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2011 está à porta. Um novo ano, uma nova década, uma daquelas alturas em que é comum olharmos para trás em jeito de balanço. Convido-vos a uma viagem pelo nosso passado recente. Dez anos passam a voar.
Antes de avançar, e já que é de memória que trata este post, recordo todos aqueles que perdemos ao longo destes últimos dez anos, e dos quais menciono apenas o nome do Dr. Pôncio Monteiro, para não arriscar esquecer-me de alguém. O nosso tributo e gratidão pelos feitos, grandes ou pequenos, com que ajudaram o nosso clube a ser aquilo que é hoje.
Agora sim, vamos olhar para trás. Peço-vos que se deixem transportar para a passagem de ano de 2000 para 2001, há precisamente 10 anos. Para facilitar, segue uma breve contextualização. O magnífico Pentacampeonato, que plantou na mente de muitos jovens adeptos, eu própria incluída, a sensação de que o Porto era imbatível no futebol, já era história. Afinal parece que não éramos imbatíveis, e termos deixado o campeonato escapar para Alvalade foi o balde de água fria que nos acordou para essa realidade. O nosso treinador era Fernando Santos, surpreendentemente mantido no cargo pelo Presidente para além dos dois anos da praxe. Depois do sonho que havia sido 99, com o penta no futebol a somar-se às vitórias nos campeonatos de basket e hóquei e à histórica reconquista do título nacional de andebol após 31 anos, o ano 2000 foi um pesadelo a que só o hóquei escapou. Era esse o nosso estado de espírito no final do século passado.
2001
Entrámos em 2001 em primeiro, mas com curta diferença pontual e um futebol muito, muito frágil, com o qual era óbvio que não iríamos longe. O novo ano, a nova década e o novo século entravam com um sabor amargo. Passados alguns meses sagrou-se campeão o Boavista, o que só demonstra o nível a que se disputou a competição, que mesmo assim perdemos. Uma geração que cresceu em festa encarava agora uma segunda temporada consecutiva sem vencer. Apesar do clube do regime contar à época já quase uma década de jejum, o simples facto de passarmos dois anos longe dos títulos – na Liga, pois vencemos duas Taças e uma Supertaça nesses dois anos – era suficiente para que o “futebol português” regozijasse. Já nos escreviam o epitáfio. O domínio do Porto parecia ter acabado, e milhões de portugueses respiravam de alívio. Com o início da época chegou Otávio Machado, e o panorama não melhorou.
Além de não nos termos sagrado campeões em qualquer das nossas modalidades, 2001 fica ainda marcado por uma importante perda simbólica: a demolição, em Janeiro desse ano, do Pavilhão Américo de Sá e das piscinas do complexo das Antas. Fânzeres, Matosinhos e Santo Tirso (e a Póvoa de Varzim) passaram a ser as casas emprestadas das nossas equipas de hóquei, basquetebol e andebol, respectivamente, enquanto os golfinhos assentaram arraiais na vizinha piscina de Campanhã. Também o Bingo foi obrigado a procurar novo espaço, passando para o último andar do Siloauto, no centro da cidade.
2002
Passámos o réveillon de 2001 para 2002 em terceiro lugar e a praticar um futebol sofrível. Adivinhava-se uma terceira época sem títulos e a ideia de que o domínio interno do FC Porto fazia parte do passado ganhava cada vez mais terreno, até mesmo entre alguns dos nossos adeptos. Mas já lá dizia a Alanis Morissette que a vida tem uma maneira engraçada de nos ajudar quando achamos que tudo deu errado e as coisas explodem na nossa cara. No nosso caso, é só substituir “vida” por “Presidente Pinto da Costa” e temos uma descrição fiel de diversos momentos da nossa história recente. O Presidente não é infalível (se fosse, não estaríamos nesta situação em Janeiro de 2002), mas dificilmente qualquer outro ser humano, em qualquer área de actividade, se aproximará mais do conceito de infalibilidade do que esse senhor que temos a honra de ter ao nosso leme. É da sua mão que a 23 de Janeiro recebemos aquela que hoje sabemos ter sido a melhor prenda que poderíamos ter recebido naquela altura: José Mourinho. "Na próxima época seremos campeões", disse-nos de imediato. E era tudo o que queríamos ouvir. Mourinho não resgatou a época 2001/02, que terminámos precisamente com o mesmo atraso pontual que tínhamos quando chegou (mas em terceiro lugar, em vez do quinto de Janeiro), mas a nossa cabeça já estava em 2002/03.
