Estava eu, num belo dia, sentado no sofá, a matutar - ou deverei dizer, a desesperar? - sobre o próximo artigo para o blog quando, vinda sabe-se lá de onde, ela surgiu, luminosa: a Ideia!
E se... (não é assim que todas começam?) fizesse uma série de artigos sobre glórias do passado, figuras míticas e incontornáveis na história do nosso clube? Nem olhei para trás. Estava desesperado por novas ideias e, qual náufrago no meio da tempestada, aproveitei a "salvação" surgida. O problema que se punha, já para não falar de onde conseguir arranjar informação, era a quantidade. Sim, porque isto de ser um clube secular, com uma história rica em títulos, pode ser muito bonito, mas dificulta imenso o trabalho do pobre escriba, tantos são os nomes que merecem perdurar na memória colectiva.
E se... (não é assim que todas começam?) fizesse uma série de artigos sobre glórias do passado, figuras míticas e incontornáveis na história do nosso clube? Nem olhei para trás. Estava desesperado por novas ideias e, qual náufrago no meio da tempestada, aproveitei a "salvação" surgida. O problema que se punha, já para não falar de onde conseguir arranjar informação, era a quantidade. Sim, porque isto de ser um clube secular, com uma história rica em títulos, pode ser muito bonito, mas dificulta imenso o trabalho do pobre escriba, tantos são os nomes que merecem perdurar na memória colectiva.
Deixando-me de lamentações, o trabalho está feito, parcialmente é certo, mas desbravando os escombros do passado, trazendo para a luz da actualidade rostos, nomes e acontecimentos que merecem ser perpetuados. Se, na imensa panóplia de nomes, a escolha de um ou outro encerra motivos subjectivos, existe um que me parece ser de todo consensual. Confesso que senti um friozinho na barriga quando decidi escrever sobre ele, esse nome que ainda hoje é proferido, com um fervor religioso, pelo meu pai. Todos já terão, por certo, ouvido falar no "Zé do Boné"...
José Maria Pedroto, o homem que nos fez ultrapassar o nosso Adamastor, a Ponte D. Luís. Aquela fronteira cruzada, de forma inexplicável, com o espectro da derrota a abater-se sobre a equipa. O grande problema era por onde começar...
Pedroto não é Mourinho. O special one foi um meteoro, poderoso, que se cruzou nos nossos céus. Abanou mentalidades, deixou marcas profundas no seu impacto mas... pufff... desvaneceu-se, numa noite de Maio, desaparecendo acompanhado pelo seu ar carrancudo e rezingão.
A história de Pedroto não é uma estória. A vida dele cruza-se, variadas vezes, com a do clube, sempre marcante, deixando cicatrizes profundas. Começando pelo fim, pode dizer-se, com toda a propriedade, que Pedroto é o pai deste Porto. Do Porto moderno. Do Porto que vence compulsivamente. Foi ele, personagem polémica [e não é assim, com todas as que se prezam?], mas indomável na defesa das suas causas, que criou um hábito, enraizado até hoje: o de VENCER! O Porto desempoeirado, capaz de assumir a sua grandeza sem qualquer espartilho psicológico, afastando os seus fantasmas, que tolhiam inexplicavelmente os jogadores em alturas decisivas. Com Pedroto, o Porto ganhou nova vida, um novo alento.
Por uma daquelas coincidências do destino [será mesmo coincidência?] Pedroto nasceu na freguesia de Almacave, local onde centenas de anos atrás D. Afonso Henriques realizou as primeiras Cortes para a fundação de Portugal. Simbolicamente, Pedroto nasceu num local que lhe moldou os genes. À Conquistador. Foi em 1960 que Pedroto "aterrou" no banco portista. Como treinador da equipa de juniores. Fadado para a glória, desde cedo fez mossa nos adversários, conquistando um inédito Torneio Internacional de Juniores da UEFA. Começava a carreira do "Mestre", nos bancos...
