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Fez 40 anos… Na tarde de 31 de Janeiro de 1971, memorável tarde, o nome de Lemos soou alto e soou longe, pela rádio. Lemos marcou, nas Antas, os 4 golos da vitória do FC Porto sobre o Benfica de Eusébio e Companhia!...
Lemos – António José de Lemos (n. Luanda, Angola, 2 Fev.1950) foi um bom avançado que militou nas fileiras do FC Porto.
• Jogava no Boavista FC (21 jogos e 6 golos no Campeonato de 69-70) antes de ingressar no FC Porto no início da época 1970-71.
4 golos, nos 4-0 ao Benfica…
• Na tarde de 31 de Janeiro de 1971, memorável tarde, o nome de Lemos soou alto e soou longe, pela rádio. Lemos marcou, nas Antas, os 4 golos da vitória do FC Porto sobre o Benfica de Eusébio e Companhia! Mas não foi só por causa do "poker", no Estádio das Antas, que os benfiquistas jamais se esqueceram dele; é que antes, na Luz, em 18 Out.1970, Lemos fez o gosto ao pé e desfeiteou as "águias" por duas vezes no empate (2-2) no reduto encarnado. Assim, à sua conta, o avançado portista converteu todos os seis golos com que os dragões brindaram a "equipa do regime" nos jogos do Campeonato da temporada 1970-71!
Episódios na carreira de Lemos:
• Esteve para ser cedido ao Barreirense antes do início da época do famoso jogo das Antas, como refere Pinto da Costa na sua autobiografia "Largos Dias Têm Cem Anos". E só não o foi porque, num plenário de 24 pessoas ficou decidido, "pela margem mínima de um voto", que o jogador permaneceria no clube – "era assim que funcionava o FC Porto, mesmo nas grandes decisões, como por hipótese, a escolha do treinador. Isto permitia situações completamente absurdas, como a maioria poder decidir contra a vontade dos responsáveis do futebol" – conta ainda Pinto da Costa que, na altura, era director das actividades amadoras. De facto, procedimentos 'muito democráticos' mas pouco eficazes. Como as coisas se modificariam, mais tarde…
• A proeza de António Lemos igualou a de Carlos Nunes que, 35 anos antes, em 22 Mar.1936, havia marcado 4 golos ao rival Sporting, no Campo do Ameal, no Porto. Aí o resultado a favor dos azuis-e-brancos foi bem mais dilatado, 10-1 (!), e era o primeiro "poker" num "clássico" (FC Porto versus Benfica versus Sporting). Só Lemos repetiu a façanha!
• O jogador esteve envolvido em mais de uma dezena de "clássicos" e só venceu aquele de Janeiro de 1971.
• Nas épocas 70-71 e 71-72 marcou, respectivamente, 19 (melhor marcador da equipa) e 8 golos no Campeonato.
• Na primeira daquelas temporadas (a dos 4-0 ao Benfica), na fase final do Campeonato, Lemos foi suspenso vários jogos quando ia à frente da lista dos marcadores e o FC Porto discutia ombro a ombro, com Sporting e Benfica, o 1.º lugar. Faltavam quatro jornadas quando a equipa portista se deslocou ao Barreiro. Aí, a CUF levou a melhor por 1-0, graças a um arbitragem escandalosa. O “escândalo do Barreiro”, como ficou conhecido o infame comportamento dos juízes de campo, lançava mais uma vez ao tapete a melhor equipa da prova. Continuava a "cruzada" de Lisboa… Com o Campeonato terminado, o FC Porto quedou-se a 4 pontos dos protegidos do regime e a 1 ponto dos condes de Alvalade.
• Em 1973 (decorria a época 1972-73) Lemos – que não obtivera o estatuto de "Atleta de Alta Competição" (provavelmente por ser jogador do FC Porto…) imprescindível para o subtrair à guerra do "Ultramar" – foi mobilizado para Cabo Verde pelo Exército Português. Mas o inesperado aconteceu: o avião, que transportava Lemos e a sua Companhia de Operações Especiais, fez um "desvio" na rota e aterrou em… Bissau (Guiné). E todos aqueles soldados que julgavam ir para uma "guerra" branda no arquipélago das belas mulatas e da romântica morna, lá ficaram naquela que era a colónia portuguesa com a conjuntura militar mais difícil e perigosa. Acresce que, no início do ano de 73, o PAIGC (movimento independentista) incrementara as acções de guerra criando muitas dificuldades às tropas portuguesas que combatia desde Janeiro de 1963.
A Guiné-Bissau estava a 'ferro e fogo' e, talvez por isso, a "Companhia" de Lemos tenha sido desviada para aquele território.
• Voltou da Guiné em 1974 ainda a tempo de participar na época de 1974-75, a última que faria pelo FC Porto. Depois passou pelo Marítimo (1975 a 1978), Académico Viseu (1978-79) e SC Vila Real (1979-1980).
