04 maio, 2010

3 comentários:

  1. Estava reservado o quê ?
    por Miguel Sousa Tavares n´A Bola.

    1 Estava reservado o primeiro título do Benfica conquistado no estádio do FC Porto. Estavam reservados os festejos na Praça do Município do Porto e de Lisboa, no Estádio da Luz, no Marquês de Pombal, em várias praças do país. Estava reservado o «avião dos campeões» e uma arbitragem à medida da festividade. Estava reservado mais um jogo contra dez durante grande parte do tempo e a confirmação de Cardozo como 'Bola de Prata'. Estava reservado o Bruno Alves como o vilão de serviço e a entrega pela Liga do troféu de campeão já no próximo domingo na Luz (o FC Porto só recebeu o de 2009 há quinze dias...). Estavam reservadas as eufóricas primeiras páginas dos jornais desportivos de Lisboa e o texto galvanizante do SIAP (Serviço de Informações Araújo Pereira).
    Estava tudo reservado, mas esqueceram-se de um pormenor: avisar os ainda tetracampeões de Portugal de que eles seriam parte da festa. E esqueceram-se de avisar o Cardozo de que era preciso ter conseguido tocar na bola, uma vez que fosse, em lugar de ficar à espera do penalty habitual. E esqueceram-se de dizer ao Bruno Alves que marcar um golo cheio de estilo e no meio das «torres intransponíveis» do Benfica, passar o jogo inteiro sem deixar o Cardozo tocar na bola e sem fazer uma falta (uma única!), não é coisa que se faça aos anunciados campeões.

    2 Não sei quando é que Olegário Benquerença dará por expurgado o crime de não ter visto o hipotético golo do Benfica ao Porto na Luz, já lá vão uns anos (e que, a ter existido, ele jamais poderia ter visto). Sei que, desde então, não se tem poupado a expiações sem fim, a última das quais anteontem. Mas, antes de inflectir o critério disciplinar, com chocante benefício dos anunciados campeões, Olegário tratou de mostrar — como já se tinha visto em San Siro, onde decidiu a sorte da meia-final da Champions — que está longe de justificar a chamada ao Mundial. Tal como em S, Siro, ele mostrou no Dragão que atravessa uma fase de deslumbramento que o faz achar--se mais importante do que o próprio jogo — o verdadeiro artista. E, tal como disse Jesualdo, mostrou pior ainda: que tinha medo do jogo. E, todavia, apanhou, no campo, um dos mais pacíficos jogos entre Benfica e FC Porto que me lembro: de parte a parte, não houve entradas a magoar, violência, jogo sujo, sururus, indisciplina dos jogadores. Mas, ele, valentão, quis «segurar o jogo»... contra as bancadas. E entrou num desvario de cartões amarelos, que só podia, inevitavelmente, conduzir à destruição do próprio jogo: os sete primeiros cartões amarelos que mostrou (e que prejudicaram mais o Benfica) não tiveram a menor razão de ser. Depois, foi a barbaridade do segundo amarelo a Fucile, e depois de o ter expulso por uma inventada simulação de penalty, perdoou duas vezes o amarelo a Di María que o fez duas vezes (e como habitualmente) e perdoou o vermelho directo a Luisão e Maxi Pereira. Entrou como um leão, saiu como uma águia. Fez o que pôde para estragar o jogo e só não falseou o resultado porque o FC Porto, farto de se ver prejudicado pelas arbitragens esta época, fez das tripas coração e foi em busca da vitória, dez contra onze. Espero que José Mourinho tenha visto o jogo. E Vítor Pereira também.

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  2. 3 Como de costume em todos ou quase todos os jogos importantes desta época, Jorge Jesus tinha os 25 jogadores à disposição. Já Jesualdo, tinha quatro titularíssimos de baixa ou castigo cirúrgico: Helton, Ruben Micael, Varela e Falcão. Mas onde Jesualdo começou a ganhar o jogo, e contra vontade, foi, ironicamente, na baixa de Helton: como aqui tenho escrito, Beto mostrou, uma vez mais, que é muito melhor guarda-redes e transmite muito mais segurança do que Helton.

    Grande erro de Jesualdo ao não ter substituído o Fucile, assim que viu o primeiro amarelo ser-lhe mostrado por Olegário Benquerença... por nada. Esse 'nada' é que era perigoso e fazia temer o pior: segundo 'nada' e Fucile foi para a rua. Era de prever.

