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À distância e a olho nu, é um ser humano como outro qualquer. Dois braços, duas pernas, tronco, uma cabeça em cima dos ombros, sensação de conjunto completo. Vive em sociedade, tem hábitos e uma vidinha. Se nos aproximarmos, começamos a ouvir uma espécie de chocalhar, tipo areia em caixa de madeira fechada. O olhar é fixo, vítreo, semelhante ao de uma ave de rapina. Caminha com a dignidade de um pavão e de espampanante cauda aberta: plumagem rica, cores fascinantes e pseudo-sensualidade a exsudarem por todos os santificados e gloriosos poros.
Encarnado berrante no coração, enraizado na Capital Centralista do Império, disseminou-se pela suave brisa ou fortes vendavais por terras e campos fora, procriando-se como coelhos. Vive das aparências e da vida luxuriante de antigamente que lhe deu o controlo total do país Portugal dos três F -- reino absoluto de Fátima, Futebol e Fado -- das colónias ultramarinas e de Marte (planeta praticamente vizinho e onde se julga existir uma mais do que enorme falange de apoio do clube). Hipnotizado pelo sucesso já sumido em pó e convertido em taças, vive também da romagem à oh-ai-saudade de faustosos tempos idos e teimosamente desaparecidos… dos regimes do Querido Líder recordados com lágrimas gordas e suspiros nostálgicos de cortar a alma a meio… daqueles jogadores de fábulas, bons tão bons, mais panteões houvesse! Confunde lenda com realidade, não sabe ou não recorda quando começa uma e termina a outra. A imaginação tolda-lhe o cérebro. A sua memória é alarvemente selectiva. A azia acumulada e já empedernida deu-lhe a volta ao juízo.
Mas não é por mal. Mais não sabe. Mas não precisa. É Glorioso.
Vive feliz na sua esfera dourada de utopia, na Santa Paz do Senhor, na do Eusébio, do Mário Coluna, do Cosme Damião, das Parangonas Delicodoces, das sucessivas Dream Teams e na da APAF. Tudo é glorioso. Inebriado pela atmosfera de embriaguez colectiva, faz vida do charme semeado, dos louros que geram rendimentos anuais, dos salamaleques prestados aqui e ali pela vassalagem e bajulação gosmenta(s) da sua mais do que enorme entourage. Prospera no regabofe e na bazófia… na ficção criada apenas por si e para si. Tem dias maus como todos: mas vem o País Portugal e dá-lhe colinho e vêm os Marítimos e os Estoris desta vida e tudo volta a melhorar, ficando ele pronto para voltar a carregar, ficando o mundo novamente glorioso.
Detesta os vizinhos do lado, não os considerando merecedores de saberem as horas do dia. Mas é acima, mais acima no território, que subsiste uma aldeia de irredutíveis gentes que lhe tira o sono e a sanidade mental. Dão-lhe coceguinhas. Aí têm a panca de viverem do trabalho e do sacrifício convertidos ao longo dos anos de emudecimento forçado e despudorado centralismo em estóica couraça de resistência e vitalidade que mais tarde lhes traria conquistas e vitórias, títulos sucessivos. Muitos. Bué deles. Aquém e Além-Mar. O sacrilégio!
Especializou-se no terno tratamento de roupas e adornos com naftalina e bolinhas de cheiro, no discurso cassetiano-corporativo-auto-apologista com expressões esburacadas de tão arcaicas onde, muito a custo, se descortina palavras como fruta*, pequenos-almoços e café com leite. Recita a ladainha como mantra pessoal. Acredita piamente nela. Cria com desvelo vacas e bois que crescem fortes e vigorosos nos pastos verdes da Comunicação Social. Escrevem crónicas e aparecem na televisão. Teve filhos e aumentou a raça ao som do mitificado Apito Dourado. Esmerou-se com incrível zelo nas jogadas palacianas, nas cortinas de fumo... Tornou-se mestre em túneis, artes circenses, expulsões cirúrgicas, sumaríssimos-expresso-feitos-à-medida, esquemas de rapinagem… tratamentos de excepção que merece amplamente por ser quem é, como é, ser excepcional, do melhor clube do mundo. Bacharel em campos mais ou menos inclinados, trata tudo, todos e todas as instâncias por tu. Arauto da Verdade Desportiva à Sua Gloriosa Moda, usufrui da mais impoluta reputação, é mensageiro de fé, apregoa os bons costumes.
Adora o seu próprio, glorioso umbigo e dava-lhe uns valentes beijos se ao menos a também gloriosa anatomia o permitisse. Arvora autoridade moral e, graças à sua Teoria benficocêntrica do Universo, toma as benesses como um dado adquirido, que merece amplamente por ser quem é, como é, ser excepcional, do melhor clube do mundo.
O seu Desígnio é único. Ele é o Escolhido.
Tudo o resto são piners e Portugal é Lisboa e o resto é paisagem.
E papoilas saltitantes.
* à data da primeira utilização, ainda se escreveria com ph.
Muito bom texto! O que se há-de fazer?? o País está como está porque tem muitos asnos. As papoilas são todas adeptas de comer palha, muita palha dáda por gente que se alimenta de asnos, é o País que temos...nada a fazer a não ser gozar com tanta burrice junta...
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ResponderEliminar@ miss
e-x-c-e-l-e-n-t-e!
abr@ço
Miguel | Tomo III
Em suma: "Somos roubados, enxovalhados, criticados, odiados
ResponderEliminare marginalizados... porque somos
do norte, os melhores e os mais
galardoados. Os mouros sempre
foram derrotados e cobardolas...
e como nao conseguem atingir os objectivos por vias legais, procuram denegrir e escarnecer da
nossa integridade e supremacia.
Enfim, os clubes do regime
continuam activos e enganam-se os
que pensam que o império acabou.
A imprensa tornou-se numa espécie de "lambe-botas", nomeadamente,
a bolha, o raskorde, o correio da maralha... e as instituicöes ligadas ao futebol perseguem-nos,
ameacam-nos e penalizam-nos!..."
- Chamem de volta o Vímara Peres;
só ele pode resolver esta situacäo e acabar com a praga dos marmanjos que nos sonegam e querem aniquilar! ABRAM A BRAGUILHA E VAMOS A ELES!!!
Claro que é um excelente texto.
ResponderEliminarComo diria o meu Avô: "São verdades como punhos"!
Por que esperam os responsáveis do BibóPorto para colocar MISS BLUEBAY na lista dos colaboradores?
Abraço
Eu até acrescentaria mais alguns nomes a esses pseudo-gloriosos, mas o texto está tão espectacularmente bom, que me arriscaria a estraga-lo. hahahaha, enchi-me de rir e imagino o que seria ver in loco um asno desses numa situação destas: "Adora o seu próprio, glorioso umbigo e dava-lhe uns valentes beijos se ao menos a também gloriosa anatomia o permitisse." LOOL
ResponderEliminarEste texto demonstra de facto para o que eles servem: Para nos fazer rir, ahahaha.
Adorei
Uma delicia este texto...;)
ResponderEliminarBibó Porto