10 dezembro, 2010

Capítulo 3: 1921 a 1930 – Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte V)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Po
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Capítulo 3: 1921 a 1930 – Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte V)

1922 - Construção de bancadas à custa de indemnização
O crescimento do FC Porto não se compadecia com as acanhadas e deficientes instalações da Constituição. Era premente uma solução que reflectisse a grandeza e pujança do clube e lhe possibilitasse uma expansão ainda mais solidificada, o progresso continuado. A ideia foi amadurecendo, até que, em 1920, António Cardoso Pinto de Faria, presidente em exercício, se lançou a corporizar a ambição. E engendrou solução simples: o novo estádio seria erigido nos terrenos, anexos à Constituição, propriedade da família Couto. À compra dos terrenos juntar-se-ia a do palacete, que ficava de frente para a Rua da Constituição, “muito próprio para sede”. A vontade do afoito Presidente e dos Associados não se materializou. Tudo falhou, por pouco, mas falhou…

Em 1922, começaram a negociar-se os terrenos da Quinta das Oliveiras, em Nova Cintra, após o proprietário ter manifestado interesse na venda ao FC Porto. Era um projecto grandioso, que ocupava cerca de 60 mil metros quadrados, e que, depois de concluído, constituiria o maior complexo desportivo do país. A realização do projecto custava cerca de mil contos, uma fortuna para a época. “O Parque das Oliveiras” seria uma solução magnífica para os interesses e anseios do Clube. Fez-se escritura de promessa de compra e venda e o FC Porto entrou com a verba regulamentar.
Porém, tudo falharia (mais uma vez), não por falta de vontade, não por falta de fundos, mas por causa do capricho de um homem. Com efeito, o proprietário dos terrenos acabou por dar o dito por não dito, não vendendo a Quinta das Oliveiras ao FC Porto. Pagaria, pelo não cumprimento do acordo, uma indemnização de 80 contos, verba que o Clube aplicou na construção de bancadas no Campo da Constituição.

Época 1922-1923

Em 1922 o FC Porto contava com 1.500 sócios.
Em breve se duplicaria este número.




Os sete golos de Cândido na digressão do FC Porto
Cândido de Oliveira jogou pelo FC Porto (Campeão de Portugal) em Sevilha e Gibraltar, depois de uma solicitação ao Casa Pia Atlético Clube que emprestou, além de Cândido, os jogadores José Maria Gralha e Augusto Gomes. Tal aconteceu devido à equipa portista estar enfraquecida porque faltava dinheiro a alguns futebolistas para pagar, como era norma, as suas despesas de alimentação…
Nos quatro jogos disputados o FC Porto marcou 7 golos, todos da autoria do casapiano. O clube da “Invicta” ficou seduzido com a categoria do jogador e convidou-o para integrar, em definitivo, a sua equipa. Em vão, pois Cândido tinha o coração no Casa Pia que, aliás, era muito de si.
O FC Porto alinhou, durante a digressão, com este “onze” base: Lino; José Bastos e Júlio Cardoso; Lopes Carneiro, Cândido de Oliveira e Floriano Pereira; José Maria Gralha, Freire, Balbino, Alexandre Cal e Augusto Gomes.
Refira-se que, aproveitando a estada em Espanha, os dirigentes do FC Porto ofereceram, a todos os atletas, meia dúzia de dias de férias que incluiu passeio turístico a Marrocos e Ceuta. Foi a prenda pela conquista do título de Campeões de Portugal.

