FC PORTO-LIVERPOOL, 1-4
Na semana passada teci fortes críticas ao VAR e à UEFA pela protecção que é dada aos clubes poderosos do Velho Continente. Essas críticas fizeram e continuam a fazer todo o sentido pois esta noite voltámos a ver uma arbitragem a mostrar gritante dualidade de critérios, deixando a ideia de que cada vez há menos hipóteses de clubes, como o FC Porto, lutarem por um lugar entres os melhores da Europa.
Se equipas como o FC Porto já lutam com grandes dificuldades com os poderosos da Europa, com o acrescento de arbitragens habilidosas e pouco isentas, as esperanças de fazer algo de notável ficam reduzidas a cinzas. É o futebol que temos, que defende os grandes interesses económicos e destroem a beleza do futebol no seu estado mais puro. Ganham sempre os mesmos, todos os anos a história repete-se.
Com isto, não estou a dizer que o Liverpool não foi superior ao FC Porto. Claro que foi superior, mas não havia necessidade de tantos erros clamorosos e tanta dualidade de critérios para fazer a balança pender para os “reds”. Como seria interessante para o futebol ver uma eliminatória renhida, vencida, na mesma, pelo Liverpool, mas menos desequilibrada e mais emotiva.
Se assim fosse, quem sairia beneficiado seria o futebol. Seria, sobretudo, uma bela propaganda para a promoção da modalidade, mas também o contributo para a diminuição da diferença entre as equipas grandes e as outras para um futebol mais competitivo e de maior qualidade.
Que interessa ter um futebol apenas com 4/5 grandes equipas de futebol e o resto a roçar o mediano? Nada. Devemos, sim, promover as equipas com potencial e dar-lhes igualdade de oportunidades para competir. Pelo menos, poderem ser tratadas com respeito e com uniformidade de critérios.
Infelizmente, isso não acontece. O hiato entre os grandes e poderosos e os outros cresce de ano para ano. Por isso, façam lá a vossa Liga Europeia e entretenham-se entre si. Este futebol não interessa a ninguém.
O FC Porto apresentou-se no Dragão com muita ambição e com muita determinação. Não desistiu da eliminatória e reclamou o direito de lutar para, pelo menos, tentar dar a volta à eliminatória. Sérgio Conceição apostou numa equipa em 4x4x2, com o seu onze habitual, excepto Soares que foi rendido por Otávio.
Desde o primeiro minuto, o FC Porto impôs um ritmo muito intenso e uma agressividade muito interessante. Ao longo dos primeiros 25 minutos, os Dragões remataram treze vezes à baliza contra zero do Liverpool. Nesse período, os azuis-e-brancos tiveram, pelo menos, quatro oportunidades claras de golo, mas a grande pecha do Dragão é mesmo essa: a finalização.
Corona abriu as hostilidades logo no minuto inicial. Numa iniciativa pela direita, o extremo portista rematou cruzado e fez a bola sair a poucos centímetros da barra.
O Liverpool procurava suster o ímpeto portista e nem sequer ousava o contra-ataque. A primeira opção de Jurgen Klopp foi aguentar o primeiro período da partida sem sofrer golos e também jogar com o relógio e com as perdas de tempo. Não raras foram as vezes em que o Guarda-redes da equipa inglesa demorou a colocar a bola em jogo sendo avisado, apenas, pelo homem do apito.
Marega, por duas vezes, e Brahimi tiveram as suas oportunidades, mas como já diz o ditado, quem não marca sofre, no Dragão voltou a acontecer mais do mesmo. Na primeira investida do Liverpool à baliza portista, a equipa inglesa marcou. E logo num lance muito polémico que mostra claramente, numa das câmaras, a ilegalidade do próprio lance. Mas o VAR e a UEFA contornam isso com linhas manhosas e com a ocultação do momento da saída da bola do pé de Salah para Mané.
O árbitro auxiliar assinalou, prontamente, fora-de-jogo, mas o VAR reverteu a decisão. Volto a repetir o que disse há uma semana. Com este tipo de VAR não vale a pena introduzir a tecnologia na modalidade. Errar desta forma, com esta tecnologia ao dispor, ainda se torna mais grave do que quando se erra em tempo real.
Com este golo, o FC Porto perdeu todas as esperanças de lutar pela eliminatória. Assim se destrói o futebol, assim se elimina qualquer hipótese de promoção do jogo e da competição. Os azuis-e-brancos podem-se queixar de si próprios, mas falhar golos é legítimo. O que não é aceitável é vermos erros grosseiros do VAR.