Extra-desportivamente, deu-se em 2002 a polémica do Plano de Pormenor das Antas. Rui Rio, recentemente eleito presidente da Câmara naquilo que um dos seus assessores rotulou de “uma vitória contra Pinto da Costa” (que, só para que fique escrito, não era candidato), tentou boicotar a construção do novo estádio do FC Porto, chegando as obras a serem suspensas durante 33 dias entre Março e Abril desse ano.
Mas enquanto no nosso próprio concelho éramos tratados desta forma, a sul do Douro desenvolvia-se uma parceria saudável e mutuamente benéfica entre o FC Porto e a autarquia vizinha, a que se chamou Fundação PortoGaia. Fruto dessa parceria, em Agosto de 2002 inaugurou-se o fabuloso Centro de Treinos e Formação Desportiva PortoGaia. Prática comum nos clubes e campeonatos mais relevantes da Europa, a deslocação dos treinos para uma zona distante e semi-rural permitiu aos nossos atletas de várias camadas etárias passar a dispor de condições de topo mundial, mas sacrificou o contacto directo com os adeptos, a possibilidade das crianças rodearem os seus ídolos em busca do cobiçado autógrafo – e isso é um “detalhe” que não finjo ignorar. Lembro-me bem do que sentia nas longas manhãs que passei nas Antas de bloco e máquina fotográfica em punho, e acho que o clube perde em não permitir aos miúdos de hoje mais do que um autógrafo rabiscado através da janela do carro, com o segurança a mandar avançar “que o carro de trás quer sair”. Um bocadinho de boa vontade e o CTFD poderia ser um local bem mais acolhedor para os adeptos, que não precisariam arriscar ser atropelados para conseguirem uma foto e uma assinatura num pedaço de papel.
2002 foi também o ano em que, em Fânzeres, conquistámos o primeiro de uma série de títulos ainda hoje em curso, enquanto uma grande equipa de andebol (que o Lucho provavelmente recordará de cor e com uma “lágrima teimosa” a escorrer pela face ;)) carimbou a primeira etapa de um inesquecível tricampeonato.
2003
Já a treinar no Olival, a equipa entrou com o pé direito na época seguinte, e à passagem para 2003 já levava 9 pontos de avanço sobre o segundo classificado e tinha ultrapassado com distinção as três primeiras eliminatórias da Taça UEFA. Os fantasmas começavam a esfumar-se e a certa altura começámos a aperceber-nos de que poderíamos mesmo sonhar com algo mais: um título europeu. Porque não? A jogar assim, tudo é possível! “Deixem-nos sonhar” foi o tifo do Colectivo que deu o mote, e os meses de Abril e Maio de 2003 foram tão mágicos que qualquer tentativa de descrevê-los ficaria sempre aquém daquilo que vivemos – nas Antas, em Roma (onde não estive), no aeroporto Sá Carneiro a receber os heróis, no inferno andaluz onde tocámos o paraíso, pelas ruas do Porto numa noite louca de alegria. E depois, já em Junho, no estádio de Oeiras.
Mas nem só de futebol se fez a festa nesse ano, em que fomos bicampeões de hóquei e andebol, embora nesta última modalidade o título ficasse indelevelmente marcado, a par do nosso brilhantismo, pela vergonhosa actuação da FPA, que nos vedou o acesso à Liga dos Campeões.
Na silly season de 2003 alguém escreveu num muro perto do Centro de Treinos do Olival: “Vendem o Deco vendem-nos os sonhos”. Simples na essência e talvez simplista na abordagem – o Deco era o Deco, mas sem o Deco continuávamos com uma grande equipa –, esta frase era, ainda assim, uma excelente síntese do espírito que reinava entre a massa adepta nessa pré-época. Depois da grande época que foi 2002/03, não faltavam oportunidades de amealhar algum dinheiro com a colocação dos nossos melhores jogadores no estrangeiro. Mas isso seria vender o sonho – porque havia um sonho. O sonho de ver o Jorge Costa a erguer a taça mais importante do mundo. De alguma forma, ao arrancarmos para 2003/04, já todos sabíamos que essa poderia ser uma época muito especial.
