18 janeiro, 2014

O Murro na Mesa

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E aos meados de Janeiro o FC Porto acordou. Já tardava. Isto de dormir a sono solto até meio da tarde não está com nada. A derrota na Capital do Império parece ter abanado os alicerces da estrutura azul e branca. Pena que tenha sido preciso chegar até este ponto.

Vários sinais indicam que sim, que o FC Porto, o Presidente e o treinador acordaram para o problema que têm em mãos e decidiram pôr mãos à obra. Primeiro, a descida do Presidente ao balneário após o clássico de Domingo. Depois, a entrevista ao Porto Canal. Por fim, as reacções de Paulo Fonseca. Pelo meio, claro, as brincadeiras de Manuel Serrão e o apontar de dedo de António Oliveira.

Não que a nação portista tenha entrado em estado de emergência, pois o Presidente que temos percebe mais de futebol a dormir do que o país inteiro acordado. Mas é um facto que o clube parecia adormecido, à imagem do seu treinador: simpático, bom rapaz, porreiro, sorridente, educado, polido, contido, tímido, reservado. Só que tal postura, tal presença, tal simpatia e sorrisos, configuram o oposto do que deve ser o papel – ou tem sido – de um treinador do FC Porto. Foi assim com Jesualdo Ferreira, que deu o peito às balas quando toda uma estrutura se via a braços com a defesa no processo Apito Dourado; foi assim com Vítor Pereira, que teve que lutar contra fantasmas e inimigos internos e externos. O treinador do FC Porto nunca pode ser um homem simpático, nunca pode ser do establishment, tem que dar o murro na mesa, tem que expôr quem nos rouba, tem que responder a quem nos diminui, tem que fazer a defesa intransigente dos seus jogadores e da sua equipa, tem que estar permanentemente alerta e pronto a contra-atacar. Em suma: não pode nunca baixar os braços e a cabeça, nem ter uma atitude passiva.

Parece-me a mim que Paulo Fonseca ainda não percebeu o que é isto de ser treinador do FC Porto. Em certa medida, percebe-se. Fonseca nasceu em Moçambique, viveu no Barreiro e cresceu no futebol em clubes como o Pinhalnovense, Desportivo das Aves e Paços de Ferreira. Nem sequer, pelo que sabe, teve ligações afectivas ao FC Porto. Não tem experiência do dia-a-dia de um grande clube, dos seus meandros, da guerrilha permanente, da necessidade de ser não apenas um táctico dentro de campo, mas também um representante e embaixador do clube. Fonseca tem que aprender, por assim dizer, a vestir definitivamente a camisola do clube que lhe paga e que representa. Já não se lhe pede que se assuma portista desde pequenino, muito menos portista para a vida inteira, mas sim que, enquanto aqui estiver, arregace as mangas e defenda com unhas e dentes o Dragão que usa na lapela do seu blaser.

A entrevista do Presidente surge como um wake-up calling. Unir as tropas, reorganizar os batalhões, prepará-los para o que aí vem. Configura um toque ao treinador, mas acima de tudo uma achega aos jogadores. Quando o Presidente diz que, se fosse hoje o fim da época, renovaria com Paulo Fonseca, mais não é do que um aviso a quem treina diariamente: meus amigos, isto é o FC Porto, aqui os jogadores não despedem treinadores. Tratem de jogar o melhor que podem e sabem, falem menos e corram mais. É com este treinador ao leme que vão até ao fim da época e depois logo se vê. Avisos necessários principalmente para atletas como Défour, Quintero, Jackson, entre outros, que se têm notabilizado mais pelas palavras do que pelas acções.

Fonseca reagiu bem à entrevista do Presidente. Em conssonância e em harmonia. Roubalheira escandalosa, sim. Que não disfarça o mau futebol praticado (opinião pessoal), mas que contribuiu de sobremaneira para a derrota e para a diferença de três pontos (facto). Referir que há uma campanha para denegrir o FC Porto. Responder de caras que todos gostam que a nossa mulher diga todos os dias que nos ama. E concluir dizendo que se fosse ao contrário teriam chovido picaretas.

Pois é, bem-vindo ao mundo real, treinador Paulo Fonseca. Há que dar o peito às balas, vestir a camisola, dar o corpo ao manifesto. Sem isso dificilmente vamos lá. É tempo de dar um murro na mesa para fora e, lá dentro, fazer ver aos jogadores que há que correr e suar mais que os outros.

Não acredito, pessoalmente, que uma melhoria nesta segunda volta dê para muito mais que ser Campeão com bastante suor à mistura. Julgo mesmo que a Liga Europa ficará pelo caminho no encontro com o Nápoles. Mas há um campeonato em disputa. E esse está ao alcance. Fonseca tem todas as condições para ser Campeão, não de Inverno (que esse titulo não queremos), mas Nacional. E, além disso, tem Quaresma. Seria bom que lá dentro pensassem assim. Cada jogo, uma batalha. Cada vitória, um passo mais próximo do título. Cada golo, um passo mais próximo da vitória. Há anos assim. Sofridos, cansativos, duros de roer. Este é um deles. Há que mudar o chip! Eu já mudei o meu. Vamos a isso.

Rodrigo de Almada Martins

5 comentários:

  1. Mas não é com o Eintracht que vamos jogar??? Ou serão "favas contadas" ?

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  2. Com o futebol apresentado já passámos à próxima eleminatória de certeza!

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  3. oh anónimo milhafre, vai passar pó branco na etar! cheiras a merda ao longe!
    Força grande PORTO, tou apaixonado..."sabes a letra,mouro?

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  4. Bom post com uma frase lapidar: “o Presidente que temos percebe mais de futebol a dormir do que o país inteiro acordado.”

    Perante todo este espetáculo que têm sido as últimas semanas, ocorre-me dizer o seguinte:

    Quando Pinto da Costa e esta SAD cheia de incompetentes saírem do clube, não faltarão génios do futebol, verdadeiros gestores de topo que assumirão as rédeas do clube e com certeza escolherão SEMPRE os melhores treinadores, os melhores jogadores e os melhores tratadores de relva… Nunca se enganarão em escolha nenhuma e o FC Porto será todos anos vencedor da Liga dos Campeões e ganhará o campeonato com 35 pontos de vantagem…

    E os 30 anos seguintes serão com certeza muito melhores que aqueles que passaram.

    Só uma nota final: para quem critica a entrevista dada por Pinto da Costa, apenas deixo uma mensagem: quando Pinto da Costa sair, não faltarão oportunidades para todos estes génios da gestão desportiva saírem da toca e darem a cara… Não me parece que seja necessário ser muito inteligente para perceber o porquê e a principal finalidade daquela entrevista… Basta ter só um pouco de massa cinzenta e conhecer minimamente o clube.

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  5. Mais uma crónica muito bem apreciada.Concordo com tudo o que diz.Parabéns por exprimir o que sinto mas não conseguiria dizer em palavras.Abraço.Viva o F.C.P.

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