27 outubro, 2016

SILÊNCIO.


Mário Wilson, figura do Benfica, Académica e talvez de uns quantos mais em menor escala, desapareceu no passado dia 3 de Outubro.

Do Homem, da sua vida pessoal e familiar, nada tenho a dizer a não ser que respeito muito a dor que estes momentos representam para os mais próximos, algo que qualquer ser humano digno desse nome o deve fazer. Como todos sabemos, nem nós nem os nossos mais próximos são eternos, dai que seja incapaz de qualquer tipo de regozijo nestas situações, sendo que a excepção passaria possivelmente com a morte de um qualquer sanguinário e nunca com um rival desportivo.

Passado este paragrafo que serve como um ponto prévio para assegurar que não haja mal-entendidos nem confusões com falta de respeito por uma Vida, devo dizer que me surpreendeu bastante assistir a um minuto de silêncio no Estádio do Dragão em homenagem a Mário Wilson.

O minuto de silêncio, cerimonial que desde pequeno me recordo de assistir, tem-se banalizado ao ponto de ser por vezes desconsiderado e demasiadas vezes pontuado por palmas, tal a indiferença que produz em alguns e a necessidade de os “abafar” com esse acto algo mórbido de aplaudir em qualquer circunstância, mesmo que se tratem de mortes trágicas ocorridas num qualquer acidente ou atentado.

Não tendo presente uma estatística, sinto que cada vez mais se usa dos minutos de silêncio para homenagens que podem ou não fazer especial sentido. Dando um exemplo, a morte do sócio nº 1 ou de uma figura lendária de uma instituição não deve ser imediatamente transposta para a necessidade de todas as outras instituições serem automaticamente obrigadas a respeitarem essa homenagem, independentemente da ligação que (não) exista com o falecido.

Voltando a Mário Wilson, certamente que se trata de um antigo seleccionador nacional, dai a tentativa de justificação de uma homenagem transversal. Não me recordo no entanto se tem sido algo seguido escrupulosamente com todos os antigos selecionadores ou mesmo com figuras do dirigismo, naturalmente mais ligadas a um determinado clube, mas com cargos exercidos na FPF como Pôncio Monteiro. O que sei é que quando morre uma figura ligada ao Benfica há sempre esta tentativa de “nacionalizar” a dor, de se escreverem obituários onde apenas se exaltam os feitos e se escondem as sombras, procurando criar imagens desportivamente imaculadas de personalidades que ao longo do seu percurso defenderam simplesmente a sua dama e não foram nem de perto nem de longe figuras consensuais e admiradas transversalmente como certa inteligência lisboeta procura impor.

Mario Wilson, como figura do desporto e do futebol, não merece a homenagem do FC Porto e das suas gentes. Incapaz de ser imparcial no tratamento ao nosso clube enquanto seleccionador, foi uma das figuras mais marcantes da tentativa de por todos os meios impedir a afirmação do FC Porto. Uma figura do velho futebol, tristemente revisitado nos últimos anos, defensor de um status quo da eterna manutenção do poder em Lisboa, como pode algum Portista se curvar perante a memória desportiva de alguém com o percurso de Mário Wilson?

E no topo disto tudo, esta recordação:

"Detestado por Mário Wilson, que dois dias antes da morte de Pedroto, ainda disparou: "Os lacaios que me fazem guerra são maus discípulos de um grande mestre, que procurou sempre guerras, mas quando o fez, avançou sempre na primeira linha, nunca buscou a rectaguarda, nunca deu homem por si. Pedroto é um sá-carneirista, um verdadeiro mestre na arte da actuação em conflito".
Pinto da Costa é que não gostou do que ouviu, e após a morte de Pedroto, em Assembleia Geral do clube das Antas, decretou a proibição de entrada nas instalações do clube de Wilson, ainda acrescentando:

"Pedroto, para o fim, não era mais do que um leão moribundo. Pena foi que tenha levado um coice de um burro, que se aproveitou da sua incapacidade definitiva. Mas Pedroto, mesmo longe de nós, era grande de mais para ser atingindo por um coice de um burro qualquer".
Acredito que o Clube tenha sido obrigado a aceitar este minuto de homenagem, em honra de alguém proscrito de entrar nas nossas instalações. Estou também convicto que o não respeito desta imposição traria ondas de choque e uma utilização facciosa desse facto para criar ruído perfeitamente evitável, daí que não houvesse outra possibilidade que não respeitar a decisão superior.

Mas, não posso deixar de sentir a minha estupefação por ter sido obrigado a homenagear uma personalidade desportiva que representa o absoluto contrário daquilo que é o FC Porto, esperando para ver se em circunstâncias semelhantes poderemos encontrar o mesmo comportamento para com figuras não gratas ao universo vermelho.

9 comentários:

  1. Na hora, detectei logo essa incongruência. Mantive-me em silêncio (pelos motivos explicitados no "ponto prévio" do post), mas não me levantei, porque, em termos de futebol, a pessoa em causa foi, não um adversário, mas sim um inimigo do FC Porto. E "quem não se sente, não é filho de Boa Gente".

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    1. Nem mais.

      Não o escrevi no texto mas foi exactamente essa a minha postura: sentado, em silêncio.

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  2. Um anti-Portista primário e básico...

    Imagino as noites de pesadelo, a azia, os kompensan e tudo o mais nas 3 décadas de esmagador domínio do FC Porto que essa personagem teve de assistir.

    O clube do qual é símbolo é perfeito para essa personagem. O clube que desliga as luzes e acende a rega quando o rival festeja um título na sua casa.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Sou sincero, não percebi por quem era o minuto. Mas mal ouvi os assobios e alguém dizer " é pelo .... do Wilson" sentei-me de imediato. No dia em que fizerem uma homenagem a quem quer que seja do FC Porto, falaremos.

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  5. Também me mantive sentado.
    É preciso ter memória e lembrar das patifarias que esta personagem fez a Pedroto e ao FC Porto.

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  6. bem lembrado MM... Já me tinha esquecido desse pormaior ! - na altura sinceramente só pensei não fazer sentido nenhum um momento de silêncio; só me passou pela cabeça a tal nacionalização da dor fifiquista. A ditadura deixou muitas marcas!
    Mas, se é por ter sido selecionador, ainda vamos ter de fazer muitos minutos de silêncio: pelo Bento, pelo Scolari, pelo Humberto Coelho... arre que será de mais !

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  7. Foi o único ponto negativo do jogo.
    Acho que é consensual entre nós que quem representou as cores inimigas ao Nosso Símbolo, nunca deveria ser homenageado por nós.
    A não ser que esse jogasse também no nosso Clube, vide Jankauskas, Maxi...

    Abraços.

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  8. Também não percebi.... em memória de Pedroto permaneci sentado.

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