http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/
Não tenho nem dormido, com o stress de empacotar tudo bem embaladinho e meter-me no avião mais próximo rumo ao paraíso de uma Liga de Futebol normalzinha, não conspurcada e desparasitada. Que existe porque livre de benfiquistas e seus agentes e bitches. Eu e o bom do Peseiro temo-nos desdobrado para que não falhe nada. Mais eu do que ele, o que não espanta porque ele é homem -- apenas capaz de realizar uma tarefa de cada vez-- e porque está em óbvia poupança de esforços (já para não falar de jogadores) talvez já a pensar na final do Jamor já daqui a pouquíssimas semanas. Os adeptos e sócios estão devidamente etiquetados e prontos a seguir viagem. Todos eles: novos e velhos, senhores e senhoras, meninos e meninas, a novel classe dos pipoqueiros, os Velhos do Restelo, os assobiadores-mor, os seguidistas, os carneiristas, os carreiristas, os bonitos e os feios e os bons e os maus. Todos eles. Portistas.
Não me esqueci do passado glorioso, da incerteza do presente e das poucas garantias do futuro que seguem em caixas de cartão, envoltas em papel de celofane azul imperial e rodeadas de pétalas de flores do campo com cheiro a Primavera e daquelas coisinhas fofas e redondas das quais não sei sequer o nome. O plantel está todo alinhado e aprumado nos seus melhores fatos de costureiro, óculos de sol de griffe nas ilustres cabeças, smartphones nas mãos e headphones nos ouvidinhos. Não tendo de se preocupar com nada. E nada mesmo. O Estádio do Dragão está a ser acomodado num bruto de um TIR suficientemente espaçoso que o transporte sem preciso ser desmantelar uma única peça, uma única cadeira. Os serviços do pessoal que por ele zela e que dele o faz o mais lindo do amplo universo foram desde já assegurados.
As Antas, a Constituição e o Campo da Rainha seguem na bagagem de cada um em milhares de frasquinhos de perfume e nos baús dos nossos sótãos de memórias. Sem cheiro a naftalina. Os passaportes e as burocracias estão perto de estarem concluídos e já se vão acumulando no móvel da entrada, bem ao lado do telemóvel que não pára de tocar com inscrições de última hora. Uma coisa é certa: só pode ir quem é dos nossos. Depois das mais persistentes reticências, “que tinha saudades da sua SAD, que tinha saudades da sua SAD!!”, o Presidente mostra finalmente alguma vontade de ir, mesmo que obviamente nostálgico nas saudades das velhas guerras de cinismo e hipocrisia, de alecrim e manjerona, através das quais se tornou o homem que foi e que talvez ainda hoje seja. Compreendemos o seu sentimento, mas moralizámo-lo dizendo-lhe que pode sempre regressar para passar umas férias. Complicado está a ser convencer a autarquia a deixar-nos levar o Dragão Caixa, a Rua dos Campeões Europeus, a Via Futebol Clube do Porto e todos os acessos e infra-estruturas que já compõem a nossa casa. A cidade do Porto também vai. No nosso coração. A transbordar. Para já, terá de ser suficiente.
Um lufa-lufa… deixar a SAD embaladinha, apetrechadinha e prontinha a ser usada pelo seu próximo clube. A dificuldade maior não residiu em formatar-lhes os cérebros em termos de afecto e de sentimentos para com o clube que agora parte, mas mais pelo tentar-lhes explicar que a pândega e as comissões actualmente existentes iriam continuar. Um dia, nesse dia. Dei-lhes todas as garantias de que iriam voltar breve, breve ao seu habitual modus vivendi, mas mesmo assim exigiram-me comissões por elas.
Pelo que estou exausta, sim. Mas aproveito ainda as últimas horas nesta choça bafienta para sentir revolta, tristeza, fúria avassaladora e vergonha deste paíszeco que me nacionalizou e que foi o berço do clube que amo desde sempre. Um clube que nunca teve direito a uma canção de embalar sem que a tivesse de mendigar, a um colo ou a uma simples mão que o embalasse em todos aqueles momentos. Um país onde se sentisse filho e não o enteado enfezado com crises existenciais e dores de crescimento.
