15 outubro, 2010

Capítulo 2: 1911 a 1920 – Auspiciosas vitórias (Parte V)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 2: 1911 a 1920 – Auspiciosas vitórias (Parte V)

Primeira vitória sobre o Sporting (2-1), vitória em torneio e vitória também na tesouraria
O futebol crescia de qualidade no Norte. Após a guerra, com os ingleses de volta, o FC Porto derrotou pela primeira vez o rival Sporting, no grande torneio organizado na Constituição, para o qual foram convidados, para além do clube leonino, o Benfica e o Espinho.
• 30 Nov.1919 – O FC Porto logrou a primeira vitória (2-1) sobre o Sporting, em cuja equipa jogava um excelente jogador: Francisco Stromp.
O FC Porto alinhou com António Lino; Magalhães Bastos, Ferreira da Silva, Adelino Costa, Couteiro, Aires Pereira, Camilo Moniz, Carlos Pires, Cardoso, Joaquim Reis e João Sampaio.
E o Sporting contou com Quintela; Assis Pereira, Jorge Vieira, João Francisco, Caetano, Boaventura, Rebelo, Jaime, Francisco Stromp, Miranda e Marcelino.Na partida seguinte, o Sporting, bateria (4-1) o Benfica.
• 1 Dez.1919 – Terminou o torneio. O FC Porto saiu vitorioso no campo e na tesouraria. Refira-se que o clube azul-e-branco ganhou 750$35 com a iniciativa. Nunca o FC Porto havia tido tão bom resultado financeiro num evento desportivo organizado por si. E, por via do desfecho, "à noite realizou-se um banquete oferecido aos clubes de Lisboa e Espinho". Para esse banquete gastaram-se, só em champanhe, 9$47 (!!!). A façanha merecia a festa.

$ Os réis e os escudos de então $
• O campo da Rua da Rainha teve o primeiro relvado em Portugal. O seu aluguer custava um escudo e vinte centavos (1200 réis) anuais.
• 1909 – "A receita do club monta actualmente à quantia de 142$500 réis mensais" (142.500 réis = 142 escudos e 50)."
• Em 17 de Março de 1912, o FC Porto logrou bater o Real Vigo por 4-1. E ganharia também na bilheteira, já que, ao lançar os bilhetes pagos, arrecadaria receita então considerada "fantástica": 145$440 réis!
• Em Abril 1912, ainda mais espantosa receita: 170$270 réis! Contra os bordaleses do Vie au Grand Air du Medoc, Cada bilhete custava 220 réis, "incluindo o imposto de selo".
• Outubro de 1912 – Jogos com Benfica e CIF. O transporte dos jogadores do FC Porto para Lisboa custou 162$800 réis. As receitas dos dois jogos quedaram-se pelos 141$330 réis, pelo que se apurou um défice de 21$470. O Benfica suportou 12$880 e o CIF 8$590.
• Em 1914, o presidente da direcção, António Borges d’Avelar, recebeu aceno dos sócios do FC Porto, por "ter posto em relevo o progresso desportivo e financeiro do clube", cujo saldo do exercício se cifrou em 82$57,5.
• 1919 - …o ordenado do empregado de campo (Constituição) passou a ser de 3$60 mensais.
• Em 1920, o FC Porto esperava atingir "36 contos de rendimento por ano".
[In "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 – Adaptação]

1919 - Natação
Nos anos a seguir à fundação do FC Porto, a prática da natação era associada à de outras modalidades como o futebol e o andebol.
A primeira vitória portista na modalidade revela-se no ano de 1908, quando Eduardo Dumont Villares venceu a “Taça Leixões”. Depois o FC Porto começou a participar assiduamente nas competições e disputou pela primeira vez, em 1919, o então designado Campeonato da Liga Portuguesa dos Amadores de Natação. A seguir, em 1929, criou-se a Escola de Natação do FC Porto, a funcionar durante mais de 40 anos na Praia do Aurélio, na margem esquerda do rio Douro.
A Natação foi sempre muito acarinhada no Clube a que deu muitas e saborosas vitórias. O seu palmarés atesta a competência digna do FC Porto. Por isso é património inestimável. A Natação do FC Porto foi e é um dos maiores alfobres de campeões no país.

FC Porto, “um bloco formidável!”
1920 – João António Gonçalves Cal, "capitão-geral" do FC Porto, a uma revista desportiva: "O meu clube forma hoje um bloco formidável. Temos 1500 sócios e na próxima época esperamos que esse número seja elevado a 3000. São 36 contos de rendimento por ano, além do rendimento dos desafios e festas que dermos".

Mar.1920 – Nova vitória sobre equipa de Lisboa
Vítima: o Império. 4-1, na Constituição. Exultando com a vitória, o cronista de “O Primeiro de Janeiro” escrevia que o FC Porto derrotou “um grupo que dispõe de elevados recursos, tanto assim que defrontando-se, por duas vezes na semana passada com o Benfica, conseguiu levá-lo de vencida no primeiro desafio e empatou no segundo”. Terminava sugerindo que, a partir de então, ao FC Porto só faltava “mandar cortar a erva, demasiadamente grande que se encontra ao lado norte do seu campo e que muito dificulta o andamento da bola”.

