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Quando saiu já irritava. A mania, o egoísmo, os tiques de vedeta, a apatia, o andar a passo sem bola, a falta de motivação, o ar de estrela sem céu suficiente. Tudo já cansava aos olhos portistas. Partiu e, deixando saudades (como não deixar?), nunca pareceu ser possível ou desejável que não tivesse saído. Era daquelas coisas inevitáveis e que vêm a calhar. O seu ego já não cabia no Dragão e há sempre outros a querer entrar.
O tempo reabilita um jogador, já se sabe. Realça os pontos fortes e dilui ou apaga os pontos fracos. Quaresma tem as duas coisas às carradas. O que acrescenta de um lado, retira do outro. Se traz alguma coisa, apaga outra qualquer. Se traz muito de bom, traz também muito de mau. Se confere imaginação, traz desordem. Se traz rebeldia à linha atacante, traz irresponsabilidade na ajuda ao lateral. Se traz com ele capacidade no um para um com o lateral adversário, traz também um jogo mais perro e menos mecânico. Se traz bolas para Jackson, traz também muitas bolas para ele, só para ele, num egoísmo sem fim.
É assim Quaresma. Um jogador de paradoxos. Alguém que nunca será consensual, a não ser que enverede pela carreira circense. Quaresma não se ama nem se odeia. Ama-se com um mas. Odeia-se com um contudo ou um porém.
E no entanto, lá está, não deixa de parecer exactamente aquilo que o FC Porto precisa nesta altura. Com Quaresma vem também uma áurea à sua volta. De craque, de fantasista, de Mustang, de Harry Potter, de magia, de surpresa, de truques na manga, das trivelas. Quaresma devolve e impõe respeito às alas do FC Porto. Com ele em campo, mesmo a jogar mal, não há lateral adversário que pense sequer apoiar o ataque. Ficarão todos cá atrás, colados ao trinco e ao central, com medo do que ele irá inventar desta vez. Respeito. Medo. Peso. Imponência. O tal Mustang, literalmente. Mais que o futebol propriamente dito, é isso que traz Quaresma. Alguém em quem os focos de luz e as atenções se irão concentrar. E isso poderá, em última análise, retirar pressão sobre o resto da equipa, com demasiado medo de existir. Deixará na sombra Kelvin, Licá, Carlos Eduardo e Herrera, possibilitando que cresçam devagarinho e sem barulho.
O regresso, em parte apoteótico, em parte receoso, encerra talvez o último grande capítulo da carreira de Quaresma. A partir daqui mais nada. Só deserto, no Dubai, nos Emirados, no Egpito, na Arábia, onde for. Este é o último comboio da sua vida futebolística. Não passa mais nenhum na sua estação. Só um louco para o desperdiçar.
Li, durante estes anos, várias definições acerca de Quaresma. Peixe grande em lago pequeno e peixe pequeno em lago grande é uma delas. Óptima. Mas a melhor que conheço veio mesmo de um conhecido sportinguista, quando instado a comentar a irregularidade do Mustang: um génio é um génio. Não se lhe pode pedir que faça obras de arte todos os dias. Afinal de contas, quantas sinfonias compôs o Mozart ou o Beethoven?
Olhando para toda aquela qualidade e estilo, dá vontade de trocar dez anos de vida por uma reencarnação num futebolista com aquele talento em jogo grande. E aquela capacidade de fazer os adversários pararem, quais touros semi-vencidos em faena, olhos hipnotizados na bola, com medo do que vamos fazer a seguir, num misto de inveja, raiva, de medo de humilhação e de encanto.
Quaresma, dono de encantos mil, artista daquela superior arte de dar golos aos colegas. Daí a arrogância e a postura altiva, que atraem comentários e ciúmes. E apesar de nem sempre ter lidado bem com esse foco, depois de passagens frustradas por Barcelona, Inter, Chelsea e Dubai, já não há muito mais de que ter medo. A vida é como é e, aos trinta anos, Quaresma sabe que já não poderá ser aquilo que podia ter sido. Resta-lhe ser aquilo que é.
És bem-vindo, Harry Potter. Faz do Dragão o teu Castelo de Hogwarts!
Rodrigo de Almada Martins
O tempo reabilita um jogador, já se sabe. Realça os pontos fortes e dilui ou apaga os pontos fracos. Quaresma tem as duas coisas às carradas. O que acrescenta de um lado, retira do outro. Se traz alguma coisa, apaga outra qualquer. Se traz muito de bom, traz também muito de mau. Se confere imaginação, traz desordem. Se traz rebeldia à linha atacante, traz irresponsabilidade na ajuda ao lateral. Se traz com ele capacidade no um para um com o lateral adversário, traz também um jogo mais perro e menos mecânico. Se traz bolas para Jackson, traz também muitas bolas para ele, só para ele, num egoísmo sem fim.
