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Na passada sexta-feira ouvi adeptos do FC Porto assobiarem um golo do FC Porto. Foi, para mim, o culminar de mais um lamentável desempenho do público do Dragão (ou melhor, de parte dele), que ao primeiro passe errado saca logo desse suposto "direito à indignação".
Eu sei que nós estamos mal habituados. Ou melhor, estamos "demasiadamente bem" habituados. Desde 1984, só por uma vez vimos o nosso clube perder dois ou mais campeonatos consecutivos. Vimo-lo ser pentacampeão, tetracampeão, várias vezes bicampeão. Vimos títulos europeus e mundiais. E naturalmente queremos manter este bom hábito, e estremecemos perante a mera hipótese de o virmos a interromper. Até aqui, todos de acordo. Mas até que ponto isso nos dá o direito moral de assobiar e insultar os nossos próprios jogadores? Eu respondo: não dá. Porque, independentemente da história do clube e do peso da responsabilidade que esta camisola acarreta, sabemos que se o treinador não está a acertar com a táctica ou os jogadores não estão a jogar melhor é porque não estão a conseguir. Eles querem jogar bem, querem ganhar e levantar taças, tanto quanto nós. Estão no campo a fazer o melhor que conseguem a cada momento e merecem o nosso respeito. Somos exigentes? Sim, somos. É uma das nossas mais valiosas características. Mas pobres de nós se o reflexo dessa exigência é assobiar e insultar os nossos próprios jogadores quando as coisas começam a correr mal.
E não, o facto de ter pago bilhete também não dá a ninguém o direito de "exigir um bom espectáculo". Vem escrito no bilhete que será um bom espectáculo de futebol? Que vamos ganhar? Que vamos marcar x golos? Se estiver, e caso não aconteça, é correr para a bilheteira e exigir o dinheiro de volta por incumprimento da organização. Mas – oh, surpresa! – não está lá nada. Quem compra um bilhete para uma partida de futebol arrisca-se a ver um mau jogo, um jogo sem golos, uma derrota. Comprou o bilhete porque quis, pagou o que lhe pediram e não tem qualquer direito de exigir nada mais do que 90 minutos de futebol.
Mas é verdade que vivemos num país onde vigora a liberdade de expressão e por isso nada proíbe o público de manifestar o seu desagrado, mesmo que para mim essa seja uma atitude desprezível. E não ignoro que às vezes os assobios possam ser "merecidos": que às vezes um jogador possa não estar a dar o melhor de si, que possa estar a fazer birra, a ter um comportamento impróprio de um profissional – e principalmente de um profissional tão bem pago. Mas, mesmo nessas situações, pergunto a quem assobia: o que pensam que o clube ganha com isso? A equipa vai jogar melhor por ouvir assobios? Os jogadores vão sentir-se melhor no clube, deixar de pensar em dar o salto para o estrangeiro? Vão estar mais tranquilos, mais confiantes para darem asas ao seu talento? O treinador vai sentir-se mais à vontade para desenvolver o seu trabalho? Os outros adeptos vão sentir-se mais motivados para apoiar a equipa? Os adversários vão sentir-se intimidados? Apontem-me, peço-vos, uma única vantagem dos assobios para a equipa ou o clube. Uma!
Eu não sei assobiar. Até gostava de aprender, mas nunca para assobiar os meus. Porque podem não acreditar, mas quando algum familiar ou amigo está a passar um mau bocado, e mesmo que até seja, em parte ou inteiramente, por culpa própria, nunca me ocorreu assobiá-lo ou vaiá-lo. A sério! Pelo contrário, procuro colocar-me à disposição para lhe dar o máximo de apoio possível, porque quero o melhor para ele. Em relação ao meu clube digo exactamente o mesmo. Mas claramente a "massa assobiativa" não deve partilhar deste tipo de postura - ou então não partilha do meu sentimento pelo clube. Um sentimento chamado amor, que segundo reza a lenda subsiste nos bons e nos maus momentos, até que a morte nos separe.
Eu entendo que fiquemos frustrados ao ver a equipa jogar mal. Queremos mais, queremos melhor, somos melhores! O Vítor Pereira e o Hulk vieram dizer que entendem os assobios, que são a nossa forma de lhes exigirmos mais – outra coisa não seria de esperar, e é de louvar este discurso desdramatizador, mesmo perante as insistentes provocações dos jornalistas. Mas serão os assobios a melhor forma de lhes exigirmos mais? E se não exteriorizarmos a nossa frustração sob a forma de assobios e vaias, temos que guardá-la na gaveta? Fazer de conta que não se passa nada, que estamos satisfeitos com o desempenho da equipa? Claro que não. Para mim, só há uma forma de exigir mais da equipa: dando mais de mim. Cantando mais e mais alto. Os jogadores não são burros, não precisam dos assobios do público para saberem que as coisas não estão a correr bem. E é nessas horas que mais olham para a bancada à procura de apoio, de um empurrão para a frente. É com assobios que lhes respondemos?