Primeira vitória sobre o Benfica (3-2) e… em Lisboa
4 Abr.1920, numa tarde histórica, em Sete Rios, em Lisboa: o FC Porto conseguiu, enfim, bater o Benfica. Por 3-2. Já nessa altura a imprensa de Lisboa dava pouco destaque às vitórias do FC Porto mas, como a foto documenta, quase uma semana depois (!!), o "O Sport de Lisboa" não deixou passar em claro o triunfo e acentua que os portistas ganharam "com superioridade". O FC Porto esteve a vencer por 3-0, com golos de Alexandre Cal (2) e Joaquim Reis. O Benfica reduziria para 1-3, mas, antes do segundo golo dos encarnados, os portistas perderam duas grandes penalidades. "Uma foi enviada às mãos do guarda-redes do Benfica. Outra passou ao lado da baliza".Nessa exibição do FC Porto, apareceu pela primeira vez na sua equipa o admirável Norman Hall, tendo-se salientado, também, Lino Moreira, Ferreira da Silva, Floriano Pereira, Joaquim Reis, Alexandre Cal, José Ferreira, Magalhães Bastos e Velez Carneiro.

O silêncio dos jornais de Lisboa
Em tom arrebatador escrevia-se em “O Primeiro de Janeiro”: “O nosso Campeão venceu o fortíssimo agrupamento da capital por 3-2. É um resultado que deve animar extremamente os nossos amadores de futebol, amigos da sua terra. O que é estranhável, e até certo ponto digno de censura, é o facto de nenhum dos jornais de Lisboa se referir a este encontro, noticiando o seu resultado, quando é certo que, quando os portuenses perdem, a imprensa local está sempre pronta a fazê-lo. A verdade, porém, é que desta vez e em campo estranho, o FC Porto conseguiu vencer o Benfica numa luta renhida e interessante na qual foi necessário empenhar todos os esforços e energias. O Benfica apresentou-se com o seu melhor núcleo de jogadores, o que torna a vitória do FC Porto duplamente honrosa. Esse resultado foi de 3-2, sendo os golos do Benfica marcados de ‘penalty’. Salientaram-se, por parte do FC Porto, o keeper Lino, o half Floriano e os forwards Alexandre Cal e Norman Hall. A assistência, que era numerosa, reconheceu o valor da equipa portuense e manifestou-lhe, por vezes, a sua simpatia.”

Comentário: ontem como hoje, os pasquins de Lisboa na sua cruzada contra o Norte... Por que razão não sabem que, em tempos remotos, as cruzadas foram contra os mouros?!

Primeiro protesto contra imprensa facciosa: o grito de revolta de Alexandre Cal
17 Abr. 1920 – Ocorreu o primeiro protesto portista contra a (ainda hoje) facciosa imprensa lisboeta, que desvalorizou a vitória do FC Porto contra o Benfica. Foi o jornal portuense "O Primeiro de Janeiro" que publicou a carta indignada do jogador e “capitão” portista Alexandre Cal. Excertos dessa carta, um verdadeiro grito de revolta:
“(…) Eu não viria de modo algum falar neste assunto se a ‘Imprensa’ da Capital pusesse um pouco de parte o seu facciosismo e fizesse com imparcialidade e lealdade o relato de todos os desafios. Mas assim não procedeu e os jornais que têm a sua ‘secção desportiva’ e que pelo menos costumam anunciar aos seus leitores os resultados dos desafios, deixando desta vez de o fazer (…)
O desafio, jogado contra o Benfica em Sete Rios, foi ganho pelo FC Porto, por 3-2. No dia seguinte, este resultado não foi noticiado em nenhum dos jornais de Lisboa que mantêm ‘secção desportiva’. A razão deste silêncio? É simples: Lisboa, em futebol, há dez anos ou mais que estava habituada a vencer o Porto, conseguindo vitórias mais ou menos fáceis, mais ou menos difíceis. Este ano, o FC Porto quis vencer e venceu, e para isso trabalhou com vontade, desfazendo assim a ideia que muitos tinham de ser impossível tão cedo o Norte triunfar do Sul. Eis a razão por que foi tão pouco falada a vitória dos portuenses.
Quanto aos jornais desportivos, um deles, que por sinal costuma trazer uma resenha bastante desenvolvida dos bons desafios, limita-se a fazer uma pequena apreciação que por acaso não condiz nada com o título, e essa mesma feita em tipo pequeno, como que a ver se passava despercebida. Inclusivamente, em lugar de dizer, ‘o F. C. Porto venceu o Benfica’, diz ‘team do Porto vence o Benfica’. Faço esta pequena observação, que poderia parecer sem importância, mas é para que todos fiquem sabendo que o grupo que foi a Lisboa é única e exclusivamente de elementos do FC Porto e não com alguns do Oporto Cricket Club, como um outro jornal desportivo da capital fez constar.”