Campeões Regionais apurados para o Campeonato de Portugal:Sporting Clube de Braga (BRAGA)
Futebol Clube do Porto (PORTO)
Associação Académica de Coimbra (COIMBRA)
Sporting Clube de Portugal (LISBOA)
Lusitano Futebol Clube (ALGARVE)
Club Sport Marítimo (FUNCHAL)

Meia-Final
Ainda campeões em título, os portistas defrontaram o Sporting, em Coimbra, nas meias-finais do Campeonato de Portugal.
António Ribeiro dos Reis, cronista de “O Sport de Lisboa”, contaria que por toda a parte se viam bandeiras com as cores do FC Porto e que só o comboio especial trouxera mais de 10 mil adeptos! “Entusiastas do Norte distribuíram-se por todos os lados. Havia quem fosse portador de três e quatro bandeiras. Passavam automóveis também embandeirados e até os cavalos e os cocheiros das tipóias iam enfeitados.

”Consta que “a guerra das bandeiras” obrigou a azáfama inusitada durante a noite, em Lisboa, para que na manhã de domingo (dia do jogo), quem chegasse da capital desembarcasse já sinalizado não com bandeiras azuis e brancas, mas com um pequeno rectângulo de papel branco, com uma cercadura em verde e no meio o distintivo do Sporting. Bandeiras em pano… poucas.
Ganhou o FC Porto no confronto das bandeiras, venceu o Sporting no encontro em campo. Ganhou bem e nem serve de desculpa aos portistas o facto de terem jogado largo tempo com apenas 10 elementos, por o seu guarda-redes Lino se ter magoado abandonando o campo em maca, sendo substituído por Floriano Pereira, jogador de campo.

João de Brito, o “capitão-geral” do FC Porto, resignado, afirmou: “Assim como no ano passado fiquei convencido de que merecíamos a vitória, porque jogámos mais, sou obrigado a confessar, desta vez, que o Sporting mereceu e bem o brilhante triunfo alcançado, porque demonstrou ser nitidamente superior”.

SPORTING-FC PORTO, 3-0
17-6-1923, Coimbra (Campo dos Bentos)
Árbitro: Rudolf Todd (Funchal)
Marcadores:
1-0 Francisco (23’)
2-0 Stromp (56’)
3-0 Stromp (72’)
Sporting – Treinador: Augusto Sabbo (luso-alemão)
Cipriano Nunes; Joaquim Ferreira e Jorge Vieira; José Leandro, Filipe dos Santos e Henrique Portela; Torres Pereira, Jaime Gonçalves, Francisco Stromp cap, João Francisco e Emílio Ramos.
FC Porto – Treinador: Adolphe Cassaigne (francês)
Lino Moreira; Artur Augusto e José Basto; Lopes Carneiro, Velez Carneiro e Floriano Pereira; Augusto Freire, Norman Hall, Balbino Silva, Tavares Bastos e Alexandre Call cap.

O Sporting sagrar-se-ia Campeão ao derrotar, na final, a Académica (3-0).

Época 1923-1924

1923 – Domingos Almeida Soares, sucedeu a Eurico de Brites na presidência do FC Porto. Foi o primeiro Presidente a contratar um treinador remunerado para a equipa de futebol. Durante o seu mandato, que terminou em 1926, o FC Porto voltou a ser Campeão de Portugal na época 1924-25. Teve também papel de relevo na contratação de um guarda-redes que iria ser um ídolo no Clube: Mihaly Siska. Assistiu ao primeiro triunfo individual em provas do campeonato nacional de pista, por Alfredo Carvalho, nos 110 metros barreiras, e constituiu a secção de Basquetebol.

A primeira “chicotada psicológica”
Desde 1907 o treinador, convidado por José Monteiro da Costa, era Adolphe Cassaigne (sempre orgulhosamente gratuito ao FC Porto). Os anos já lhe pesavam. E só uma afeição comum às duas partes o mantinha. Mas, em 1924, Cassaigne abalaria, contratando-se o húngaro Akos Teszler – primeiro treinador remunerado do clube, que de imediato revolucionaria o sistema da equipa “fazendo do FC Porto um mágico paradigma do... futebol-espectáculo".
  • No próximo post.: Capítulo 3 (Continuação) – Campeonato de Portugal 1923-24; época 1924-25; constituição da secção de Basquetebol; a chegada de um ídolo.