• Lemos jogou no FC Porto ao lado de grandes futebolistas como Rolando, Custódio Pinto, Nóbrega, Pavão, Bené, António Oliveira, Flávio, Abel, Seninho, Heredia, Rodolfo, Fernando Gomes e o extraordinário Cubillas. Contudo não logrou qualquer título pois, desafortunadamente para ele, esteve nos últimos anos de um período em que as agruras do futebol passaram pelas Antas. Mais dois ou três anos e saborearia as vitórias que abriram um longo e risonho ciclo, um tempo de gloriosas e inesquecíveis conquistas. Que Lemos merecia.
Carreira no FC Porto:
Em quatro temporadas no FC Porto, nos 77 jogos do campeonato em que interveio, marcou 40 golos.
1970-71: 19 golos – 23 jogos (22 completos + 1 incompleto)
1971-72: 8 golos – 28 jogos (18 completos + 10 incompletos)
1972-73: 0 golos – 7 jogos (3 completos + 4 incompletos)
1973-74: Não integrou o plantel, por estar a cumprir o serviço militar na Guiné-Bissau
1974-75: 13 golos – 19 jogos (12 completos + 7 incompletos)
Totais…: 40 golos – 77 jogos (55 completos + 22 incompletos)
Lemos – "Jamais esquecerei aqueles golos."
A vitória frente ao Benfica foi um marco na carreira de Lemos e os 4 golos um recorde que ainda perdura. Ele recorda com precisão e com orgulho cada pormenor dessa partida: "No primeiro golo, o falecido Pavão fez-me uma assistência primorosa e só tive de empurrar a bola. O meu segundo golo foi espectacular! Quando ninguém acreditava que chegasse à bola, quase na linha de fundo, desferi um pontapé que surpreendeu o Zé Henriques. No terceiro, o Bené fez um lançamento lateral, apanhei a bola e fiz um chapéu ao guarda-redes. E no quarto, estava com um problema num joelho e o Humberto Coelho não acreditou que eu chegasse a tempo mas ultrapassei-o e toquei a bola à saída do guarda-redes."
Elaborado por Fernando Moreira – V. Real – Março de 2009
Nota: uma primeira versão desta biografia foi publicada no blog “Estrelas do FC Porto” em 29-03-2009
(Fontes: "Livro de Ouro – FC Porto", Diário de Notícias; "Crónica de Ouro do Futebol Português", Círculo de Leitores; "Largos Dias Têm 100 Anos – J. N. Pinto da Costa", Ideias e Rumos. Blogues: "Arquivos da Bola, 1960-1990", "Paixão pelo Porto" e "O Portal dos Dragões". Arquivos pessoais de F.Moreira e testemunho recolhido de um oficial do Exército Português em Bissau, por F. Moreira – Bissau, 1973)
Lemos – António José de Lemos (n. Luanda, Angola, 2 Fev.1950) foi um bom avançado que militou nas fileiras do FC Porto.
• Jogava no Boavista FC (21 jogos e 6 golos no Campeonato de 69-70) antes de ingressar no FC Porto no início da época 1970-71.
4 golos, nos 4-0 ao Benfica…
• Na tarde de 31 de Janeiro de 1971, memorável tarde, o nome de Lemos soou alto e soou longe, pela rádio. Lemos marcou, nas Antas, os 4 golos da vitória do FC Porto sobre o Benfica de Eusébio e Companhia! Mas não foi só por causa do "poker", no Estádio das Antas, que os benfiquistas jamais se esqueceram dele; é que antes, na Luz, em 18 Out.1970, Lemos fez o gosto ao pé e desfeiteou as "águias" por duas vezes no empate (2-2) no reduto encarnado. Assim, à sua conta, o avançado portista converteu todos os seis golos com que os dragões brindaram a "equipa do regime" nos jogos do Campeonato da temporada 1970-71!
Episódios na carreira de Lemos:
• Esteve para ser cedido ao Barreirense antes do início da época do famoso jogo das Antas, como refere Pinto da Costa na sua autobiografia "Largos Dias Têm Cem Anos". E só não o foi porque, num plenário de 24 pessoas ficou decidido, "pela margem mínima de um voto", que o jogador permaneceria no clube – "era assim que funcionava o FC Porto, mesmo nas grandes decisões, como por hipótese, a escolha do treinador. Isto permitia situações completamente absurdas, como a maioria poder decidir contra a vontade dos responsáveis do futebol" – conta ainda Pinto da Costa que, na altura, era director das actividades amadoras. De facto, procedimentos 'muito democráticos' mas pouco eficazes. Como as coisas se modificariam, mais tarde…
• A proeza de António Lemos igualou a de Carlos Nunes que, 35 anos antes, em 22 Mar.1936, havia marcado 4 golos ao rival Sporting, no Campo do Ameal, no Porto. Aí o resultado a favor dos azuis-e-brancos foi bem mais dilatado, 10-1 (!), e era o primeiro "poker" num "clássico" (FC Porto versus Benfica versus Sporting). Só Lemos repetiu a façanha!
• O jogador esteve envolvido em mais de uma dezena de "clássicos" e só venceu aquele de Janeiro de 1971.
