25 janeiro, 2014

Estádio das Antas

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

O dia em que escrevo este texto, 24 de Janeiro, está profundamente ligado à história do Futebol Clube do Porto. Foi há 15 anos que Vítor Baía regressou a casa e se tornou no nº99 mais famoso do mundo, foi também, há 10 anos, que o Futebol Clube do Porto realizou o último jogo no Estádio das Antas. Lembro-me bem desse dia. Era a segunda despedida do estádio onde comecei a ver futebol, do estádio onde aprendi a amar o Porto, depois de uma despedida anterior “falhada”, uma vez que o relvado no Dragão nos pregou uma partida.

Detentor de lugar anual na Superior Sul, confesso que não faço ideia onde se situava a minha cadeira. O meu lugar era sempre o mesmo, o muro da Porta 10. No final desse jogo com o Estrela da Amadora, percorri o caminho habitual. Se a entrada era feita, invariavelmente, pela Porta 10, a porta que utilizava para sair era a 4. Percorria aquele corredor central da bancada, e, chegado à habitual fila nas escadas, ganhava terreno pelo meio das cadeiras. Tal como havia feito umas semanas antes, no final do jogo da primeira despedida, olhei para trás, para aquele cenário que me viu crescer, com uma sensação estranha que era a de saber que nunca mais ia ter aquela visão.

O resto da época 2003/2004 foi disputado no Estádio do Dragão. Ainda sem centro comercial ali ao lado, ainda sem os prédios da Alameda, ainda sem Dragão Caixa mas... ainda com o Estádio das Antas ali a espreitar, como se estivesse a querer dizer que estava pronto para mais alguma emergência, caso o relvado do Dragão resolvesse pregar outra partida. Aqueles momentos em que se passava na VCI e se olhava para a Arquibancada para se tentar perceber se o Estádio ia ter muita gente nunca mais se iam repetir.

Os primeiros meses de Estádio do Dragão trouxeram uma média de espectadores nunca antes vista nos jogos do clube. Com casas acima dos 40.000 adeptos, registaram-se algumas assistências épicas, como em jogos com o Manchester United ou com o Deportivo (que ainda hoje se mantém como o jogo com maior assistência no Dragão). Com poucos meses de vida, o Estádio do Dragão era a casa do CAMPEÃO EUROPEU!

Se a nível de beleza ou de conforto é difícil apontar alguma coisa ao Dragão, a verdade é que há cada vez mais sócios que falam do ambiente do Estádio das Antas com especial saudade e com um orgulho enorme. Mas porquê?

- O ambiente do Estádio das Antas, longe de ter casa cheia na grande maioria dos jogos, era um ambiente mais espontâneo, com as Superiores Norte e Sul a terem um peso gigantesco no número de espectadores em cada jogo lá disputado.

- Será que o maior conforto se traduz numa menor disponibilidade para apoiar a equipa? Será que este conforto se traduz num maior número de famílias a assistir aos jogos? Custa-me responder afirmativamente à primeira questão e, quanto à segunda, também não tenho dados que me possam afirmar de forma peremptória que há mais famílias no Dragão. Apesar do menor conforto, o Estádio das Antas permitia uma maior mobilidade. Quantas pessoas viam o jogo no famoso Tribunal, caminhando durante os jogos e nunca tendo um sítio fixo? É possível fazer isso no Dragão? Não! Permitir uma maior mobilidade entre sectores, entre bancadas, possibilitando que as pessoas pudessem levar um amigo e ver o jogo com elas, permitindo que alguém de outra bancada se juntasse a elas, criando assim pequenos grupos, era uma mais-valia para o estádio. Porque não tentar?

- Será uma questão cultural? Parece-me claro que, o adepto típico do Porto dos dias de hoje, é um adepto muito diferente do adepto típico dos tempos do Estádio das Antas. Porquê? É inegável que os bons resultados desportivos obtidos na última década levaram a um grande aumento de adeptos. A própria globalização que hoje vivemos, essencialmente com o fácil acesso à informação e à diferente forma de comunicar faz com que a mentalidade dos mais jovens seja diferente daquilo que era há uma década. Será isto negativo?

Contrariamente aquilo que possam pensar, acho que podemos (e devemos) usar isto para crescer no caminho certo. O nosso Porto sempre foi exigente... mas não ingrato. O nosso Porto não tem por base uma cultura de vitórias. A nossa base é o sentimento Tripeiro, algo difícil de explicar a quem não sente. Aquele sentimento de dar, realmente, TUDO POR TODOS! Com garra, com raça, fazendo das tripas coração e pondo os interesses do clube à frente de tudo! Não quero que as crianças sejam Portistas porque o Porto ganha mais, quero que sejam Portistas porque se identificam com os valores que sempre fizeram deste clube um clube diferente de todos os outros. Quero que se identifiquem com os valores encabeçados por José Maria Pedroto e por Jorge Nuno Pinto da Costa.

Está visto que não vamos ter sempre casa cheia nos jogos do Futebol Clube do Porto, ainda que os bilhetes sejam a dois ou três euros. Como tal, é imperativo criar condições para que os que lá estão APOIEM o clube do primeiro ao último segundo. É imperativo levar todas as pessoas que vão ao estádio a perceber que o clube não tem obrigação de ser campeão para lhes dar alegrias. NÓS é que temos obrigação de criar condições para que o Porto possa ser campeão! Sempre unidos, contra tudo e contra todos… dando TUDO POR TODOS! Tudo isto é uma questão cultural e nós, adeptos e responsáveis do clube, temos o dever de não deixar morrer os valores que fizeram do Futebol Clube do Porto o clube que é hoje. Por mim, começamos já no próximo jogo.

