assistência: 40.309 espectadores.
árbitros: João Ferreira (AF Setúbal), Luís Ramos e Pais António; Bruno Esteves.
FC PORTO: Helton; Fucile, Rolando, Bruno Alves «cap.» e Álvaro Pereira; Fernando, Raul Meireles e Belluschi; Varela, Falcao e Mariano.
Substituições: Varela por Rodríguez (67 min), Raul Meireles por Valeri (75 min) e Fernando por Farias (78 min).
Não utilizados: Beto, Guarin, Maicon e Sapunaru.
Treinador: Jesualdo Ferreira.
NACIONAL: Bracalli; Patacas «cap.», Felipe Lopes, Clebão e Tomasevic; Cléber, Leandro Salino, Luís Alberto e Ruben Micael; João Aurélio e Amuneke.
Substituições: Tomasevic por Wellington (32 min), Ruben Micael por Pecnik (59 min) e João Aurélio por Halliche (67 min).
Não utilizados: Douglas, Abdou, Rodrigo Silva e Nuno Pinto.
Treinador: Manuel Machado.
disciplina: cartão amarelo a Raul Meireles (20 min), Clebão (40 e 63 min) e Patacas (63 min); Cartão vermelho a Cléber (63 min) e Clebão (63 min).
golos: Falcao (66 min), Rolando (72 min) e Rodríguez (86 min).
Tenho um excelente conselheiro, companheiro de inúmeras batalhas. Um sofá de couro puído, gasto pelo tempo, mas confortável no afago. É nele que se comemoram feitos, que se atenuam frustrações, que se carpem mágoas. Ele, bem vistas as coisas, funciona como um psicólogo caseiro, bom ouvinte, deixando que a torrente de imprecações saia, numa espécie de descarga emocional.
Foi assim, novamente, quando soou o apito do árbitro, indiciador do intervalo. Afundei-me no seu aconchego, copo de whisky na mão, coração acelerado pela ansiedade. Era difícil não ceder ao desapontamento que me assolava, com o teimoso 0-0 no marcador. Haveria razões para tamanha decepção?
Na recepção caseira ao Nacional, o Porto já sabia o que teria que suportar, para ultrapassar o adversário. Os madeirenses, na minha opinião, tinham sido a única equipa, na época transacta, a olhar o campeão nos olhos, em pleno Dragão, ousando jogar o jogo pelo jogo, sem grandes espartilhos tácticos ou receios espúrios. Afirmar isto é dizer praticamente tudo. Num relvado que tinha sido anfitrião de notáveis como o Atlético de Madrid, o Fenerbahce ou o Manchester United, foi um bando de desconhecidos dos grandes palcos que tinha colocado os azuis e brancos em apuros.
Poucas semanas decorridas, sabia-se que este Nacional, com o vincado cunho de Manuel Machado, era uma equipa perigosa. Provavam-no os recentes resultados, entorpecendo o leão na pérola do Atlântico e derrotando sem apelo o ex-detentor da Taça UEFA, uns russos aburguesados, cheios de dinheiro.
Na antecipação do encontro, o Bruno Rocha já tinha desnudado as nuances tácticas dos nacionalistas. Colocando, à frente de Bracali, uma parede constituída por 3 centrais, os laterais assumiam-se como peças fulcrais no vai e vem de apoio ao ataque, enchendo o meio-campo de dois elementos extra, quando necessário, ou acumulando homens no último reduto, dificultando as vagas do adversário.
Sob uma moldura humana condizente com o esperado, o jogo não defraudou expectativas, na primeira metade. O Nacional apareceu algo afoito, perante o habitual esquema táctico dos portistas, o 4-3-3 sem Hulk, mas com Falcao, o homem que tinha evitado o descalabro na Capital do Móvel. Rapidamente se assistiu à toada dominante, no encontro: um Porto pressionante, procurando com a pressão alta estrangular qualquer oposição, vivendo da vivacidade dos seus extremos. Na direita, o abnegado Mariano. No lado oposto, o imprevisível Varela.
E tudo parecia correr sobre rodas. O triângulo do meio-campo funcionava de forma sincronizada, com o habitual inconformismo de Fernando a casar na perfeição com o dinamismo de Belluschi. Meireles era o pêndulo. Aquele que tinha a missão de gerir esforços, temporizações e andamentos. As oportunidades foram-se avolumando, tendo como elemento aglutinador o desperdício. Varela, potenciando as suas capacidades físicas, tornou-se um quebra-cabeças para a defensiva madeirense. Com um excelente reportório de fintas e simulações, foi levando o altruísmo ao extremo: conceder aos seus companheiros de ataque sucessivas oportunidades de golo.
Foi assim a Mariano, por duas vezes (inacreditáveis os falhanços, em zonas privilegiadas, do argentino) e a Falcao, com o colombiano a amaldiçoar o profissionalismo dos seus marcadores, sempre com um pé salvador na hora H.
