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Gravado na memória de toda a nação portista e frequentemente evocado sempre que a arbitragem é tema das mais variadas discussões, ignorado – e “desmitificado” – pelo povo benfiquista, Inocêncio João Teixeira Calabote, o primeiro árbitro irradiado em Portugal, é, definitivamente, uma figura incontornável da história do futebol português. Os que se revêem no episódio, porque o presenciaram ou porque tiveram a oportunidade de o conhecer pelos registos históricos, chamam-lhe o “caso”, o caso em que Calabote terá tentado ajudar o Benfica a tirar o título que acabou por ser do FC Porto, na longínqua temporada de 1958/59. Os que contestam a veracidade da estória – porque, dizem, trata-se de um caso que acabou por dar um título ao clube das Antas – dão-lhe contornos de um filme de ficção e fantasia. É uma lenda, insistem. Uma mentira tantas vezes repetida que acaba por se tornar em realidade…
Mas não é, de facto. Calabote, um árbitro conceituado da década de 50, é mesmo uma realidade – os factos falam por si. Não é um mito, como muitos tentam, a todo o custo, fazer crer. É um caso que se segue na linha de outros escândalos da arbitragem que sucederam na década de 90, como o do envelope de Francisco Silva, acusado de ter sido subornado num jogo entre o Penafiel e o Belenenses; as “quinhentinhas” de José Guímaro, o único árbitro português condenado em tribunal por actos de corrupção; ou o de Carlos Calheiros e da sua suspeita viagem em família para o Brasil.
Com uma diferença. Se os três casos mais “contemporâneos” foram irradiados da arbitragem, por terem sido acusados ou suspeitos de actos ilícitos, previstos pela lei, já Calabote não foi excomungado por, alegadamente ter sido corrompido para beneficiar o Benfica naquele jogo frente ao Desportivo da CUF, na Luz, porque nunca foi provado – nem investigado… – apesar de ter prolongado o encontro muito para além do tempo previsto e ter tido interferência directa em três dos sete golos da equipa encarnada, que foram obtidos através de grandes penalidades. O árbitro de Évora foi irradiado, tão-só, porque foi acusado de ter relatado informações falsas no relatório daquela partida, em que o encontro se iniciou à hora exacta, apesar de ter começado sete ou oito minutos depois, e que concedeu apenas dois minutos de compensação, quando na realidade deu quatro, cinco ou seis minutos – aqui, os registos também não são totalmente claros.
É verdade que, naquela altura, período áureo da ditadura de Salazar e das naturais limitações à liberdade de imprensa, o caso quase que passou despercebido, tendo sido ignorado por grande parte de uma comunicação social. Porque a imprensa desportiva não era diária, os relatos na rádio começavam agora a ser emitidos em cadeia e as câmaras de televisão ainda não conheciam os estádios. O “escrutínio do futebol” e das decisões dos árbitros era feito sobretudo pelos jornalistas e pela gente que assistia ao jogo nas bancadas.
O que pode explicar, também, o facto de o caso que nunca ter chegado às barras dos tribunais da justiça comum, que não dispunha dos mecanismos que hoje existem, e onde ainda se falava pouco do crime de corrupção.
E mesmo a justiça desportiva, essa, aparentemente, também nunca quis investigar. Sim, Calabote mentiu no relatório, toda a gente o sabe. Sabe-se o “quê”, mas nunca se procurou saber o “porquê” daquela mentira que o árbitro reiterou, mesmo quando a Comissão Central de Arbitragem, o organismo que na altura tutelava o sector, lhe pediu para esclarecer o que havia declarado no famoso relatório. Por que razão Calabote se manteve fiel à sua versão, quando seria tão fácil admitir que tinha começado o jogo mais tarde e que o tinha prolongando para além dos limites do razoável? Por quem se sacrificou?
Hoje, 50 anos depois daquele célebre jogo, o último que Calabote dirigiu após mais de duas décadas dedicadas à arbitragem, ninguém consegue responder àquelas perguntas e poucos sabem, com precisão, o que realmente aconteceu naquele 22 de Março de 1959. Aliás, Calabote é apenas o protagonista de uma novela que envolveu outros capítulos, como a tarde infeliz do guarda-redes da CUF, que é substituído, a pedido dos colegas, após sofrer cinco golos, os prémios prometidos aos jogadores do Torriense – adversários do FC Porto naquela derradeira jornada da 1.ª Divisão –, e a insólita presença do treinador-adjunto do Benfica no banco dos técnicos do Torres Vedras naquele jogo.