Pinto da Costa não vendeu o Deco nem vendeu os nossos sonhos, que continuaram intactos à entrada da época seguinte. Uma aura inexplicável envolvia o clube nessa altura. Com a Supertaça Europeia perdida num jogo tremendamente injusto pelo qual “alguém teve que pagar”, mas já com a Supertaça nacional no bolso, avançámos para uma época verdadeiramente inesquecível, não sem antes inaugurarmos a obra sublime a que o Nosso Grande Presidente decidiu chamar Estádio do Dragão. A nossa nova casa.
2004
Golo do Costinha em Manchester. Bicampeonato. Gelsenkirchen. Tóquio. Campeões em basket, tricampeões em andebol e hóquei. É preciso dizer mais?
Infelizmente, sim. 2004 só não foi um ano perfeito por uma razão. Que nada teve a ver com o Jamor nem com o Mónaco, pequenas fagulhas de tristeza perante a alegria esmagadora que foi o resto da época 2003/04. 2004 só não foi perfeito porque não conseguimos assegurar 2005. A escolha de treinador(es) foi miserável, e, pior do que vender alguns dos nossos melhores jogadores, foi não vender outros. Costinha, Maniche, Derlei, atletas que haviam conquistado o nosso respeito e a nossa admiração, transformados em meninos birrentos a quem foi negado um novo brinquedo. 2004 teria terminado em baixa, não fosse a conquista da última Taça Intercontinental da História, mais um momento gravado a ouro nos nossos livros pela pena de um senhor que bem merece esse destaque: Pedro Emanuel.
De assinalar ainda a despedida do Estádio das Antas e respectiva demolição, a poucos meses do seu 52º aniversário.
2004 foi também o ano em que o Apito Dourado viu a luz do dia. E menciono-o por uma única razão: para fazer nova vénia ao Nosso Grande Presidente. Resistir a tudo o que ele resistiu e sair ainda mais forte não é para qualquer um.
2005
Entrámos em 2005 em primeiro, mas a tremer. Foi um ano de roubalheira histórica, de dirigentes com altos cargos em dois clubes da mesma divisão, de jogos transferidos, de árbitros com chuteiras emprestadas. Um ano de perseguição sem precedentes. Quem não se lembra da convocatória de Pinto da Costa ao tribunal no dia e hora do decisivo Porto x Chelsea? Um ano de provações a todos os níveis, que todos recordamos como desastroso, mas no qual passámos a fase de grupos da Champions e perdemos o campeonato apenas na última jornada. Mas o clube do regime voltava a ser campeão (o “como” pouco importa a essa gente) e reapareceram os profetas da desgraça: “O Porto sem Mourinho não é nada. Desta vez o domínio acabou mesmo.”
Mas não. Qualquer pessoa minimamente atenta sabe que não é um treinador que faz o Porto, nem um punhado de jogadores. O que faz o Porto é a nossa fibra, e essa continua cá. Veio um holandês com ar de mau que nunca tinha ganho nada na vida e... aqui ganhou! A máquina estava de volta. Mas a passagem de Adriaanse pelo Porto não será recordada apenas pelo regresso aos títulos; bem pelo contrário. O futebol jogado era fraco, os 3-2 em casa contra o Artmedia depois de 2-0 e o último lugar no grupo da CL foram vergonhosos e a segunda emigração forçada – desta vez definitiva – de Jorge Costa, em Dezembro de 2005, é um dos momentos da história do clube que mais me custa recordar.
2006
2006 trouxe-nos o já mencionado campeonato do Adriaanse, e com dobradinha. Pouco depois disso, o holandês maluco foi-se embora – e ainda nos viria a pagar por isso – e chegou um senhor chamado Jesualdo Ferreira, mas não sem antes darmos ao Rui Barros a oportunidade de inaugurar o seu palmarés como treinador principal, com a conquista da Supertaça. Entretanto, a saga do hóquei prosseguia: éramos pentacampeões.
2007
2007 foi ano de consolidação: fomos bicampeões e continuámos o desenvolvimento de uma grande equipa. E o hóquei continuava a cavalgada: hexa.
Em Abril, Pinto da Costa comemorou 25 anos à frente dos destinos do nosso clube e nesse mesmo dia lançou a primeira pedra do Pavilhão Dragão Caixa. Um buraco entre acessos à auto-estrada, nada mais do que isso, era o que víamos ao olhar para o local “escolhido”. Se tivesse um chapéu na cabeça, tirava-o agora mesmo ao Arquitecto Manuel Salgado, só de pensar no que era em 2007 o espaço onde nasceu esta nossa nova e magnífica casa.
