http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/
Mário Jardel foi provavelmente, depois de Fernando Gomes, o melhor ponta-de-lança que alguma vez vestiu a camisola do FC Porto. Opinião pessoal, claro, mas fortemente alicerçada na estatística. É verdade que a concorrência é forte: Kostadinov, Domingos, Benni, Lisandro, Falcao, só para falar nos mais recentes. Mas Jardel era diferente.
Diferente. Não necessariamente melhor. Provavelmente até teria menos jeito ou intimidade com a bola. Menos pinta de craque. Menos empatia com o relvado. Mais desengonçado, mais franzino, menos elegante. Mais olhos no chão, menos atlético, olhar e postura algo desligada do jogo, ombros caídos.
Não se trata por exemplo de um jogador como Suárez, para referir um dos homens que por estes dias vai causando sensação no empolgante Mundial brasileiro. Jardel não jogava no limite do fora-de-jogo, não mordia a língua a sprintar, não furava defesas ao meio nem dobrava os rins aos centrais que o vigiavam. Super Mário, diga-se, não empolgava ninguém.
Era comum receber a bola no meio-campo e olhar para ela do alto do seu 1,88 cm quase com um ponto de interrogação gravado nos olhos. O que fazer com isto?, parecia perguntar, atrapalhado. A pose e o diálogo com os jornalistas denotavam pouca confiança. Uma vaidade estranha, misturada com uma humildade quase ingénua e infantil.
No meio disto tudo, é útil perguntarmo-nos como é que um homem assim foi capaz de marcar consecutivamente para cima de quarenta golos por temporada. Golos históricos, golos de bandeira, golos de encostar, cabeçadas fulminantes, pontapés de bicicleta, remates à meia-volta, de letra, de calcanhar, de peito, de joelho, de fora da área, de penalty, nas Antas, fora de casa, pela Europa fora, para todos os gostos e feitios.
Tu querias perceber os pássaros, Voar como o Jardel sobre os centrais…, cantava Rui Veloso no auge da carreira de Mário Jardel. O que aconteceu então depois? Que sombras se abateram sobre o brasileiro? Muito se podia especular e questionar, apontar culpados, acusar uns e outros. Mas uma coisa é certa: Jardel tinha golo a mais para o seu corpo. Não era talento, não era técnica, não era amizade com a bola. Era uma paixão pelo golo, pelas balizas, pelas malhas. Uma paixão desenfreada. De qualquer lado que chutasse a bola só parava no fundo das redes. Se tantas vezes usou a sua cabeça para marcar golos pelo FC Porto, não a soube usar da mesma maneira para fugir dos falsos amigos e das falsas promessas.
Enquanto viveu no Porto, Jardel foi um homem feliz. Depois disso, atraiu invejas, azares e desilusões. Tirando um ou outro sucesso em Istambul e no Sporting, nunca mais se recompôs, numa espiral de declínio, com um divórcio à mistura e histórias tristes por contar. Não teve, por isso, uma carreira à altura da sua ambição e capacidade. Olhando para trás, parece que deixou algo a meio, por concluir. O próprio, aliás, nunca conseguiu encarar e assumir o fim da carreira, falando sempre em hipotéticos e impossíveis regressos, alimentando a ideia de um jogo de despedida, de um retorno ao Portugal, etc. Uma vida em suspenso, a quem alguém cortou algo a meio da viagem.
Recentemente, num jogo da Champions no Dragão, dei de caras com Mário Jardel mesmo à entrada do meu sector. Não resisti. Lembrei-me de todos os golos que festejei por causa dele, de todas as alegrias que me deu, dirigi-me a ele, apertei-lhe a mão e disse-lhe Obrigado, Jardel, por todos os golos que marcou pelo meu clube. Obrigado por tudo! Agradeceu, sorriu, com aquele ar ingénuo e infantil de sempre, mas desta vez num corpo pesado, inchado, num olhar triste e desinteressado.
Conforme uma vez disse num jantar com um grande amigo meu, o Pedro Ferreira de Sousa, também cronista desta casa, o mistério para mim continua e merece ser investigado:
Quem tramou Mário Jardel?
