Ser Ultra é mesmo isto: fazer muitos sacrifícios para apoiar incondicionalmente o nosso clube do coração, seja em que lugar for, dar o máximo para ajudar a ganhar cada batalha que se depare à nossa frente e nunca abandonar os nossos guerreiros, independentemente da situação.
Ganhamos a maioria das vezes, mas mesmo quando perdemos, é um orgulho acompanhar o clube e sair da bancada com o sentimento de ter dado tudo para que aqueles rapazes conseguissem a vitória.
Esta minha crónica vai servir para relatar detalhadamente o grande dia que um fantástico grupo de rapazes do Dragão viveu em Marrocos!
Apesar do resultado, saímos de lá conscientes do esforço que empregámos durante o dia todo, desde o arranque a partir da Invicta,
até à chegada, já em plena madrugada. Defendemos o nosso clube com “unhas e dentes”, e é assim que será sempre! Nem a monumental carga de água que apanhámos (no regresso a telheiras quando entrámos nos carros e nas camionetas, estava tudo encharcado da cabeça aos pés!!!) nos fez abrandar. Seguimos-te até à morte, Porto!
Mostrámos toda a nossa superioridade por aquelas terras, foi um autêntico passeio. Mas nem tudo são rosas.
Quem não está habituado a estas andanças (confesso que eu também já fui um pouco assim), sempre que ouve registo de desacatos entre os Ultras e a Polícia, parte, erradamente, do princípio de que os culpados são sempre os adeptos. Estes é que são insurrectos, não têm educação nenhuma e provocam tudo e todos. Por vezes, acredito que sim, devido aos nervos à flor da pele provocados pelo jogo em si. Mas nem sempre é assim! Aliás, arrisco mesmo a dizer que quase nunca é assim! A Polícia (quando digo Polícia refiro-me principalmente a “spotters” – agentes que trabalham com as claques – e ao corpo de intervenção) tem muitas vezes o hábito de provocar os adeptos, estando todos na ânsia de que a mínima gota de água caia ao chão para avançar com os cassetetes! São mal-educados, respondem mal, e quando avançam, não querem saber se batem em quem fez ou não fez, se é homem ou mulher, grande ou pequeno, ou se tem idade para ser filho ou pai deles! São como animais raivosos, armados da cabeça aos pés. A luta é totalmente desigual e é óbvio que o adepto é que perde sempre.
Digo isto por experiência própria. Muitas das vezes parece que é a autoridade (?!) que anseia pela violência. E eu sou completamente contra isso. Uns gestos e umas bocas com os adeptos da equipa rival, tudo muito bem, são saudáveis até se compreende perfeitamente (nós não gostamos deles e eles não gostam de nós, simples), agora não tenho nem nunca tive nada contra a Polícia. Eles devem simplesmente fazer o seu trabalho, e deixar-nos fazer o que nós queremos: apenas apoiar a equipa!
20-12-2009: O despertador nem foi preciso tocar. O dia tinha chegado. O da deslocação mais aguardada ao longo da época. Invadir a cidade e o estádio do nosso maior rival estava então a muito poucas horas.
Concentração no estádio do Dragão e partida em direcção ao sul, por volta das 11h30 da manhã. Tudo preparado para o grande dia que nos esperava. Depois de recrutarmos um elemento em Espinho, às 13h parámos no restaurante “Manjar do Marquês”. Carregar baterias para o dia todo e daí para baixo ainda com mais dois elementos: ao todo já éramos sete!
Já com o papo cheio, às 14h voltámos a fazer-nos à estrada. Contactámos os nossos amigos do “Tribunal” que tinham saído do Porto num mini-bus. Eram cerca de duas dezenas. Encontrámo-nos perto da estação de serviço de Santarém, onde chegámos a parar para o cafezinho.
Passámos a portagem de Alverca por volta das 16h e logo ali encostámos do lado direito. Já muitos adeptos portistas lá estavam a fazer a festa. Muita confraternização e picardias com os vermelhos que passavam na auto-estrada. Os cânticos já estavam a ser ensaiados. Esperámos por mais um grupo de camionetas e seguimos em cortejo pela auto-estrada até telheiras. Indescritível! A invasão era enorme, tudo com os vidros abertos e com cachecóis e bandeiras ao vento, à entrada na capital do império! Ultrapassámos um carro, que decidiu abrir o vidro e insultar-nos. Teve resposta e imediatamente as viaturas da Polícia se aproximaram e ordenaram-lhe que deixasse passar a enorme fila azul e branca!
Chegámos ao politécnico de telheiras às 17h. As viaturas estacionadas, os Ultras todos a formarem a “Caixa de Segurança” e a montarem o material para a batalha que se seguiria. Nesse momento começa a chover… e não mais parou!! O que nós fazemos pelo Porto!!
O cortejo iniciou a sua marcha já passava das 18h. Cumprido completamente à chuva, mas não deixa de ser um grande momento. Cerca de meia hora a entoar cânticos por aquelas ruas, com pequenas respostas das janelas dos moradores mais próximos. O povo do Norte desceu à capital!
