06 outubro, 2007

Alcunhas

A alcunha tem raízes que se perdem nas brumas da memória e, logo, da consciência colectiva. A alcunha está ligada, fortemente, à vida social, laboral, ... do indivíduo na sociedade. Por exemplo, não é por acaso que a comunidade baptizava, posteriomente, Ferreira, aquele que sabia trabalhar o ferro. A alcunha pode ter uma carga positiva ou negativa. Mas nunca neutra.

Assim, a alcunha é ambivalente, isto é: ela tem um sentido imediato ou único para quem não conhece a história do indivíduo que a carrega. Ela tem uma significação variada ou múltipla para quem conhece a história do indivíduo que a carrega.

O Porto teve dois treinadores que foram campeões da Europa. Ambos tinham um nome: Artur Jorge e José Mourinho. Graças aos êxitos do FC Porto, foram alcunhadados, por esse mundo fora, respectivamente, “Rei Artur” e “Special One”.

O FC Porto ofereceu-lhes um passaporte válido para correrem mundos.

E de treinadores, ficaram a ser personagens de folhetins de imprensa por esse mundo fora.

Os dois falharam: o "Rei" não conseguiu fazer do Matra-Racing um clube e "Special One" não conseguiu fazer do Chelsea um Campeão Europeu. E, note-se, ambos tiveram à sua disposição meios que nunca tiveram no FC Porto.

Porque é que, uma vez fora do rectângulo, os dois ex-treinadores do FC Porto foram alcunhadados, pela imprensa estrangeira, nomeadamente, “Rei Artur” e “Special One”?

Não me vou atardar sobre a significação da alcunha “Rei Artur”. Ela tem uma carga semântica muito positiva.

Já a alcunha “Special One”, alcunha tipicamente norte-americana, adoptada pelos ingleses, tem uma carga semântica muito questionante. Ela dá que pensar. As famílias e os pais norte-americanos utilizam-na, vulgarmente, para designar os meninos mimados, isto é, aqueles que não reconhecem o que lhes foi (é) dado nem o quanto devem a quem tudo lhes deu (dá).

Para quem sabe ler e para quem tem memória, a conclusão fica aberta !

3 comentários:

  1. PortoMaravilha, este teu texto está 5 estrelas e quantas e tantas 'verdades' ele nos faz recordar.
    Traz lá o guest-book para eu assinar de cruz quando descreves "... os meninos mimados, isto é, aqueles que não reconhecem o que lhes foi (é) dado nem o quanto devem a quem tudo lhes deu (dá).".
    aKeLe aBrAçO,
    http://bibo-porto-carago.blogspot.com/

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  2. Saborosa prosa, numa revisitação de alguns temas marcantes da história do FCP, mas numa abordagem inédita. Já estou como o Blue Boy. Essa explicação da alcunha do Mourinho é divinal, assentando k nem uma luva na personalidade e ego sobredimensionado do indivíduo.

    Abraço,

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  3. Esses dois últimos parágrafos dizem tudo.
    O mimo estraga muito boa gente.
    Um abraço

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