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- Boas, Nação Portista !
Como este é o meu primeiro texto na qualidade de colaborador do BiBó PoRtO, carago!!, manda a boa educação que me apresente. Este que vos escreve é, pois, um jovem universitário, de 19 anos, residente na cidade do Porto e adepto fervoroso do Futebol Clube do Porto.
Quanto à minha linha de escrita, nas minhas crónicas podem contar com muito sarcasmo, ironia e humor. O humor vai ser a minha principal arma para defender o nosso tão amado Clube.
Os meus textos serão publicados quinzenalmente às sextas à noite.
Espero que com o meu modesto contributo, o BiBó PoRtO, carago!! consolide a sua condição de espaço de tertúlia por excelência da Nação Portista.
Bom, agora que as apresentações estão feitas, deixo-vos com a minha primeira crónica - primeira de muitas, espero.
Espero que se divirtam!
"A humanidade só tem uma arma realmente eficaz: o riso."
Mark Twain
Mark Twain
Felizmente, perdemos. Os últimos meses têm sido de um grande sofrimento para todos os portistas. Até ao passado domingo, éramos os únicos portugueses que não sentíamos a crise. Todos lamentavam a crise menos nós. Os políticos falavam que o ano de 2011 ia ser terrível, mas nós, conhecedores que somos do fascínio dos políticos pela mentira, insistíamos em ignorar a crise. A crise era, para nós, uma fantasia dos adeptos dos outros clubes. Uma espécie de brincadeira que as massas associativas dos outros clubes tinham inventado para se entreterem, enquanto nós íamos somando goleadas atrás de goleadas - às equipas mais débeis chegávamos mesmo a infligir cabazadas de 5 a 0. Para os lados da Alameda das Antas, a crise era uma ilusão que não tolhia o espírito portista.
Quanto mais o Porto ganhava, mais os portistas eram discriminados. A felicidade que trazíamos estampada no rosto enervava quem à nossa volta tentava controlar a azia de mais uma derrota. Na rua, no café, no emprego, o portista era alvo de olhares incriminatórios. Na paragem de autocarro, a felicidade do portista era imediatamente recriminada por um benfiquista que carregava o pesado fardo de uma goleada em Israel contra uma super-potência chamada Hapoel - que é, aliás, um bonito nome para um stand de automóveis usados.
A Nação Portista vivia numa espécie de cápsula na qual não havia maneira de a crise penetrar. Queríamos ser como os adeptos dos outros clubes, e criticar as escolhas do nosso técnico. Mas a realidade teimava em não nos conceder razões de queixa. Ansiávamos por conhecer a sensação de sair do estádio com o travo amargo da derrota. Mas derrota era, para nós, um fruto proibido. Nós queríamos provar esse fruto, mas a excelência do nosso plantel não nos permitia. Quando na televisão ouvíamos ser pronunciada a palavra "derrota", suspirávamos para fosse uma derrota do Porto. Mas, infelizmente, não. Nunca éramos nós a perder. Ou era o Sporting que tinha perdido por 3-2 com o V.Guimarães, depois de ter estado a ganhar por 0-2. Ou era o Benfica que tinha perdido 2-1 com a Académica, na Luz. Éramos o único clube na Europa que não perdia, e isso começava a irritar muita gente.
Um pouco por toda a Europa, há inúmeros relatos de emigrantes portistas que eram alvo de chacota. Adeptos do Barcelona que se abeiravam de portistas emigrados na Catalunha dizendo "Vocês não têm vergonha de serem tão bons? Até nós já perdemos com o Hércules, e vocês nada?! Ah, a propósito, querem trocar o Villas-Boas pelo Guardiola? Só para vos poupar à vergonha de serem invencíveis.". Os portistas eram mártires que sofriam na pele os sucessos da Pátria Azul e Branca . O número de portistas vítimas de dichotes, que visavam fazer-nos sentir culpados por sermos tão bons, não parava de aumentar . Mas os portistas sempre souberem resistir.
