01 outubro, 2007

Adeus Barrigana


O antigo guarda-redes internacional português Frederico Barrigana, que alinhou no FC Porto e Sporting, morreu sábado passado, aos 85 anos, no Hospital de Águeda, vítima de problemas pulmonares.

Permitam-me a repetição de um texto já aqui publicado na passada semana, da autoria do nosso colaborador, Paulo Pereira, que hoje, mais do que antes, merece estar em plano de destaque.



Frederico Barrigana

Um dos "monstros" sagrados da baliza, indefectível Portista, possuía uma aura só comparável, nos dias de hoje, à veneração sentida por Vitor Baía. O "mãos de ferro", como ficou conhecido, nasceu em Alcochete, tendo iniciado a carreira profissional no Montijo e passado, depois, pelo Sporting. Foi no entanto no Porto que as suas qualidades foram depuradas. Contrastava na baliza, fazendo da irreverência um contraponto à sobriedade que então distinguia os demais guarda-redes da altura. Fazia questão de se engalanar, como se fosse para um baile, cabelo penteado de brilhantina, à...artista de Hollywood. Orgulhoso, proclamava que "elas dizem que pareço um manequim". O nosso "pinga-amor" jogou, de azul e branco vestido, doze épocas, nunca tendo conseguido, no entando, o título de campeão nacional. Apesar disso, as suas fantásticas exibições, onde aliava a espectacularidade a um estilo felino e elástico, valeram-lhe, para além de inúmeros elogios, a guarda das redes da Selecção das Quinas.Também aqui, apesar da qualidade demonstrada, o período que passou na Selecção de todos nós não foi particularmente feliz, a nível de resultados. Ironicamente, Barrigana sai do Porto, dispensado por Yustrich, precisamente na época em que se acabou um jejum de 16 anos, em 1956.

Dele se conta também que era homem de enorme coragem e sangue frio, capaz de enfrentar perigos com um sorriso no rosto. Num célebre jogo na Tapadinha, entre o Atlético e o Porto, que os Dragões venceram por 2-0, os ódios revoltearam à volta do recinto do jogo. Uma turba em fúria, espumando fel e lançando remoques, dificilmente sustida pela polícia, que limitava o perímetro, para os portistas chegarem em segurança ao autocarro. Temerosos, os jogadores do Porto não se atreviam a sair do estádio, temendo pela integridade física, com os apupos e insultos a avolumarem-se. Até que, como se passeasse em família, um vulto enorme cruzou os portões. Impávido, caminhando lentamente, de cigarro no canto da boca, um trejeito gozão a deformar-lhe os lábios, Barrigana deu o "peito às balas", mostrando a verdadeira raça de um portista. Todos chegaram incólumes, mas aquela atitude, de desafio, calou bem alto no coração de todos os que a presenciaram.

Era assim Barrigana...

Obrigado Barrigana, que descanses em paz!

4 comentários:

  1. Pelo q dizem defendia a nossa camisola como ninguém. Numa altura em q era bem mais difícil lutar pelos títulos, o antigo Regime n permitia grandes aventuras... À família desse grande Homem, os meus sentidos pêsames. Barrigana Morreu e a família Portista ficou mais pobre.

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  2. Gostava de ter visto a actuar, estes grande guarda redes,não tive essa honra, nas houvi a falar muito dele, do Pinho, Acurcio, e outros.
    À sua familia os sentidos pêsamos.
    Que descançe em PAZ.

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  3. Eu era puto (7 anos), e o Salgueiros era à beira da porta,e naquele tempo ia pela quinta e entrava por trás no Campo.

    Foi aí que conheci o "Mãos de Ferro",era muito alto e uma pessoa boa.

    Paz à sua Alma.

    Nunca deixou de ser PORTISTA.

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  4. Viva !

    Bonita a lembrança das quintas e do Barrigana !

    Sim o Porto tinha muitas quintas e o clube dos sapateiros ( O Salgueiros / o Salgueiral como se dizia. ).

    Tudo ficou nas mãos dos prometores imobiliários !

    Tristeza !

    Ainda fica o Porto ! Será ?

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