10 janeiro, 2014

Azul e Franco

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Dia 21 de Abril de 1985. Um médico obstetra atrasava o parto de uma paciente para não ter de sair das Antas antes do minuto 90. Ainda viu o golo de Inácio aos 55 minutos de jogo. O FCPorto fazia o seu terceiro tento e colocava definitivamente um ponto final na história daquela partida com o Penafiel.

Horas depois, demasiadas horas depois, eu nasci. A minha história começou naquele instante, necessária e umbilicalmente ligada ao FCPorto.

Sou Portista. Sou do Porto. Sou do Norte.

Não ligo à Selecção Portuguesa, excepto nas fases finais de grandes competições, em que vejo os jogos e torço pelos jogadores do FCPorto (não vi os Portugal vs Suécia). Gosto que o FCPorto ganhe e que ganhe por muitos, seja com o Real de Massamá, seja com o Real Madrid. Gosto que o Benfica perca e que perca por muitos, cá ou lá, onde tiver de ser.

Tenho duas explicações para isto: uma de ordem racional e outra de ordem transcendente.

Racionalmente:

O FCPorto, enquanto conceito, traduz, a meus olhos, uma espécie de modo de vida. Não detém o maior número de simpatizantes; não é o mais rico; não tem grande imprensa; não tem o maior estádio; não é o favorito do poder.

Pois não.

Contra factos de nada vale argumentar.

Mas, por outro lado, quando outros vivem dos seis milhões que nunca foram, o FCPorto contenta-se com aqueles que realmente têm. Quando outros vivem das glórias do passado, o FCPorto tem saudades da próxima vitória. Quando outros pensam que têm o melhor plantel dos últimos 30 anos, o FCPorto trabalha. Quando outros querem ganhar a Liga dos Campeões no seu estádio, o FCPorto quer ganhar cada jogo, um de cada vez, sem pressas. Quando outros afirmam, no início da época, que “este ano ninguém nos pára”, o FCPorto promete aquilo que pode dar (e dá!): trabalho. Quando os jornais despedem o treinador do FCPorto e vendem os seus jogadores ao desbarato, o FCPorto limita-se a ganhar e a fazer os melhores negócios do mundo do Futebol (é um facto). Quando o Record faz manchete com a lesão de Liedson no dia seguinte ao FCPorto ter virado uma eliminatória no campo do Panathinaikos, o FCPorto ganha a Taça Uefa.

Quando outros reservam rotundas e compram foguetes antes da festa, o FCPorto faz a festa.

Digamos que o FCPorto surge como a antítese daquela soberba imperialista que reina e faz escola neste pequeno país (no poder político, nos jornais, nas faculdades, nos escritórios de advogados e um pouco por todo o lado) e que olha com uma sobranceria bacoca para aqueles saloios lá de cima, cheios de sotaque, que trocam os b´s pelos v´s, que pensam diferente, que são diferentes, que não caiem nas cantigas mal-amanhadas de quem nem sequer sabe, porque muito provavelmente nunca se deu ao trabalho de sair do seu buraco, do que se quer dizer quando se fala de trabalho, de mérito, de não gostar de ser muita parra e pouca uva, de acreditar até ao minuto 92.

A forma de ser do FCPorto acaba, assim, por transformar um simples clube em algo transversal, aplicável a todos os campos da vida, não só ao desporto, mas também às relações profissionais, académicas, pessoais e etc..

Transcendentalmente:

Não tenho qualquer espécie de dúvida quando se trata de eleger o dia mais feliz da minha vida, o dia em que fui maior que o meu próprio corpo, em que não me confinei nos seus limites, em que fomos mais do que aqueles que gritavam, em que fomos mais do que onze: 26 de Maio de 2004.

E isto não se explica.

Não consigo explicar a razão pela qual, em determinados momentos, momentos em que preciso, tenho plena certeza, mas uma convicção verdadeiramente inabalável, de que o FCPorto estará lá para mim, para me dar mais uma alegria, mais alento, para me provar que as coisas continuam a fazer sentido.

Não tenho o dom da fé (julgo convictamente tratar-se mesmo de um dom, que se tem ou não se tem, algo que não é passível de ser construído ou alimentada do nada). Mas, sem querer melindrar ninguém, só consigo compreender a fé quando a comparo àquilo que me une ao FCPorto.

E isto, mais uma vez, não se explica. É assim. É, mais do que um dom, uma felicidade imensa. O sentimento de pertença, a ideia de que muitos outros se identificam com os nossos valores e se agrupam em torno de algo que os exprime e exalta é, de facto, algo extraordinário e que sempre deverei ao FCPorto.

Para mim, ser do FCPorto é isto e as minhas palavras terão necessariamente de ser enquadradas e entendidas neste contexto muito particular.

Estão feitas as apresentações. Doravante, quinzenalmente, poderão encontrar neste espaço crónicas relacionadas com o FCPorto, sempre neste tom, sempre assim: Azul e Franco.

Pedro Ferreira de Sousa

PS 1 – Temas para uma crónica mais tradicional não faltavam: Carlos Eduardo, a teimosia de Paulo Fonseca, o duplo pivot, o desaparecimento de Eusébio, a teimosia de Paulo Fonseca, o Benfica - Porto que se avizinha, a teimosia de Paulo Fonseca e etc.. Optei, no entanto, por uma pequena apresentação, até para que se possa começar a perceber aquilo que, no futuro, encontrarão neste espaço. Vim, mais tarde, a saber que era esta a tradição do blog. Estamos, portanto, em sintonia.

PS 2 – Por último, uma palavra muito especial de agradecimento ao bLuE bOy, pelo convite que tanto prazer me deu receber e aceitar, ao RAM, por ter intermediado o início da minha participação no blog (e por ser um grande amigo, não obstante as distâncias que a vida acaba por nos impor), e ao José Eduardo, pela feliz sugestão do título deste espaço.

4 comentários:

  1. Belíssima apresentação do ADN portista.

    As maiores felicidades para a aventura escrita.

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  2. @ Pedro

    bem, fico à espera de mais :D
    votos de muitas felicidades! para esta tua/nossa nova aventura

    abr@ço
    Miguel | Tomo II

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  3. Eu só imagino como a sua mãe deve ter odiado esse médico obstetra... Não pensou em processá-lo ?
    (é que com essas brincadeiras poderia não ter nascido um portista da gema, e tudo para ver um golo do Inácio!)

    bem, eu conheço um padre que vai à sacristia a meio da missa saber qual é o resultado, mas, pelo menos não falha o horário da dita...

    Sejemos azuis e francos: contra o porto gosto que o fifica perca por meio ou por muitos. De preferência por muitos; mas nada de ser esquisito.- Contra os restantes tanto me faz...
    já o zbording, nestas fases de levantar a crista, dá-me muitas ganas que tropece com estrondo; não lhes suporto a mania da superioridade moral!... batoteiros, fiteiros e coitadinhos... não há pior!
    (pior só o túnel, mas esse não tem paralelo a não ser nas ações da máfia!)

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  4. O FC PORTO é "underground"
    os avermelhados são mainstream....

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