O Porto era, no fundo, a aldeia do Astérix numa Gália de perdedores. A derrota cirandava à nossa volta, mas não conseguia ultrapassar a robustez da nossa qualidade de jogo. Já desesperados, os sarracenos forçaram a entrada no nosso reduto. "Somos nós que os vamos derrotar", diziam eles. As suas tropas estavam sedentas de nos ver cair, pela primeira vez em meio-ano. Chegaram num autocarro encarnado, traziam os seus melhores legionários e a abundância de guarnições fazia temer o pior - ou, para mim, o melhor. Íamos finalmente sentir o eflúvio da derrota. Esperei ansiosamente por aquele jogo que ia pôr fim ao nosso ciclo de bons resultados. As tropas rivais que, já havíamos derrotado duas vezes durante o nosso longo percurso sem derrotas, bradava aos sete ventos que a nossa invencibilidade se devia ao facto de ainda não termos enfrentado uma equipa a sério - apesar de, repito, já os termos derrotado duas vezes. A imprensa, sempre fiel aos valores do centralismo, dizia que era desta que nós íamos perder.Não havia hipóteses. A sentença estava ditada a priori: estávamos condenados a perder naquele dia. Íamos ser triturados pelos Cruzados de Jesus. No entanto, para surpresa de todos, saímos de novo vitoriosos. E, desta vez, por números ainda mais retumbantes. Não foram 1 ou 2, nem 3 nem 4. Foram 5. Uma mão cheia (e uma mancheia) de tentos.
Mais uma vez, a teimosia dos nossos jogadores não nos deixava exprienciar a derrota. Só podia ser má-vontade. A fúria de Hulk, o calcanhar de Falcão e a classe de Varela eram os fortes argumentos que mantinham a nossa invencibilidade intocável, e a mim desolado por não conseguir provar essa coisa esquisita que é a "derrota" - julgo ser assim que se escreve o mal-fadado vocábulo.
Tudo o que é de mais é moléstia. E ganhar sempre também cansa. Adeptos dos outros clubes, acreditem em mim que eu sei o que vos digo, dêem graças a Deus (e, nalguns casos, a Jesus) por não saberem o que é ganhar sempre. Nem sabem a sorte que é poder injuriar de forma fundamentada as opções dos vossos técnicos. Quem me dera a mim puder fazê-lo também. Só que o sacana do Villas-Boas insiste em perceber muito de futebol. É assim a vida. Cada um tem a sorte que merece.
Amiudadas vezes dei comigo a imaginar como é que se articulava a frase "O Porto perdeu". Na imprensa, jornalistas e cronistas não tinham pejo em anunciar as nossas derrotas, só que anunciavam-nas sempre para o futuro, num tom de desejo. Havia, na sociedade portuguesa, uma incontrolável ânsia de igualdade: eram todos desgraçadinhos menos nós. O "nosso ganhar" era indigno de um país de pobrezinhos. Não havia direito de fazer aquilo que nós fazíamos, ou seja, ganhar.
Domingo foi o dia em que, depois de um longo jejum, sentimos pela primeira vez o sabor da derrota. A primeira derrota em seis meses. A imprensa lisboeta não tem dúvidas: o Futebol Clube do Porto está em crise. Perdemos contra o Nacional, num jogo de pouca importância, para a Taça da Liga. É certo que estivemos a ganhar, e podíamos, com um pouco mais de eficácia, ter mesmo levado de vencida a partida. Mas que importa isso, agora? O que importa é que as massas associativas dos outros clubes têm finalmente um motivo para festejar. Agora, somos todos iguais. Também nós sabemos o que é perder. E, convenhamos, perder, de longe a longe, até sabe bem.É refrescante experimentar sensações que nos são estranhas. Perder por sistema, como fazem os outros, é que é chato. Ainda assim, devo admitir que estava à espera que o sabor da derrota fosse mais gostoso. Se calhar vou esperar por uma derrota num jogo que realmente tenha importância. Dizem-me os meus amigos adeptos de outros clubes que as derrotas para o campeonato são as mais saborosas. Embora tenha um amigo sportinguista que prefere as derrotas para a Liga Europa. Enfim, vou, então, esperar que venham novas derrotas. Mas espero sentado, porque cheira-me que ainda vou ter que esperar um bocadinho.
Quanto mais o Porto ganhava, mais os portistas eram discriminados. A felicidade que trazíamos estampada no rosto enervava quem à nossa volta tentava controlar a azia de mais uma derrota. Na rua, no café, no emprego, o portista era alvo de olhares incriminatórios. Na paragem de autocarro, a felicidade do portista era imediatamente recriminada por um benfiquista que carregava o pesado fardo de uma goleada em Israel contra uma super-potência chamada Hapoel - que é, aliás, um bonito nome para um stand de automóveis usados.