2008
Em 2008 veio o tri e a tentativa de no-lo roubarem na secretaria. O lacaio dos enc@rnados na Liga inventou castigos baseados exclusivamente numa obra de literatura pimba e ainda pediu desculpas públicas por não ter conseguido atirar connosco para a segunda divisão. Na sequência disso, o clube do regime foi à UEFA pedinchar um lugar na Liga dos Campeões que não conquistou nem merecia, e levou goleada dos nossos advogados.
Em Setembro inaugurámos o Vitalis Park, que deu nova vida e novos horizontes ao nosso velhinho campo da Constituição, onde cada vez mais crianças aprendem sobre futebol, coragem e amizade por trás daquele histórico muro azul e branco.
O hóquei é hepta.
2009
Entrámos em 2009 à cabeça de um campeonato renhido. Jogou-se sujo, como sempre (a suspensão do Licha por alegada simulação de penalty foi particularmente hilariante), mas em Maio a festa voltou a ser nossa. Ou melhor, as festas, no plural, porque também a fruteira viajou para as Antas. Antes disso, em Abril, exactamente dois anos depois da primeira pedra e no 27º aniversário da presidência de Pinto da Costa, inaugurámos o Dragão Caixa numa cerimónia de pura elegância. O andebol regressou a casa a tempo de festejar um novo título, enquanto o hóquei terminou a época em Fânzeres e festejou o octacampeonato na deslocação a Viana.
Mas no futebol a segunda metade do ano de 2009 não foi tão positiva quanto a primeira. Estava a fechar-se um ciclo, e o homem que vestira a nossa camisola como uma primeira pele e dera o peito a tanta bala nos três anos anteriores começou a ser alvo de contestação interna.
2010
No final de 2009 e início de 2010 os media iam alimentando cada vez mais aquilo a que chamaram "onda vermelha" – ondas azuis há quase todos os anos, deve ser por isso que não fazem primeira página. No campeonato dos túneis valeu tudo, e só não vou recordar as suspensões de vários jogadores adversários do clube do regime (não apenas nossos, mas também do Braga), por períodos de tempo absurdos e com base em pretextos irrisórios, para não deixar ninguém enojado em véspera de ano novo. Foi neste contexto que perdemos o campeonato.
No entanto, o andebol e o hóquei voltaram a festejar (bi e enea, respectivamente) e o basket fez bonito com uma equipa algo limitada, deixando-nos entusiasmados e confiantes para a época seguinte.
Dado o resultado do campeonato 2009/10, este último Verão foi de festa para o “futebol português”. “Agora é que é”, diziam. Foi então que chegou Villas-Boas. E a festa só durou até 7 de Agosto, dia em que uma indiscutível lição de bola pintou a Supertaça de azul. Exactamente três meses depois, no Dragão, o clube do regime vergou-se perante a melhor equipa nacional sob o peso de uma monumental humilhação. No cair do pano de 2010, o obreiro deste início de época fulgurante assina um prolongamento de contrato, dando-nos mais um excelente motivo para abrir o champanhe.
Foram 1 campeonato, 4 Taças, 4 Taças da Liga e uma Supertaça em basket. 5 Campeonatos, 2 Taças, 3 Taças da Liga e 3 Supertaças em andebol. 9 campeonatos, 4 Taças e 5 Supertaças em hóquei. 6 campeonatos, 5 Taças e 6 Supertaças em futebol. 2 presenças na Taça UEFA, com uma vitória. 8 presenças na Liga dos Campeões, passando por 7 vezes a fase de grupos e vencendo a competição em 2004. A última Taça Intercontinental. Dezenas de outros títulos em outras modalidades e camadas jovens. Um novo e belíssimo estádio. Um novo e belíssimo pavilhão. Novos centros de treinos com condições fantásticas.
Hoje, quando nos preparamos para uma nova década cheia de novos e aliciantes desafios, a década em que festejaremos o nosso 120º aniversário, vale a pena olhar para trás, de sorriso aberto e peito cheio de orgulho, para os anos 2001-2010. Apesar de alguns momentos menos bons, dos obstáculos e das perseguições, não será arriscado aventar que foi a década mais bem-sucedida da história do Futebol Clube do Porto.