Ainda me restam forças e ânimo para, com a ajuda de pinças alongadas, mola no nariz, máscara na cara, mexer cirurgicamente no meio de todo o estrume e retirar algumas das pérolas que nos acompanharão na abalada. Tarefa difícil e ingrata. Muito – demasiado! -- selectiva. Poucos, quase nenhuns se salvam. O esterco pestilento e viscoso acomodou-se em todo o território nacional. De lés-a-lés. A grande família dos asnos, burros e jericos, jumentos e afins, tentam contorná-lo, ir por outro caminho, mas acabam por se atolar, rindo tipo parvinhos. Atolados estão já os porcos, cor-de-rosa sujo, e deliciados nas suas pocilgazinhas privadas para as quais apenas convidam os amigos. As moscas sobrevoam, ZZZzumbindo.
Mais acima, ainda mais acima, mesmo acima dos castelos de altas torres e de janelas de luz vermelha onde habitam os cavaleiros do fair Play, os paladinos da verdade desportiva e os descendentes dos viscondes (mais ao lado), pairam corvos e os abutres, ávidos de novidades, sequiosos de todos e quaisquer restos, que, ao mesmo tempo que batem as asas, vão bombardeando as cabeças dos mais incautos.
É verdade. É oficial. Vamos embora. Não nos merecem. Ou talvez nós não vos mereçamos. Batam em latas, rompam aos saltos e aos pinotes, façam estalar no ar chicotes, chamem os camaradas palhaços e acrobatas que estão bem ali, o'... em concentração tipo Fairy Ultra nos lados da Segunda Circular, e nos seus múltiplos covis. Vamos, então, embora. O ar vai ficar mais desanuviado, tenho a certeza. Com a nossa partida, terminará tudo o que é mau e pernicioso no desporto nacional. Digam pois adeus aos corruptos, aos egos empolados, aos maus perdedores, aos vendidos, aos falsos e imorais, aos mafiosos desbocados, produtores de fruta variada, caterers de café com leite. É a última vez que nos vêem. Vade retro mentalidade provinciana, hooliganismo e novos vândalos. Destruam as armas de destruição maciça. As ogivas nucleares. A teia centralista. Os árbitros telecomandados. Já não precisarão deles. Haverá mais espaço para todos. Mais títulos também. Amem-se. Procriem-se. Matem-se uns aos outros na Santa paz do Senhor. Já estaremos longe e, se Deus quiser, com um treinador competente, um plantel equilibrado e um Presidente a ajudar, usufruiremos do dom e supremo luxo de ser-nos permitido discutir títulos e troféus com a mesma verdade, liberdade e armas que os outros.
One last thing. O Sistema, apesar de nosso velho conhecido e aparentemente íntimo, não cabe na nossa mala. Vão ter de ficar com ele. Tratem-no com o respeito e o desvelo que ele vos merece. Adeus, arrivederci, farewell, so long, hasta. Depois mandamos um postal.
P.S. Deixamos-vos, em jeito de despedida, uma bola de futebol, essa coisa redonda, normalmente em couro sintético e fabricada internacionalmente sem tendências ou ímanes centralistas. Aprendam a usá-la. Ah, sim, outra coisa: ganhem finais. Foram feitas para isso.
Não me esqueci do passado glorioso, da incerteza do presente e das poucas garantias do futuro que seguem em caixas de cartão, envoltas em papel de celofane azul imperial e rodeadas de pétalas de flores do campo com cheiro a Primavera e daquelas coisinhas fofas e redondas das quais não sei sequer o nome. O plantel está todo alinhado e aprumado nos seus melhores fatos de costureiro, óculos de sol de griffe nas ilustres cabeças, smartphones nas mãos e headphones nos ouvidinhos. Não tendo de se preocupar com nada. E nada mesmo. O Estádio do Dragão está a ser acomodado num bruto de um TIR suficientemente espaçoso que o transporte sem preciso ser desmantelar uma única peça, uma única cadeira. Os serviços do pessoal que por ele zela e que dele o faz o mais lindo do amplo universo foram desde já assegurados.
As Antas, a Constituição e o Campo da Rainha seguem na bagagem de cada um em milhares de frasquinhos de perfume e nos baús dos nossos sótãos de memórias. Sem cheiro a naftalina. Os passaportes e as burocracias estão perto de estarem concluídos e já se vão acumulando no móvel da entrada, bem ao lado do telemóvel que não pára de tocar com inscrições de última hora. Uma coisa é certa: só pode ir quem é dos nossos. Depois das mais persistentes reticências, “que tinha saudades da sua SAD, que tinha saudades da sua SAD!!”, o Presidente mostra finalmente alguma vontade de ir, mesmo que obviamente nostálgico nas saudades das velhas guerras de cinismo e hipocrisia, de alecrim e manjerona, através das quais se tornou o homem que foi e que talvez ainda hoje seja. Compreendemos o seu sentimento, mas moralizámo-lo dizendo-lhe que pode sempre regressar para passar umas férias. Complicado está a ser convencer a autarquia a deixar-nos levar o Dragão Caixa, a Rua dos Campeões Europeus, a Via Futebol Clube do Porto e todos os acessos e infra-estruturas que já compõem a nossa casa. A cidade do Porto também vai. No nosso coração. A transbordar. Para já, terá de ser suficiente.