É assim Quaresma. Um jogador de paradoxos. Alguém que nunca será consensual, a não ser que enverede pela carreira circense. Quaresma não se ama nem se odeia. Ama-se com um mas. Odeia-se com um contudo ou um porém.
E no entanto, lá está, não deixa de parecer exactamente aquilo que o FC Porto precisa nesta altura. Com Quaresma vem também uma áurea à sua volta. De craque, de fantasista, de Mustang, de Harry Potter, de magia, de surpresa, de truques na manga, das trivelas. Quaresma devolve e impõe respeito às alas do FC Porto. Com ele em campo, mesmo a jogar mal, não há lateral adversário que pense sequer apoiar o ataque. Ficarão todos cá atrás, colados ao trinco e ao central, com medo do que ele irá inventar desta vez. Respeito. Medo. Peso. Imponência. O tal Mustang, literalmente. Mais que o futebol propriamente dito, é isso que traz Quaresma. Alguém em quem os focos de luz e as atenções se irão concentrar. E isso poderá, em última análise, retirar pressão sobre o resto da equipa, com demasiado medo de existir. Deixará na sombra Kelvin, Licá, Carlos Eduardo e Herrera, possibilitando que cresçam devagarinho e sem barulho.
O regresso, em parte apoteótico, em parte receoso, encerra talvez o último grande capítulo da carreira de Quaresma. A partir daqui mais nada. Só deserto, no Dubai, nos Emirados, no Egpito, na Arábia, onde for. Este é o último comboio da sua vida futebolística. Não passa mais nenhum na sua estação. Só um louco para o desperdiçar.
Li, durante estes anos, várias definições acerca de Quaresma. Peixe grande em lago pequeno e peixe pequeno em lago grande é uma delas. Óptima. Mas a melhor que conheço veio mesmo de um conhecido sportinguista, quando instado a comentar a irregularidade do Mustang: um génio é um génio. Não se lhe pode pedir que faça obras de arte todos os dias. Afinal de contas, quantas sinfonias compôs o Mozart ou o Beethoven?
Olhando para toda aquela qualidade e estilo, dá vontade de trocar dez anos de vida por uma reencarnação num futebolista com aquele talento em jogo grande. E aquela capacidade de fazer os adversários pararem, quais touros semi-vencidos em faena, olhos hipnotizados na bola, com medo do que vamos fazer a seguir, num misto de inveja, raiva, de medo de humilhação e de encanto.
Quaresma, dono de encantos mil, artista daquela superior arte de dar golos aos colegas. Daí a arrogância e a postura altiva, que atraem comentários e ciúmes. E apesar de nem sempre ter lidado bem com esse foco, depois de passagens frustradas por Barcelona, Inter, Chelsea e Dubai, já não há muito mais de que ter medo. A vida é como é e, aos trinta anos, Quaresma sabe que já não poderá ser aquilo que podia ter sido. Resta-lhe ser aquilo que é.
És bem-vindo, Harry Potter. Faz do Dragão o teu Castelo de Hogwarts!
Rodrigo de Almada Martins
Excelente crónica! Fico feliz por ver que o Mágico te inspirou a escrever uma crónica acertadíssima e muito inspiradora.
ResponderEliminarUm grade abraço Rodsurfer!
Viva,
ResponderEliminarEste regresso pode ser bom. Muitas vezes vemos jogadores aflitos para sair, esquecendo-se de que estão num clube que oferece sistematicamente titulos, algo que apenas acontece em meia dúzia de clubes no mundo. Por isso, depois de darem a voltinha deles pela europa e agora médio-oriente, apercebem-se de como estavam bem no FC Porto. E por isso digo que este regresso pode ser bom. Quaresma sabe agora que este é o melhor lugar para ser feliz, e penso que fará o seu melhor para isso. Fazendo-nos também felizes.
Parece-me ainda que o facto de não se saber em que forma está pode ser vantajoso. Como se disse no post ele dá medo aos adversários. E não sabendo o que esperar, ainda mais sentirão. Principalmente o masca-chiclas que como sabemos se pela de medo sempre que defronta os Campeões. Vamos esperar pelo melhor, seja Quaresma, Varela, Kelvin ou Licá, Importante é o Clube e Vencer. Até logo.
Cumprimentos,
Sérgio.
Parabéns.Muito boa análise a Quaresma.Muito bem comparado.E o comboio segue........
ResponderEliminarCaro RAM
ResponderEliminarGostei do teu texto.
Sou completamente suspeito para falar de Quaresma. Não escondo que, apesar do seu feitio, apesar da arrogância, da mania da superioridade e tudo e mais alguma coisa que lhe apontam, é um jogador que aprecio muito.
