O anfiteatro portista já não estranha o horário, por entre o gáudio e assimétricos níveis de adrenalina, soa o hino, por momentos todos se detêm num mesmo “sonho”, erguer o máximo troféu das competições europeias.
Até Madrid, o caminho far-se-á de encontros e reencontros. Queimado o arranque em terras de sua majestade, a contenda na cidade Invicta, reveste-se de uma natureza apetecível, que não sendo de vida ou morte, como os 1/8 de final da época anterior, a derrota coloca qualquer um dos emblemas em maus lençóis.
Dragões e Colchoneros partilham poucos pontos comuns, seja qual for o ângulo de visão.
Aos rojiblancos são reconhecidos vários handicaps de cariz negativo, o colectivo enferma por um esmorecimento, cujos resultados últimos não permitem aferir do real valor deste peso pesado da liga de nuestros hermanos.
Se o peso do Atlético e das suas figuras, fosse até à data mais prático e menos teórico, por certo grande maioria das linhas seguintes emanariam medo e eu ver-me ia “obrigado” por conseguinte a escrever esta antevisão a medo.
Maxi Rodriguez, Forlan e/ou Kun Aguero, entre outros, só por si, são agentes vivos de intimidação em qualquer grande área, algo que o parco pecúlio, (7 golos), exprime de forma errónea.
Na verdade, e à luz dos demolidores números de 2009/2010, os de Madrid só não correm o risco de morrer às mãos deste Fc Porto, porque a bola é redonda e o futebol tem nesse capricho temática apaixonante.
A Abel Resino, o Estádio do Dragão parece local ideal para iniciar a “remontada” e somar 3 pontos.
Os Colchoneros têm na defesa o principal foco de problemas, a linha defensiva ainda não encontrou pontos de estabilidade, facto ao qual o técnico espanhol não será alheio, pois tem testado várias unidades como solução.
Apesar das tentativas frustradas de dar consistência, o sector recuado insiste em mostrar um posicionamento adiantado, com grandes espaços nas costas, onde nem o uso da lei do fora de jogo como prática defensiva, os põe a coberto de múltiplos lances de golo.
A nível interno, tem sido mais ou menos relevante a incapacidade do meio campo em filtrar jogo, pouco pressionantes, a criatividade também não tem colhido elogios, chegando as críticas ao ponto de considerar o miolo rojiblanco de pouca classe, apesar de multifacetado nas missões e sentido táctico de jogo.
Mas nem só de factos impositivos se faz este Atlético. Os dados estatísticos suportam capacidade e lembram que de Espanha, “nem bons ventos nem bons casamentos”. Esta equipa, depois de 11 anos afastada da alta-roda, tem um trajecto fora de portas quase irrepreensível, onde não conhece o amargo da derrota, algo que entronca nas manifestas dificuldades de vitórias caseiras do Dragão, quando confrontado em duelos ibéricos.
É um Atlético ferido no orgulho, mas capaz de oferecer perigo a um Dragão ainda em fase de crescimento, ciente das debilidades, mas conhecedor dos pontos fortes dos anfitriões, o técnico rival procurará fechar todos os caminhos para a sua baliza evitando as transições explosivas, com o reforço da zona central.
A inclusão de mais uma unidade de meio campo, conferirá mais trunfos aos visitantes no manietar das acções de jogo azul, sendo certo que desta vez, Abel Resino não abrirá mão da dupla de ataque Uruguaio/Argentina, como inimiga pública nº1 do Dragão.
Se a equipa espanhola vive fase menos positiva, os azuis e brancos recuperaram parte da sua auto-estima frente aos Leões, fruto de 15 minutos fortes como impacto inicial em comunhão com a melhor versão de Hulk.
A um FC Porto titubeante, quer no capítulo do passe, quer no capítulo da continuidade de um ritmo de jogo, este jogo da Champions junta a dor de cabeça que é não ter a chave do sistema azul e branco, Fernando.
A contenda perspectiva uma alteração comportamental do triângulo de meio campo. Jesualdo não abriu o jogo e são, pelo menos, 3 as ideias que se perfilam como solução de recurso. O menino brasileiro que fez esquecer o trinco/pivô que habita os mesmos terrenos na barricada oposta, não é repetível em acções por nenhuma outra unidade do plantel.
Meireles é influente nos mecanismos de transição, mas nos tempos que correm, não apresenta dimensão física, capaz de o fazer desdobrar na multiplicidade conjunta de acções de jogo inerente às linhas recuadas e de tamponamento de jogo adversário.
Guarin, mesmo que mais dotado fisicamente, apresenta dificuldades de disciplina táctica para ser jogador de posição 6.
Tomás Costa, nunca foi nem será referência medular do jogo colectivo, fonte de inúmeras faltas, comporta ainda um estigma de dificuldade na posse, onde os passes transviados, são imagem pouco consentânea com um futebol que se quer de toque curto e muita ligação entre sectores.
Maicon seria a surpresa, mas com Jesualdo, tudo é possível, sobretudo se tivermos em conta o prisma da disciplina táctica como visão de um jogo agarrado tacitamente à falta de criatividade, sem grandes espaços, onde só a inclusão de Belluschi pode conferir um traço inteligente em zonas de último passe, mais capaz de nos deixar menos reféns e dependentes da capacidade de Hulk nas transições.
A Falcao, pedem-se os golos que traduzam não só o factor casa, mas também a classe de uma equipa que procura emancipar o colectivo como força maior de um equilíbrio e harmonia de processos.
Os Dragões procuram ainda uma identidade capaz de expressar um futebol desequilibrador, mesmo com Mariano a baralhar as frequências no domínio do conceito técnico de bem receber uma bola, capaz de espartilhar em diagonais mortíferas a pouco coesa defensiva rival, tornando desta forma o desfecho menos imprevisível.
LISTA DE CONVOCADOS
Guarda-redes: Helton e Beto.
Defesas: Bruno Alves, Fucile, Rolando, Alvaro Pereira, Maicon e Sapunaru.
Médios: Raul Meireles, Guarín, Belluschi, Valeri, Dias e Tomás Costa.
Avançados: Falcão, Mariano, Hulk e Farías.