05 agosto, 2014

DA ANÁLISE À FORMULAÇÃO ESTRATÉGICA - parte II

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Tal como prometido no texto anterior este texto irá versar sobre a análise económico-financeira da FC Porto, Futebol SAD para que em conjunto com a análise estratégica anteriormente elaborada se possa apresentar uma nova formulação estratégica capaz de garantir as condições económico-financeiras necessárias ao sucesso desportivo mais estável, ou seja, sem a dependência das mais-valias das transferências dos passes dos atletas que por vezes se tornam de difícil substituição instantânea.

A título introdutório, numa análise económico-financeira devemos ser capazes de separar a actividade recorrente da actividade não recorrente. No FC Porto esta informação em termos de Demonstração de Resultados aparece separada e podemos ver que a actividade recorrente é deficitária. No entanto em muitos períodos desde 2005 as vendas líquidas de compras de passes de atletas tem permitido obter Resultados Líquidos positivos. Apesar destes resultados recorrentes negativos o valor total dos resultados operacionais desde a época 2004/2005 até à 2012/2013, última com dados conhecidos, ascende a 24,2M€.

É também importante perceber qual o comportamento dos resultados financeiros quando comparados com os resultados operacionais. No caso do FC Porto, os resultados financeiros têm levado à erosão dos Capitais Próprios.

A consequência do que apresentei até agora é um acumulado de Resultado Líquido bem negativo (21M€), que tem levado o nível de capitais próprios muito longe do desejável.

De seguida iremos partir para uma análise tripartida de Rentabilidade, Solvalibilidade e Crescimento.

Começando pela rentabilidade e como já vimos anteriormente apresentamos um valor negativo de Resultados Recorrentes. Uma vez que são estes os utilizados para o cálculo do Retorno do Capital Investido é de fácil antecipação que o Retorno do Capital Investido venha negativo na maioria dos períodos. Assim, a rentabilidade ao longo dos anos tem sido negativa. No entanto, devido ao efeito dos resultados não recorrentes a empresa ainda se apresenta com capital próprio positivo, à data deste último relatório anual. Podia aproveitar este ponto para a comparação com os rivais mas não o vou fazer porque com o mal dos outros podemos nós bem e o que nos interessa é sermos capazes de aumentar a nossa solidez ano após ano porque só assim conseguiremos manter o domínio desportivo que apresentamos nos últimos 30 anos.

Continuando a análise em termos de rentabilidade passando à Rentabilidade do Capital Próprio, ou seja, riqueza criada para o accionista e levando em consideração a totalidade dos gastos e rendimentos apresentamos um rácio ROE (Resultado Líquido/Capital Próprio) maioritariamente positivo e com valores em 2012 e 2013 muito acentuados (283% e 266%) devido aos baixos valores de Capital Próprio.

Assim, podemos ver que pelo prisma da rentabilidade há muitas decisões a tomar e é urgente minimizar o deficit de Resultados Operacionais Recorrentes para que no futuro aqui se obtenha uma fonte de criação de valor invertendo o ciclo actual.

Passando à óptica da Solvabilidade devemos confrontar o Fundo Maneio com as Necessidades em Fundo de Maneio. O Fundo de Maneio é o valor dos capitais permanentes que não é absorvido pelo financiamento do Activo Não Corrente e que é aplicado na cobertura das Necessidades de Fundo de Maneio do ciclo de exploração. Por outro lado, as Necessidades em Fundo de Maneio são o valor de Fundo de Maneio que a empresa necessita para funcionar normalmente de acordo com prazos e valores normais para a sua actividade. A confrontação destes 2 conceitos dá-nos a Tesouraria Líquida que é a diferença entre o Fundo de Maneio da empresa e o Fundo de Maneio normal de acordo com a actividade.

Pela análise anterior verificamos que o FC Porto se encontra até 2010 numa situação financeira de curto prazo complicada e que a partir dessa data passou a ter uma situação de tesouraria arriscada. Isto pode ser confirmado pelo aumento do prazo médio de pagamentos que passou de 176 dias em 2010 para 276 dias em 2013.