E aprecio muito porque quando me lembro de Quaresma, lembro-me sobretudo daquilo que ele fez ao longo dos 4 anos de FC Porto. Dos fantásticos golos (recordo por exemplo um em Barcelos que foi considerado pelo canal internacional Eurosport como o melhor dos campeonatos europeus de certa época), das trivelas, das brilhantes assistências para os colegas e de toda a magia que transportava para dentro de campo.
Nos 4 anos de FC Porto, contribuiu decisivamente para 3 títulos de campeão nacional e em todas as épocas o FC Porto passou a fase de grupos de Champions, para além de taças e supertaças que também ajudou a conquistar. Por tudo isso as recordações que tenho de Quaresma são as melhores.
Ainda assim concordo com a ideia de que Quaresma é provavelmente um grande jogador em equipas de pote 2 da Champions (tipo FC Porto, Atlético Madrid, Dortmund, etc) mas é um jogador que não consegue afirmar-se em tubarões como o Chelsea ou o Barcelona, como efetivamente aconteceu. A prova disso é que na Turquia, um campeonato que não é tão fraco como isso, era ele e mais dez no Besiktas, durante 2 anos foi rei e senhor na Turquia. Quando teve oportunidades de mostrar o seu valor no Barcelona e Inter, apesar de até ter jogador várias vezes nunca foi a estrela da companhia, porque havia muitas mais estrelas a seu lado.
Em suma, Quaresma em condições físicas normais, psicologicamente bem, com um treinador que o oriente e lhe dê aquilo que um treinador tem de proporcionar aos grandes jogadores, penso que terá todas as condições para dar-nos muitas alegrias. Desejo-lhe a maior das sortes neste novo desafio da sua carreira!
Abraço
PS: Um ataque com Varela, Quaresma e Jackson… Um meio-campo com Fernando, Lucho e Carlos Eduardo… Uma defesa com Mangala, Maicon, laterais Danilo e Alex Sandro e na baliza Helton… Não digo que o campeonato tem de ser por obrigação nosso, nem que na Liga Europa temos de chegar à final, mas com uma equipa destas temos de chegar ao fim e ter a consciência de que se os outros ganharam é porque foram muito melhores que nós… Só e apenas isso.
PS2: Sou apologista de que haja vendas em janeiro de alguns jogadores de que já estou farto… Mas disso falarei no meu post de amanhã…
Obrigado pelo feedback estruturado e com sumo!
ResponderEliminarQuanto à equipa, concordo contigo. E há que somar a isso uma coisa que tem faltado nos últimos anos: BANCO. Josué, Herrera, Licá e Ghillas podem ser jogadores valiosos a vir do banco. Já nem refiro o Quintero ou o Défour, que esses parece que já estão mortos por irem embora daqui.
Quanto a jogadores irem embora, admito que saia o Otamendi, embora ache que foi prejudicado este ano com as invenções do nosso treinador (ano transacto fez grande temporada), que deixou a defesa muitas vezes sozinho e descompensada.
Nas laterais estamos bem servidos e seria altura de irmos lançando o menino Rafa (muita qualidade), sem desprimor para o Quiño.
Mas o onze base parece estar definido. Assim PF não decida inovar. Veremos como será a luta no banco.
Só um portista doido não acha bem que o Quaresma tenha voltado !... E, sendo claro, que também os há, eu acho mais que os que estão renitentes, são os que só sabem falar nos jogadores que não jogam, porque não jogam, e quando jogam tiveram poucas oportunidades... enfim, temos sempre gente que só "estar onde não pode e só quer ir onde para onde não vai"
ResponderEliminarOlhando para esta equipe que podemos ter, sonho com um 2014 bem mais tranquilo ...
Que todos remem para o mesmo lado...
Quanto aos gajos que deveríamos vender - como diz o RCBC - de que todos estão fartos , eu empandeirava com gosto o Iturbe. E, já vai tarde...
Texto digno de fazer parte de uma página do "O Jogo"! Os meus parabéns ao RAM pela lucidez misturada com paixão!
ResponderEliminarNa sequencia dos comentários a este magnifico artigo, também sou da opinião de que temos 11 base (mais 3 o quatro suplentes de qualidade) para conquistar o titulo nacional e fazer boa prestação no UEFA.
Quanto a saídas de Inverno, para além dos falados Otamendi (que gosto muito e a quem desejo o maior sucesso "lá fora"), e do Iturbe (para mim jogador de contra-ataque), podiam ser "despachados" de vez o Rolando, o Walter, o Kleber e o Defour (este ultimo se segurarmos o Fernando). Ah, e já me esquecia... dar uma cabeçada (ao de leve :) no Quintero para ver se ganha juízo e pô-lo a fazer uma dieta para perder uns quilinhos!
DMST
Verdade.Texto digno de um jornal como o Jogo.Muitos parabéns pela beleza com que escreve sobre futebol.
ResponderEliminarMuitos parabens pela qualidade da analise concordo 100%
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