Um brinde ao passado, com os pés bem assentes no presente e de olhos postos no futuro! Um grande 2011 a todos!
Antes de avançar, e já que é de memória que trata este post, recordo todos aqueles que perdemos ao longo destes últimos dez anos, e dos quais menciono apenas o nome do Dr. Pôncio Monteiro, para não arriscar esquecer-me de alguém. O nosso tributo e gratidão pelos feitos, grandes ou pequenos, com que ajudaram o nosso clube a ser aquilo que é hoje.
Agora sim, vamos olhar para trás. Peço-vos que se deixem transportar para a passagem de ano de 2000 para 2001, há precisamente 10 anos. Para facilitar, segue uma breve contextualização. O magnífico Pentacampeonato, que plantou na mente de muitos jovens adeptos, eu própria incluída, a sensação de que o Porto era imbatível no futebol, já era história. Afinal parece que não éramos imbatíveis, e termos deixado o campeonato escapar para Alvalade foi o balde de água fria que nos acordou para essa realidade. O nosso treinador era Fernando Santos, surpreendentemente mantido no cargo pelo Presidente para além dos dois anos da praxe. Depois do sonho que havia sido 99, com o penta no futebol a somar-se às vitórias nos campeonatos de basket e hóquei e à histórica reconquista do título nacional de andebol após 31 anos, o ano 2000 foi um pesadelo a que só o hóquei escapou. Era esse o nosso estado de espírito no final do século passado.
2001
Entrámos em 2001 em primeiro, mas com curta diferença pontual e um futebol muito, muito frágil, com o qual era óbvio que não iríamos longe. O novo ano, a nova década e o novo século entravam com um sabor amargo. Passados alguns meses sagrou-se campeão o Boavista, o que só demonstra o nível a que se disputou a competição, que mesmo assim perdemos. Uma geração que cresceu em festa encarava agora uma segunda temporada consecutiva sem vencer. Apesar do clube do regime contar à época já quase uma década de jejum, o simples facto de passarmos dois anos longe dos títulos – na Liga, pois vencemos duas Taças e uma Supertaça nesses dois anos – era suficiente para que o “futebol português” regozijasse. Já nos escreviam o epitáfio. O domínio do Porto parecia ter acabado, e milhões de portugueses respiravam de alívio. Com o início da época chegou Otávio Machado, e o panorama não melhorou.
Além de não nos termos sagrado campeões em qualquer das nossas modalidades, 2001 fica ainda marcado por uma importante perda simbólica: a demolição, em Janeiro desse ano, do Pavilhão Américo de Sá e das piscinas do complexo das Antas. Fânzeres, Matosinhos e Santo Tirso (e a Póvoa de Varzim) passaram a ser as casas emprestadas das nossas equipas de hóquei, basquetebol e andebol, respectivamente, enquanto os golfinhos assentaram arraiais na vizinha piscina de Campanhã. Também o Bingo foi obrigado a procurar novo espaço, passando para o último andar do Siloauto, no centro da cidade.
2002
Passámos o réveillon de 2001 para 2002 em terceiro lugar e a praticar um futebol sofrível. Adivinhava-se uma terceira época sem títulos e a ideia de que o domínio interno do FC Porto fazia parte do passado ganhava cada vez mais terreno, até mesmo entre alguns dos nossos adeptos. Mas já lá dizia a Alanis Morissette que a vida tem uma maneira engraçada de nos ajudar quando achamos que tudo deu errado e as coisas explodem na nossa cara. No nosso caso, é só substituir “vida” por “Presidente Pinto da Costa” e temos uma descrição fiel de diversos momentos da nossa história recente. O Presidente não é infalível (se fosse, não estaríamos nesta situação em Janeiro de 2002), mas dificilmente qualquer outro ser humano, em qualquer área de actividade, se aproximará mais do conceito de infalibilidade do que esse senhor que temos a honra de ter ao nosso leme. É da sua mão que a 23 de Janeiro recebemos aquela que hoje sabemos ter sido a melhor prenda que poderíamos ter recebido naquela altura: José Mourinho. "Na próxima época seremos campeões", disse-nos de imediato. E era tudo o que queríamos ouvir. Mourinho não resgatou a época 2001/02, que terminámos precisamente com o mesmo atraso pontual que tínhamos quando chegou (mas em terceiro lugar, em vez do quinto de Janeiro), mas a nossa cabeça já estava em 2002/03.
