Com efeito, a jornada Europeia consubstancia mesmo que não queiramos, uma natural inversão na forma de olhar o clássico do Dragão.
Em tempos ouve quem granjeasse certo populismo pelo simples facto de afiançar que aquilo que hoje era verdade, amanhã via tornar-se mentira e vice-versa.
Não é menos usual dizer-se que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como tal, a Liga Sagres é Liga Sagres e a Champions é a Champions, ainda mais sabendo-se que no futebol tudo é possível.
Antes de entrar clássico a dentro, e sem me refugiar nas questões da tradicional tripla que estes jogos sempre encerram, diz-me o meu know-how de adepto, que aquilo que é o passado exibicional dos contendores, tem sempre o seu peso bem quantificado no jogo que se segue.
Ninguém ousará olvidar o facto óbvio que a debacle auto-suicida leonina a meio da semana, terá no jogo do Dragão uma porta entreaberta, onde a cada rasgo ou investida do tridente de ataque azul, esta possa assumir contornos Kafquianos e fazer pender a contenda para características antagónicas ao que têm sido a prática comum dos jogos entre os emblemas em causa.
Não fora esses 90 minutos embaraçosos do Leão frente aos da Baviera, e no subconsciente dos correligionários das cores azuis e brancos, pairariam fartas incertezas quanto ao afiançar indiscutível na certeza dos 3 pontos, e porquê???
O ego e a juba leonina no pós-dérbi atingiram um auge pouco visto esta época. A capacidade e competência demonstrada perante adversidade e stress competitivo conferiram aos viscondes um nível motivacional para a partida no Dragão de altíssimo grau e índole, o que conjugado com os recentes 4-1 de Alvalade para a Taça da Liga, ajudava a que se levantassem questões sobre o favoritismo de cada um dos emblemas para a noite de hoje.
Num ápice, toda essa imagem de verde esperança ruiu. Ao invés, a ronda milionária conferiu ao Dragão uma imagem de futebol capaz, unanimemente sustentada numa exibição que roçou o brilhante. Ainda que estes factos sejam de difícil contorno e possam alvitrar um sem numero de quês e suposições, confesso que, e apesar do peso que estas incógnitas sempre acarretam para a equação de um Clássico, em mim pouco ou nada se altera no esmiuçar do técnico/táctico.
Os últimos confrontos, pouco ou nada têm tido de interessante. Cada jogo é uma batalha táctica, regida pela conveniente postura táctica leonina, alicerçada no tradicional 4x4x2, onde o losango é pedra toque e matriz do futebol de Paulo Bento.
Grande concentração táctica, inusitadas tentativas de efectividade na ocupação de espaços, onde o rigor e a competência da interpretação do jogo são palavras-chave.
Sem que pareça, o Sporting é um colectivo que a meu ver denota um certo desligamento entre sectores, por vezes impressiona pela sua capacidade de pressing, desposicionando o adversário, causando-lhe o distanciamento entre linhas, os seus buliçosos avançados reflectem agressividade e determinação, o que atira o jogo para vertentes estratégicas onde o jogo directo causa invariáveis mossas nas defesas contrárias, sempre tendo no deslize alheio um caminho para o sucesso.
Mormente a mão cheia de golos encaixados, a postura defensiva é típica, alternando capacidade defensiva dos duelos individuais sobretudo nas laterais com a interpretação perfeita da zona. O jogo musculado de Rochemback mastiga a saída de bola, Moutinho é um médio volante com capacidade para fazer todas as posições dos vértices do losango, sem grande expressividade nas alas, Izmailov é dos poucos que procura essas zonas do terreno como factor desbloqueador de jogo, para alem de ser possuidor de uma forte meia distância.
Liedson é, como habitualmente, a dor de cabeça de qualquer defensiva. Homem golo por natureza, tem na área o seu habitat preferencial o que aliado ao seu altruísmo o tornam numa peça fundamental quer na vertente ofensiva, quer no cariz defensivo.
Este é um Sporting fragilizado não por força da goleada, mas fruto de algumas baixas: as lesões de Rui Patrício, Miguel Veloso, Vukcevic e Hélder Postiga, que sendo peças habituais dos espartilhos, e teias urdidas pelo técnico leonino, o que a juntar ao emendar de mão no sector defensivo, deve trazer ao Dragão uma equipa verde-branca com a defesa do sábado passado e daí, Pereirinha pode ser o joker, sendo que até Yannick, muito à semelhança do jogo da 1ª volta, possa aparecer como surpresa da organização colectiva rival.
