07 junho, 2014

NOVELAS DE VERÃO II.

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Foi em 1993, entretanto passaram-se muitos anos, mas há episódios que nos marcam. Este foi um deles. A primeira mão frente ao Feyennord havia sido dura. Demasiado dura, olhando para a ligadura em redor da cabeça de Emil Kostadinov. Esta eliminatória de acesso à Champions League, aliás, marca qualquer um. “Portista sofre”, dizia uma frequentemente uma vizinha minha de bancada. Tinha razão, mas nunca como na segunda mão de Roterdão.

Esse jogo é um verdadeiro compêndio do que é isto de se ser do FC Porto. Sofrimento. Dor. Ir ao chão. Levantar. Nunca desistir. Nunca deixar de lutar. Acreditar até ao fim. A equipa de então, comandada por Tomislav Ivic (já na sua segunda passagem pelas Antas), era icónica e ainda hoje deixa saudades pela mescla de juventude e experiência, moldada por uma mística muito própria. Baía, Couto, Jorge Costa, Paulinho, Secretário, Rui Jorge, Jorge Couto, Domingos e o saudoso Rui Filipe davam os primeiros passos enquanto que João Pinto, Aloísio, José Carlos, Semedo e Jaime Magalhães asseguravam a experiência tão necessária para a batalha de Roterdão.

Num dos golos mais bonitos da sua carreira, nas Antas, ao cair do pano, Domingos havia dado ao FC Porto a chance de disputar a Champions League. Mas isso era SE o FC Porto passasse na Banheira de Roterdão. E esse SE não se adivinhava nada fácil.

Ivic montou para esse jogo uma onze com quatro centrais, além de jogadores de características marcadamente defensivas como João Pinto, Rui Jorge e Secretário. Rui Filipe entrou na segunda parte para dar lugar ao já veterano Jaime Magalhães, dando sangue novo à equipa. Foi um FC Porto de sofrimento, uma espécie de saga dos 300 espartanos, em que poucos derrotaram muitos.

Uma equipa preparada para sofrer 90 minutos, cheirando o contra-ataque sempre que possível, lançando em velocidade o búlgaro supersónico da altura. Mas com a clara noção, sem vergonhas e vedetismos, que a hora era de defender e de fechar a guarda. Encostar ao canto do ringue, cerrar os punhos, proteger as têmporas e o maxilar e assumir que se estava ali para levar pancada. Mas sem nunca desistir. E essa é a diferença que marca o FC Porto e os outros clubes do mundo: saber sofrer, não ter vergonha de defender, de jogar atrás fechados e pontapé para a frente, sobe Porto, alivia Porto, chuta para fora Porto, gasta tempo Porto, corta com a mão, dá porrada, cai ao chão, faz fita, levanta e continua a correr que há um jogo para ganhar Porto!! Isso é ser Porto. As Antas sabiam isso. O Dragão acha que ser Porto é ser outra coisa qualquer que nem interessa referir aqui...

À data do jogo tinha oito anos, mas as memórias não me largam. Sei que estava nervoso quando me meteram na cama. A disciplina obrigou-me a adormecer antes do jogo acabar. Lembro-me de acordar e perguntar à minha Mãe como tinha acabado o jogo. “Filho, passamos. Foi sofrer até ao fim, mas o Baía defendeu tudo. Passamos!”

Há no Mundo melhor maneira de acordar?

Rodrigo de Almada Martins

1 comentário:

  1. Belas memorias.Obrigado.Sim.. não há melhor maneira de acordar......

    ResponderEliminar