• Nas épocas 70-71 e 71-72 marcou, respectivamente, 19 (melhor marcador da equipa) e 8 golos no Campeonato.
• Na primeira daquelas temporadas (a dos 4-0 ao Benfica), na fase final do Campeonato, Lemos foi suspenso vários jogos quando ia à frente da lista dos marcadores e o FC Porto discutia ombro a ombro, com Sporting e Benfica, o 1.º lugar. Faltavam quatro jornadas quando a equipa portista se deslocou ao Barreiro. Aí, a CUF levou a melhor por 1-0, graças a um arbitragem escandalosa. O “escândalo do Barreiro”, como ficou conhecido o infame comportamento dos juízes de campo, lançava mais uma vez ao tapete a melhor equipa da prova. Continuava a "cruzada" de Lisboa… Com o Campeonato terminado, o FC Porto quedou-se a 4 pontos dos protegidos do regime e a 1 ponto dos condes de Alvalade.
• Em 1973 (decorria a época 1972-73) Lemos – que não obtivera o estatuto de "Atleta de Alta Competição" (provavelmente por ser jogador do FC Porto…) imprescindível para o subtrair à guerra do "Ultramar" – foi mobilizado para Cabo Verde pelo Exército Português. Mas o inesperado aconteceu: o avião, que transportava Lemos e a sua Companhia de Operações Especiais, fez um "desvio" na rota e aterrou em… Bissau (Guiné). E todos aqueles soldados que julgavam ir para uma "guerra" branda no arquipélago das belas mulatas e da romântica morna, lá ficaram naquela que era a colónia portuguesa com a conjuntura militar mais difícil e perigosa. Acresce que, no início do ano de 73, o PAIGC (movimento independentista) incrementara as acções de guerra criando muitas dificuldades às tropas portuguesas que combatia desde Janeiro de 1963.
A Guiné-Bissau estava a 'ferro e fogo' e, talvez por isso, a "Companhia" de Lemos tenha sido desviada para aquele território.
• Voltou da Guiné em 1974 ainda a tempo de participar na época de 1974-75, a última que faria pelo FC Porto. Depois passou pelo Marítimo (1975 a 1978), Académico Viseu (1978-79) e SC Vila Real (1979-1980).
• Lemos jogou no FC Porto ao lado de grandes futebolistas como Rolando, Custódio Pinto, Nóbrega, Pavão, Bené, António Oliveira, Flávio, Abel, Seninho, Heredia, Rodolfo, Fernando Gomes e o extraordinário Cubillas. Contudo não logrou qualquer título pois, desafortunadamente para ele, esteve nos últimos anos de um período em que as agruras do futebol passaram pelas Antas. Mais dois ou três anos e saborearia as vitórias que abriram um longo e risonho ciclo, um tempo de gloriosas e inesquecíveis conquistas. Que Lemos merecia.
Carreira no FC Porto:
Em quatro temporadas no FC Porto, nos 77 jogos do campeonato em que interveio, marcou 40 golos.
1970-71: 19 golos – 23 jogos (22 completos + 1 incompleto)
1971-72: 8 golos – 28 jogos (18 completos + 10 incompletos)
1972-73: 0 golos – 7 jogos (3 completos + 4 incompletos)
1973-74: Não integrou o plantel, por estar a cumprir o serviço militar na Guiné-Bissau
1974-75: 13 golos – 19 jogos (12 completos + 7 incompletos)
Totais…: 40 golos – 77 jogos (55 completos + 22 incompletos)
Lemos – "Jamais esquecerei aqueles golos."
A vitória frente ao Benfica foi um marco na carreira de Lemos e os 4 golos um recorde que ainda perdura. Ele recorda com precisão e com orgulho cada pormenor dessa partida: "No primeiro golo, o falecido Pavão fez-me uma assistência primorosa e só tive de empurrar a bola. O meu segundo golo foi espectacular! Quando ninguém acreditava que chegasse à bola, quase na linha de fundo, desferi um pontapé que surpreendeu o Zé Henriques. No terceiro, o Bené fez um lançamento lateral, apanhei a bola e fiz um chapéu ao guarda-redes. E no quarto, estava com um problema num joelho e o Humberto Coelho não acreditou que eu chegasse a tempo mas ultrapassei-o e toquei a bola à saída do guarda-redes."
Elaborado por Fernando Moreira – V. Real – Março de 2009
Nota: uma primeira versão desta biografia foi publicada no blog “Estrelas do FC Porto” em 29-03-2009
(Fontes: "Livro de Ouro – FC Porto", Diário de Notícias; "Crónica de Ouro do Futebol Português", Círculo de Leitores; "Largos Dias Têm 100 Anos – J. N. Pinto da Costa", Ideias e Rumos. Blogues: "Arquivos da Bola, 1960-1990", "Paixão pelo Porto" e "O Portal dos Dragões". Arquivos pessoais de F.Moreira e testemunho recolhido de um oficial do Exército Português em Bissau, por F. Moreira – Bissau, 1973)