Um lufa-lufa… deixar a SAD embaladinha, apetrechadinha e prontinha a ser usada pelo seu próximo clube. A dificuldade maior não residiu em formatar-lhes os cérebros em termos de afecto e de sentimentos para com o clube que agora parte, mas mais pelo tentar-lhes explicar que a pândega e as comissões actualmente existentes iriam continuar. Um dia, nesse dia. Dei-lhes todas as garantias de que iriam voltar breve, breve ao seu habitual modus vivendi, mas mesmo assim exigiram-me comissões por elas.
Pelo que estou exausta, sim. Mas aproveito ainda as últimas horas nesta choça bafienta para sentir revolta, tristeza, fúria avassaladora e vergonha deste paíszeco que me nacionalizou e que foi o berço do clube que amo desde sempre. Um clube que nunca teve direito a uma canção de embalar sem que a tivesse de mendigar, a um colo ou a uma simples mão que o embalasse em todos aqueles momentos. Um país onde se sentisse filho e não o enteado enfezado com crises existenciais e dores de crescimento.
Ainda me restam forças e ânimo para, com a ajuda de pinças alongadas, mola no nariz, máscara na cara, mexer cirurgicamente no meio de todo o estrume e retirar algumas das pérolas que nos acompanharão na abalada. Tarefa difícil e ingrata. Muito – demasiado! -- selectiva. Poucos, quase nenhuns se salvam. O esterco pestilento e viscoso acomodou-se em todo o território nacional. De lés-a-lés. A grande família dos asnos, burros e jericos, jumentos e afins, tentam contorná-lo, ir por outro caminho, mas acabam por se atolar, rindo tipo parvinhos. Atolados estão já os porcos, cor-de-rosa sujo, e deliciados nas suas pocilgazinhas privadas para as quais apenas convidam os amigos. As moscas sobrevoam, ZZZzumbindo.
Mais acima, ainda mais acima, mesmo acima dos castelos de altas torres e de janelas de luz vermelha onde habitam os cavaleiros do fair Play, os paladinos da verdade desportiva e os descendentes dos viscondes (mais ao lado), pairam corvos e os abutres, ávidos de novidades, sequiosos de todos e quaisquer restos, que, ao mesmo tempo que batem as asas, vão bombardeando as cabeças dos mais incautos.
É verdade. É oficial. Vamos embora. Não nos merecem. Ou talvez nós não vos mereçamos. Batam em latas, rompam aos saltos e aos pinotes, façam estalar no ar chicotes, chamem os camaradas palhaços e acrobatas que estão bem ali, o'... em concentração tipo Fairy Ultra nos lados da Segunda Circular, e nos seus múltiplos covis. Vamos, então, embora. O ar vai ficar mais desanuviado, tenho a certeza. Com a nossa partida, terminará tudo o que é mau e pernicioso no desporto nacional. Digam pois adeus aos corruptos, aos egos empolados, aos maus perdedores, aos vendidos, aos falsos e imorais, aos mafiosos desbocados, produtores de fruta variada, caterers de café com leite. É a última vez que nos vêem. Vade retro mentalidade provinciana, hooliganismo e novos vândalos. Destruam as armas de destruição maciça. As ogivas nucleares. A teia centralista. Os árbitros telecomandados. Já não precisarão deles. Haverá mais espaço para todos. Mais títulos também. Amem-se. Procriem-se. Matem-se uns aos outros na Santa paz do Senhor. Já estaremos longe e, se Deus quiser, com um treinador competente, um plantel equilibrado e um Presidente a ajudar, usufruiremos do dom e supremo luxo de ser-nos permitido discutir títulos e troféus com a mesma verdade, liberdade e armas que os outros.
One last thing. O Sistema, apesar de nosso velho conhecido e aparentemente íntimo, não cabe na nossa mala. Vão ter de ficar com ele. Tratem-no com o respeito e o desvelo que ele vos merece. Adeus, arrivederci, farewell, so long, hasta. Depois mandamos um postal.
