26 setembro, 2017

NOITE PRINCIPESCA.


MÓNACO-FC PORTO, 0-3

O regresso à prova milionária da UEFA não poderia ter corrido melhor ao FC Porto. Depois da estreia em casa com uma derrota pesada frente aos turcos do Besiktas, os Dragões sabiam da importância decisiva do jogo desta noite no Estádio Louis II. O certo é que os azuis-e-brancos fizeram jus ao seu historial na Europa, reviveram o jogo com o mesmo adversário de há 13 anos e impuseram uma estrondosa derrota ao Mónaco no seu reduto, por sinal, a maior derrota em casa do clube monegasco.

Sérgio Conceição é claramente o grande reforço do FC Porto da presente época. Chegado ao Dragão a troco de uma indemnização e da cedência de Kayembé ao Nantes, o treinador portista começou a deitar mãos à obra e quase que se poderia dizer que anda a fazer omeletes sem ovos.


O clube portista, muito limitado financeiramente, apenas pôde facultar ao seu técnico os jogadores da época passada e fazer regressar um bom número de emprestados. E Sérgio não se tem feito rogado. Esmiúça e aproveita o que cada um dos jogadores pode dar até ao seu limite. Para além disso, o plantel é curto com apenas 19 jogadores de campo mas o técnico mostrou, até ao momento, ser capaz de estar na liderança do campeonato português e manter-se na luta pelo apuramento da Champions League.

Sérgio Conceição tem-me trazido à memória um treinador que passou pelo FC Porto e que, curiosamente, treinou o actual técnico portista: António Oliveira. E porquê? Porque António Oliveira era isto mesmo. Um treinador com uma capacidade enorme de motivar jogadores, incutir em cada um deles uma grande confiança, manter o grupo unido em prol do grupo e de um objectivo comum.

Mas sobretudo, Oliveira dava oportunidades a todos os jogadores de jogar. E é aqui que vejo muito de Oliveira em Sérgio Conceição. É capaz de surpreender o adversário e o comum adepto de jogo para jogo. De que forma?

Quem é que esperava a titularidade de Sérgio Oliveira no jogo desta noite? Ninguém. Quem é que esperava ver duas/três trocas no onze em alguns jogos, saindo jogadores com bastantes minutos nas pernas e entrando jogadores que pouco ou nada jogaram esta época? Ninguém claramente.


Oliveira fazia muito isto no seu tempo, principalmente na sua primeira época como técnico portista. Recordo-me bastante bem do lançamento de um jovem promissor num jogo no Estádio de Alvalade a contar para o campeonato nacional. O seu nome: Hilário. O Guarda-redes em estreia num jogo de grande responsabilidade fez uma grande exibição e o FC Porto venceu o jogo por 1-0.

Tal como este caso, houve outros lançados por Oliveira. Até um que, infelizmente, correu bastante mal. Foi o caso de Costa, um trinco que se estreou na Champions League em Manchester. Mas isto é como tudo. Há treinadores que são muito conservadores e calculistas. Há outros que são líricos e não têm medo de ser felizes.

Sérgio Conceição é um treinador corajoso, aventureiro mas não é à toa que faz as suas apostas em cada jogo. É um técnico que tem uma filosofia, bem sustentada e depois acrescenta algo mais para vencer os seus jogos. Desta forma, acaba por ganhar, motivar e valorizar os seus jogadores. E quem beneficia com tudo isso é a própria equipa.

Sérgio Oliveira foi, então, a grande surpresa para este jogo. O jogador português esteve em bom plano no meio-campo portista, formando com Danilo e Herrera uma muralha intransponível. De resto, o onze habitual apresentou-se frente ao Mónaco.


A equipa portista foi pressionada pelo Mónaco, como seria de esperar. Jogando em casa, a equipa do principado tentou marcar posição no jogo. O FC Porto, depois de acertar com as marcações, começou gradualmente a controlar o jogo e a subir no terreno. O jogo não mostrou oportunidades de relevo mas os Dragões circulavam bem a bola e mantinham o Mónaco controlado.

Não foi com surpresa que os Dragões inauguraram o marcador aos 31 minutos por Aboubakar. Num lançamento longo de Alex Telles para a área do Mónaco, Marcano cabeceou dentro da área, a bola sobrou para Danilo que rematou fortíssimo para a defesa de Benaglio. A bola rechachada foi para Aboubakar que rematou para nova grande defesa do guarda-redes monegasco e depois na recarga “fuzilou” as redes contrárias. Estava aberto marcador e traduzida a superioridade em campo da parte da equipa portista.

Na segunda parte, o FC Porto regressou tal como se tinha apresentado no primeiro tempo: forte, personalizado, com atitude e atrevido. Deu, como não podia deixar de ser, a iniciativa ao adversário mas explorou bem os espaços dados pelo Mónaco.

E foi este o filme desta etapa complementar. Passes longos a rasgar a defesa monegasca condicionaram, em certa medida, a lucidez ofensiva da equipa do principado. Sérgio Oliveira (uma bela actuação) lançou Marega e este isolado rematou à figura do guardião do campeão francês. Aos 69 minutos foi a vez de Brahimi lançar em profundidade o mesmo Marega sobre a direita do ataque portista. O avançado portista serviu Aboubakar na área que fez, praticamente, o xeque-mate da partida.