Rodrigo de Almada Martins
Diferente. Não necessariamente melhor. Provavelmente até teria menos jeito ou intimidade com a bola. Menos pinta de craque. Menos empatia com o relvado. Mais desengonçado, mais franzino, menos elegante. Mais olhos no chão, menos atlético, olhar e postura algo desligada do jogo, ombros caídos.
Não se trata por exemplo de um jogador como Suárez, para referir um dos homens que por estes dias vai causando sensação no empolgante Mundial brasileiro. Jardel não jogava no limite do fora-de-jogo, não mordia a língua a sprintar, não furava defesas ao meio nem dobrava os rins aos centrais que o vigiavam. Super Mário, diga-se, não empolgava ninguém.
Era comum receber a bola no meio-campo e olhar para ela do alto do seu 1,88 cm quase com um ponto de interrogação gravado nos olhos. O que fazer com isto?, parecia perguntar, atrapalhado. A pose e o diálogo com os jornalistas denotavam pouca confiança. Uma vaidade estranha, misturada com uma humildade quase ingénua e infantil.
No meio disto tudo, é útil perguntarmo-nos como é que um homem assim foi capaz de marcar consecutivamente para cima de quarenta golos por temporada. Golos históricos, golos de bandeira, golos de encostar, cabeçadas fulminantes, pontapés de bicicleta, remates à meia-volta, de letra, de calcanhar, de peito, de joelho, de fora da área, de penalty, nas Antas, fora de casa, pela Europa fora, para todos os gostos e feitios.
Tu querias perceber os pássaros, Voar como o Jardel sobre os centrais…, cantava Rui Veloso no auge da carreira de Mário Jardel. O que aconteceu então depois? Que sombras se abateram sobre o brasileiro? Muito se podia especular e questionar, apontar culpados, acusar uns e outros. Mas uma coisa é certa: Jardel tinha golo a mais para o seu corpo. Não era talento, não era técnica, não era amizade com a bola. Era uma paixão pelo golo, pelas balizas, pelas malhas. Uma paixão desenfreada. De qualquer lado que chutasse a bola só parava no fundo das redes. Se tantas vezes usou a sua cabeça para marcar golos pelo FC Porto, não a soube usar da mesma maneira para fugir dos falsos amigos e das falsas promessas.
Enquanto viveu no Porto, Jardel foi um homem feliz. Depois disso, atraiu invejas, azares e desilusões. Tirando um ou outro sucesso em Istambul e no Sporting, nunca mais se recompôs, numa espiral de declínio, com um divórcio à mistura e histórias tristes por contar. Não teve, por isso, uma carreira à altura da sua ambição e capacidade. Olhando para trás, parece que deixou algo a meio, por concluir. O próprio, aliás, nunca conseguiu encarar e assumir o fim da carreira, falando sempre em hipotéticos e impossíveis regressos, alimentando a ideia de um jogo de despedida, de um retorno ao Portugal, etc. Uma vida em suspenso, a quem alguém cortou algo a meio da viagem.
Recentemente, num jogo da Champions no Dragão, dei de caras com Mário Jardel mesmo à entrada do meu sector. Não resisti. Lembrei-me de todos os golos que festejei por causa dele, de todas as alegrias que me deu, dirigi-me a ele, apertei-lhe a mão e disse-lhe Obrigado, Jardel, por todos os golos que marcou pelo meu clube. Obrigado por tudo! Agradeceu, sorriu, com aquele ar ingénuo e infantil de sempre, mas desta vez num corpo pesado, inchado, num olhar triste e desinteressado.
Conforme uma vez disse num jantar com um grande amigo meu, o Pedro Ferreira de Sousa, também cronista desta casa, o mistério para mim continua e merece ser investigado:
Quem tramou Mário Jardel?
Rodrigo de Almada Martins
- Acho que não foi ninguém!
ResponderEliminar(Quando muito foi ele!)
Apenas queremos que os que amamos sejam super, e se superem, e temos de aceitar que uns são de um jeito em que não há superação, à primeira contrariedade/disparete a vida toma outro rumo...
Ninguém lhe pôs a mão de baixo, isso sim...
Grande goleador!