Eram 18h50 quando chegámos ao circo. Eis uma primeira prova de como somos tratados lá em baixo. Chovia torrencialmente, fomos todos autenticamente empurrados contra uma armação de metal. A Polícia cercava-nos. A desculpa era que não podia entrar toda a gente ao mesmo tempo. Tudo muito bem. Depois de cerca de 45 minutos a levar com água, já todo ensopado e com a linda bandeira do “BiBó-PoRtO, carago!!” na mão, lá me autorizaram a passar a primeira barreira. Mostrei o meu bilhete, fui revistado eu mais a bandeira, separadamente. Um pouco mais à frente, novo cordão de segurança para revistas. O “spotter” afirmou que para me revistar eu tinha de pousar a bandeira no chão. Já com tudo alagado, assim o fiz. Nova revista a mim e à bandeira. Depois do grupo ter passado por todo este controlo e de pensar que “agora sim, é só entrar”, eis que se depara uma situação curiosa, digna mesmo, de um estádio de terceiro mundo. É o seguinte (já tinha reparado nisto numa outra vez que lá tinha ido), adeptos da casa e visitantes: entra tudo pela mesma porta! Conclusão, tivemos de esperar mais um tempo, e para variar, a chover torrencialmente, que a organização do jogo “cortasse” a passagem à escumalha de vermelho, para aí sim, nós podermos entrar! Lá conseguimos aceder à porta de entrada, entre troca de palavras com lampiões e ordens nada simpáticas das autoridades. Até que enfim!
Fomos encaminhados para o piso inferior. Lá dentro, procurámos lugar para nos instalarmos. Sector completamente a abarrotar de portistas. De tal forma, que havia cadeiras que eram divididas por três pessoas! Autêntico o que se passou! Não havia mais espaço para nos ceder?!?
Entrada das equipas em campo. Estádio praticamente cheio, grande ambiente. Cartolinas vermelhas e brancas fizeram a coreografia deles, onde ainda se podia ler “Benfica campeão!” Os meninos continuam a sonhar, tristes…
Grande “tochada” dos No Name Boys e dos Diabos Vermelhos, acompanhadas de bandeiras gigantes. No nosso sector também foi aberta uma tocha, e muito material presente. O destaque vai para as mini-bandeiras ”12” distribuídas pelos Super Dragões, que deram um grande efeito visual à Curva Portista. De destacar também a ideia de alguns núcleos, que levaram apitos encarnados. Mesmo a calhar.
Em relação ao apoio, foi bom de parte a parte. Uma situação que não entendi foi a ausência do megafone (não deixaram entrar?!) na Curva Portista, o que, num jogo fora, dificulta sempre a que o cântico se espalhe por toda a bancada e de forma uníssona. Do lado benfiquista, destaco o poder vocal dos “NN”.
Ao intervalo do jogo, nova situação proporcionada pela suposta autoridade. Como já deu para perceber, o estádio está muito bem organizado. Na casa de banho, por exemplo, apenas um gradeamento baixinho separa a os visitantes, da dos benfiquistas da bancada central. Portanto... arremesso de objectos de parte a parte, quando de repente entra o corpo de intervenção pela nossa casa de banho dentro e “varre” tudo à sua passagem. A maioria das pessoas estava ali na fila para os urinóis. Simplesmente. O que é espantoso é a dualidade de critérios. As cargas são só para o nosso lado.
Na segunda parte, já praticamente a terminar o encontro, começam a "chover" garrafas de água cheias, do terceiro anel para o nosso sector. Uma delas caiu ao meu lado. Encerrado o jogo, nós, que assistimos aquela pouca vergonha, tentámos explicar a situação à Polícia. Mas é pior do que falar com uma porta. Para além de não nos ouvirem e gozarem com a nossa cara (todos eles com um sorrisinho cínico), começaram a bater no azul mais próximo. Estes animais da PSP acertaram num senhor com cerca de setenta anos, que nada tinha feito para ser atingido daquela maneira.
Isto, claro, causou uma grande revolta entre todos aqueles que tinham presenciado o sucedido. Àqueles heróis parecia que ainda não chegava, pois chegaram a lançar contra nós Gás-Pimenta (para quem não sabe, irrita os olhos, causa lágrimas, dor e cegueira temporária). Tudo isto era desnecessário. Gostava de saber se eles alguma vez foram tratados desta maneira aqui…
Uma hora depois, passava um pouco das 23h quando nos abriram as portas da saída. Ainda chovia mais do que à chegada. Fizemos o cortejo de volta a telheiras em péssimas condições, mas a gritar “Nós somos Campeões!” Pois é a verdade, podemos ter perdido a batalha, mas vamos ganhar a guerra! Não me lembro da última vez que tinha apanhado tanta chuva. Chegados ao local onde estavam as viaturas, foi hora de partida rumo ao Norte, por volta das 00h30. Ainda parámos em Leiria para abastecer o estômago, pois já não comíamos nada hà doze horas! Chegámos ao Dragão, já passava das 4h30 da manhã…
Tudo isto porque amamos imenso este clube e estaremos sempre a lutar por ele! Uma deslocação que ficará para a história. Até para o ano, lampiões!
O próximo jogo do mágico Porto já é em 2010, dia 2 de Janeiro às 20h, em Águeda, frente à Oliveirense, jogo em atraso da 4ª eliminatória da taça de Portugal.
Um abraço Ultra a todos Dragões e votos de um Santo e Feliz Natal!