Académica, Leixões e Varzim beberam a sabedoria de Pedroto, até 1966, com o regresso deste, messiânico, ao banco do seu clube do coração: o FC PORTO! Ganhar era a sua sina. E ele fê-lo. Enumerar aqui, neste espaço, todos os episódios marcantes de Pedroto, seria demasiado fastidioso para o leitor. Deixo dois momentos, quiçá aqueles que me ficaram gravados, a fogo, na minha memória impressionada de menino, quando o meu pai me contava histórias à lareira:
Resgatado ao Boavista, onde treinara exemplarmente os axadrezados, Pedroto voltou ao Porto, dizendo o que lhe ía na alma. "Chegou a altura de estarmos de sobreaviso e verificar que a infelicidade dos árbitros já ultrapassou os limites e que, eventualmente, tenhamos de adoptar medidas de autodefesa, mas que possam definitivamente acabar com o gozo a que vamos estar sujeitos por aqueles que gozam com as grandes penalidades que nos são sonegadas e os golos irregulares que nos são marcados. Trata-se, realmente, de um gozo humilhante e que em defesa da nossa dignidade não poderemos deixar que continue". Como se constata, 3 décadas depois, o mesmo discurso poderia ser aplicado ao futebol português. Visionário, o Zé do Boné sabia bem os escolhos que era necessário ultrapassar, para fazer do Porto campeão.
Este Porto de agora, que ombreia com os colossos europeus, teve também a sua génese no trabalho metódico de Pedroto. Foi ele que, de regresso ao Porto e com Pinto da Costa como presidente, lançou os alicerces para os azuis e brancos de dimensão europeia. Infelizmente, já minado pela doença, não lhe coube orientar, no banco onde se sentia vivo, a equipa de 84, que de forma tenaz e persistente ultrapassou obstáculo atrás de obstáculo, com classe mas também com drama à mistura, até à primeira final europeia da história do Dragão. Prostrado numa cama de hospital, Pedroto viu os seus pupilos cairem de pé, perante o poderio da Juventus e os apitos espúrios de um árbitro da RDA [incrível que mesmo depois de 23 anos, ainda perdure na memória o nome desse palhaço: Adolf Prokop]. Os jogadores não puderam retribuir, com a Taça, todos os ensinamentos do velho mestre, mas aposto que este, mesmo com a vida a esvaír-se, sentiu o mesmo que todos os portistas sentiram, nessa noite: UM ENORME ORGULHO EM SERMOS O QUE SOMOS!
Pedroto morreu numa fria manhã de Janeiro, corria o ano de 1985. Está sepultado no cemitério de Agramonte, no mausoléu do clube que sempre amou.
ps - Como já devem ter notado, o artigo sobre Pedroto é demasiado curto. A vida dele dava, não para um, mas para dezenas de artigos, equivalentes a este. No entanto, ainda numa fase embrionária, existe um projecto ambicioso sobre o Zé do Boné. Seguir em frente com ele será uma tarefa hercúlea, que depende da boa vontade e disponibilidade de uns quantos, aqui no blog. Poderá estar aqui a génese de algo grandioso... ou nem por isso. Contudo, para que o sonho não morra à nascença, pedia a colaboração de todos aqueles que nos visitam. Fotografias, textos, links, tudo o que conheçam sobre Pedroto, mesmo que seja pouco, partilhem connosco. Enviem para o mail do blog, seja uma história que ouviram contar, um recorte de um jornal antigo que ande lá por casa, um site qualquer que tenham visitado, desde que contenha aquilo que se pretende: informações sobre o maior treinador de sempre, José Maria PEDROTO!
[nota do administrador] - sobre este tema, e quando ainda estava eu nos meus primeiros dias de brincar ao blog 'BiBó PoRtO, carago!' - decorria o dia 27.05.2006 e apenas 2 dias de vida - já nessa altura, e tudo fruto de uma salutar discussão uns dias antes com o amigo AZuL, achei por bem postar um texto dedicado ao enorme José Maria Pedroto... se o querem recordar, podem clicar aqui.
