Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 3: 1921 a 1930 – Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte V)
1922 - Construção de bancadas à custa de indemnização
O crescimento do FC Porto não se compadecia com as acanhadas e deficientes instalações da Constituição. Era premente uma solução que reflectisse a grandeza e pujança do clube e lhe possibilitasse uma expansão ainda mais solidificada, o progresso continuado. A ideia foi amadurecendo, até que, em 1920, António Cardoso Pinto de Faria, presidente em exercício, se lançou a corporizar a ambição. E engendrou solução simples: o novo estádio seria erigido nos terrenos, anexos à Constituição, propriedade da família Couto. À compra dos terrenos juntar-se-ia a do palacete, que ficava de frente para a Rua da Constituição, “muito próprio para sede”. A vontade do afoito Presidente e dos Associados não se materializou. Tudo falhou, por pouco, mas falhou…
Em 1922, começaram a negociar-se os terrenos da Quinta das Oliveiras, em Nova Cintra, após o proprietário ter manifestado interesse na venda ao FC Porto. Era um projecto grandioso, que ocupava cerca de 60 mil metros quadrados, e que, depois de concluído, constituiria o maior complexo desportivo do país. A realização do projecto custava cerca de mil contos, uma fortuna para a época. “O Parque das Oliveiras” seria uma solução magnífica para os interesses e anseios do Clube. Fez-se escritura de promessa de compra e venda e o FC Porto entrou com a verba regulamentar.
Porém, tudo falharia (mais uma vez), não por falta de vontade, não por falta de fundos, mas por causa do capricho de um homem. Com efeito, o proprietário dos terrenos acabou por dar o dito por não dito, não vendendo a Quinta das Oliveiras ao FC Porto. Pagaria, pelo não cumprimento do acordo, uma indemnização de 80 contos, verba que o Clube aplicou na construção de bancadas no Campo da Constituição.
Época 1922-1923
Em breve se duplicaria este número.
Os sete golos de Cândido na digressão do FC Porto
Nos quatro jogos disputados o FC Porto marcou 7 golos, todos da autoria do casapiano. O clube da “Invicta” ficou seduzido com a categoria do jogador e convidou-o para integrar, em definitivo, a sua equipa. Em vão, pois Cândido tinha o coração no Casa Pia que, aliás, era muito de si.
O FC Porto alinhou, durante a digressão, com este “onze” base: Lino; José Bastos e Júlio Cardoso; Lopes Carneiro, Cândido de Oliveira e Floriano Pereira; José Maria Gralha, Freire, Balbino, Alexandre Cal e Augusto Gomes.
Refira-se que, aproveitando a estada em Espanha, os dirigentes do FC Porto ofereceram, a todos os atletas, meia dúzia de dias de férias que incluiu passeio turístico a Marrocos e Ceuta. Foi a prenda pela conquista do título de Campeões de Portugal.
Campeões Regionais apurados para o Campeonato de Portugal:Sporting Clube de Braga (BRAGA)
Futebol Clube do Porto (PORTO)
Associação Académica de Coimbra (COIMBRA)
Sporting Clube de Portugal (LISBOA)
Lusitano Futebol Clube (ALGARVE)
Club Sport Marítimo (FUNCHAL)
Meia-Final
Ainda campeões em título, os portistas defrontaram o Sporting, em Coimbra, nas meias-finais do Campeonato de Portugal.
António Ribeiro dos Reis, cronista de “O Sport de Lisboa”, contaria que por toda a parte se viam bandeiras com as cores do FC Porto e que só o comboio especial trouxera mais de 10 mil adeptos! “Entusiastas do Norte distribuíram-se por todos os lados. Havia quem fosse portador de três e quatro bandeiras. Passavam automóveis também embandeirados e até os cavalos e os cocheiros das tipóias iam enfeitados.
”Consta que “a guerra das bandeiras” obrigou a azáfama inusitada durante a noite, em Lisboa, para que na manhã de domingo (dia do jogo), quem chegasse da capital desembarcasse já sinalizado não com bandeiras azuis e brancas, mas com um pequeno rectângulo de papel branco, com uma cercadura em verde e no meio o distintivo do Sporting. Bandeiras em pano… poucas.
Ganhou o FC Porto no confronto das bandeiras, venceu o Sporting no encontro em campo. Ganhou bem e nem serve de desculpa aos portistas o facto de terem jogado largo tempo com apenas 10 elementos, por o seu guarda-redes Lino se ter magoado abandonando o campo em maca, sendo substituído por Floriano Pereira, jogador de campo.
João de Brito, o “capitão-geral” do FC Porto, resignado, afirmou: “Assim como no ano passado fiquei convencido de que merecíamos a vitória, porque jogámos mais, sou obrigado a confessar, desta vez, que o Sporting mereceu e bem o brilhante triunfo alcançado, porque demonstrou ser nitidamente superior”.
Árbitro: Rudolf Todd (Funchal)
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1-0 Francisco (23’)
2-0 Stromp (56’)
3-0 Stromp (72’)
Sporting – Treinador: Augusto Sabbo (luso-alemão)
Cipriano Nunes; Joaquim Ferreira e Jorge Vieira; José Leandro, Filipe dos Santos e Henrique Portela; Torres Pereira, Jaime Gonçalves, Francisco Stromp cap, João Francisco e Emílio Ramos.
