05 dezembro, 2010

ADEMIR VIEIRA – o homem do decisivo golo do histórico campeonato de 1977/78

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O dia 28 de Maio de 1978 ficará para sempre ligado à história do FC Porto. Nesse dia, e perante uma moldura humana impressionante, o FC Porto recebia o Benfica a 3 jornadas do fim do campeonato num jogo decisivo para a conquista do título nacional que nos fugia há 19 anos.

Inicia-se o jogo e, logo aos 3 minutos, surge o auto-golo do defesa-central Simões que colocava toda a família portista à beira de um ataque de nervos. Os fantasmas voltavam a pairar no ar e o maldito jejum parecia não querer terminar.

Só a 8 minutos do fim acabou o desespero com o golo que restabeleceu a igualdade e colocava o título à mercê do FC Porto.

Esse memorável golo, que ficará para sempre ligado à história do nosso clube, foi marcado pelo brasileiro Ademir, e marca o arranque de um novo FC Porto, o FC Porto ganhador que nunca mais parou de crescer e que é hoje uma referência do futebol mundial.

Conta quem viu, que a alegria vivida nessa tarde foi absolutamente indescritível e irrepetível. Os cerca de 80 mil espectadores presentes, desejosos de poder festejar um título que fugia há 19 longos anos, pressentiam que a hora da glória estava a bater-nos à porta.

Poucos dias depois, o FC Porto recebia a visita do Braga e, após uma categórica vitória por 4-0, sagrava-se, finalmente, Campeão Nacional!

Entretanto, é com enorme prazer que vos deixo a entrevista com Ademir, agradecendo toda a sua disponibilidade, bem como a preciosa ajuda do Dragão Vila Pouca na elaboração da entrevista.



    ENTREVISTA EXCLUSIVA com Ademir Vieira

    1 - Representou o FC Porto durante 3 épocas, que memórias guarda desse tempo?

    Representar o F.C. Porto por si só é uma honra e por 3 épocas então foi maravilhoso.

    2 - Quando chegou ao FC Porto no início da época 75/76 tinha outros pretendentes. Porquê o FC Porto?

    Sim, quando cheguei ao F.C. Porto na época 75/76 tive vários pretendentes (Benfica, Sporting, vitória de Guimarães, Boavista, entre outros). Optei pelo F.C. Porto porque as pessoas que trataram do meu contrato foram legais comigo.

    3 - As primeiras 2 épocas foram complicadas a nível pessoal não conseguindo vingar na equipa. Quais as razões para essas dificuldades?

    Nas 2 primeiras épocas tive dois problemas; tinha o Oliveira e o Cubillas que jogavam na mesma posição que eu, aí, como eu tinha vindo do Olhanense, teria que esperar pela minha oportunidade, assim como aconteceu naturalmente na terceira época.

    4 - Na última época conseguiu finalmente impor-se como titular. Considera que a mudança operada por Pedroto ao colocá-lo a médio foi decisiva (jogava a ponta-de-lança no Olhanense)?

    Sim. Considero que sim, porque quando J.M.Pedroto me escalou para jogar no meio campo, tive um rendimento espectacular fazendo muitos golos, no qual ajudou e muito para o tão desejado título.

    5 - Como foi trabalhar com José Maria Pedroto?

    Trabalhar com J.M. Pedroto não foi nada fácil para mim, pois tínhamos maneiras de pensar opostas, porém, de futebol ele entendia tudo, quer a nível técnico, táctico, físico e psicológico.

    6 - Curiosamente a sua estreia a titular na época de 77/78 deu-se no jogo da 1ª volta do campeonato frente ao Benfica realizado no estádio da Luz (0-0)…

    Exactamente, a minha estreia deu-se no Estádio da Luz contra o Benfica, com o empate de 0x0. Fiz uma exibição convincente, levando o nosso técnico J.M. Pedroto a acreditar que eu poderia exercer aquela posição com um bom rendimento para a equipa.