Eu sei que nós estamos mal habituados. Ou melhor, estamos "demasiadamente bem" habituados. Desde 1984, só por uma vez vimos o nosso clube perder dois ou mais campeonatos consecutivos. Vimo-lo ser pentacampeão, tetracampeão, várias vezes bicampeão. Vimos títulos europeus e mundiais. E naturalmente queremos manter este bom hábito, e estremecemos perante a mera hipótese de o virmos a interromper. Até aqui, todos de acordo. Mas até que ponto isso nos dá o direito moral de assobiar e insultar os nossos próprios jogadores? Eu respondo: não dá. Porque, independentemente da história do clube e do peso da responsabilidade que esta camisola acarreta, sabemos que se o treinador não está a acertar com a táctica ou os jogadores não estão a jogar melhor é porque não estão a conseguir. Eles querem jogar bem, querem ganhar e levantar taças, tanto quanto nós. Estão no campo a fazer o melhor que conseguem a cada momento e merecem o nosso respeito. Somos exigentes? Sim, somos. É uma das nossas mais valiosas características. Mas pobres de nós se o reflexo dessa exigência é assobiar e insultar os nossos próprios jogadores quando as coisas começam a correr mal.
E não, o facto de ter pago bilhete também não dá a ninguém o direito de "exigir um bom espectáculo". Vem escrito no bilhete que será um bom espectáculo de futebol? Que vamos ganhar? Que vamos marcar x golos? Se estiver, e caso não aconteça, é correr para a bilheteira e exigir o dinheiro de volta por incumprimento da organização. Mas – oh, surpresa! – não está lá nada. Quem compra um bilhete para uma partida de futebol arrisca-se a ver um mau jogo, um jogo sem golos, uma derrota. Comprou o bilhete porque quis, pagou o que lhe pediram e não tem qualquer direito de exigir nada mais do que 90 minutos de futebol.
Mas é verdade que vivemos num país onde vigora a liberdade de expressão e por isso nada proíbe o público de manifestar o seu desagrado, mesmo que para mim essa seja uma atitude desprezível. E não ignoro que às vezes os assobios possam ser "merecidos": que às vezes um jogador possa não estar a dar o melhor de si, que possa estar a fazer birra, a ter um comportamento impróprio de um profissional – e principalmente de um profissional tão bem pago. Mas, mesmo nessas situações, pergunto a quem assobia: o que pensam que o clube ganha com isso? A equipa vai jogar melhor por ouvir assobios? Os jogadores vão sentir-se melhor no clube, deixar de pensar em dar o salto para o estrangeiro? Vão estar mais tranquilos, mais confiantes para darem asas ao seu talento? O treinador vai sentir-se mais à vontade para desenvolver o seu trabalho? Os outros adeptos vão sentir-se mais motivados para apoiar a equipa? Os adversários vão sentir-se intimidados? Apontem-me, peço-vos, uma única vantagem dos assobios para a equipa ou o clube. Uma!
Eu não sei assobiar. Até gostava de aprender, mas nunca para assobiar os meus. Porque podem não acreditar, mas quando algum familiar ou amigo está a passar um mau bocado, e mesmo que até seja, em parte ou inteiramente, por culpa própria, nunca me ocorreu assobiá-lo ou vaiá-lo. A sério! Pelo contrário, procuro colocar-me à disposição para lhe dar o máximo de apoio possível, porque quero o melhor para ele. Em relação ao meu clube digo exactamente o mesmo. Mas claramente a "massa assobiativa" não deve partilhar deste tipo de postura - ou então não partilha do meu sentimento pelo clube. Um sentimento chamado amor, que segundo reza a lenda subsiste nos bons e nos maus momentos, até que a morte nos separe.
Eu entendo que fiquemos frustrados ao ver a equipa jogar mal. Queremos mais, queremos melhor, somos melhores! O Vítor Pereira e o Hulk vieram dizer que entendem os assobios, que são a nossa forma de lhes exigirmos mais – outra coisa não seria de esperar, e é de louvar este discurso desdramatizador, mesmo perante as insistentes provocações dos jornalistas. Mas serão os assobios a melhor forma de lhes exigirmos mais? E se não exteriorizarmos a nossa frustração sob a forma de assobios e vaias, temos que guardá-la na gaveta? Fazer de conta que não se passa nada, que estamos satisfeitos com o desempenho da equipa? Claro que não. Para mim, só há uma forma de exigir mais da equipa: dando mais de mim. Cantando mais e mais alto. Os jogadores não são burros, não precisam dos assobios do público para saberem que as coisas não estão a correr bem. E é nessas horas que mais olham para a bancada à procura de apoio, de um empurrão para a frente. É com assobios que lhes respondemos?