Com a época a caminhar para uma fase decisiva, não se pode falar apenas de pressão unilateral para o Clássico. É verdade que em caso de vitória, o fosso de 7 pontos para o rival de mais logo começa a tornar-se numa vantagem apreciável, até porque no contexto actual, as diferenças cavadas até agora cifram-se na maior vantagem registada entre primeiros e segundos.
Os Dragões sentem os encornados à ilharga. Com a moral em alta, nem tudo foram rosas na visita ao outro lado da fronteira. Se a exibição foi melhor que o resultado, a grande interrogação que sobra do confronto europeu, é como vai Jesualdo lidar com nova crise circunstancial de défice de laterais de raiz à direita?!?!??
Desde logo, Pedro Emanuel não é de todo solução, Fernando é prontamente descartado pelo simples facto de cada vez mais se sentir como peixe na água na sua área de jurisdição. A gestão opcional seja ele de que teor for, não colheu grandes queixumes e lamúrias, o que atesta sob o ponto de vista de fundo de maneio para o sector, sendo que no meu entender, Tomás Costa é quem preconiza o melhor equilíbrio de prós e contras, sendo ainda uma unidade nuclear de polivalência, o que capacita o técnico azul e branco para poder mexer com o jogo, sem ter de recorrer ou queimar uma substituição.
Curiosamente, o jogador das Pampas foi unidade fulcral no resultado da 1ª volta, ainda que investido de outras competências.
O clássico não perspectiva grandes nuances tácticas no que aos Dragões diz respeito. A lista de eleitos, para além das baixas por lesão, apenas traz uma novidade, e logo uma estreia, Andrés Madrid é escolha, (espero que não seja indício de Fernando a lateral direito), não se registando qualquer outra saída ou entrada.
Indesmentível é que o tridente ofensivo está bem e recomenda-se, apesar da parca produtividade caseira, contingências das dificuldades sentidas contra a escassez de espaços e de ter menos capacidade nas transições muito por força dessas três unidades se verem obrigadas a jogar mais de costas para o adversário que a encará-los de frente e em ritmo acelerado.
Hulk deu expressividade a toda a sua explosividade perante a grande montra do futebol europeu, Lisandro reencontrou as balizas e a sua valência em qualquer uma das posições da frente dão-lhe garantia de poder ser um dos homens do jogo, Rodriguez foi extenuante na sua capacidade de cumprir tacticamente como quarta unidade do miolo, sem regatear a esforços no que toca a visar e procurar o último reduto adversário.
Não se pode atirar o jogo para bases de carácter decisivo, até por essa ordem de factos e ainda que passe pela ideia do Dragão assumir uma posição de maior controlo do jogo e de ataque continuado, a alternância do pendor ofensivo e intensidade de jogo vai ditar leis.
Importa que, e apesar do Professor vociferar aos sete ventos a capacidade e competência dos seus centrais na arte do domínio das técnicas individuais defensivas, seria de bom tom que ao individual se juntasse o colectivo e fosse visível um aquilatar de maior segurança e efectividade na gestão do espaço defensivo.
Vai pois a época para uma mão cheia de Clássicos em tons de Azul e Verde. De uma forma ou de outra, raramente estes jogos são desprovidos de interesse ou vazios de emoção e anseios. Em redor do Clássico, apimentou-se com algumas quezílias do foro extra-relvado, pondo a fervilhar e aquecendo o ambiente em torno do mesmo.
Por tradição última, o Sporting pressupõe-se um osso duro de roer; para os Dragões, o desafio afigura-se como intenso, quer colectivamente, quer individualmente, mas onde só um pensamento norteia o Dragão… ganhar, para não ficar com as mãos abanar!!!!!!
LISTA DE CONVOCADOS
Guarda-redes: Helton e Nuno.
Defesas: Bruno Alves, Cissokho, Pedro Emanuel, Rolando e Stepanov.
Médios: Fernando, Lucho González, Raul Meireles, Tomás Costa e Andrés Madrid.
Avançados: Farías, Hulk, Lisandro Lopez, Mariano Gonzalez, Cristian Rodríguez e Tarik Sektioui.