    7 - Recorde-nos o histórico golo frente ao Benfica na tarde de 28 de Maio de 1978.

    Recordar o golo contra o Benfica é, para mim, recordar um marco na minha carreira como profissional de futebol. Foi um momento único que guardarei e recordarei para toda minha vida (sempre que posso, vejo o vídeo do golo). Foi uma falta na entrada da área do Benfica, aí o Simões que tinha feito o auto-golo, pediu-me para centrar na sua direcção, foi exactamente o que fiz, só que, o Aberto (defesa do Benfica) antecipou-se e tirou a bola de cabeça para a entrada central da área, como acompanhei a jogada, consegui chegar primeiro do que dois jogadores do Benfica acertando um bom pontapé sem deixar a bola cair, fazendo ela entrar bem no cantinho do lado esquerdo do goleiro Fidalgo(que até se fez ao lance), que não conseguiu fazer a defesa (aí foi só alegria).



    8 - Poucos dias depois, recebemos o Braga e confirmámos o título de campeão e acabámos com o jejum de 19 anos. O que se sente num momento desses?

    É, num momento desses é difícil descrever o que uma pessoa sente, pois era a primeira vez que era Campeão Nacional, só te sei dizer que levei alguns dias para cair na realidade. Sinto-me mais feliz ainda, em saber que depois deste título, só está dando F.C. Porto, que a partir daí conseguiu conquistar a Europa e o Mundo, e eu fiz parte deste maravilhoso clube, contribuindo para algo que ficou e está na história dele.

    9 - Como se sabe, antes de essa época acabar, já tinha assinado contrato com o Boavista. É verdade que o FC Porto ainda tentou evitar a sua saída?

    Sim, é verdade. Antes de terminar meu contrato com o F.C. Porto, assinei contrato com o Boavista. Quando o F.C. Porto soube que tinha contrato com o Boavista, tentou de tudo para que continuasse no F.C. Porto. Como já tinha contrato assinado com o Boavista, não tive coragem de rescindir meu contrato com eles, mantendo a minha palavra de honra.

    10 - Para finalizar, gostaríamos que deixasse uma mensagem aos nossos leitores.

    Aos leitores do blog "Bibó Porto Carago", aqui vai um grande abraço com muito carinho e desportivismo deste ex-atleta que, quando serviu este GRANDE CLUBE, serviu com muito profissionalismo, dedicação e amor.

10 comentários:

  1. Que maldade, amigos! Fiquei com uma lágrimazinha.

    Eu estive lá. Levei vestida uma camisola azul e branca, o que hoje é comum mas, na época, era uma raridade ir alguém vestido assim. Tive a ousadia de levar, debaixo dessa camisola, uma t-shirt que exibia: FC Porto - Campeão Nacional 77-78. Era uma enorme confiança e tinhamos uma equipa extraordinária! Aos meus 15 anos, na escola, nos cafés, na televisão, nos jornais, e por aí fora, era tudo benfica ou Sporting. Nunca tinha visto o meu Porto a ser campeão.

    Foi um enorme sofrimento mas, apesar da minha tenra idade, quando todos estavam resignados, eu dei sempre uma palavra de confiança e um grito de incentivo. No golo do ademir, todos me caíram em cima, num abraço profundo e num banho de lágrimas, de tanta felicidade.

    Muito obrigado por me fazerem recordar este momento arrepiante, porventura, a rampa de lançamento deste Clube de classe mundial.

    Um grande abraço.

    Rui Costa - Sócio nº6891

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  2. Aquele auto-golo foi um balde de água fria. Pensei que a maldição se ia manter. "Aquilo foi uma tortura! Apertou-me o estômago e senti-me só e desesperado", confidenciou Carlos Simões. Rodolfo, capitão de equipa, disse mais tarde: “Eram muitos milhares à espera daquele título e que não acreditavam que o perdêssemos ali. E estivemos quase a perder…”.