Extra-desportivamente, deu-se em 2002 a polémica do Plano de Pormenor das Antas. Rui Rio, recentemente eleito presidente da Câmara naquilo que um dos seus assessores rotulou de “uma vitória contra Pinto da Costa” (que, só para que fique escrito, não era candidato), tentou boicotar a construção do novo estádio do FC Porto, chegando as obras a serem suspensas durante 33 dias entre Março e Abril desse ano.
Mas enquanto no nosso próprio concelho éramos tratados desta forma, a sul do Douro desenvolvia-se uma parceria saudável e mutuamente benéfica entre o FC Porto e a autarquia vizinha, a que se chamou Fundação PortoGaia. Fruto dessa parceria, em Agosto de 2002 inaugurou-se o fabuloso Centro de Treinos e Formação Desportiva PortoGaia. Prática comum nos clubes e campeonatos mais relevantes da Europa, a deslocação dos treinos para uma zona distante e semi-rural permitiu aos nossos atletas de várias camadas etárias passar a dispor de condições de topo mundial, mas sacrificou o contacto directo com os adeptos, a possibilidade das crianças rodearem os seus ídolos em busca do cobiçado autógrafo – e isso é um “detalhe” que não finjo ignorar. Lembro-me bem do que sentia nas longas manhãs que passei nas Antas de bloco e máquina fotográfica em punho, e acho que o clube perde em não permitir aos miúdos de hoje mais do que um autógrafo rabiscado através da janela do carro, com o segurança a mandar avançar “que o carro de trás quer sair”. Um bocadinho de boa vontade e o CTFD poderia ser um local bem mais acolhedor para os adeptos, que não precisariam arriscar ser atropelados para conseguirem uma foto e uma assinatura num pedaço de papel.
2002 foi também o ano em que, em Fânzeres, conquistámos o primeiro de uma série de títulos ainda hoje em curso, enquanto uma grande equipa de andebol (que o Lucho provavelmente recordará de cor e com uma “lágrima teimosa” a escorrer pela face ;)) carimbou a primeira etapa de um inesquecível tricampeonato.
2003
Já a treinar no Olival, a equipa entrou com o pé direito na época seguinte, e à passagem para 2003 já levava 9 pontos de avanço sobre o segundo classificado e tinha ultrapassado com distinção as três primeiras eliminatórias da Taça UEFA. Os fantasmas começavam a esfumar-se e a certa altura começámos a aperceber-nos de que poderíamos mesmo sonhar com algo mais: um título europeu. Porque não? A jogar assim, tudo é possível! “Deixem-nos sonhar” foi o tifo do Colectivo que deu o mote, e os meses de Abril e Maio de 2003 foram tão mágicos que qualquer tentativa de descrevê-los ficaria sempre aquém daquilo que vivemos – nas Antas, em Roma (onde não estive), no aeroporto Sá Carneiro a receber os heróis, no inferno andaluz onde tocámos o paraíso, pelas ruas do Porto numa noite louca de alegria. E depois, já em Junho, no estádio de Oeiras.
Mas nem só de futebol se fez a festa nesse ano, em que fomos bicampeões de hóquei e andebol, embora nesta última modalidade o título ficasse indelevelmente marcado, a par do nosso brilhantismo, pela vergonhosa actuação da FPA, que nos vedou o acesso à Liga dos Campeões.
Na silly season de 2003 alguém escreveu num muro perto do Centro de Treinos do Olival: “Vendem o Deco vendem-nos os sonhos”. Simples na essência e talvez simplista na abordagem – o Deco era o Deco, mas sem o Deco continuávamos com uma grande equipa –, esta frase era, ainda assim, uma excelente síntese do espírito que reinava entre a massa adepta nessa pré-época. Depois da grande época que foi 2002/03, não faltavam oportunidades de amealhar algum dinheiro com a colocação dos nossos melhores jogadores no estrangeiro. Mas isso seria vender o sonho – porque havia um sonho. O sonho de ver o Jorge Costa a erguer a taça mais importante do mundo. De alguma forma, ao arrancarmos para 2003/04, já todos sabíamos que essa poderia ser uma época muito especial.