FC Porto – Treinador: Adolphe Cassaigne (francês)
Lino Moreira; Artur Augusto e José Basto; Lopes Carneiro, Velez Carneiro e Floriano Pereira; Augusto Freire, Norman Hall, Balbino Silva, Tavares Bastos e Alexandre Call cap.
O Sporting sagrar-se-ia Campeão ao derrotar, na final, a Académica (3-0).
A primeira “chicotada psicológica”
Desde 1907 o treinador, convidado por José Monteiro da Costa, era Adolphe Cassaigne (sempre orgulhosamente gratuito ao FC Porto). Os anos já lhe pesavam. E só uma afeição comum às duas partes o mantinha. Mas, em 1924, Cassaigne abalaria, contratando-se o húngaro Akos Teszler – primeiro treinador remunerado do clube, que de imediato revolucionaria o sistema da equipa “fazendo do FC Porto um mágico paradigma do... futebol-espectáculo".
- No próximo post.: Capítulo 3 (Continuação) – Campeonato de Portugal 1923-24; época 1924-25; constituição da secção de Basquetebol; a chegada de um ídolo.
HOMENAGEM – Com a V/permissão, este post é uma homenagem ao meu querido Pai, falecido há pouco mais de um mês, que hoje completava 86 anos. Eterna saudade, meu Pai.
Sem palavras, melhor dizendo, repito tudo o que disse anteriormente a multiplicar por muitas mais palavras de apreço.
ResponderEliminarE fiquei deveras sensibilizado com a dedicatória, no seu amor filial, que bem entendo também, eu que perdi o meu pai há quatro anos mas tenho-o sempre presente, como meu herói que era para mim e meu admirador especial, quanto gostava da minha valorização afectiva por assuntos bairristas e outros de interesse particular, a quem eu sempre ia mostrar tudo o que descobria nas minhas apaixonadas atenções históricas, e quem me contava o que se recordava...
Post Scriptum:
ResponderEliminarComo o assunto mexeu cá dentro, enviei o comentário quase sem raciocinar, enquanto ainda tinha os pensamentos a sobrevoar, mas queria ainda dizer que, afinal, por coincidência curiosa, o meu pai também fazia anos este dia, 10 de Dezembro, em que faria 94, tendo desaparecido meses antes de completar os 90.
Outro assunto: Por estes dias, logo que possa, vou remeter-lhe um e-mail com algumas coisas, do que tem estado pendente.
Abraço.
Fantástico trabalho. Não me canso de o dizer. Os campeões não conseguiram revalidar o título em 1923 mas outras batalhas se aproximam e o grande clube do Norte está no combate por todas elas:)
ResponderEliminarabraço
Quando lemos estes trabalhos, notáveis, de um portismo sentido, ficamos sempre com a certeza de duas coisas: fomos e continuamos a ser Grandes, mas este país mesquinho, invejoso e medíocre, tem grande dificuldade em nos fazer justiça, não dar-nos mais do que merecemos, mas e repito, fazer-nos justiça.
ResponderEliminarUm abraço
Uma delícia ter a oportunidade de ler isto!
ResponderEliminarUm forte abraço
Já me começam a faltar palavras para elogiar o trabalho do meu amigo AzulForte.
ResponderEliminarPor incrível que pareça está aqui pedaços da nossa história, quando muitos se queixam não haver museus deviam e podiam contribuir com algo não o fazem, vejo muito pouco deste enorme trabalho pela blogosfera Portista mas também reparo que deviam ser mais a participar.
Ao meu amigo Fernando Pinto foi com emoção que li o seu Post Scriptum e claro dar-lhe os parabéns por um trabalho que já tive oportunidade de ler, rever e guardar.
Um abraço Azul Forte.
Artigo interessante sobre chicotadas psicológicas em futebolpoliticamentecorrecto.blogspot.com
ResponderEliminarNem só de vitórias se faz a vida e a história dum clube. O nosso FC Porto consolidou as suas raízes para ser o que é hoje.
ResponderEliminarComungo da tua oportuna e bonita homenagem ao nosso Pai e Avô. Que Deus o guarde para todo o sempre.
Um beijo
Peço desculpa por só agora comentar, mas é que os seus posts, eu guardo para ler com mais calma, porque gosto de ler com o máximo de atenção para me delicar na descoberta da história do nosso PORTO!
ResponderEliminarObrigado mais uma vez pelo excelente trabalho!;)
BIBÓ PORTO
Caro aMIGO FMoreira,
ResponderEliminarforam tb nestes momentos de derrota, que se forjaram os futuros heróis de PORTOgal.
diz o ditado que dos derrotados, não reza a história... casos há onde é totalmente falso... este, é um deles.
perdemos uma batalha, mas haveríamos de continuar a lutar para ganhar essa guerra.
e não é que passados tantos anos, a profecia há muito que se confirmou pelas melhores razões?!
ps - bonita homenagem ao seu eterno ídolo e herói, seu Pai... que descanse em paz!!!