Comentário: Bravo, Alexandre Cal! O Dragão já bramia e lançava fogo.
  • No próximo post.: Capítulo 2 (Continuação) – Triunfo com o Belenenses; escola de talentos; FC Porto pioneiro do “fato-de-treino”; Norman Hall, um ídolo, uma grande glória do FC Porto; proeza e a supremacia alfacinha a desvanecer-se; equipamentos da década; efeméride da década 1911-1920 – Inauguração da Estação de São Bento.

11 comentários:

  1. Ora cá está mais um bom pedaço da história do nosso F C Porto, do clube que diz muito a tanta gente. Eu sei o que custa fazer isto, ou seja trabalhos assim, destes, mas até apetece dizer que devia ser publicado mais vezes, com continuações mais regulares no tempo, ou seja com menos tempo de permeio. Que é como quem diz: gosto e espero sempre o próximo fascículo.
    Aquele abraço.

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  2. Este episódio da primeira vitória em Lisboa, e a reacção dos seus jornais, tem um mérito, 100 anos depois.
    Misturas com aquela gente, nunca.
    Tem sido o meu lema, e pela demonstração, tem sido ajustada.
    Aquilo é raça que nunca mudará..
    Obrigado por este execelnet naco de história

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  3. Mais um capítulo, brilhante, na história fantástica, qual epopeia, do nosso clube.

    Um abraço

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  4. Já em Abril de 1920 essa gente ficava com uma tamanha azia quando o F.C.P. ganhava aos clubes da "Capital do Império"...

    90 anos depois e tudo permanece igual, abafam-se as nossas vitórias, mas o mais importante é que elas hj em dia tornaram-se muito mais regulares, e isso no fundo é mesmo o mais importante...

    abraço e continua com toda essa dinâmica e motivação na apresentação desta nossa nobre história!!!

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  5. A História mostra bem um poderio e uma dimensão de um clube. Parabéns pela crónica e pela paixão que reflecte.

    Entrevista a Bernardino Pedroto, figura incontornável do futebol português em:

    futebolstorming.blogspot.com

    Onde o futebol é discutido da forma como bem merece.

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  6. Com mais esta página da nossa história, fica provado que o ódio lisboeta e seus pasquins ao FC Porto faz parte do seu ADN.

    A mim nunca me enganaram.

    Um abraço

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  7. Lucho caso para se dizer que a tradição ainda é o que era. :)

    AzulForte continua a saga da nossa história com mais episódios com muito para contar repleto de vitórias.

    Um pormenor engraçado o nome do Jornal, eu sempre disse que a origem deles vem da comunicação social, um mito criado através de palavras de página de jornal e de uma maquiavélico Regime.

    Sport Lisboa e Regime, continuam com a mesma tradição a arrancar vitórias morais nos Jornais.

    AzulForte um grande abraço como prometido fica o tal copo para um dia que estiver por estes lados.

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  8. Mais uma vez, obrigado Amigos pelo apoio a este modesto mas gratificante trabalho.

    Caro Armando: fui eu que sugeri a periodicidade quinzenal para a publicação da “História”. O tamanho dos post, creio, é o mais adequado para evitar que o assunto se torne enfadonho. No entanto, estou preparado para publicar semanalmente. Tenho “material” para, nesta cadência (semana a semana), publicar durante muitos meses. É uma questão que debaterei com o grande “Comandante” BlueBoy, pois é a ele que cabe o alinhamento do blogue e a ele que compete decidir. Eu estou aberto a qualquer decisão e, de um modo ou outro, continuarei a ter muito gosto em colaborar com o “Bibó Porto, carago!” e a sentir-me recompensado pelos portistas que fazem o favor de visualizar as minhas postagens.
    Entretanto deve, em breve, aparecer uma “surpresa” que poderá ser publicada (enquanto durar) intercaladamente com a narrativa da “História”. E mais não devo dizer…
    Bom Amigo, obrigado pelas suas palavras.

    Um grande abraço a todos.

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  9. Afinal é mesmo assim: ontem como hoje o facciosismo da imprensa da “capital do Império” pretende denegrir o FC Porto.
    Mas o nosso grande Clube não se abateu, nem se deixa abater.

    Bibó Porto!!!
    Um beijo

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  10. Obrigado Dragão Azul Forte, por mais este pedacinho da nossa história!

    Em relação á imprensa, penso que só nos dá força, todas as injustiças que cometem connosco...

    BIBÓ PORTO

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  11. dá gosto, mas dá gosto mesmo passar por cá, a cada 15 dias, nestas «mágicas e saudosas» vivências do clube do nosso coração... com um trabalho magistral a cargo do nosso historiador, nas horas vagas, Fernando Moreira, mais conhecido por Dragão Azul Forte.

    e desta vez, a trazer-nos à cola uma tal e célebre carta de Alexandre Cal, que há 90 anos atrás, é caso para dizê-lo, já a sabia toda... o que não sabia, é que passado todo esse tempo, nada se teria mudado, continuando tudo na mesma.

    O que nos vale, é que mesmo contra a vontade desses agoirentos e nojentos, a lei da vida, encarregar-se-á de os mandar páquele sitio que nós sabemos, a ver se o ar se torna mais respirável, porque continua a tresandar a inveja e mediocridade em doses maciça.

    bem, nova historieta, segue dentro de momentos...

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