assistência: 46.403 espectadores.árbitros: Olegário Benquerença (Leiria), Bertino Miranda e José Cardinal; Hugo Pacheco.
FC PORTO: Helton; Fucile, Rolando, Bruno Alves «cap» e Alvaro Pereira; Raul Meireles, Fernando e Ruben Micael; Mariano, Falcao e Varela.
Substituições: Rúben Micael por Tomás Costa (68m), Varela por Belluschi (77m) e Fernando por Valeri (78m).
Não utilizados: Beto, Guarín, Maicon e Miguel Lopes.
Treinador: Jesualdo Ferreira.
SC BRAGA: Eduardo; Filipe Oliveira, Moisés «cap», Paulão e Evaldo; Hugo Viana, Olberdam e Luís Aguiar; Alan, Paulo César e Mossoró.
Substituições: Hugo Viana por Meyong (47m), Olberdam por Rafael Bastos (66m) e Mossoró por Matheus (79m).
Não utilizados: Kieszek, André Leone, Miguel Garcia e Rentería.
Treinador: Domingos Paciência..
golos: Raul Meireles (16m), Alvaro Pereira (35m), Falcao (37m e 73m), Belluschi (83m) e Paulão (90m).
disciplina: Mossoró (8m), Raul Meireles (39m), Paulo César (53m), Fucile (53m), Paulão (55m), Filipe Oliveira (58m) e Rafael Bastos (85m).
Este Porto não joga. Encanta. Depois do correctivo aplicado aos leões, no jogo da Taça de Portugal, é difícil encontrar alguma mácula na exibição realizada frente ao líder do campeonato. Na primeira de muitas finais que se deparam, nesta altura, aos comandados de Jesualdo, colectivamente os azuis e brancos devastaram um opositor de respeito. Os dados estavam lançados. Todos os intervenientes sabiam de antemão quais os cenários que se deparariam, a cada contendor, consoante o resultado verificado.
Os vigentes campeões não precisavam de nenhuma licenciatura em Matemática para saber o que lhes interessava. Apenas a vitória. Não há que esconder a realidade. Estamos encostados à parede. Para utilizar uma analogia circense, que se coaduna bem com a actual realidade do futebol luso, o Porto desempenha o papel de um equilibrista, procurando chegar ao fim do arame, sabendo que qualquer passo em falso é o fim.
Apesar da invernia que assola o território nacional, a noite mostrou-se clemente para os muitos que se deslocaram ao anfiteatro da Invicta. Uma noite majestosa, cenário de luz e cor, elevando os níveis de ansiedade antes do apito inicial da partida.
Sem surpresas, o modelo táctico dos azuis e brancos foi similar ao da partida da Liga dos Campeões, contra o Arsenal. Privada de Hulk, a equipa aglutinou no seu seio Mariano Gonzalez, com este a fixar-se na direita, deixando o flanco oposto livre para as diatribes de Varela. O tridente do meio-campo contava com o habitual Fernando, secundado por Ruben Micael e Meireles.
O Braga procurou, desde cedo, suster o ímpeto atacante do adversário, resguardando as suas linhas de investidas inócuas. À frente da linha da defesa, projectava-se outra, sem o habitual pêndulo Vandinho
[outro dano colateral dos túneis], mas contando com o regressado Luis Aguiar e com Hugo Viana, empossado com a batuta de maestro.
Alan e Mossoró, homens rápidos e com técnica acima da média, serviriam de apoio a Paulo Cesar, perdido entre a dupla de centrais portista. Aparentemente, as peças, mais do que se encaixarem, pressupunham uma superioridade territorial, no meio-campo, por parte dos forasteiros. Em teoria, talvez. Na prática, não. Não gosto de usar paralelismos, muito menos quando os mesmos são de mau gosto, mas o Braga foi hoje, tal como o mau tempo na Madeira, literalmente submergido pelo futebol de ataque portista.
E este começou cedo. Desde o apito inicial que as movimentações dos dois laterais azuis e brancos, nas transposições defesa-ataque, criaram enormes buracos na defensiva bracarense. Com Varela e Mariano a serem servidos, na perfeição, pelos magistrais passes de Ruben, o futebol dos da casa era feito de músculo, velocidade, talento e criatividade. Uma espécie de redenção, depois de metade da época eclipsados por um cinzentismo depressivo.
Ora à esqueda, com o inegável apoio de Alvaro Pereira a Varela, ora à direita, com Fucile a emparelhar com Mariano, as rápidas e cirúrgicas trocas de bola, num carrossel que colocava os opositores à beira de um ataque de nervos, prenunciavam uma noite tranquila.