Pinto da Costa não vendeu o Deco nem vendeu os nossos sonhos, que continuaram intactos à entrada da época seguinte. Uma aura inexplicável envolvia o clube nessa altura. Com a Supertaça Europeia perdida num jogo tremendamente injusto pelo qual “alguém teve que pagar”, mas já com a Supertaça nacional no bolso, avançámos para uma época verdadeiramente inesquecível, não sem antes inaugurarmos a obra sublime a que o Nosso Grande Presidente decidiu chamar Estádio do Dragão. A nossa nova casa.
2004
Golo do Costinha em Manchester. Bicampeonato. Gelsenkirchen. Tóquio. Campeões em basket, tricampeões em andebol e hóquei. É preciso dizer mais?
Infelizmente, sim. 2004 só não foi um ano perfeito por uma razão. Que nada teve a ver com o Jamor nem com o Mónaco, pequenas fagulhas de tristeza perante a alegria esmagadora que foi o resto da época 2003/04. 2004 só não foi perfeito porque não conseguimos assegurar 2005. A escolha de treinador(es) foi miserável, e, pior do que vender alguns dos nossos melhores jogadores, foi não vender outros. Costinha, Maniche, Derlei, atletas que haviam conquistado o nosso respeito e a nossa admiração, transformados em meninos birrentos a quem foi negado um novo brinquedo. 2004 teria terminado em baixa, não fosse a conquista da última Taça Intercontinental da História, mais um momento gravado a ouro nos nossos livros pela pena de um senhor que bem merece esse destaque: Pedro Emanuel.
De assinalar ainda a despedida do Estádio das Antas e respectiva demolição, a poucos meses do seu 52º aniversário.
2004 foi também o ano em que o Apito Dourado viu a luz do dia. E menciono-o por uma única razão: para fazer nova vénia ao Nosso Grande Presidente. Resistir a tudo o que ele resistiu e sair ainda mais forte não é para qualquer um.
2005
Entrámos em 2005 em primeiro, mas a tremer. Foi um ano de roubalheira histórica, de dirigentes com altos cargos em dois clubes da mesma divisão, de jogos transferidos, de árbitros com chuteiras emprestadas. Um ano de perseguição sem precedentes. Quem não se lembra da convocatória de Pinto da Costa ao tribunal no dia e hora do decisivo Porto x Chelsea? Um ano de provações a todos os níveis, que todos recordamos como desastroso, mas no qual passámos a fase de grupos da Champions e perdemos o campeonato apenas na última jornada. Mas o clube do regime voltava a ser campeão (o “como” pouco importa a essa gente) e reapareceram os profetas da desgraça: “O Porto sem Mourinho não é nada. Desta vez o domínio acabou mesmo.”
Mas não. Qualquer pessoa minimamente atenta sabe que não é um treinador que faz o Porto, nem um punhado de jogadores. O que faz o Porto é a nossa fibra, e essa continua cá. Veio um holandês com ar de mau que nunca tinha ganho nada na vida e... aqui ganhou! A máquina estava de volta. Mas a passagem de Adriaanse pelo Porto não será recordada apenas pelo regresso aos títulos; bem pelo contrário. O futebol jogado era fraco, os 3-2 em casa contra o Artmedia depois de 2-0 e o último lugar no grupo da CL foram vergonhosos e a segunda emigração forçada – desta vez definitiva – de Jorge Costa, em Dezembro de 2005, é um dos momentos da história do clube que mais me custa recordar.
2006
2006 trouxe-nos o já mencionado campeonato do Adriaanse, e com dobradinha. Pouco depois disso, o holandês maluco foi-se embora – e ainda nos viria a pagar por isso – e chegou um senhor chamado Jesualdo Ferreira, mas não sem antes darmos ao Rui Barros a oportunidade de inaugurar o seu palmarés como treinador principal, com a conquista da Supertaça. Entretanto, a saga do hóquei prosseguia: éramos pentacampeões.
2007
2007 foi ano de consolidação: fomos bicampeões e continuámos o desenvolvimento de uma grande equipa. E o hóquei continuava a cavalgada: hexa.
Em Abril, Pinto da Costa comemorou 25 anos à frente dos destinos do nosso clube e nesse mesmo dia lançou a primeira pedra do Pavilhão Dragão Caixa. Um buraco entre acessos à auto-estrada, nada mais do que isso, era o que víamos ao olhar para o local “escolhido”. Se tivesse um chapéu na cabeça, tirava-o agora mesmo ao Arquitecto Manuel Salgado, só de pensar no que era em 2007 o espaço onde nasceu esta nossa nova e magnífica casa.