A Nação Portista vivia numa espécie de cápsula na qual não havia maneira de a crise penetrar. Queríamos ser como os adeptos dos outros clubes, e criticar as escolhas do nosso técnico. Mas a realidade teimava em não nos conceder razões de queixa. Ansiávamos por conhecer a sensação de sair do estádio com o travo amargo da derrota. Mas derrota era, para nós, um fruto proibido. Nós queríamos provar esse fruto, mas a excelência do nosso plantel não nos permitia. Quando na televisão ouvíamos ser pronunciada a palavra "derrota", suspirávamos para fosse uma derrota do Porto. Mas, infelizmente, não. Nunca éramos nós a perder. Ou era o Sporting que tinha perdido por 3-2 com o V.Guimarães, depois de ter estado a ganhar por 0-2. Ou era o Benfica que tinha perdido 2-1 com a Académica, na Luz. Éramos o único clube na Europa que não perdia, e isso começava a irritar muita gente.
Um pouco por toda a Europa, há inúmeros relatos de emigrantes portistas que eram alvo de chacota. Adeptos do Barcelona que se abeiravam de portistas emigrados na Catalunha dizendo "Vocês não têm vergonha de serem tão bons? Até nós já perdemos com o Hércules, e vocês nada?! Ah, a propósito, querem trocar o Villas-Boas pelo Guardiola? Só para vos poupar à vergonha de serem invencíveis.". Os portistas eram mártires que sofriam na pele os sucessos da Pátria Azul e Branca . O número de portistas vítimas de dichotes, que visavam fazer-nos sentir culpados por sermos tão bons, não parava de aumentar . Mas os portistas sempre souberem resistir.
O Porto era, no fundo, a aldeia do Astérix numa Gália de perdedores. A derrota cirandava à nossa volta, mas não conseguia ultrapassar a robustez da nossa qualidade de jogo. Já desesperados, os sarracenos forçaram a entrada no nosso reduto. "Somos nós que os vamos derrotar", diziam eles. As suas tropas estavam sedentas de nos ver cair, pela primeira vez em meio-ano. Chegaram num autocarro encarnado, traziam os seus melhores legionários e a abundância de guarnições fazia temer o pior - ou, para mim, o melhor. Íamos finalmente sentir o eflúvio da derrota. Esperei ansiosamente por aquele jogo que ia pôr fim ao nosso ciclo de bons resultados. As tropas rivais que, já havíamos derrotado duas vezes durante o nosso longo percurso sem derrotas, bradava aos sete ventos que a nossa invencibilidade se devia ao facto de ainda não termos enfrentado uma equipa a sério - apesar de, repito, já os termos derrotado duas vezes. A imprensa, sempre fiel aos valores do centralismo, dizia que era desta que nós íamos perder.Não havia hipóteses. A sentença estava ditada a priori: estávamos condenados a perder naquele dia. Íamos ser triturados pelos Cruzados de Jesus. No entanto, para surpresa de todos, saímos de novo vitoriosos. E, desta vez, por números ainda mais retumbantes. Não foram 1 ou 2, nem 3 nem 4. Foram 5. Uma mão cheia (e uma mancheia) de tentos.
Mais uma vez, a teimosia dos nossos jogadores não nos deixava exprienciar a derrota. Só podia ser má-vontade. A fúria de Hulk, o calcanhar de Falcão e a classe de Varela eram os fortes argumentos que mantinham a nossa invencibilidade intocável, e a mim desolado por não conseguir provar essa coisa esquisita que é a "derrota" - julgo ser assim que se escreve o mal-fadado vocábulo.
Tudo o que é de mais é moléstia. E ganhar sempre também cansa. Adeptos dos outros clubes, acreditem em mim que eu sei o que vos digo, dêem graças a Deus (e, nalguns casos, a Jesus) por não saberem o que é ganhar sempre. Nem sabem a sorte que é poder injuriar de forma fundamentada as opções dos vossos técnicos. Quem me dera a mim puder fazê-lo também. Só que o sacana do Villas-Boas insiste em perceber muito de futebol. É assim a vida. Cada um tem a sorte que merece.