O primeiro golo, surgido da sagacidade de Varela e da codícia de Meireles
[e onde estava patente a enorme importância do apoio ofensivo dos médios] constituiu o princípio da derrocada contrária. Ao contrário de outras vezes, o Porto não abrandou. Manteve o ritmo. Foi incisivo. Pressionante. Hipnotizados, todos nós víamos a forma como o esférico passava, de pé para pé, endossado de forma sublime. Um rolo triturador, faminto e ávido, ía apertando o torno, asfixiando o seu rival. A seguir ao primeiro, veio o segundo. E logo depois, o terceiro. O Braga era um moribundo. Só que ainda não o sabia. A segunda metade apenas ajudou a clarificar a enorme exibição portista, roçando a perfeição.
Análise final: O futebol é um jogo simples. E, quando executado com mestria, provoca-nos recordações inolvidáveis. Este é mais um jogo a juntar ao álbum de lembranças. Dois laterais intratáveis, defendendo com denodo, participando em constantes iniciativas de ataque. As suas incursões semeavam o pânico, provocando alterações nas marcações existentes. Abrindo mais linhas de passe, obrigavam os médios contrários a acompanhar os seus movimentos. E, como na história da manta curta, a saída dos centro-campistas criava verdadeiras crateras na estrutura defensiva. Ruben Micael e Raul Meireles viam, assim, autênticas auto-estradas, tendo apenas que guiar o esférico por elas. Os passes aveludados encontravam eco na disciplina táctica dos extremos. Os primeiros a defender, não permitindo veleidades a Evaldo e Filipe Oliveira, contrariando os seus movimentos naturais de apoio atacante, mas mantendo a precisão cirúrgica nos naturais lances ofensivos. E assim, quase como se gravasse um spot para uma aula teórica de futebol, o Dragão presenciou a beleza estética de muitos desses movimentos. Será que ainda vamos a tempo de ser felizes?
MOMENTOSMomento “é melhor mostrar já ao que venho”Tinha o relógio percorrido apenas uma volta. 60 segundos. E Olegário teve o seu primeiro toque de Midas. Ao contrário do Rei da fábula, que transformava tudo em ouro, ao mínimo toque, o árbitro tem o efeito contrário. Tudo onde toca, estraga. Bruno Alves cobra um livre, ainda longe da baliza adversária. A bola bate na barreira, saindo pela linha de fundo. Coloco a tónica no
“bate”. É um dado concreto. Um facto. Visível por um míope na bancada mais distante. O juiz de campo assinala pontapé de baliza. A arbitragem está livre de suspeitas, debita numa TV um qualquer iluminado, com direito a tempo de antena. Pois. Está bem. A malta finge que acredita.
Momento “ora fod*-s*, que me esqueci dos cartões em casa!”Marcio Mossoró é pequeno. E lá diz o senso comum, que pequeno ou bailarino ou ladrão. Nunca percebi bem a lógica destes ditados jocosamente trocados. Mas Mossoró é um malabarista. Se fosse ladrão, seria um carteirista. Um daqueles com mãos mágicas, lestas, escrevendo verdadeiros manuais de
“como roubar a carteira do próximo sem ser apanhado”. Mas ele não é carteirista. Nem bailarino. É futebolista. Mas tem genes de acrobata. Aos 8 minutos, atirou-se para o chão. Tentou um débil protesto, mas sem grande convicção. Levou amarelo. Bem feito. Não é bom actor. Aos 30, fez-se de surdo. Daqueles a quem nem uma operação devolve a audição. Estava fora-de-jogo. O apito soou. Ouvi-o bem. Eu, o vizinho e mais os milhares que estavam no estádio. Mossoró continuou. Deu um passo. Outro. Preparou o remate. Chutou. E ainda levantou os braços, a comemorar um golo virtual. Ora diz a lei
[deixem-me folhear aqui o manual, à procura do artigo] que, nestas ocasiões, o jogador tem que ser repreendido. E disciplinado, por defraudar o espectáculo. Mas Olegário é um compincha. Um amigalhaço. Um sorriso. Uma palmada nas costas. E siga para bingo. Não há expulsão para ninguém. Onde já se viu deixar o Porto em superioridade numérica?
Momento “quem é que arredou a baliza, carago?”A partida estava na sua fase mais imprevisível, copiando as jogadas de uma qualquer partida de ténis. Bola cá, bola lá. O público agradecia a benesse dos jogadores, sustendo a respiração, a cada passe magistral, a cada corte em esforço, a cada finta imprevisível. O Braga procurava encurtar distâncias, aguilhoado pelo 3-0 no marcador. Varela, conhecido intimamente pelo
“Senhor das Assistências” lança Mariano. Apetece pegar no comando de TV e fazer pausa. Aquela imagem era o exemplo perfeito do desnorte de um candidato ao título. Mais de meio-campo sem ninguém. O argentino portista corre desenfreadamente, recupera o açucarado passe do companheiro e, à saída do guardião da baliza da Selecção, remata em jeito. Canta-se o 4º tento no Dragão. Debalde. A bola, caprichosamente, sai ao lado do poste. O esforço de Mariano, futebol feito de rectidão, litros de suor e rigidez táctica, merecia aquele golo. Foi pena.
