Barrigana, acabando a bola por bater em Virgílio, rematada por Jesus Correia, traindo o excelente guardião do FC Porto.

O empate entre FC Porto e Sporting permitiu ao Benfica dois pontos de vantagem na tabela classificativa.

4 Nov. – O FC Porto, quebrando agouro antigo, passou no Estoril, vencendo por 2-1.

18 Nov. – O Boavista venceu, no Bessa, o FC Porto por 1-0.

• Entretanto a colectividade azul-e-branca anunciou o seu “monumental sorteio pró-estádio”. O bilhete custava quinze tostões. O vencedor ganharia um automóvel Volvo avaliado em 78 contos.

• Em Novembro a Direcção do FC Porto resolveu firmar novo contrato com o Académico do Porto para utilização do Estádio do Lima, enquanto não se inaugurasse o Estádio das Antas. E predispôs-se a pagar, como aluguer, cinco por cento das receitas líquidas de todos os jogos.

2 Dez. – O FC Porto reconquistou o comando do Campeonato. Os nortenhos esmagaram (6-1) o Sporting da Covilhã com quatro golos em apenas 10 minutos (entre os 53 e os 63). O Benfica foi derrotado em Guimarães (1-2).

• Demolição do Palácio de Cristal

Dezembro de 1951 – A Câmara delibera arrasar o Palácio de Cristal. Até o órgão de tubos (um dos maiores do mundo) foi destruído a martelo. Homicídio de um património afectivo onde António Nicolau de Almeida e José Monteiro da Costa viveram dias e noites de venturas e êxtases.

9 Dez. – À 12.ª e penúltima jornada da 1.ª volta, visita à Tapadinha onde o FC Porto venceu o Atlético por 2-1. E, assim, manteve a liderança. Antes da partida se iniciar, através dos altifalantes do estádio foi anunciado que uma pastelaria de Alcântara ofereceria um bolo-rei ao marcador do primeiro golo. Coube ao portista Hernâni recebê-lo e, quiçá, reparti-lo entre os colegas…

Com três golos do velocíssimo Carlos Vieira (que não muito depois se haveria de sagrar campeão de Portugal de 100 metros!!!), o FC Porto bateu, no Estádio do Lima, o Benfica por 3-0, deixando o trio lisboeta (Benfica-Sporting-Belenenses) a três pontos quando se chegava ao final da 1.ª volta do Campeonato Nacional. Os homens da casa fizeram um jogo extraordinário e, rezam as crónicas, foram os benfiquistas José Bastos, guarda-redes, e Félix Antunes, defesa, que salvaram a sua equipa de uma goleada. No fim do jogo, grande alegria nas hostes portistas e Virgílio Mendes, emocionado, chorando agarrado ao massagista… O equipa do FC Porto estava em grande forma e eram fundadas as esperanças na conquista do título.

Eclipse… - Inesperadamente, no último dia de 1951, o argentino Vaschetto abandonou a cidade. De fuga se falou em sussurro. Moreira de Sousa, chefe da Secção de Futebol, condenava: "Vaschetto não pode ter-nos traído, não tinha motivos para isso, antes pelo contrário. Por outro lado, os seus fatos de Verão e até as próprias mobílias ficaram no Porto e continuam a ser propriedade sua." Pois… mas o que se sabe é que Vaschetto se "eclipsou".

Por essa altura o FC Porto ultrapassou a barreira dos 10.000 sócios (10.715 em 31-12-1951).

6 Jan.1952 (14.ª jornada) – O FC Porto venceu o Oriental por 6-2, aumentando a vantagem para quatro pontos sobre Sporting e Belenenses que empataram a um golo em no Lumiar.

13 Jan. – Dia azarado: os azuis-e-brancos baquearam na “cidade dos arcebispos” ante o SC Braga (0-2).

26 Jan. – O FC Porto parecia estar a resvalar para um momento menos bom. Mas o sonho do título mantinha-se de pé. Nesta jornada, perdendo no Barreiro por 0-2, permitiu que o Benfica se reempossasse do comando. Na frente, tudo muito equilibrado: Benfica, 27 pontos; FC Porto, 26; Belenenses, 25; Sporting, 25.

Entretanto chegou ao Porto o espanhol Pasarín que vinha substituir Vaschetto. Pasarín “chegou ao Porto de olhos fechados e demorou a abri-los”...

1 Fev. – Depois das derrotas em Braga e no Barreiro, o FC Porto empatou, 1-1, com o Belenenses, no Lima. Matateu foi o carrasco e talvez tenha começado a dissipar o sonho portista. Era forte ainda o abalo da fuga de Vaschetto para o México e a quebra abrupta de rendimento da equipa espantava, tendo em conta o alto nível em que se exibiu durante toda a primeira volta.

10 Fev. – Novo desaire para o FC Porto: 1-2 em Lisboa. Os “anjos negros” estiveram presentes… Evaristo Santos e seus pares, árbitros de Setúbal, que os portistas consideravam “personas non gratas”, invalidaram mal um golo dos azuis-e-brancos. Jesus Correia, com dois tentos, e uma indisposição de Barrigana, fizeram o resto. Durante a noite, cólicas fortíssimas limitaram Barrigana para o jogo: “Não sei bem o que sentia. Fui atacado por tonturas e por má disposição geral, a tal ponto que as minhas tenazes não aguentaram as brasas atiradas à baliza...” E acrescentou, desolado: “Esta derrota matou as nossas últimas esperanças”.