P.S. Deixamos-vos, em jeito de despedida, uma bola de futebol, essa coisa redonda, normalmente em couro sintético e fabricada internacionalmente sem tendências ou ímanes centralistas. Aprendam a usá-la. Ah, sim, outra coisa: ganhem finais. Foram feitas para isso.
Desde que o futebol se tornou um n€gócio que o Amor ao clube só existe naqueles que realmente o amam e mais sofrem por ele: os adeptos. Seria de facto fantástico poder ir embora e levar o clube só connosco, protege-lo de todo o tipo de pessoas que apenas se servem dele e que não estão minimamente preocupadas em servi-lo, infelizmente isso é uma utopia e claro, somos sempre nós, comuns adeptos, a pagar a factura sob a forma de sofrimento, tristeza, impotência, etc. Quanto aos inimigos de outras cores, aqueles do "Portugal é Lisboa, o resto é paisagem", sempre assim foi e sempre assim será. Mas também é por isso que nos dá tanto gozo quando vencemos e fazemos questão de esfregar isso nas " fuças" deles. Parabéns, está excelente, como sempre :)
ResponderEliminarMais uma obra-prima Miss BlueBay. Já começam a rarear adjectivos para elogiar os seus textos.
ResponderEliminarQuando ao resto, dedicamos aos paladinos da verdade desportiva, à justiça, justiceiros e demais paineleiros, a nossa copiosa derrota:
Presidentes do SLB presos 2 - Presidentes do FCP presos 0
Muito bom, não conhecia confesso Miss BlueBay
ResponderEliminarMuito bom o texto, parabéns! É pena não podermos ir jogar para Espanha por exemplo, ao menos teriamos a certeza que pior que este país de merda não seria de certeza.
ResponderEliminarO único senão é que temos fama de invictos, corajosos, livres e solidários, mas acabamos iguaiszinhos aos outros...
ResponderEliminarAs eleições do FC PORTO nem na Coreia do Norte são assim!!!!
Excelente pedaço de escrita, Miss Bluebay. Excelente.
ResponderEliminarMas irmos embora era o melhor que lhes poderia acontecer. E além disso, não somos feitos daquela massa viscosa que desiste. Somos de fibra e lutaremos sempre pelo que também é nosso, contra os de fora e, se necessário, contra os de dentro também. Somos do Porto, carago.
Abraço portista,
LAeB : Do Porto com Amor
"As eleições do FC PORTO, nem na Coreia do Norte são assim!!!!"
ResponderEliminarLá teremos o Antero e + um Amorim, impostos nao sei bem por quem.
Afinal Portugal nao é só paisagem, já se ve no alto da viagem um Porto, á moda de Lisboa.
Tudo levam, só nao conseguem levar o sentimento que um dia lhes passará por cima,
Futebol Clube do Porto
Simplesmente brutal, do melhor que já li sobre a degradação contínua do nosso clube.
ResponderEliminarParabéns ao autor(a)
Texto excelente como sempre. Mais um para o livro.
ResponderEliminarEmbora este texto é um pouco contraditório ao que se passa pelo nosso lado.
Seja como for se o Porto e consequentemente o FC Porto estivessem noutro país, a conversa era outra...
Mas estando aqui para ver cada vez mais melões a rolar na capital e mais lixo propagandista é combustível para que o nosso avião siga em alta velocidade para voos mais altos.
É como digo, que quando esta geração de corruptos estiverem fora de validade é que pelo menos podemos ter um país "um pouco mais limpo".
Até lá o FC Porto e seu exercito irão jogar dentro das 4 linhas como sempre acontece e acontecerá, porque é lá que jogamos.
O texto é bom mas carpir mágoas não leva a nada se não se lutar.Queixamo-nos mas não fazemos nada para mudar.Vemos que esta Sad já perdeu a validade mas não aparecem alternativas. Queixamo-nos dos jornais e tvs vermelhas mas o Porto cidade,as suas forças vivas nada fazem para mudar.O Norte tem indústria tem as maiores fortunas do país mas. ...tudo vai para Lisboa.No Porto não há nada nem o JN já é do Porto.Se não fazemos nada para contrariar o centralismo que podemos esperar a não sermos discriminados? Se nem aparecem candidatos a contrariar esta Sad de acomodados temos de comer e calar.
ResponderEliminarObrigado.
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