A competição está finalmente aí ao virar da esquina e convém imitar a época transata começando com tudo, mas mesmo com tudo. Com tudo o que temos, seja muito, seja pouco. É, pois, momento de fazer um curto balanço da pré-época até agora, perspetivando o horizonte no curto e médio prazo.
Comecemos por analisar de forma muito sumária o plantel atual. Na baliza, não teremos problemas e é apenas necessário dispensar pelo menos um guarda-redes para rodar, dado que quatro guarda-redes parece demasiado.
Nas laterais, é preciso um substituto para Telles para a esquerda, sendo que na direita a experiência de Maxi deverá permitir o crescimento e maturação do talento (inequívoco, a julgar pelo trato da bola e mais ainda pela velocidade no movimento e execução) de João Pedro.
No eixo central, poderá ser mais difícil. Há Felipe. E agora Mbemba. E pode haver muito em breve (quiçá ainda antes desta publicação, ou não) Militão. Há ainda Chidozie, que parece contar muito pouco a julgar pela pré-época. E há Diogo Leite, que tem grande chance de se vir a tornar o próximo grande central português. A maturidade que revela no posicionamento e a forma como orienta o corpo nos duelos fazem antever um grande central. E sem esquecer o pé esquerdo, característica para o tornar ainda mais distintivo. Porém, precisa ainda de solidificar e acabar de crescer, pelo que é imperativo garantir uma dupla de centrais que ofereça totais garantias no imediato. Quer isto dizer que é verdadeiramente importante que ou Mbemba ou Militão (para não exagerar a pedir os dois dado as nossas últimas aquisições) sejam um verdadeiro reforço para formarem uma dupla sólida com Felipe. No fundo, não nos podemos esquecer que a defesa foi um dos grandes pilares da nossa vitória do ano passado, sendo também o sector mais fustigado na silly season e, portanto, aquele que se perfila como fator crítico de sucesso para a época que agora vai começar.
Pois bem, no meio-campo creio que não teremos problemas: Danilo, Sérgio Oliveira, Herrera e Oliver. Mais Bruno Costa. Creio ser suficiente para 2 (muitas vezes) ou 3 (algumas vezes) lugares no onze. Ideal seria ter mais um elemento com características diferentes, mas creio que não será por aqui que as coisas poderão falhar. Questões que muito influenciarão a amplitude do sucesso: Sérgio Oliveira manterá o nível da época passada ou aquele jogo contra o Sporting no Dragão foi mesmo once in a lifetime? Oliver será capaz de se adaptar ao jogo da equipa, com mais movimento, mais vertigem e mais choque? Bruno Costa tem pedigree para começar a ser lançado já com mais frequência? Danilo e Herrera estão a salvo dos ímpetos de última hora do mercado?
Nas alas, Brahimi e Corona. Otávio também lá pode jogar. E Hernâni. Parece demasiado curto. Primeiro porque é aqui que deverão estar os abre-latas, que tanto jeito dão. E segundo porque Corona insiste em fazer jogos em que faz uma coisa excelente e duas péssimas, e terceiro porque Otávio é do mesmo género, e quarto porque Hernâni é única e exclusivamente (apenas e só, estão a ver a ideia?) rápido. Pois que um verdeiro reforço aqui não seria de descartar, até porque basta uma lesão de Brahimi e as coisas complicam-se muito. É verdade que Brahimi exagera em rotundas e formas semelhantes, soltando a bola demasiadas vezes depois do tempo, mas também não é mentira que atrai dois ou três adversários de cada vez, sendo na maioria das vezes o principal criador de lances com potencial de golo. Se tivéssemos outro a fazer coisas parecidas, a equipa subiria muitíssimo de nível. Não temos, pelo que ter pelo menos um já será bem bom.
No ataque, Aboubakar, Soares e Marega oferecem garantias. André Pereira poderá ser um bom quarto elemento, embora tenha algumas dúvidas sobre se não seria melhor ser emprestado para jogar mais. E Adrian L. (deixo o resto do comentário para vossa imaginação e gosto)
Em suma, o plantel não estará assim tão deficitário quanto se apregoa. Em comparação com o ano passado, esclarecimento imprescindível. E creio que será por aqui também que Sérgio Conceição fez aquelas declarações. Talvez não só por estar ainda sem reforços na defesa que substituíssem Ricardo, Dalot, Marcano e Reyes (Layun já estava fora), mas também por saber que a manta pode ser demasiado curta. Porque, pura e simplesmente, já o era no ano passado. Será prudente e inteligente da nossa parte percebermos que fomos campeões nos limites da vontade, da garra e da motivação, disfarçando de todas as formas e feitios todas as limitações que tínhamos. E acredito mesmo que é isso que o treinador também pensa e quer: depender menos das bolas paradas, do sucesso dos dribles do Brahimi e das cavalgadas de Marega a esticar o jogo.
Portanto, são precisos e bem-vindos reforços. Não contratações, mas reforços. Não Jankos, Ewertons, Paulinhos e Waris. Se foram dispensados, é porque o treinador achou que não tinham qualidade para a equipa, ou que no mínimo não lhe acrescentariam nada. Foram então contratações recomendadas por quem? Com o aval de quem? E quem ganhou com elas? E o que ganhou? E o que ganhou também a equipa? E o clube? Numa fase de assumidas dificuldades financeiras, é verdadeiramente difícil de explicar o fenómeno das últimas contratações. Agora é difícil de voltar atrás, pois que a melhor lição é não repetir! Uma curta nota para o caso de Ewerton e Paulinho também. Será demasiado cedo para tirar conclusões claras. O Portimonense retratou-se, mas não pediu desculpas pelos danos (de imagem, que não foram poucos) causados pelo tal presidente da SAD. E o Porto também ainda não o exigiu, pelo que na falta de esclarecimentos mais clarividentes, importantes e necessários, acho imprudente elaborar muito mais sobre o assunto.
Com mais ou menos asneiras de mercado, com mais ou menos necessidades na equipa e no plantel, está na hora de pôr o pé a fundo e começar a acelerar. Cerrar fileiras, encher o peito e ir à luta. Não são esperadas grandes facilidades, mas também já nem me lembro de quando as tivemos. E embora seja desejável e altamente recomendável mais qualidade, convém lembrar que o sucesso é mais atitude que aptidão. E a sagrada história deste clube diz-nos isso! Pois então que “Se nos faltar aptidão, que nos sobre atitude!”