Ai falar, escrever sobre Pedroto isso é de facto dificil..ele é de facto o expeonte maximo deste Porto vindouro, deste Porto feito de Vitorias, nao que o passado nos deva envergonhar pelo contrario...mas depois do Zé do Boné passamos a ser Porto mais Porto...Esse sim o verdadeiro Special One....Amigo Paulo só desejo que consigas compilar e arranjar muito sobre este icone do Dragão..venha o livro que eu compro!!!!
ResponderEliminarParabéns porque ja tenho lido muito do que escreves mas este artigo/post é daqueles que mais me toca e me no sentir de Ser PORTISTA E SER DRAGÃO...
As declarações de José Maria Pedroto que são referidas no post são bem elucidativas da roubalheira descarada de que o nosso clube era vítima nos benditos anos 30, 40, 50, 60 e 70...infelizmente, para alguns, veio o 25 de Abril e a democracia, e as coisas passaram a ter que ser feitas com mais discrição...
ResponderEliminarPaulo, mais um ENORME MOMENTO que nos trazes com mais esta recordação da 'nossas glórias'... parabéns!
ResponderEliminarQuanto às palavras de Pedroto já nessa altura, ontem, tal como hoje, continuam 'muito actuais', porque há coisas que neste país de invejosos e ridiculos, não mudaram e parece que ninguém (além de nós próprios) está interessado em modificá-la.
É continuar a deixá-los 'ganir', porque a nossa marcha triunfante continua imune a essas 'bestas'.
aKeLe aBrAçO,
http://bibo-porto-carago.blogspot.com/
ps - Paulo, o repto do Estilhaço está feito!... já seguiram emails esta manhã recebidos para o teu endereço electrónico... está nas tuas mãos agora; e podes contar comigo e penso que tb com o Estilhaço para colocarmos isso em marcha para a 'inauguração oficial' dentro do prazo IMPOSTO pelo Estilhaço, senão, depois ninguém o vai aturar!! LOL
Malta, obrigado pelos elogios...
ResponderEliminarEm relação ao prazo imposto pelo Estilhaço, é favor ler os mails que já enviei. É preferível, se for essa a ideia, avançar com outro projecto para a data de 1 de Novembro. Também nós podemos escrever argumentos de qualidade...só nos falta mesmo um produtor k aposte na ideia para filme:)
Abraço,
Viva !
ResponderEliminarMuito obrigado pelo texto. Salveguardar a memória é preservar o futuro !
Faço parte daqueles que viu jogar "ao vivo" o Porto de Pedroto.Concordo totalmente :Foi Pedroto quem criou o hábito de vencer.
Já não concordo com a ideia que Pedroto seria o "Special One" dos nossos dias. Ele era demasiado grande para aceitar essa alcunha !
Já a alcunha "Zé do Boné" lembra Andy Capp, ou seja, um dos maiores personagens de sempre da banda desenhada. Andy Capp é um personagem incorrectamente político para o seu tempo, anos 50, 60 e 70, denunciando a hipocrisia da sociedade do seu tempo.
Para a lembrança : Foi um jornal do Porto ( O Primeiro de Janeiro ), o primeiro jornal a publicar, em Portugal, as BD de Andy Capp.
E Viva o Porto !
Ganda Zé......
ResponderEliminarnão há palavras para o que ele fez pelo nosso grande PORTO!!!!!!
Passem pelo meu blog e tragam pão.........hehehehe
divirtam-se
Magnífica ideia, magnífico post...
ResponderEliminarTambém eu vi as equipas de Pedroto jogarem, vi o FC Porto ser campeão com Pedroto, e no jogo que nos deu o campeonato com os lampiões após longo jejum 1-1, lembro-me da frase bomba do Mestre antes do jogo: " vamos deixá-los pousar ".