Amiudadas vezes dei comigo a imaginar como é que se articulava a frase "O Porto perdeu". Na imprensa, jornalistas e cronistas não tinham pejo em anunciar as nossas derrotas, só que anunciavam-nas sempre para o futuro, num tom de desejo. Havia, na sociedade portuguesa, uma incontrolável ânsia de igualdade: eram todos desgraçadinhos menos nós. O "nosso ganhar" era indigno de um país de pobrezinhos. Não havia direito de fazer aquilo que nós fazíamos, ou seja, ganhar.
Domingo foi o dia em que, depois de um longo jejum, sentimos pela primeira vez o sabor da derrota. A primeira derrota em seis meses. A imprensa lisboeta não tem dúvidas: o Futebol Clube do Porto está em crise. Perdemos contra o Nacional, num jogo de pouca importância, para a Taça da Liga. É certo que estivemos a ganhar, e podíamos, com um pouco mais de eficácia, ter mesmo levado de vencida a partida. Mas que importa isso, agora? O que importa é que as massas associativas dos outros clubes têm finalmente um motivo para festejar. Agora, somos todos iguais. Também nós sabemos o que é perder. E, convenhamos, perder, de longe a longe, até sabe bem.É refrescante experimentar sensações que nos são estranhas. Perder por sistema, como fazem os outros, é que é chato. Ainda assim, devo admitir que estava à espera que o sabor da derrota fosse mais gostoso. Se calhar vou esperar por uma derrota num jogo que realmente tenha importância. Dizem-me os meus amigos adeptos de outros clubes que as derrotas para o campeonato são as mais saborosas. Embora tenha um amigo sportinguista que prefere as derrotas para a Liga Europa. Enfim, vou, então, esperar que venham novas derrotas. Mas espero sentado, porque cheira-me que ainda vou ter que esperar um bocadinho.
Caro Escrevinhador:
ResponderEliminarSabe que lhe digo? Ainda bem que começou tendo como mote uma derrota… É que se assim não fosse aqueles adeptos das “equipas mais débeis a quem infligimos cabazadas de 5 a 0”, diriam: “Olha, não tem mais nada para falar, só vitórias, mais vitórias…”
Caro Amigo novo, bem-vindo, muito bem-vindo e parabéns por este belo post.
Um abraço azul forte.
Bibó Porto!
Eh lá mais uma contratação... E começa muito bem, sim senhor, promete...
ResponderEliminarUm grande abraço e felicidades aqui neste espaço de adoração ao nosso PORTO...
Como vai ser difícil passar todo este tempo até chegarmos a 2012...
ResponderEliminarSerá que não se pode arranjar até lá pelo menos uma derrotazinha? Sempre atenuava os malefícios da crise.
Caro Escrevinhador, que belo início! :)
ResponderEliminarMuito bem-vindo e parabéns pelo post!
Gostei muito.
ResponderEliminarParabéns!
uem escrevinha assim ... não é gago...
ResponderEliminarAbraço e logo, espero eu, ainda bem que bamos ganhar de novo...
Bem-vindo Escrevinhador... muito muito bom post! Os meus parabéns.
ResponderEliminarAté mais logo!
Abraço
Fez a sua apresentação , prometeu humor e defesa ao nosso Clube e cumpriu.
ResponderEliminarDei por mim ás gargalhadas no meio da crónica que classifico como sublime.
Marco uma frase que soltou uns sorrisos grandes aqui em casa "
Amiudadas vezes dei comigo a imaginar como é que se articulava a frase "O Porto perdeu""...
Está um grande inicio e espero que te mantenhas muito tempo por aqui.
Um grande abraço ao mais recente ponta de lança do BiboPorto.
Escrevinhador, muito bem vindo a este nosso espaço!;)
ResponderEliminarBIBÓ PORTO
eSCREVINHADOR,
ResponderEliminarem primeiro lugar, bem vindo a este espaço de tertúlia...
depois, dizer que, aposto muitas fichas na tua ironia mordaz e sarcástica, que aqui, e ainda ao de leve, já deste um cheirinho.
ficamos à espera de mais... e é deixá-los pousar, que quando elas começarem a cair, nem sabem de quel lado elas vão cair ;)