07 abril, 2010

O grande Freitas

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/


Há muitos, muitos anos e fruto de razões que agora não interessam para esta conversa, os jogadores do FC Porto tinham algum receio de ir jogar ao estádio da Luz.

Numa semana em que o Porto tinha de vir jogar contra o Benfica, o maior treinador português de todos os tempos, José Maria Pedroto, resumiu a situação que, na sua opinião, levava a que o Benfica fosse muitas vezes campeão: no estádio desse clube lisboeta havia sempre “erros” de arbitragem e eram tão flagrantes que o Zé do Boné lhes chamou “roubos de catedral”.

Estava montado o banzé. O jornal A Bola, fez daquele desabafos escândalo nacional colocando-as na primeira página. Apelos foram feitos para que o povo benfiquista exibe-se o seu descontentamento e revolta perante tão “escandalosas” afirmações.

Reza a lenda que o Presidente do FC Porto, Américo de Sá, preocupado com a mais que provável má recepção aos jogadores e sabendo da tremideira que dava a alguns, chamou o chefe de departamento de futebol Pinto da Costa e o treinador Pedroto para ver como é que se havia de lidar com a situação. Aí mesmo o treinador disse-lhe para não se preocupar que quando a equipa saísse para o jogo só se iriam ouvir meia dúzia de assobios.

Chegou o dia do jogo. A Luz rebentava pelas costuras: cento e vinte mil lampiões em fúria esperavam o aquecimento dos azuis e brancos.

Deu-se a táctica mais cedo que o habitual e quando os jogadores, meio assustados com aquele clima, se preparavam para subir ao relvado o Pedroto chama o Freitas e diz-lhe: “ó Rapaz, vais sozinho aquecer. Pões-te de frente para o Terceiro Anel e passas o tempo a mostrar-lhes os dedos do meio e bem apontados para os gajos. Ouvis-te?”.

O Freitas, negro de Angola, ficou branco como a cal. É que, apesar de ser um daqueles centrais que vêm o espaço entre os pés e o pescoço como uma canela só, era um rapaz tímido e aquela malta toda sempre assustava. Mas o respeitinho é muito bonito e o grande José Maria não era, propriamente, um treinador dialogante. Benzeu-se, despediu-se dos colegas e lá foi o bom do Freitas.

A Luz esteve para desabar. De cada vez que o jogador do Porto levantava o braço havia síncopes entre os adeptos do Benfica. Os assobios eram tantos que os otorrinos alfacinhas não tiveram mãos a medir durante um mês. A pobre da mãe do Freitas, em Cabinda, foi tão insultada que teria que durar 4000 anos para ter feito um milésimo das coisas de que a lampionagem a acusava.

Passados vinte minutos entrou o resto da equipa. Nessa altura já a turba estava tão cansada que já não houve grandes reacções: Meia dúzia de assobios afónicos e uns insultos sussurrados.

O Freitas ficou praticamente surdo mas a equipa portou-se bem.

10 comentários:

  1. Grande história. Os tempos passam mas certos hábitos "arbitrários" ainda andam por cá. Pedroto era um mestre. E o Freitas era um discípulo obediente. Eheh.

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  2. Freitas, grande figura, uma parede que até chegou a jogar lesionado, durante vários minutos - perónio fracturado.

    Um abraço

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  3. Mais q a coragem do Freitas aqui imperou foi a perspicácia e sabedoria do grande mestre Pedroto.

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  4. Até fico com pena do Freitas, mas foi um sacrifício em nome da equipa!

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  5. Grande central este Freitas. Um central à boa moda do porto, antes quebrar que torcer!
    Fez parte da grande equipa que esteve na nossa primeira grande prestação europeia.
    Corria a época de 1977/78, e na Taça das Taças, após termos eliminado o Colónia (2-2 na Alemanha e 1-0 em Coimbra, por interdição das Antas), apareceu-nos pela frente na 2ª eliminatória o Manchester United.
    No Estádio das Antas na primeira mão, brilhou o brasileiro Duda (contratado ao Setúbal), que marcou de 3 golos, o outro golo foi apontado Oliveira, selando o resultado final nuns expressivos 4 a 0 que nos davam uma aparente tranquilidade para o jogo da segunda mão em Old Trafford.
    Na segunda mão em Inglaterra, logo aos 8 minutos o Manchester United abre o marcador, mas o herói portista desse jogo, Seninho ao minuto 29 empata. Aos 39 minutos Murça aponta o seu primeiro auto-golo no jogo, e passado 5 minutos os ingleses ampliam para 3 a 1 o resultado. Na segunda parte do jogo o Manchester United aos 65 minutos faz o 4 a 1, mas novamente Seninho ao minuto 85 cala os ingleses reduzindo para 4 a 2. O jogo não terminou sem que o infeliz Murça apontasse o seu segundo auto-golo. O resultado final foi portanto 5 a 2.

    revejam estes momentos aqui:

    http://www.dailymotion.com/video/xbv799_sport

    http://www.dailymotion.com/video/xbv8ex_sport

    saudações portistas

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  6. Bola na área do Porto e "corta freitas".
    Mudou quase tudo daí para cá, agora eles é que se cagam todos quando vão ao Dragão e nós é quem ganhamos mais vezes. Igual mesmo só aquele amontoado de cabeçudos a insultar e a cuspir ranho de raiva, orquestrar manobras nos túneis e diabinhos a dar cachaços nos arbitros auxiliares. Mas Grande Freitas

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  7. eu sou suspeito porque o mister freitas foi meu treinador nos meus primeiros anos de dragao ao peito, ainda no campo da constituiçao, ja la vao uns bons 18, 19 anos! nunca o vi jogar, mas pelo que conheci dele... grande homem! um homem sem medo que exigia ao maximo de todos os atletas ( infantil na altura) mas justo, com ele todos tinham oportunidade de jogar!
    agora ao saber desta historia tenho mais orgulho em dizer... eu fui treinado pelo mister Freitas!
    "com o porto sempre.. pelo porto tudo!

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  8. Bonita história, Pedro Marques Lopes, sim senhor.

    Grande Freitas... e grande PEDROTO!

    TETRAbraço

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  9. Que dizer ?!
    Que, treinadores com a alma de Pedroto (e de Bobby Robson) já não existem ? Que somos um clube que teve a honra de ser treinado por estes dois Senhores, a quem muito eu honro a memória, mas quero algo senão igual, parecido para o futuro.

    Quero a "arrogância" salutar de Pedroto, quero a técnica e a exigência de Robson (saudades daquele sorriso, daquela superioridade tão doce).
    Não quero cá lugares na liga como o outro, mas quero garantir no plantel jogadores como Falcao.

    Pedro, a história mostra a nossa garra, o pobre Freitas lá foi obrigado a fazer um gesto menos bonito, mas se em prol da tranquilidade da entrada dos nossos... lá teve de ser :)

    nota: estive fora estes últimos dias, dai não ter comentado as respostas ao meu artigo, mas houve lá comentários que acertaram no meu eleito. Não vou, não posso revelar, porque imaginem que não é esse, e o que for vai ficar tristinho por não ter sido o meu escolhido :)

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  10. Olá, é a primeira vez que comento no teu blog, apesar de ser um leitor assiduo.
    lembro-me tao bem de ver o grande Freitas jogar. Com ele ou passava o homem ou passava a bola. Este era um verdadeiro Dragão como a maioria dos jogadores daquela época.

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