HOMENAGEM – Com a V/permissão, este post é uma homenagem ao meu querido Pai, falecido há pouco mais de um mês, que hoje completava 86 anos. Eterna saudade, meu Pai.

10 comentários:

  1. Sem palavras, melhor dizendo, repito tudo o que disse anteriormente a multiplicar por muitas mais palavras de apreço.
    E fiquei deveras sensibilizado com a dedicatória, no seu amor filial, que bem entendo também, eu que perdi o meu pai há quatro anos mas tenho-o sempre presente, como meu herói que era para mim e meu admirador especial, quanto gostava da minha valorização afectiva por assuntos bairristas e outros de interesse particular, a quem eu sempre ia mostrar tudo o que descobria nas minhas apaixonadas atenções históricas, e quem me contava o que se recordava...

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  2. Post Scriptum:
    Como o assunto mexeu cá dentro, enviei o comentário quase sem raciocinar, enquanto ainda tinha os pensamentos a sobrevoar, mas queria ainda dizer que, afinal, por coincidência curiosa, o meu pai também fazia anos este dia, 10 de Dezembro, em que faria 94, tendo desaparecido meses antes de completar os 90.
    Outro assunto: Por estes dias, logo que possa, vou remeter-lhe um e-mail com algumas coisas, do que tem estado pendente.
    Abraço.

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  3. Fantástico trabalho. Não me canso de o dizer. Os campeões não conseguiram revalidar o título em 1923 mas outras batalhas se aproximam e o grande clube do Norte está no combate por todas elas:)

    abraço

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  4. Quando lemos estes trabalhos, notáveis, de um portismo sentido, ficamos sempre com a certeza de duas coisas: fomos e continuamos a ser Grandes, mas este país mesquinho, invejoso e medíocre, tem grande dificuldade em nos fazer justiça, não dar-nos mais do que merecemos, mas e repito, fazer-nos justiça.

    Um abraço

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  5. Uma delícia ter a oportunidade de ler isto!

    Um forte abraço

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  6. Já me começam a faltar palavras para elogiar o trabalho do meu amigo AzulForte.

    Por incrível que pareça está aqui pedaços da nossa história, quando muitos se queixam não haver museus deviam e podiam contribuir com algo não o fazem, vejo muito pouco deste enorme trabalho pela blogosfera Portista mas também reparo que deviam ser mais a participar.

    Ao meu amigo Fernando Pinto foi com emoção que li o seu Post Scriptum e claro dar-lhe os parabéns por um trabalho que já tive oportunidade de ler, rever e guardar.

    Um abraço Azul Forte.

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  7. Artigo interessante sobre chicotadas psicológicas em futebolpoliticamentecorrecto.blogspot.com

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  8. Nem só de vitórias se faz a vida e a história dum clube. O nosso FC Porto consolidou as suas raízes para ser o que é hoje.

    Comungo da tua oportuna e bonita homenagem ao nosso Pai e Avô. Que Deus o guarde para todo o sempre.

    Um beijo

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  9. Peço desculpa por só agora comentar, mas é que os seus posts, eu guardo para ler com mais calma, porque gosto de ler com o máximo de atenção para me delicar na descoberta da história do nosso PORTO!

    Obrigado mais uma vez pelo excelente trabalho!;)


    BIBÓ PORTO

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  10. Caro aMIGO FMoreira,

    foram tb nestes momentos de derrota, que se forjaram os futuros heróis de PORTOgal.

    diz o ditado que dos derrotados, não reza a história... casos há onde é totalmente falso... este, é um deles.

    perdemos uma batalha, mas haveríamos de continuar a lutar para ganhar essa guerra.

    e não é que passados tantos anos, a profecia há muito que se confirmou pelas melhores razões?!

    ps - bonita homenagem ao seu eterno ídolo e herói, seu Pai... que descanse em paz!!!

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