Querem uma pequena ideia para o final do jogo? Comunhão total entre jogadores e adeptos, sem ver jogadores a fazer sprints para o balneário. Agradecer aos adeptos de forma sincera e sem imposições, porque percebem que estamos lá para os apoiar, gastando o que temos e o que não temos num período em que a região Norte e o país atravessam uma das maiores crises da sua história. Quanto a nós, agradecer aos jogadores por terem dado tudo por nós, seja qual for o resultado final. Importante é que, e pegando nas palavras do Presidente, nunca se atire a toalha ao chão. Importante é, uma vez mais, dar TUDO POR TODOS, TUDO PELO PORTO!

Um abraço TRIPEIRO

P.S. – Como nota final, não posso terminar o texto sem deixar uma palavra aos Super Dragões e ao Colectivo pelos fantásticos momentos proporcionados pela forma como foi entoado um dos cânticos no último jogo.

7 comentários:

  1. Grande texto, para além da recordação sempre marcante das Antas, passados que estão 10 anos do seu desaparecimento, levantas aqui importantes questões...

    Os tempos mudam, os hábitos também, dai que seja sempre complicado traçar comparações ou pensar que os problemas resolvem-se com as fórmulas do passado... Se pensarmos que em 2004 o facebook ou o you tube eram ainda incipientes ou inexistentes ou os smartphones uma miragem dá para perceber como é necessário tentar olhar para as coisas respeitando as realidades actuais.

    No teu texto focas algo muito importante: "O nosso Porto não tem por base uma cultura de vitórias. A nossa base é o sentimento Tripeiro". Concordo a 100% mas acho que o Clube e os seus responsáveis tem cometido o erro de falhar na preservação desta premissa. E como já escrevi por aqui, acho isso um erro tremendo numa perspectiva de médio/longo prazo, na preservação dos valores que permitiram ao FC Porto ser Grande mesmo quando os resultados não o evidenciavam. A ver vamos o futuro, espero que tudo continue como até aqui, no entanto era importante termos outro tipo de comunicação e "educação" para os nossos adeptos, reforçando as nossas raízes, sob pena da arrogância e a cobrança se tornarem muito dificeis de gerir.

    Bem, já vai longo, aqui deixo mais uma vez os parabéns pelo texto, pelas memórias e pelas reflexões que proporciona!

    Abraço!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Porquê os jogadores do Porto não fazem a volta olimpica a cumprimentar os adeptos como nas modalidades, já é hábito em muitos estádios europeus, porquê? Com o que eles ganham tinham obrigação de muito mais e estão ao service do clube.

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  4. Foreval (Alemanha)25 janeiro, 2014

    Sr. Valadares (presumo ser o autor deste artigo), permita que lhe faça uma efémera observação:

    O FC do Porto não se confina
    somente à cidade e região limitorfe.
    O Clube possui adeptos no norte,
    em todo o país e na diáspora.

    Eu tive de emigrar para ganhar a
    vida e realizar os meus sonhos.
    Há 40 anos que resido na Alemanha!
    Quando emigrei, levei o Porto comigo... depois de ter passado
    - antes do 25 de Abril - humilhações e todo o género de
    intimidações e vexames (só porque defendi sempre o Clube do meu coração!).

    O PORTO É UM CLUBE DE PRESTÍGIO
    E FAMA UNIVERSAL; porém, não podemos esquecer que foi um Clube
    modesto e local.

    Hoje, felizmente, já não é assim.
    O PORTO tornou-se grande, entrou
    nas nossas casas e veio para ficar! O PORTO É DE TODOS e é por
    isso que dizemos: "SOMOS PORTO"!

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  5. No dia de hoje, esta é de facto a verdadeira bomba... Aquele autêntico murro no estômago, ao ponto de ficarmos agachados durante bastante tempo para recuperar...
    E as Antas foram um estádio que nunca teve o prazer de pisar. Estou certo que iria ter gostado de lá jogar e fazer o que melhor sabe: jogar bom futebol.
    Que seja muito feliz, pela terra dos petrodólares.

    E mais uma vez se confirma e sem querer ser ingrato com ninguém, muito menos com 'el comandante', que "os jogadores passam mas o Clube fica".

    Abraço
    «E quem não salta é lampião»

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  6. Daqui deste sul que olha para o norte e para o Porto com desdem está um Portista muito tripeiro que esta com uma fome imensa de ir ao nosso Dragao. Nem que seja so para ver a nossa casa. Sinto saudadesdo Porto dos Portistas do ambiente na nossa casa nomeadamente no sector do colectivo. Tenho mesmo de por pernas ao caminho e matar essas saudades
    276mqj

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  7. Viva,
    Eu nesta altura já tenho mais tempo de Dragão do que de Antas. Mas o meu estádio continua a ser o antigo. Tinha menos condições mas mais alma. Provavelmente quem faz a alma são os sócios, e esses porventura terão mudado. Como já foi dito aqui diversas vezes, agora é mais pipocas e cafézinho. Se calhar é por não haver amor como o primeiro, mas Estádio das Antas será sempre o melhor estádio do mundo.
    Cumprimentos.
    Sérgio.

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