Todos nós, apaixonados pelo futebol, já ouvimos falar do caso Calabote. Conhecem-se alguns factos, emitem-se certas opiniões e fazem-se juízos de valor, muitas vezes baseados em pressupostos falsos, alimentados pelo boca a boca, pelo diz que disse.
Uma leitura atenta e minuciosa dos jornais da época, apoiada nos valiosos testemunhos recolhidos junto de personagens que participaram naquela novela – jogadores, jornalistas e espectadores – e de pessoas que com elas privaram, resultaram neste livro que pretende ajudar a clarificar a história e, acima de tudo, tornar-se num documento para a memória futura de todos aqueles que gostam de futebol, da beleza do jogo no rectângulo, mas também do seu jogo de bastidores com todas as suas perversidades.
É um livro que tenta ser o mais exacto e rigoroso possível de forma a contar a história verdadeira, baseada em factos indesmentíveis, reais:
E no ano em que se comemoram as bodas de ouro desta história, que curiosamente coincide com uma altura em que a corrupção no futebol português é o tema preferido dos arautos da verdade desportiva, proponho que façam uma viagem na história, recuem 50 anos e recordem um dos mais célebres casos da história do nosso futebol.
Boa leitura.
Perfil: João Queiroz nasceu no Porto a 19 de Julho de 1985 e é jornalista desde 2006. Formado em Jornalismo e Ciências da Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, colaborou com o Jornal de Notícias entre 2006 e 2009. Desde Abril de 2009 integra a redacção do Semanário Grande Porto.
Mas não é, de facto. Calabote, um árbitro conceituado da década de 50, é mesmo uma realidade – os factos falam por si. Não é um mito, como muitos tentam, a todo o custo, fazer crer. É um caso que se segue na linha de outros escândalos da arbitragem que sucederam na década de 90, como o do envelope de Francisco Silva, acusado de ter sido subornado num jogo entre o Penafiel e o Belenenses; as “quinhentinhas” de José Guímaro, o único árbitro português condenado em tribunal por actos de corrupção; ou o de Carlos Calheiros e da sua suspeita viagem em família para o Brasil.
Com uma diferença. Se os três casos mais “contemporâneos” foram irradiados da arbitragem, por terem sido acusados ou suspeitos de actos ilícitos, previstos pela lei, já Calabote não foi excomungado por, alegadamente ter sido corrompido para beneficiar o Benfica naquele jogo frente ao Desportivo da CUF, na Luz, porque nunca foi provado – nem investigado… – apesar de ter prolongado o encontro muito para além do tempo previsto e ter tido interferência directa em três dos sete golos da equipa encarnada, que foram obtidos através de grandes penalidades. O árbitro de Évora foi irradiado, tão-só, porque foi acusado de ter relatado informações falsas no relatório daquela partida, em que o encontro se iniciou à hora exacta, apesar de ter começado sete ou oito minutos depois, e que concedeu apenas dois minutos de compensação, quando na realidade deu quatro, cinco ou seis minutos – aqui, os registos também não são totalmente claros.
É verdade que, naquela altura, período áureo da ditadura de Salazar e das naturais limitações à liberdade de imprensa, o caso quase que passou despercebido, tendo sido ignorado por grande parte de uma comunicação social. Porque a imprensa desportiva não era diária, os relatos na rádio começavam agora a ser emitidos em cadeia e as câmaras de televisão ainda não conheciam os estádios. O “escrutínio do futebol” e das decisões dos árbitros era feito sobretudo pelos jornalistas e pela gente que assistia ao jogo nas bancadas.
O que pode explicar, também, o facto de o caso que nunca ter chegado às barras dos tribunais da justiça comum, que não dispunha dos mecanismos que hoje existem, e onde ainda se falava pouco do crime de corrupção.
E mesmo a justiça desportiva, essa, aparentemente, também nunca quis investigar. Sim, Calabote mentiu no relatório, toda a gente o sabe. Sabe-se o “quê”, mas nunca se procurou saber o “porquê” daquela mentira que o árbitro reiterou, mesmo quando a Comissão Central de Arbitragem, o organismo que na altura tutelava o sector, lhe pediu para esclarecer o que havia declarado no famoso relatório. Por que razão Calabote se manteve fiel à sua versão, quando seria tão fácil admitir que tinha começado o jogo mais tarde e que o tinha prolongando para além dos limites do razoável? Por quem se sacrificou?