Na retaguarda, vivia-se um sossego quase bucólico, tão poucas eram as jogadas de ataque do adversário. Com a guarda das redes sob atenção máxima da dupla de centrais, tanto Fucile como Alvaro Pereira incorporaram-se bastas vezes no apoio ao ataque, com destaque para o defesa-esquerdo, autor de bons remates.
O relógio, nestas ocasiões, parece uma tortura. Os minutos a escoarem-se, lenta mas inexoravelmente, enquanto a bola persistia em não encontrar o seu rumo, aquele desejado por todos que comungam da causa draconiana. O intervalo, por isso, foi encarado como um castigo injusto à única equipa que tinha procurado – e bem – a vitória.
A segunda metade parecia uma cópia fiel da primeira. Jogadas interessantes, bem delineadas, com desenhos estéticos perfeitos, mas com a pecha costumeira: a finalização. A inépcia atacante, casada com uma dose cavalar de azar, ia adiando a explosão de alegria. Até ao lance da grande-penalidade…
Límpido e cristalino, como uma nascente de água saída das terras altas, o penalty colocou a sentença no resultado. Cavalgada de Varela, passe açucarado para Falcao e a intervenção [quase providencial] de um defesa nacionalista. Faltou o quase. O corte com o braço, impedindo a bola de se anichar nas redes, levou o juiz de campo a aplicar as regras elementares. Que, face ao despautério que se seguiu, devia ser escrita, em letras garrafais, mesmo que com a necessária adaptação para uma curiosa pronúncia brasileiro-madeirense, DENTRO DA ÁREA, SE TOCAREM COM A MÃO, É PENALTY. CÁ, NA MADEIRA OU MESMO NO BRASIL.
A tensão do jogo, aparentemente, toldou o raciocínio de atletas que se deveriam envergonhar de comportamentos pouco profissionais. A ira revelada, aliada a um desespero estranho, com notórias tentativas de coacção física à arbitragem, terminou com um saldo de medidas disciplinares que penalizou devidamente o destempero madeirense.
O jogo acabou ali, depois do fuzilamento de Falcao, na cobrança da grande-penalidade. Com dois jogadores a menos, o Nacional apenas pode resistir, ansiando pelo término do embate. Jesualdo aproveitou o ritmo de treino para gerir esforços, dando tempo de jogo a Rodriguez e Valeri.
O marcador sofreu alterações. Falcao, num cabeceamento imparável, tornou a deixar a sua marca. Cebola, como prémio pelo estoicismo e combatividade que fazem parte do seu ADN, colocou o resultado num desnivelado – e merecido – 3-0.
Melhor do Porto: Varela, of course. Empolgante a espaços, combativo na ala esquerda, foi o principal municiador do ataque portista, ofertando golos aos seus companheiros. O ex-amadorense usou da sua técnica para ir dinamitando a coriácea defesa contrária. Em lugar de destaque, também, Falcao, surgindo já como o principal marcador portista na prova. Fogoso, lutador, mostrou predicados que, até agora, tinham andado algo escondidos. Técnica razoável, não foi aquela figura imóvel na área, aguardando que as bolas lá chegassem. Pelo contrário, procurou jogo, sendo o primeiro elemento pressionante, logo junto da área do adversário.
Nota final: Não sendo uma exibição brilhante, sem mácula, daquelas que perduram anos a fio na memória colectiva, o jogo do Porto foi escorreito, honesto e agradável. Viveu de duas características importantes, numa equipa grande: paciência e maturidade, não permitindo que o tic-tac do relógio enervasse a equipa, enquanto empatada. Não tendo nós, portistas, nenhum pateta na Bola, que amanhã titule, na primeira página, “Massacre Nacional” ou algo do género, basta-nos a sensação reconfortante que hoje se mostraram predicados que nos permitem manter a chama acesa do Penta.
Arbitragem: Quando alguém, depois de Xistra, elege para árbitro de uma partida do Porto o juiz predilecto do presidente benfiquista, é porque padece de alguma das seguintes características [riscar o que não interessa]: ingenuidade; má-fé; sentido de ironia apurado.
O João “pode ser” Ferreira tem esse estigma. Ser o protegido do Orelhas. Hoje mostrou os predicados do costume. Uma irritante capacidade para apitar tardiamente, análise dos lances prejudicada por um nervosismo que se estendeu às bancadas e uma inacreditável inaptidão para a função. Pergunto-me apenas como é que é possível a um árbitro, a míseros metros do lance capital do jogo, com a visão totalmente desimpedida, assinalar a falta por indicação do auxiliar?
Procurando não ser demasiado contundente com quem, no passado, nos roubou literalmente [recordo-me, por coincidência, de um Nacional-Porto, com um atropelamento a Mariano na área de rigor a passar despercebido], destaco apenas a habitual temeridade e falta de pulso dos árbitros nacionais, vivendo sobre brasas, apitando a tudo e nada, com se comandados por invisíveis fios, que os transformam em meras marionetas. Para um qualquer teatro, até que nem está mal. Mas tendo como palco um campo relvado, fica ridículo…