24 outubro, 2017

UM TREINADOR ANTIPÁTICO E INCONVENIENTE.


O trabalho feito até aqui, quer pelos jogadores, quer pelo treinador, não deixa grande margem para críticas negativas decorridos que estão mais de 4 meses do reinado Conceição.

Confesso que já tinha saudades de um treinador antipático com a imprensa, inconveniente e já agora, um treinador que, mal ou bem, é genuíno nas conferencias de imprensa, fala de futebol propriamente dito, não se refugiando em lugares-comuns, frases feitas e verdades de “la Palice”.

Nos últimos 4 anos de amarguras e tristezas para os adeptos do FC Porto (os adeptos do FC Porto, não os adeptos das vitórias do FC Porto) um dos denominadores comuns de vários treinadores que passaram pelo bando do Dragão foi a forma simpática e educada com que muitas vezes foram abordados momentos delicados do clube. Paulo Fonseca era um rapaz simpático e muito educado dizia a imprensa lisboeta, Luís Castro era um gentleman diziam os jornais que odeiam o FC Porto, Peseiro era sério e Nuno Espírito Santo, esse, dia sim, dia sim senhor, era elogiado por variadíssimos comentadores assumidamente anti-Portistas. O único treinador, nesse período de tempo, que defendeu forte e feio o nome do clube nas conferencias de imprensa, sendo antipático e inconveniente foi Lopetegui, que perdeu o campeonato com 82 pontos, a 3 pontos do líder, num campeonato com muitas “missas e padres”, que agora os mails divulgados ajudam a perceber algumas coisas.

No futebol moderno, não basta um treinador saber de tática e ter bons dotes de liderança no grupo que orienta. Um treinador completo tem de ter uma característica fundamental: a comunicação interna e externa. Villas-Boas por exemplo, para além da sua boa qualidade técnico-tática, tinha algo que o diferenciou de tantos outros (e os resultados daquela época comprovam-no), dotes comunicacionais fantásticos, quer interna, quer externamente. Não deixava nada por dizer, não tinha medo do confronto com os rivais e preparava-se muito bem para todas as “ratoeiras” que a imprensa lhe preparava.

Sérgio Conceição está obviamente a fazer um bom trabalho até agora. Não lhe era exigível mais do que foi feito até agora, com a matéria-prima existente e no contexto (cheio de “padres e missas”) que existe atualmente no futebol português. Mas tem claramente duas vantagens em relação aos seus últimos antecessores (mesmo em relação a NES, em que praticamente toda a sua carreira de treinador/adjunto tinha sido feita no estrangeiro) que saltam à vista de todos e podem fazer toda a diferença: experiência de treino no futebol português/conhecimento do clube FC Porto e capacidade comunicacional bem superior.

E, obviamente, um treinador no atual FC Porto, no atual contexto do futebol português, em que uma equipa venceu 12 dos últimos 16 títulos disputados, tem de ser forte no treino, na tática e na liderança do grupo, mas tem de ter também dotes comunicacionais bons, para dentro e para fora, tem de ser antipático para com a imprensa, dizer verdades inconvenientes e não pode ter medo de confrontar os poderes instalados, não pode estar preocupado com a sua imagem e o seu futuro em termos de carreira. Em conclusão, um treinador que atualmente oriente o FC Porto tem de estar alinhado com a própria comunicação do clube, não pode ter uma agenda própria, nem pode estar preocupado com a sua imagem perante os outros.

Como é lógico, a capacidade comunicacional ganha força e relevância quando se vê trabalho dentro de campo e, sobretudo, quando se veem resultados. A ver vamos, o que o futuro nos reserva... até agora, o balanço só pode ser positivo, mas ainda falta muito, demasiado para podermos ser conclusivos em relação ao que quer que seja.

Nota off-topic: Vou ser conciso e claro na minha opinião sobre esse assunto. Sim, é verdade que o trabalho de Conceição está muito acima das minhas expetativas, os resultados obtidos até aqui dificilmente poderiam ser melhores e os seus dotes comunicacionais estão muito acima do que se tem visto nos últimos anos para os lados do Dragão. Mas, digo-o com toda a frontalidade, não percebo a opção José Sá, por muito que me esforce. Não sendo nenhum problema disciplinar, como foi admitido pelo treinador e ficou evidente pela presença do espanhol no banco de suplentes, discordo em absoluto da escolha de Sá em detrimento de Casillas. Não, Casillas não é nenhum super-herói, e tem cometido erros (por exemplo com o Besiktas cometeu um grave), mas é um GR que dá mais garantias e segurança que Sá, na minha modestíssima opinião. Creio que faria bem mais sentido, haver rotação de GR nas taças de Portugal e da Liga, ou mesmo em jogos teoricamente mais acessíveis do campeonato. Não nos esqueçamos do que Casillas no ano passado, fez na luz ou no Dragão frente ao Sporting. Mas pronto, é apenas a minha humilde opinião.

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