Momento “eu calço o 44. E tu?”Talvez tenha passado despercebido ao vivo. Na TV vê-se com extrema qualidade. Novamente a voragem dos acontecimentos. O clube da cidade dos arcebispos procura, emotivamente, diminuir distâncias. Um cruzamento para a área portista encontra o remate pronto de Meyong. A violência do disparo não causa mossa. De um momento para o outro, como num passe de mágica, a ponta do pé direito de Bruno Alves aparece para cortar o lance. O futebol também é isto. Pequenos momentos, colados num mosaico geral, capazes de darem a verdadeira dimensão à aparente banalidade do lance.
Momento “devo calçar o 45. Porquê?”Parecia um duelo particular. Uma luta titânica entre o mestre e o seu discípulo. Bruno Alves, central de eleição, já tinha mostrado como deve ser o papel de um defesa de elite. Sereno. Confiante. Omnipresente. Rolando não lhe quis ficar atrás. A contagem de golos já se tinha perdido, nas brumas da memória. Os ataques eram desesperados, de parte a parte. De cada lado das trincheiras a demanda pelo golo era a única realidade. O esférico sobrevoa a área azul e branca e parece ir cair no sítio certo. Três jogadores adversários aguardam, expectantes. Novamente do nada materializa-se uma figura imponente. No último instante, como se pretendesse prolongar a agonia, estica o pé, num esforço hercúleo. Quase que se ouve o musculo a esticar. Mas valeu a pena. No momento do remate do jogador bracarense, a bola desaparece. Misteriosamente. Bruno Alves, 1 – Rolando, 1.
Momento “vamos gastar umas moedas à feira popular, no tiro ao boneco”.O jogo corria para o final. Partido dos seus espartilhos tácticos, jogava-se como na rua. Uma verdadeira peladinha. Valeri, recém-entrado, coleccionava bons pormenores. E, depois de mais uma excelente iniciativa sua, a bola sobrou para a zona central da área arsenalista. No jogo do empurra, entre chutas tu e depois chuto eu, a bola encontrava sempre um obstáculo. Belluschi conquistou o prémio. Ao 5º disparo, o esférico anichou-se nas redes de Eduardo. Vai buscá-la, pá!
Melhor do Porto: O que vale mais? Duas assistências ou dois golos? Pesados os prós e os contras, escolho a segunda. Falcao, o melhor em campo. Continuando a somar golo atrás de golo, engordando o seu pecúlio, o colombiano mostra que com o pé ou com a cabeça não tem rival à altura. Felino a aproveitar o passe de Varela. Mortífero a cabecear para o fundo das redes, após cruzamento de Meireles, Falcao está no seu melhor momento de forma, de dragão ao peito. E fico-me por aqui. Se continuasse a enunciar quem tinha estado bem, esgotava os caracteres todos…
Arbitragem: Olegário é um homem perturbado. Amargurado, consigo mesmo. Possuidor de uma personalidade fraca. Tem traços facilmente identificáveis. Gosta de agradar aos outros. Detesta a crítica. Abomina pensar que falam mal de si. Estes sintomas, se detectados em idade precoce, são facilmente tratáveis. Uma ida a um psiquiatra. Uma medicação acertada, feita de ansiolíticos e calmantes, e a pessoa adquire uma fatia substancial de amor-próprio. De auto-estima. Mas Olegário já não tem tratamento. Ficou obcecado com um lance em que foi interveniente. Meteu o estádio da luz, Baía e uma bola que, até hoje, ninguém sabe se entrou na baliza do keeper portista. Atormentado pelos acintosos comentários de Delgados, Manhas e afins, o árbitro adoptou uma segunda personalidade, como forma de escape da triste realidade. Tornou-se um paladino. O seu lema, apenas um: agradar à maioria. E assim, de pecadilho em pecadilho, adulterando aqui e ali, entrou para um lote imenso. Para uma confraria. A dos que erram de forma deliberada. Juntou-se ao Lucílio, ao Paixão e ao Ferreira. São os 3 mosqueteiros e o D’Artagnan dos tempos modernos. Os seus defensores estarão agora a relembrar que ele vai ao Mundial. Grande coisa. Quando a maior prova de selecções dá carta-branca ao árbitro da mão de Henry e ao que espoleou o Chelsea, na meia-final com o Barcelona, está tudo dito.
Podia estar aqui a noite toda, a enumerar erros. Mas não quero. Apetece-me ir dormir. Ficam apenas alguns:
- Cabeçada de Paulo Cesar, a Fucile. O bracarense foi admoestado com…carta amarelo. Viva!
- Rafael Bastos, de cabeça perdida, entra de forma brutal sobre Belluschi, cravando os pitons na perna do argentino. Ficou a nú a diferença abissal de critérios, na arbitragem lusa. João Pereira, por entrada idêntica, foi tomar banho mais cedo. José Manuel, no Leixões-Porto, teve direito a alvíssaras, continuando a pisar o relvado. E hoje, para não variar, o assunto foi resolvido de forma salomónica. Sai mais um cartão amarelo. Não partiu a perna, pois não?