O Rácio de Liquidez Geral apresenta sistematicamente valores inferiores a 1 pelo que confirma as dificuldades de tesouraria que apenas não serão sentidas se a velocidade de rotação do Activo Corrente permitir fazer face às exigências de curto prazo.
A Autonomia Financeira, que determina a dependência face a capitais alheios e que deverá rondar os 35% apresenta valore muito inferiores o que demonstra a elevada dependência face a capitais alheio tal como o baixo montante de Capital Próprio deixava antever.

Partindo para o último ponto da análise, o crescimento e uma vez que a empresa apresenta sistematicamente valores de Economic Profit negativos a empresa destrói valor uma vez que não são levados em conta os resultados não recorrentes.

Olhando para as taxas de crescimento face às potenciais e como se incorpora os valores das transferências no ROE as taxas de crescimento potencial dão valores com pouco significado económico mas a principal ideia a reter é a necessidade de se atingir o equilíbrio ao nível dos resultados recorrentes quer seja pelo aumento da eficiência, ou seja, obter mais receitas com o actual nível de custos quer seja pela redução dos custos. Como sabemos que a redução de custos poderá afastar alguns dos maiores talentos jovens a solução deverá passar pelo incremento ao nível das receitas.

Como sei que isto já vai longo e é um tema maçador para alguns e como não vos quero afugentar deixo a dica que no próximo texto irei apresentar uma proposta estratégica que poderá ajudar ao aumento da eficiência.

Até Breve,
Fernando Delindro

4 comentários:

  1. Obrigada pelo trabalho, Fernando

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  2. Muito interessante este trabalho. A bola é redonda, mas quem veste a nossa camisola depende muito da gestão que se faz com estes "números"! Fico então a aguardar com espectativa pela proposta estratégica que com certeza não será o básico "temos que comprar barato e vendar caro"! :)
    Abraço!
    DMST

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  3. Caro amigo (permita que o trate assim)
    Em primeiro lugar parabéns por abordar um tema para o qual a apetência dos nossos amigos sócios, adeptos, e simpatizantes, não é muito acentuada.
    Seguindo a linha de raciocínio que já vem da Parte I da sua análise relembrar que realmente somos um clube desportivo, essencialmente de futebol, mas convirá recordar que nos bons velhos tempos era considerado eclético, repleto de modalidades e praticantes que nem queira saber. (Um parêntesis para referir a pouca importância que é dada no nosso espetacular Museu e às modalidades que foram glória do Clube agora reduzidas à expressão “amadoras”).
    Atualmente somos uma espécie de armazém de compra, venda e aluguer de atletas, nas mãos de empresários, agentes ou simples investidores que viram no futebol uma boa fonte de receita, como o meu amigo tão bem explicou nos seus textos I e II. O problema é que a produção corrente não chega para as encomendas, sejam essas de atletas que “subam” à equipa principal ou suficientemente “atrativos” para venda aos nossos ”clientes”.
    Daí a necessidade de capital (normalmente classificado como Tesouraria) que faça girar o negócio, recorrendo ao crédito da Banca (boa ou má não interessa agora para o caso) ou penhorando os nossos ativos (passes) a Investidores ou Fundos que por aí vegetam, redundando num prejuízo acumulado nos 10 anos que refere de vários milhões de euros.
    Se algum exemplo fosse necessário para ilustrar aquilo que o meu caro refere na sua brilhante exposição, bastaria vermos o que se está a passar nos 2 Circos da Capital. Dois clubes completamente falidos (perdoe-se o pleonasmo), agonizantes até à medula, são enaltecidos pelos lacaios dos pasquins que (também) vivem à custa do futebol.
    Quando saírem por ai as continhas de fecho do ano que acabou em 30 de junho poderemos analisar melhor o que por aqui vai. Assim como-quem-não-quer-a-coisa, sem ninguém “dar por ela”, vamos preparar-nos para um prejuízo semelhante ao do ano passado, ou seja, cerca de 30 M€.
    Grande abraço
    JOSE LIMA http://misticaazulebranca.blogspot.pt/

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  4. Muito obrigado pela análise. É sempre bom ler/ouvir quem realmente percebe e, ao mesmo tempo, tanto ama o nosso clube.

    Abraço

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