Pedroto já fazia os seus " mind games" com mestria.
Sempre tive um grande respeito e carinho pelo Mestre PEDROTO.
ResponderEliminarContinuo a pensar que JOSÉ MARIA PEDROTO era um homem que estava para lá (muito à frente) do tempo em que viveu.
Foi pena que o relógio do mundo não estivesse certo com o da vida de PEDROTO.
Não sou do tempo do Zé do Boné, mas sei bem aquilo que ele fez pelo noss Porto. A ele um grandíssimo obrigado e que a sua alma descanse em paz.
ResponderEliminarAo Paulo também um obrigado por tomar estas iniciativas.
Um abraço.
Parabéns, Paulo, porque o Pedroto é o nº 1. Antes de Mourinho, já Pedroto era Special. Antecipava as coisas com uma clarividência fantástica. Fossem resultados, roubos de igreja, meros lances num jogo de futebol ou até a forma como preparava os jogos e a utilização sublime que fazia da Imprensa.
ResponderEliminarSou desse tempo glorioso em que começámos a dar cabo do regime vigente, a trilogia BSB (Benfica, Sporting, Belenenses) na rotatividade da presidência da FPF, A Bola como único jornal desportivo (o Record vegetava apenas) e em cujas páginas, sabendo o alvo a que se destinavam e o universo dos seus leitores, Pedroto vertia as mais duras críticas que faziam corar de vergonha todos a sul do Douro.
Ele é que começou a derrubar o mito da ponte, era arrasador nas análises.
Dois exemplos, assim de repente:
- o Benfica ganhou em Roma (2-1) para a Taça UEFA, em 1983. Depois vinha às Antas com 3 pontos de avanço no campeonato. Primeiro, Pedroto disse que a desvantagem era de 1 ponto porque o Benfica ia perder (e perdeu 3-1). Depois, corrosivo, apesar de não haver conferências de Imprensa e cada jornal abordar o homem que se dispunha a tudo e a todos a qualquer hora, a 48 horas do jogo não houve jornal que não trouxesse o título: "O Porto corre 10 vezes mais do que a Roma". E o Porto arrasou o Benfica que, reconheça-se, era uma equipa formidável com João Alves, Carlos Manuel, Humberto, Nené, Filipovic, ganhou campeonato e taça, perdeu a UEFA ante o grande Anderlecht na Luz.
- outro exemplo, depois do bi o Porto precisava vencer o Sporting para quase garantir o tri, nas Antas, a três jornadas do fim. Empate 1-1, Romeu igualou de penálti. Mas Pedroto, no banco, disse-lhe para se posicionar "ali" porque Oliveira ia falhar dos 11 metros: Vaz defendeu e Romeu recargou.
Depois, e isso é outra estória, o Sporting ganhou em Guimarães com um autogolo do ex-leão Manaca como autêntico ponta-de-lança a cabecear para a sua própria baliza num golo de intuição extraordinária.
Foi o tri perdido no ano em que, até à derrota de 2-0 em Espinho na última jornada (sem relevância, o Sporting ia ser campeão e ganhou 3-0 ao Beira-Mar em casa), o FC Porto com Fonseca na baliza (Joaquim Torres nas primeiras jornadas por lesão do titular) sofreu apenas 7 golos naquelas 29 jornadas (e acabou com a melhor defesa de sempre, 9 golos sofridos, em todos os campeonatos).
Escrever sobre Pedroto dá-me uma enorme vontade de ter vivido o futebol (era um miúdo na fase terminal de Pedroto) naquela fase. Como gostaria eu de ter um treinador daqueles actualmente. Parabéns Paulo.
ResponderEliminaracerca de Pedroto recomendo a leitura do livro de Alfredo Barbosa publicado em 1998, chamado "Pedroto O Mestre"
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