    Mas o FC Porto porfiou e chegou também ao golo, esse inesquecível golo do Ademir. O seu nome ficou, assim, gravado a letras de ouro na história do FC Porto. No estádio, por todo o país, foi uma explosão de alegria incontida, os festejos de milhares e milhares de portistas radiantes de alegria.

    No FC Porto que, ao longo do Campeonato, foi jogando e livrando-se de tropeços vários, Pedroto proferiu uma frase que haveria de ficar na história do futebol português: "Temos de lutar contra os roubos de igreja". E lutámos, e vencemos.

    Na última jornada, a 11 Jun.1978, a apoteose na vitória sobre o Braga por 4-0. Foi a primeira vez que assisti no Estádio das Antas (que saudades…) à conquista pelo FC Porto de uma competição nacional. Jorrou champanhe e felicidade. Pelas ruas, centenas de milhar de homens, mulheres e crianças, novos e velhos gritaram e fizeram um "S. João" antecipado: Vivó Porto! Viva o Campeão!

    E caíram por terra 19 anos em que tudo nos foi negado, até a possibilidade de lutar para vencer. É certo que no clube houve erros que se pagaram caro; mas o centralismo e despotismo de Lisboa foram determinantes no longo jejum. A vitória de 1977-78 foi o ponto de partida para conquistas brilhantes. Que jamais cessaram e que são o presente e o futuro do nosso querido Clube.

    Parabéns, “Sevilha”, por esta magnífica entrevista. Obrigado. Um abraço.

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  3. Ademir foi o homem providencial.

    Uma bela entrevista do Sevilha a alguém a quem o universo azul e branco deve o fim de uma longa tarvessia do deserto...

    Um abraço

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  4. Amigo Sevilha, esmeraste-te. Bela entrevsita, tive muito gosto em lê-la!

    Um abraço

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  5. Foi um prazer ler esta excelente entrevista do meu amigo Sevilha03 a um nome da nossa história (ADEMIR). Esse campeonato (o 1º de Pedroto a técnico do Porto) foi dramático e, segundo pessoas q lá estiveram, foi qq coisa de inesquecível, os festejos do golo quase fizeram a Cidade tremer... Só tinha 3 anos, quase 4 mas quem me dera ter vivido esse virar de página...

    ADEMIR, um grande abraço de um simples sócio deste clube mágico.


    PS- já cheguei de Viena;) Estive lá onde Madjer surpreendeu os Deuses e onde Falcao voou a pique 23 anos depois...

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  6. Sevilha, excelente entrevista, que ao mesmo tempo nos faz recordar esse abrir caminho, para um PORTO, que a partir dessa data nos tem dado só alegrias!

    E um obrigado ao ADEMIR, que infelizmente nunca vi jogar, a não ser em vídeo!

    BIBÓ PORTO

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  7. Obrigado a todos pelos vossos comentários! :)

    Um grande abraço!

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  8. Sevilha (e Vila Pouca): cinco estrelas!! Que maravilha ler sobre momentos como este, e que vontade de me meter num DeLorean voador para ir lá espreitá-los!

    E obrigada ao Ademir pela disponibilidade e pela bela entrevista!

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  9. Nesse dia cumpri o meu 1º aniversário...
    Consta que meu Pai e familiares apanharam uma moca não pelo meu aniversário mas sim por tão grande Vitória...

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  10. c'um carago, mas ca gANDA fURO ;)

    é verdade que deste Ademir, só tinha mesmo a recordação das histórias que me contam daquele tão famoso título de 77/78, afinal por essa altura, mais não era do que um pirralho.

    no entanto, este é um daqueles jogadores, que por um ou outro motivo, este mais que especial, ficou (está!) na história do nosso fcPORTO.

    bons pedaços de história que aqui nos deixam nesta mini-entrevista... obra e graça do próprio Ademir, mas tb em particular, do nosso «jornalista» de fim-de-semana, o Sevilha ;)

    aBRAÇO a ambos, e venham de lá mais iguais a estas.

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