continuação da semana passada...
- meio-campo
A zona nevrálgica do terreno, o meio-campo tradicionalmente pisado por homens de barba rija, viu partir uma das suas pedras basilares. O agora renegado Paulo Assunção, resgatado a clubes menores e alcandorado aos grandes palcos de Dragão ao peito, travestiu-se de Judas, cuspindo ofensivamente no prato onde se alimentava. Trabalhador incansável, personificação da formiga trabalhadora, dono e senhor de um lugar facilmente colmatado. O lugar de trinco, no Porto, sempre foi ocupado por jogadores indómitos, verdadeiros guerreiros personificando a mística do clube, porta-estandartes da flâmula do Dragão. Por isso,
"rei morto, rei posto". Paulo Assunção será esquecido, substituído no coração de adeptos que nunca regatearão aplausos a quem orgulha o emblema. Não é o caso do agora ostracizado brasileiro.
Para a vaga aberta, vários candidatos. A qualquer deles se pede o mesmo que o brasileiro que partiu, para outras paragens. Futebol consistente e geométrico, abnegação na luta pela posse de bola e, claro, muitos quilómetros de esforço nas pernas, em cada partida. É, quanto a mim, uma das zonas fulcrais no esquema táctico dos tricampeões nacionais.
Fernando, após um ano de rodagem no modesto Estrela, pretende ser um dos eleitos de Jesualdo. A seu favor tem a juventude, a temporada consistente realizada nos tricolores sulistas e uma invulgar clarividência. Armas jogadas no estágio na Alemanha, com indicações positivas e meritórias. Opção válida e a ter em conta, para a luta titânica pelo lugar.
Bolatti foi uma das contratações da época transacta, vendo agora surgir a grande oportunidade de afirmação no futebol europeu. Eternamente relegado para fora dos titulares, o argentino loiro mostrou fugazmente alguns dos seus predicados, nos parcos minutos jogados: técnica apurada, robustez física e frequentes aparições nas zonas de finalização. A ele pede-se uma tarefa hercúlea. Ser o pêndulo da equipa. Sinceramente, parece-me demais, apesar das evidentes qualidades…
Guarín, colombiano, com experiência no futebol europeu [e sabe-se o quão importante esse facto representa, muitas vezes], a última contratação dos Dragões, aparece com um estatuto algo indefinido. Assume-se como um médio defensivo. Naquele estilo gingão, transporta toneladas de técnica e habilidades. Tem mostrado predicados para a função, fazendo renascer o espírito de Emerson, brasileiro idolatrado por estas paragens.
Tomás Costa, outro dos novos reforços, impressiona. Desde logo, pelo corpo franzino, à primeira vista, mas suficientemente robusto, após uma análise mais detalhada. É um corpo de atleta. Daqueles habituados a sofrer, dentro de campo. Como carta de apresentação, mostrou personalidade. Sem medos de comparações,
assumiu-se
“igual a Deco”. Poderia ser uma mera incontinência verbal, um impulso jovial típico de quem quer agradar. A mim pareceu-me mais uma prova de confiança. Nele mesmo. E, convenhamos, quem tem um Dragão tatuado na perna, desde a adolescência, merece rasgados elogios pela escolha. Só falta mesmo o óbvio: provar dentro das quatro linhas que merece envergar aquela camisola. A tal que
“vence desde 1893”.
Para o fim, dois veteranos de inúmeras batalhas. Raúl Meireles, internacional luso, médio centro que, ironicamente, até começou a dar nas vistas como trinco, é garante de estabilidade no sector intermediário. Sereno, trabalhador infatigável, temível na meia distância, será novamente um dos pilares da equipa.
E depois, temos O jogador. Menção especial a Lucho Gonzalez; El Comandante, nome de guerrilheiro que traduz a importância acrescida do argentino no jogo dos portistas. Parecendo omnipresente, flutua com leveza e encanto sobre o relvado, aparecendo como que por artes mágicas em todos os lugares onde a bola se encontra. Virtuoso, coloca o esférico com argúcia em passes longos, como se as botas tivesses gps incrustado. É, indubitavelmente, a grande contratação de Pinto da Costa, para a nova temporada, resistindo ao assédio de clubes mais endinheirados.
- ataque
E na frente, mais umas incógnitas a adicionar à equação. De pedra e cal, voraz na procura das redes alheias, Lisandro Lopez continua a ser o farol ofensivo da equipa. Raçudo, nunca virando a cara à luta, transformou-se num finalizador letal, inimigo número 1 das defesas nacionais.
Também com sotaque das pampas, marcando ao ritmo do tango,
Farías procurará fazer desta nova temporada o ano da sua definitiva afirmação. Afectado por problemas vários, nunca se conseguiu impor definitivamente no 11 principal, apenas mostrando a espaços a sua veia goleadora. Agora, com maior regularidade, estou
convicto que a
“Tecla” funcionará na perfeição, criando uma parceria profícua com o seu compatriota do ataque.