Hoje, 50 anos depois daquele célebre jogo, o último que Calabote dirigiu após mais de duas décadas dedicadas à arbitragem, ninguém consegue responder àquelas perguntas e poucos sabem, com precisão, o que realmente aconteceu naquele 22 de Março de 1959. Aliás, Calabote é apenas o protagonista de uma novela que envolveu outros capítulos, como a tarde infeliz do guarda-redes da CUF, que é substituído, a pedido dos colegas, após sofrer cinco golos, os prémios prometidos aos jogadores do Torriense – adversários do FC Porto naquela derradeira jornada da 1.ª Divisão –, e a insólita presença do treinador-adjunto do Benfica no banco dos técnicos do Torres Vedras naquele jogo.
Todos nós, apaixonados pelo futebol, já ouvimos falar do caso Calabote. Conhecem-se alguns factos, emitem-se certas opiniões e fazem-se juízos de valor, muitas vezes baseados em pressupostos falsos, alimentados pelo boca a boca, pelo diz que disse.
Uma leitura atenta e minuciosa dos jornais da época, apoiada nos valiosos testemunhos recolhidos junto de personagens que participaram naquela novela – jogadores, jornalistas e espectadores – e de pessoas que com elas privaram, resultaram neste livro que pretende ajudar a clarificar a história e, acima de tudo, tornar-se num documento para a memória futura de todos aqueles que gostam de futebol, da beleza do jogo no rectângulo, mas também do seu jogo de bastidores com todas as suas perversidades.
É um livro que tenta ser o mais exacto e rigoroso possível de forma a contar a história verdadeira, baseada em factos indesmentíveis, reais:
- O jogo Benfica-CUF começou com muitos minutos de atraso relativamente aos outros: “A Bola” fala em oito, o “Norte Desportivo” em sete. São os únicos jornais que falam em números concretos;
- Calabote assinalou três penáltis a favor do Benfica
- O jogo estendeu-se muito para além de um tempo de compensação normal que era concedido naquela altura: a opinião quase generalizada fala em quatro minutos, mas o presidente da Comissão Central de Árbitros até chegou a falar em “seis ou sete”.
E no ano em que se comemoram as bodas de ouro desta história, que curiosamente coincide com uma altura em que a corrupção no futebol português é o tema preferido dos arautos da verdade desportiva, proponho que façam uma viagem na história, recuem 50 anos e recordem um dos mais célebres casos da história do nosso futebol.
Boa leitura.
Perfil: João Queiroz nasceu no Porto a 19 de Julho de 1985 e é jornalista desde 2006. Formado em Jornalismo e Ciências da Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, colaborou com o Jornal de Notícias entre 2006 e 2009. Desde Abril de 2009 integra a redacção do Semanário Grande Porto.
O livro não vai ter também distribuição através do jornal? Pergunto isto, porque, à imagem do que sucede com outros, deveria poder ser vendido junto com o jornal Grande Porto, ou outro... para haver mais hipóteses de ser adquirido por quem vive longe da cidade do Porto.
ResponderEliminarO Calabote foi irradiado depois desse jogo mas o clube que o corrompeu não sofreu consequências, esse mesmo, o clube dos 6 milhões.
ResponderEliminarVai ser dificil, quase impossivel conseguir estar presente, mas se algo se alterar, lá estarei... terei todo o gosto em estar presente no lançamento desta história "mitica" e que por muito e muito que tentem, jamais se apagará da história do nosso futebol.
ResponderEliminarOntem, como hoje, sempre "a fazer as coisas por outro lado"...
ps - Dragão66, a confirmar-se a minha indisponibilidade, não esquecer pf a reserva de 2 livros para mim, autografados pelo autor... ok?
Lançamento importante, por fazer parte de uma contra-corrente que visa não deixar branquear mais um atentado desportivo.
ResponderEliminarNão estarei presente, mas já encomendei o meu volume:)
O Andor continua a ser levado ao colo, colinho, ás cavaluchas..isto começa a ser tão descarado que mais vale entregarem já o campeonato!
ResponderEliminarNão contesto o penaltie sobre o Di Maria não assinalado e o outro milgroso já depois dos 90!, mas anular um golo limpinho e assinalar fora de jogo aos 72 mns quando se isolava o Neca, é caso para dizer : APITO ENCARNADO E INVESTIGAÇÃO A ESSE FDP DO JOSÉ RAMALHO!
VAI ROUBAR AO C....
Isto é Ladroagem do pior e ainda falam do CALABOTE!
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ResponderEliminarJá cá canta ;)
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