28 setembro, 2017

PORTO-AFRICA BLACK MAGIC CONNECTION.


  1. Depois do desaire europeu, frente a um Besiktas que evidenciou maior qualidade individual, o FC Porto voltou ao seu trajecto imaculado na Liga portuguesa com vitória difícil, embora justíssima, no Estádio dos Arcos e, depois, com vitória contundente sobre o Portimonense;

  2. Bem esteve Sérgio Conceição ao chutar o caso Aboubakar/Babel para canto, não sem referir que não tinha gostado. O mister actual aplicou, portanto, a máxima pedrotiana: “No FC Porto não há contestatários maricas, nem os problemas se levantam, porque nunca chegam a existir.

  3. Vila do Conde e Portimonense confirmaram o momento fulgurante de Moussa Marega, o homem do blitzkrieg azul-e-branco. O maliano é, sem sombra de dúvidas, o melhor jogador do FC Porto nesta fase da época, calando todos os maledicentes. A prova provada de que um treinador de qualidade é de facto capaz de potenciar/exponenciar as qualidades individuais (no caso de Marega, a sua potência muscular, velocidade e capacidade de explorar a profundidade) e esconder os seus defeitos (deficiência na recepção, no passe curto e visão de jogo);

  4. Vida difícil para Corona, que é sem sombra de dúvida infinitamente mais talentoso, mas também infinitamente mais preguiçoso, desleixado e intermitente que o africano;

  5. Por falar em África, Moussa e Vincent criam, julgo eu, a primeira dupla de ataque africana do FC Porto. A magia do ponta-de-lança africano, já cantava Jorge Ben, é de facto outra coisa. Combinar a força do Corno de África com os encantos, os cheiros e a magia do Magrebe, só podia resultar num voodoo explosivo: um Porto-Africa black magic connection. Se houvesse uma banda sonora para este FC Porto 2017/18, ela passaria sempre por Ali Farka Touré, Toumani Diabaté, por aí;

  6. Antes do encontro de Alvalade, havia que superar um Portimonense bem treinado e com bons argumentos, pelo que era óbvio que o treinador nunca poderia fazer qualquer tipo de gestão;

  7. Para haver gestão seria preciso ter um farto plantel à disposição, coisa que CONÇAS não tem. Vítor Pereira foi campeão com 11 jogadores + 1 pau para toda a obra (Défour) e o treinador actual não terá muito mais por onde inventar;

  8. É verdade que ainda se poderá explorar mais a variante de Ricardo a ala-direito, entrando Maxi para lateral, que apesar de não emprestar ao jogo a mesma velocidade e projecção no ataque que o português, ainda está aí para as curvas e pode vir a ser muito útil ao longo da temporada;

  9. Os três médios habitualmente suplentes – Herrera, André André e Otávio – é que terão que dar mais, agora que Danilo começa finalmente a subir de forma e que Oliver será sempre fulcral, não tanto pelo que está a jogar (a meu ver continua a ser pouco, demasiado afastado do último terço e com ainda pouca influência no jogo da equipa), mas sim pelas suas características que são únicas e imprescindíveis no plantel. O capitão mexicano já começa, aliás, a dar um ar da sua graça e tolo será quem pensar que Hector Herrera não será pedra fulcral nos esquemas de Sérgio Conceição;

  10. E por falar em médios, ao contrário do que esperava, João Carlos Teixeira tem aberto o livro em Braga. É cedo para tecer algum tipo de conclusão, até porque a concorrência que vai enfrentar é forte (Danilo, Fábio Martins, Horta, …), mas JCT parece estar a sair-se bem num clube onde a pressão é obviamente muito menor. Sendo um jogador com chancela Mendes, não podemos dizer que o empréstimo é apenas um passo para o regresso ao FC Porto;

  11. Soares precisa de trabalhar a sua condição física rapidamente, caso contrário arrisca-se a perder em definitivo o comboio da titularidade para Vicent e Moussa;

  12. Ainda por avaliar estão Reyes e Layun. O primeiro porque ainda não teve minutos dignos de se ver – quem sabe se não os poderá ter mais a médio do que a central – , o segundo porque é prematuro avaliar o seu desempenho com apenas uma amostra. Mas certo é que o mexicano tem que dar muito ao pedal, pois nem Ricardo nem Alex parecem estar para abébias. E, assumamos, Layun tem estado muito, muito longe do nível que chegou a exibir quando chegou ao FC Porto;

  13. O discurso de Sérgio Conceição depois do jogo é igual a si próprio e à Porto: agressivo, indomável, sem medo e sem manias, sim imitar ninguém, sem nada a dever, sem nada a temer. Um discurso de cabeça levantada, ao contrário do seu antecessor, que mais não era do que a voz do dono. Esteve muito bem ao pôr em sentido a comunicação social desprezível que nos desinforma;

  14. Palavra final, em contraponto, para Fernando Gomes, Presidente da FPF: faz lembrar um daqueles tradicionais personagens portugueses que, para escapar à miséria e à pobreza dos tempos da outra senhora, se muda de armas e bagagens para Lisboa, tendo que aí estabelecer vida, trabalho e família, adoptando à força e à pressa, de forma saloia e tacanha, os hábitos das elites e da burguesia da capital. Fernando Gomes é um desses homens, que chega à capital do império, deixa para trás todas as suas velhas roupagens e abraça por completo tudo o que a “grande cidade” lhe oferece. A pose institucional, os fatos de boa marca, as novas amizades, a vaidade que não cabe num mero gabinete, os almoços no Ritz e no Gambrinus, tudo em Lisboa o fascina e o seduz, de Lisboa tudo ele espera e acalenta. Longe vão os tempos em que para o fazer feliz lhe bastava uma camisola azul e branca vestida e uma bola de basket a saltitar. Quem com cães se deita…
Rodrigo de Almada Martins

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