2 Mar. – Em partida disputada no Estádio Nacional, o Sporting venceu o Benfica por 3-2. No Porto renascia a esperança. O FC Porto, ao derrotar o Boavista por 4-0, voltava a sonhar. Num jogo de emoções à flor da pele, os adeptos portistas, não se esquecendo de que, na primeira volta, os boavisteiros tinham celebrado a vitória com fogo-de-artifício, levaram para as bancadas do Lima morteiros, que incendiaram sempre que os seus avançados marcaram nas redes de Carlos…

16 Mar. – FC Porto empatou em Coimbra com a Académica (1-1), mas pôde queixar-se de um erro crasso do árbitro de Lisboa, Luís Magalhães, que lhe recusou um daqueles golos com todo o aspecto de serem genuínos. O Sporting ganhou ao Oriental por 2-0 e, assim, assumiu a liderança do Campeonato, com 35 pontos, os mesmos que o Belenenses, o FC Porto e o Benfica. [16 Março – In “História de 50 Anos do Desporto Português”]

23 Mar. – O FC Porto empatou na Covilhã (0-0). O título estava mais longe.

6 Abr. – Os “leões” venceram o Barreirense, no Campo D. Manuel de Melo, por 2-1. De nada serviu ao Benfica a sua vitória (2-0), no Estádio Nacional, sobre o FC Porto. O Sporting, que em finais de Fevereiro estava a dois pontos do Belenenses e do FC Porto e a seis do Benfica, com um "forcing" fulgurante acabou por revalidar o título, somando 41 pontos, mais um que “águias” e mais cinco que “dragões” e “azuis do Restelo”.

Homem de muito trabalho e poucas falas, Eladio Vaschetto protagonizou um arranque fabuloso de campeonato, com os “dragões” a chegarem a meio da prova isolados no comando com 3 pontos de vantagem, numa equipa onde pontificavam Barrigana, Virgílio, Ângelo Carvalho, Joaquim, Vieira e Hernâni. Só que no último dia de Dezembro de 1951…

Depois veio o espanhol Pasarín que realizou um trabalho desastroso, perdendo não só a liderança do campeonato, como tendo também deixado cair a equipa no 3.º lugar, em igualdade com o Belenenses (4.º).

8 Mai.1952 – O FC Porto organizou o II Cortejo de Materiais, com vista à construção do seu estádio. 62 camionetas, 37 automóveis e 10 furgonetas tomaram parte no cortejo, que desfilou pelas principais ruas da cidade, pejadas de gente, animado pelas bandas do Asilo do Terço e dos Bombeiros de São Mamede. Para além das ofertas de cal, pedra, cimento, areia, madeira, saibro, tijolos e paralelepípedos, apareceram outras, de género diferente: carne, vinho e pão. Leiloados esses produtos, renderam quase 15 contos. E porque havia também a sugestão de se concorrer com 20 escudos para a compra de um tijolo, quando os dirigentes portistas fizeram as contas concluíram que tinham arrecadado, para além dos materiais, mais cerca de 100 mil escudos em dinheiro.
  • No próximo post.: Capítulo 6, 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte III) – Época 1951-52 (continuação); 28 Mai.1952, a inauguração do palco dos sonhos, o Estádio das Antas; a vida de um Estádio; o “tribunal”; Taça de Portugal; biografias de Carlos Vieira, Alfredo Pais e Pasarín; Hóquei em Campo, Campeão!

8 comentários:

  1. Com o aproximar dos nossos tempos e já com factos dos quais ouvimos falar e por vezes até chegando a ler publicações alusivas, cada vez isto traz mais interesse. Para continuar!
    Abraço.

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  2. É caso para dizer que o espanhol Pasarín acabou por se revelar mesmo um passarinho e lá se foi aquele início de época prometedor de 51/52...

    abraço

    ps-Ainda falta tanto para a 2ª metade da década de 70 qd o Porto de Pedroto finalmente revelou a sua imponência... :)

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  3. Mas antes disso ainda teremos o famoso Calabote de 1959...

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  4. E, Lucho, os importantes TÍTULOS de 1955-56 e 1958-59. Depois, sim, vieram aqueles 19 anos de (outro) jejum...
    Abraço.

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  5. Contestação a Lisboa? Mudam-se os tempos mantêm-se as vontades. Nunca precisamos tanto de estar atentos, reagir, contestar como agora.

    Abraço

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  6. Concordo, Vila Pouca. Mas andam muito calados... os nossos dirigentes.

    Abraço.

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  7. o tempo vai-se cada vez mais aproximando da minha "era", o que torna ainda mais fascinante esta (mais) bela história do FC Porto disponivel na internet, de modo totalmente gratuito, e com um cunho muito próprio.

    parabéns Amigo Fernando por todos estes "contos" cada vez mais fascinantes... que nos mostra a verdade mais crua e dura de onde viemos e nos fez acertar agulhas em direcção a um "presente" muito azul-e-branco e imensamente titulado.

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  8. Ia passando sem comentar… Na época relatada o início foi muito bom, o fim desastroso! Agora vem a inauguração das Antas, um momento muito importante na vida do nosso amado Clube.

    Beijinhos.
    BibÓ PORTO!

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