Com vinte minutos para jogar, o FC Porto dava um passo quase decisivo para alcançar os três pontos. Sérgio Conceição operou duas substituições de uma assentada. Retirou Brahimi e Aboubakar e fez entrar Layún e Corona. Marega colocou-se como único avançado em campo para explorar os adiantamentos monegascos.

Falcao, em resposta ao 2-0, atirou uma bola à barra mas depois disso a equipa do Mónaco ficou-se apenas pelas ameaças. Aos 89 minutos, Layún sentenciou a partida com um claro 3-0. Num cruzamento de Corona, Marega rematou à figura de Benaglio, a bola sobrou para Herrera e depois novamente para Marega, gerou-se uma pequena jogada confusa na grande área monegasca e, por fim, Layún atirou forte e colocado, sem cerimónias, para a baliza da equipa da casa.

Os Dragões ganharam claramente um jogo que se previa muito complicado, vingaram a derrota da 1ª Jornada frente ao Besiktas e estão motivadíssimos para o jogo com o Sporting do próximo domingo, em Alvalade, onde vão defender a liderança da Liga NOS.

Destaques finais para as soberbas exibições de Marega e dos centrais da defesa portista, para a exibição muito positiva de Sérgio Conceição, para os desequilíbrios de Brahimi e para a veia goleadora de Aboubakar.

Um destaque especial para o treinador Sérgio Conceição. O técnico português está a fazer um grande trabalho no Olival, tornando jogadores, que há poucos meses seriam dispensáveis, em mais-valias e construindo um plantel com escassos recursos numa equipa competitiva capaz de vencer e de se suplantar em qualquer estádio da Europa. A melhor contratação da presente época é, claramente, o treinador portista.

HABEMUS MISTER!





DECLARAÇÕES

Sérgio Conceição: “Os jogadores fizeram um trabalho excelente”

Elogios à exibição e ao grupo
“Tenho que dar os parabéns aos jogadores pela exibição que fizeram e por terem conseguido pôr em campo todo o trabalho que fizemos. Tenho um grupo fantástico, que acredita no trabalho, no que se diz e na mensagem que é passada. Isso deixa-me orgulhoso. No que diz respeito à Liga dos Campeões, nem eramos os piores depois de perder com o Besiktas, nem somos os melhores porque ganhámos hoje aqui ao Mónaco. Foi uma demonstração de força, não só dos nossos jogadores, mas também dos nossos adeptos. Por momentos, se fechasse os olhos, poderia pensar que estávamos a jogar em casa.”

A resposta “europeia”
“Ganhamos 3-0 em casa da equipa que teoricamente era a mais forte do grupo. O FC Porto vai lutar sempre pelos três pontos num grupo muito equilibrado. Agora é pensar no jogo como Sporting e deixar as provas europeias para depois. Mas ficou provado que este clube tem uma grandeza e uma história muito importante nas competições europeias e nós não a deixaremos cair.”

A opção por Sérgio Oliveira
“Eu tenho todos os jogadores à minha disposição e sei que estão todos preparados para jogos. E digo isto não para ser simpático, mas porque todos trabalham no máximo e aqueles que não estão a ser os mais utilizados trabalham de uma forma fantástica para estarem bem quando são chamados. No caso do Sérgio achei que ele ia encaixar bem no corredor central para aquilo que eu tinha pensado para o jogo e foi aquilo que aconteceu. Fico feliz por ele, mas o mais importante é sempre a equipa.”

As mudanças face ao jogo com o Besiktas
“Como treinador assumo sempre a responsabilidade nas derrotas. Obviamente que eu não vou para dentro do campo, mas a estratégia é preparada por mim e quando se perde nenhuma estratégia é boa. Não vou entrar em pormenores. Penso que hoje fomos um pouco mais expectantes na fase construção do Mónaco, metendo mais um jogador na zona central nesse início de construção, porque sabíamos que os alas do Mónaco jogam muito por dentro. Sabíamos que tínhamos que sair com critério e o que fazer para ferir o Mónaco…e foi isso que fizemos. Mesmo no início, nos primeiros 10, 15 minutos, tive a certeza que seria difícil nós irmos perder este jogo porque estávamos muito bem.”

A saída de Aboubakar e Brahimi
“Para nós era mais importante refrescar as alas do que ficar com menos um jogador no corredor central. Em alguns momentos, as situações dificeis que poderíamos ter eram de cruzamentos e era por aì que teriamos que condicionar o Mónaco. E foi por essa razão que decidi tirar o Aboubakar e Brahimi, passando o Marega para a frente, com movimentos diferentes do Aboubakar. E assim ganhámos consistência nas laterias, correu bem e foi importante.”



RESUMO DO JOGO

4 comentários:

  1. Muito bem!

    Julgo apenas que foi Mourinho a lançar Hilário em Alvalade...Oliveira lançou foi Zahovic em Milão onde ganhámos 2-3 com 2 golos do Jardel e 1 do Artur...
    De resto, 100% de acordo!

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  2. Brilhante! "Os príncipes do Mónaco"!

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  3. Na altura do lançamento de Hilário, Mourinho estava como adjunto em Barcelona.

    Hilário só foi jogador de Mourinho na pré-época 2002-03. Depois saiu.

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