    4 Não foi um grande jogo, tecnicamente, mas foi jogado com emoção e com grande determinação da parte do FC Porto. Vitória mais do que merecida e um anunciado campeão que, jogando metade do jogo com um a mais, não conseguiu criar mais nenhuma oportunidade flagrante e ainda sofreu dois golos e viu mais um esbarrar na trave, com Quim batido. Foi uma pequena vingança pelas duas derrotas da época contra o Benfica e uma despedida do campeonato e do Dragão digna de campeões.

    5 Já o Braga tinha levado lá 5-1 e eu mantenho-me na minha: não obstante a grande época do Sp. Braga, não obstante o grande trabalho de Domingos Paciência, não obstante a desigualdade de meios, o FC Porto, apesar de tudo, jogou o suficiente para mostrar que é bem melhor equipa que o Sp. Braga e, não fossem os incidentes de percurso — uns internos, outros externos — teria, pelo menos, garantido o segundo lugar. Disse Luís Filipe Vieira que o Hulk é o jogador que mais bolas perde no campeonato (natural, para quem percebe de futebol...), com isso querendo significar que a suspensão por dois meses não fez falta ao FC Porto. Infelizmente para a curiosa tese do presidente do Benfica, desde que ele voltou há nove jogos, o FC Porto só conhece um verbo: vencer.

    Pelo que, é mais do que natural, mais do que legítimo, afirmar que quem conseguiu tirar o FC Porto da Liga dos Campeões do ano que vem (e, como se verá, em prejuízo do futebol português) foi o Sr. Ricardo Costa. Já o havia tentado com o «Apito Frustrado», agora conseguiu-o com o «Túnel Encantado». E mais uma vez o Braga ganhou um jogo com um erro de arbitragem, conjugado com uma oferta do adversário. Eu sei que é de bom tom enaltecer os pequenos face aos grandes — sobretudo se as vitórias dos pequenos são alcançadas à custa do FC Porto. Mas, se se derem ao trabalho de fazer a contabilidade dos pontos ganhos e perdidos com erros de arbitragem ao longo desta época, escusam de procurar outro motivo para o inabitual terceiro lugar do FC Porto.

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  3. 6 Tenho um estranho sentimento: como aqui escrevi a semana passada, sinto uma grande admiração por José Mourinho, como treinador e como personalidade. Mas também, como já o escrevi, não é por ele ser quem é e, para mais, português, que consigo calar esta evidência: o futebol que ele vem apresentando — ainda no Chelsea e agora no Inter — é tudo aquilo de que eu não gosto.

    Aconteceu-me mesmo esta coisa impensável: adormecer a ver o Barcelona-Inter, uma meia-final da Champions. Sim, eu sei: jogou em inferioridade numérica durante uma hora — talvez o melhor que lhe aconteceu para poder justificar aquela táctica de 9x0x0 — mas, como vimos anteontem no Dragão, isso não serve de desculpa para tudo. Não serve, sobretudo, para justificar esta inacreditável estatística: nenhum remate à baliza adversária, nenhum ataque digno desse nome, nenhuma vez em que o Inter entrou sequer na área do Barcelona (excepto se foi quando adormeci) e 57 passes certos contra 542! Ou seja, a defender-se, os jogadores do Inter nem sequer se preocupavam em tentar sair a jogar: era pontapé para a frente, dez dentro da área e fé em Deus. Mourinho conseguiu, de facto, uma proeza, porque aquela equipa não vale nada, não vale de certeza a final da Champions. E, por isso mesmo, a sua proeza tem ainda mais valor: ele anulou o futebol da melhor equipa do mundo, com um grupo de rapazes de pontapé para a frente. O que é triste é que não anulou apenas o futebol do Barcelona: anulou o próprio futebol. E eu não sei se isso é motivo de festejo.

    7 Segundo rezam as crónicas, cinco mil benfiquistas esperaram de pé, na fila, durante duas ou três horas, para comprarem bilhete para o jogo da Luz da próxima e última jornada. Num dia de semana e em horário de trabalho. Presumo que não fossem reformados ou doentes, porque não aguentariam a espera em pé. Presumo que não estivessem todos com o subsídio de desemprego ou o RSI, ou teriam coisas mais prementes em que gastar o dinheiro. Presumo, enfim, que tenham gasto o tempo a dizer mal do FC Porto, do governo e da situação de falência económica e financeira a que «eles» conduziram o país.

    MST

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