Uma novela mexicana…

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Tenho assistido algo incrédulo aos recentes episódios desta autêntica “novela mexicana” em que se transformou o futebol português. Basta fazer um pequeno esforço de memória para relembrar a época em que ocorreram tantos episódios rocambolescos e estranhos no futebol português. Em 2005 com jogos marcados, à margem da lei, para recintos distantes cerca de 300 km da equipa visitada, lances polémicos em jogos decisivos e finalmente muitas decisões acerca de sumaríssimos invariavelmente contra jogadores do FC Porto, como se estes fossem os únicos que utilizavam os cotovelos e agrediam os adversários. Não deixa de ser curioso que 5 anos depois, tenhamos outra vez uma série de episódios no mínimo estranhos…Curioso é o facto de 5 anos depois, o campeão provavelmente volte novamente a ser o mesmo. Curioso também é que para muita gente, transparência no futebol português significa algo de muito de simples: o FC Porto não ser campeão!

A disparidade na decisão proferida pelo Conselho de Justiça (CJ) face à decisão da Comissão Disciplinar da Liga (CD) constitui apenas mais um capítulo nesta autêntica “novela mexicana à portuguesa”. A redução da suspensão de Hulk de 4 meses para 3 jogos, através do argumento, à muito defendido pelo FC Porto, de que os stewards nunca poderiam ser considerados agentes desportivos também não é novidade. Conhecida a decisão do CJ da Federação restarão dúvidas a mais alguém da barbaridade que constitui esta decisão peregrina dos “justiceiros” da CD da Liga? Factualmente, o FC Porto ficou impedido de utilizar um jogador titular até à altura em foi suspenso em várias dezenas de jogos de várias competições nacionais. Factualmente, não é possível afirmar-se que com Hulk o FC Porto estaria melhor ou pior, mas podemos constatar que Hulk foi uma das grandes figuras do Tetracampeonato conquistado em 2009 (alguém é capaz de o negar?), foi pretendido por vários colossos europeus (alguém é capaz de o negar?) e chegou mesmo a internacional da modesta selecção brasileira (alguém é capaz de o negar?). Por tudo isto, parece-me ser de uma imaginação incrível que se afirme, como uma verdade inquestionável, que o FC Porto não estaria melhor caso Hulk não tivesse sido alvo desta punição absurda, como o CJ acabou por comprovar. Em Portugal a fronteira entre a “besta” e o “bestial” é muito ténue e muitas pessoas têm a memória curta…e mais não digo sobre o episódio Hulk, porque agora cada um há-de retirar as suas conclusões acerca de toda esta trapalhada justiceira!

Muito se tem falado de fins de ciclo, da continuidade ou não de Jesualdo, de muitos possíveis nomes como substitutos de Jesualdo. Sinceramente, eu não quero encerrar este ciclo dos últimos anos, mas sim manter a cadência de títulos conquistados ao longo dos últimos anos. Muito se tem falado de ciclos e mais ciclos…para mim, um ciclo é um conjunto de anos que expressa uma tendência de vitória ou de derrota com base nos números e nos factos que ocorrem durante esses anos. Por exemplo, estamos em 2010 e o mais lógico é fazermos uma análise à última década. Neste ciclo de 10 anos, o FC Porto foi 6 vezes campeão, o Sporting venceu 2 títulos, o Boavista 1 e o Benfica 1. Isto é, temos o triplo dos títulos do Sporting e o sêxtuplo de títulos do que o “extinto” Boavista e do que o “modelo” (por esses dias) Benfica. Parece-me que tem havido alguma confusão entre o que significa uma crise estrutural e uma crise conjuntural. Pela primeira entende-se algo persistente no tempo, com algumas (poucas) vitórias pelo meio, enquanto pela segunda entende-se algo de contextual, uma crise resultante de uma série de factores muito específicos e próprios de determinada época. Posto isto, lanço a reflexão, será o actual momento do FC Porto reflexo de uma crise estrutural ou conjuntural?

O FC Porto da última década ganhou muito mais que todos os outros, teve brilhantes participações nas competições europeias (com acidentes de percurso como o de Londres, enquanto outros têm vários acidentes em várias épocas), vende sistematicamente grandes jogadores para “tubarões europeus” e acaba por ter necessidade de rejuvenescer muitas vezes o seu plantel através de jogadores baratos. Temos de ser honestos e sérios e admitir que este ano o Benfica está melhor, tanto em campo, como fora dele. Mas não nos podemos esquecer que é este mesmo Benfica que nos últimos anos gastou milhões e milhões de € em contratações, muitas delas falhadas, mesmo sem ir regularmente à Liga dos Campeões. É este mesmo Benfica que apresenta um passivo de mais do dobro do FC Porto e tem prejuízos anuais na ordem das dezenas de milhões de €. É este mesmo Benfica que nos últimos 20 anos, venceu 3 títulos nacionais, o que dá a média de um título a cada 7 anos (que fartura!). Acham que a superioridade do Benfica deste ano sobre o FC Porto significa o fim da hegemonia do FC Porto? Reparem bem, este ano tem acontecido de tudo ao FC Porto, lesões, castigos e muitos outros azares, além de azelhice como é evidente. Mesmo assim, atingimos os oitavos-final da Liga dos Campeões, podemos ainda vencer a Taça de Portugal, vencemos a Supertaça no início da época e no campeonato, apesar de todas as peripécias, o acesso à Champions ainda é possível. Não tivéssemos tantas contrariedades e se calhar ainda lutávamos pelo título por esta altura…

Parece-me claramente que esta crise é conjuntural, como aconteceu em 2001, e depois fomos vencedores de tudo o que havia para ganhar cá e lá fora, e como aconteceu em 2005, quando depois fomos TetraCampeões. Agora, é tempo de ir pensando na próxima época para que não se repitam os mesmos erros…

PS - Não gostei da forma expressiva como Jesualdo se referiu à arbitragem do jogo de Braga. Os 5 pontos que temos de diferença para o Braga não se devem a questões de arbitragem, mas sim ao facto de, por exemplo, termos perdido vários pontos com equipas do fundo da tabela, nomeadamente, Leixões, Belenenses e Olhanense... isto sim, é caso para preocupação e reflexão... não as arbitragens dos jogos do Braga!