2008
Em 2008 veio o tri e a tentativa de no-lo roubarem na secretaria. O lacaio dos enc@rnados na Liga inventou castigos baseados exclusivamente numa obra de literatura pimba e ainda pediu desculpas públicas por não ter conseguido atirar connosco para a segunda divisão. Na sequência disso, o clube do regime foi à UEFA pedinchar um lugar na Liga dos Campeões que não conquistou nem merecia, e levou goleada dos nossos advogados.
Em Setembro inaugurámos o Vitalis Park, que deu nova vida e novos horizontes ao nosso velhinho campo da Constituição, onde cada vez mais crianças aprendem sobre futebol, coragem e amizade por trás daquele histórico muro azul e branco.
O hóquei é hepta.
2009
Entrámos em 2009 à cabeça de um campeonato renhido. Jogou-se sujo, como sempre (a suspensão do Licha por alegada simulação de penalty foi particularmente hilariante), mas em Maio a festa voltou a ser nossa. Ou melhor, as festas, no plural, porque também a fruteira viajou para as Antas. Antes disso, em Abril, exactamente dois anos depois da primeira pedra e no 27º aniversário da presidência de Pinto da Costa, inaugurámos o Dragão Caixa numa cerimónia de pura elegância. O andebol regressou a casa a tempo de festejar um novo título, enquanto o hóquei terminou a época em Fânzeres e festejou o octacampeonato na deslocação a Viana.
Mas no futebol a segunda metade do ano de 2009 não foi tão positiva quanto a primeira. Estava a fechar-se um ciclo, e o homem que vestira a nossa camisola como uma primeira pele e dera o peito a tanta bala nos três anos anteriores começou a ser alvo de contestação interna.
2010
No final de 2009 e início de 2010 os media iam alimentando cada vez mais aquilo a que chamaram "onda vermelha" – ondas azuis há quase todos os anos, deve ser por isso que não fazem primeira página. No campeonato dos túneis valeu tudo, e só não vou recordar as suspensões de vários jogadores adversários do clube do regime (não apenas nossos, mas também do Braga), por períodos de tempo absurdos e com base em pretextos irrisórios, para não deixar ninguém enojado em véspera de ano novo. Foi neste contexto que perdemos o campeonato.
No entanto, o andebol e o hóquei voltaram a festejar (bi e enea, respectivamente) e o basket fez bonito com uma equipa algo limitada, deixando-nos entusiasmados e confiantes para a época seguinte.
Dado o resultado do campeonato 2009/10, este último Verão foi de festa para o “futebol português”. “Agora é que é”, diziam. Foi então que chegou Villas-Boas. E a festa só durou até 7 de Agosto, dia em que uma indiscutível lição de bola pintou a Supertaça de azul. Exactamente três meses depois, no Dragão, o clube do regime vergou-se perante a melhor equipa nacional sob o peso de uma monumental humilhação. No cair do pano de 2010, o obreiro deste início de época fulgurante assina um prolongamento de contrato, dando-nos mais um excelente motivo para abrir o champanhe.
Foram 1 campeonato, 4 Taças, 4 Taças da Liga e uma Supertaça em basket. 5 Campeonatos, 2 Taças, 3 Taças da Liga e 3 Supertaças em andebol. 9 campeonatos, 4 Taças e 5 Supertaças em hóquei. 6 campeonatos, 5 Taças e 6 Supertaças em futebol. 2 presenças na Taça UEFA, com uma vitória. 8 presenças na Liga dos Campeões, passando por 7 vezes a fase de grupos e vencendo a competição em 2004. A última Taça Intercontinental. Dezenas de outros títulos em outras modalidades e camadas jovens. Um novo e belíssimo estádio. Um novo e belíssimo pavilhão. Novos centros de treinos com condições fantásticas.
Hoje, quando nos preparamos para uma nova década cheia de novos e aliciantes desafios, a década em que festejaremos o nosso 120º aniversário, vale a pena olhar para trás, de sorriso aberto e peito cheio de orgulho, para os anos 2001-2010. Apesar de alguns momentos menos bons, dos obstáculos e das perseguições, não será arriscado aventar que foi a década mais bem-sucedida da história do Futebol Clube do Porto.
Um brinde ao passado, com os pés bem assentes no presente e de olhos postos no futuro! Um grande 2011 a todos!