02 agosto, 2014

A VERDADEIRA IRRACIONALIDADE.

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Todos sabemos que o futebol tem a sua dose de irracionalidade, bastante maior do que a que gostamos de admitir. Afinal sonhar, sofrer, chorar ou festejar por um clube desportivo, gritar a plenos pulmões por um conjunto de jovens generosamente pagos vindos de varias partes do globo ou insultar ao nível de um genocida uns indivíduos que os enfrentam ou que arbitram uma partida fazem com que este jogo seja capaz de nos levar a estados de alma completamente nos antípodas do nosso comportamento do dia-a-dia.

Até aqui tudo normal, quem cresceu a amar isto sabe que as coisas são assim, não tem problemas com isso e não troca estas emoções por nada.

No entanto existe outra irracionalidade, a verdadeira irracionalidade, aquela que é estranha ao fenómeno e que me faz escrever este texto, na sequência de umas assobiadelas no jogo de apresentação do passado domingo.

Compreender uma multidão num estádio nem sempre é fácil e neste caso até pode ter sido importante para ajudar a colocar os pés no chão e a ajudar a “explicar” aos novos jogadores e treinador o que podem esperar do Dragão, talvez o estádio mais exigente do Mundo, mesmo que por vias travessas. No entanto acho que quem o fez não usou de qualquer tipo de profilaxia ou de espirito educativo, foram apenas imbecis (futebolisticamente falando) a queixar-se que “ano novo, vícios antigos”, como ouvi dizer ao meu lado.

Não entro contudo na ladainha de que isto é apenas uma mania moderna. Na verdade, e mesmo não indo muito longe, temos muitos exemplos na história de momentos em que a coerência ou a justiça não abundou. De memória, lembro-me de algumas ocasiões como assobiadelas monstras ao Ivic dos 4 títulos em 1988, aos sempre mal-amados Semedo ou Secretário, ao Rui Correia por causa dos pontapés de baliza que não chegavam à linha de meio campo ou mesmo ao FC Porto 2002/03 logo na primeira jornada (?!) por não conseguir vencer o Belenenses.

Estamos por isso já "vacinados" para exageros ou exageradas libertações de stress, mas não deixei de ficar com algum desconforto ao ver o que aconteceu domingo. Eu compreendo que para alguns é o único jogo ao vivo do ano e também compreendo as expectativas, pelo plantel que estamos a reunir em contraponto com o plantel que outros estão a destruir. Percebo perfeitamente que todos estejamos à espera de começar a época com firmes "golpes de autoridade", que mostrem que o ano passado foi um acidente. No entanto temos que colocar as coisas no seu sítio, colocar alguma racionalidade, sempre necessária mesmo no desporto.

Era um jogo de apresentação, de uma equipa nova, que ainda mal se conhece. Um daqueles jogos que nos velhos tempos levava 5000 pessoas ao cimento das Antas e cujos resultados eram por vezes uns insípidos 0-0 com um Braga qualquer. Eram "a feijões" e nunca vinha mal nenhum ao mundo por isso. Passados uns anos começou-se a produzir um produto diferente que no entanto consistia numa mera festa com a casa cheia, onde até o Vítor Baia jogava a avançado. Nos últimos anos voltou-se a jogar, normalmente contra umas equipas estrangeiras, com jogos promovidos em larga escala para esgotar o Dragão e chegamos ao ponto actual, com as bancadas a exigirem fato de gala num simples treino!

Este devia ser um momento de reflexão, pelo caricato da situação. O espírito desportivo, de apoio real e desinteressado à causa e a racionalidade inerente à compreensão de que este não deixa de ser um mero jogo de Homens não podem ser deixados de lado em troca de uma suposta "exigência" que não passa de um acto da mais pura e básica irracionalidade. Temos pela frente uma época importante, com desafios já a doer em poucos dias, mas não nos podemos esquecer que temos uma equipa nova, sem rotinas nem automatismos, sendo que as coisas não acontecem por obra e graça duma varinha mágica qualquer. Tempo e paciência precisam-se, não nos podemos esquecer que o caminho é longo e só acaba em Maio!

Bom fim-de semana!

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