Não contentes com isto, a terminar a primeira parte um corte de braço claro do defesa da equipa inglesa dentro da grande área é sonegado, tanto pelo árbitro como pelo VAR. Mais uma mancha no trabalho da arbitragem, mais uma palhaçada da UEFA que pactua com estas vergonhas.
No segundo tempo, Sérgio Conceição fez sair Otávio e entrar Soares. O Liverpool retirou Origi e introduziu Firmino. A equipa inglesa atacou mais mas, nos primeiros quinze minutos, o FC Porto jogou o suficiente para empatar a partida.
No entanto, com o decorrer dos minutos e com o golo a não surgir para o FC Porto, a equipa de Jurgen Klopp passou a gerir o jogo e facilmente chegou ao 2-0 numa transição ofensiva, concluída por um jogador que jamais poderia ter jogado esta noite no Dragão. Lembram-se, na primeira mão, da entrada escandalosa sobre Danilo sem punição?
No momento do 2-0, os adeptos tiveram uma atitude indescritível. Em uníssono incentivaram a equipa a não baixar os braços.
Com 65 minutos jogados, a eliminatória estava mais do que decidida, mas três minutos volvidos, Éder Militão animou um pouco a plateia do Dragão quando correspondeu da melhor forma a um canto cobrado por Alex Telles, reduzindo para 1-2.
Mas depois, o desgaste físico e mental dos portistas foi determinante para o resto da partida. O Liverpool cresceu, passou a jogar mais perto da área portista e foi sem grande dificuldade que o resultado chegou ao 1-4 com golos de Firmino e de Van Dijk. Um resultado extremamente injusto, altamente exagerado e que não espelha minimamente o que se passou na eliminatória, tal como reconheceu Jurgen Klopp no final da partida.
Assim termina a carreira do FC Porto na presente edição da Champions League. A figurar entre as oito melhores equipas europeias, o Dragão só não teve melhor performance porque outros interesses assim o ditaram.
É hora de mudar o “chip” para encarar os últimos seis jogos da época, de forma a vencer as seis finais que poderão trazer títulos. Isto se não houver movimentações estranhas noutro sentido…
DECLARAÇÕES
Sérgio Conceição: "Temos dois títulos para disputar e queremos muito ganhá-los"
Eliminatória injusta e diferença demasiado pesada
“Hoje, tal como em Anfield, o resultado foi pesado para aquilo que fizemos. É de louvar o que os meus jogadores fizeram. A estratégia que delineámos foi para acontecer o que aconteceu na primeira parte, sobretudo na forma como pressionámos e condicionámos a construção do adversário. Na primeira vez em que chegou ao último terço, o Liverpool marcou. Antes disso, tivemos duas ou três oportunidades claras para marcar. Se tivéssemos marcado, tudo seria diferente. Tenho uma equipa com grande caráter e personalidade. Os jogadores foram fantásticos a perceber aquilo que queríamos para este jogo. Fizemos uma das melhores primeiras partes desde que sou treinador do FC Porto. A diferença de golos na eliminatória é muito injusta para nós.”
Sempre à procura do golo
“Sabíamos que estávamos a perder e que isso não era merecido. Mesmo com o segundo golo do Liverpool, não atirámos a toalha ao chão. O Liverpool fez quatro remates à baliza. O Casillas não fez uma única defesa e sofreu quatro golos. Podíamos ter dado um rumo diferente ao jogo se tivéssemos sido mais eficazes nas oportunidades que tivemos. Conseguimos limitar ao máximo os pontos fortes do Liverpool, sobretudo na primeira parte. Nisso, nos primeiros 45 minutos, fomos perfeitos. Sofrer um golo daquela forma e perceber que tínhamos de fazer quatro para passar não é fácil para ninguém. Mesmo a perder por 2-0 fomos sempre à procura do golo.”
Os adeptos e os títulos para conquistar
“Foi uma demonstração de grande dignidade, não só da equipa, mas também dos adeptos. O nosso público sabe o que pode esperar de nós: determinação, ambição, capacidade de trabalho e qualidade individual e coletiva. Os adeptos são sempre muito importantes para nós. A força vinda das bancadas fez-me arrepiar. Sinto uma paixão muito grande da parte deles pela equipa. Eles reveem-se na equipa e é por isso que existe esta sintonia, esta simbiose. Temos dois títulos para disputar e queremos muito ganhá-los.”
RESUMO DO JOGO
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