A pré-temporada serviu ainda para arrumar a casa. Adriano, mal-amado por Jesualdo, recebeu a guia de marcha para novo destino, longe do Dragão. A ele juntou-se uma promessa, eternamente adiada. Postiga, de divórcio consumado com o azul e branco, mudou-se de armas e bagagens para latitudes mais sulistas, elitistas e…habitualmente candidatos aos lugares mais baixos do pódio. Sobraria, para gáudio do Estilhaço, espaço para Rentería.
Mais maduro, depois do tirocínio em terras gauleses, poderia aportar ao futebol portista características únicas: imprevisibilidade, velocidade desconcertante e força física. Jesualdo, convencional nas suas abordagens táctica, não se deixou encantar. Rentería, sabe-se agora, não terá oportunidades neste Porto versão 2008/09. E, de quem tira alguns, sobram poucos.
Muito poucos. Já se sabe e a SAD portista não tem feito segredo disso mesmo, que o sector receberá um reforço. Nomes não faltam. Especulação também não. Resta aguardar, pacientemente, pelo nome do predestinado.
- extremos
Municiadores dos homens mais adiantados, os extremos costumam desempenhar um papel fulcral no esquema táctico engendrado por Jesualdo, num rotinado 4-3-3. A pergunta que paira na mente de todos tem um nome em comum: Quaresma. Que Quaresma teremos, se o Porto não ceder às negociações com o Inter? Bem, será uma pergunta retórica, pois com as declarações do Mustang, afirmando peremptoriamente querer sair do Dragão, as ilusões estilhaçadas seriam uma contrariedade difícil de sanar num espírito rebelde, egoísta e narcisista. Seria um Quaresma a roçar a mediania aquele que nos seria servido. Se ficar. Mas existem opções, para além das trivelas.
Tarik, marroquino dotado de velocidade estonteante, disposto a ficar na história como o seguidor do Alcorão com os mais belos golos marcados, é claramente uma mais-valia, oferecendo cruzamentos açucarados aos homens da frente.
Eufórico com a 2ª oportunidade, como um prisioneiro a quem fosse concedido um indulto, aparece Mariano, pertencente ao contingente sul-americano. Renascido das cinzas, após meses a suportar críticas à sua qualidade de jogo, cerrou os dentes e mostrou… personalidade. Lutou, sacrificou-se em prol do colectivo, jogando bastas vezes fora da sua zona de eleição, sendo premiado com o bónus da confiança do treinador. Terá a oportunidade de se redimir, mostrando o que vale, numa época inteira que se pretende de vitórias.
Apanhado no meio do fogo cruzado da guerra surda mantida com os vimaranenses, Alan poderia ser o principal beneficiado dos danos colaterais pela disputa da Champions. Jogador fundamental na época positiva do Guimarães regressou, por momentos, a uma casa onde já residiu. Tecnicista, generoso, tem em entrega o que perde em clarividência. Algo trapalhão, pouco clarividente na finalização, não correspondeu aos anseios de Jesualdo, recebendo a carta de alforria em direcção ao Minho.
Sobra ainda
Candeias, mais um produto com o rótulo
“made in Porto”. Época de novas sensações, de tirocínio,
fará parte do plantel, tal como o colega
Tengarrinha. A sua utilização é que já entra no domínio da ficção, sabendo-se do conservadorismo do treinador dos campeões nacionais.
Foi nas posições mais flanqueadas do meio-campo que o Porto viu chegar um dos reforços de peso. Carinhosamente etiquetado de "Cebola", Cristian Rodriguez colocou em míseros 5 minutos 6 milhões de aberrações a chorar. Compreende-se o porquê. Na mediania da Luz, Cristian Rodriguez brilhou intensamente. Da mediocridade que por lá imperava saiu ileso, nas suas vastas qualidades. É ambicioso. E quer títulos. Como num 2+2 de soma fácil, o Porto foi o destino escolhido. Clube que colecciona de forma compulsiva troféus, será aqui que o "Cebola" poderá explanar todo o seu futebol. E ele tem muito para dar. Explosivo, detonador de defesas, dentes cerrados, à boa maneira sul americana, apresenta um futebol geométrico, misto de raiva e poder. Potencial titular, tem tudo para realizar uma temporada de sonho.
Também aqui, analisando os extremos, fica-se com uma sensação latente de que falta algo. Ou alguém. Sem Alan, com o marroquino Tarik a recuperar de uma lesão e Quaresma de malas feitas, as opções são escassas, quase obrigando o Porto a ir ao mercado, nos próximos dias, para uma solução viável.
Em suma, é o Porto de sempre. Ávido por novas vitórias, com um plantel equilibrado, permitindo a adopção por parte do corpo técnico das variantes e cambiantes necessárias às várias situações de jogo. Em 4-3-3 ou no 4-2-2, o caminho para o Tetra terá o nome de novos heróis. E nós cá estaremos, para os apoiar. Como sempre. Todo o ano. Sem regatear esforços.
- fim -