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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XVII)
Época 1939-1940
Troféu “O Século”
A 1 de Outubro de 1939, na sequência do 50.º aniversário do futebol em Portugal, o jornal "O Século" institui a Taça Monumental Bodas de Ouro do futebol português, para ser disputada entre os campeões da 1.ª e 2.ª Divisões. Em jogo efectuado na cidade do Porto, o FC Porto, campeão da 1.ª Divisão vence, por 8-0, o Carcavelinhos, campeão da 2.ª Divisão.
O Campeonato do Porto e o acesso ao Campeonato Nacional
O acesso ao Campeonato Nacional era conquistado pelas equipas através do regional. Estava estipulado que participavam as 4 melhores de Lisboa, as 2 melhores do Porto e os campeões de Coimbra e Setúbal. Fruto dos incidentes da época anterior, no FC Porto lavrava a revolta e os ânimos andavam exaltados…
• O jogo Académico – FC Porto
O jogo do Campeonato do Porto entre o Académico e o FC Porto, no Estádio do Lima, ficou tristemente célebre pelos incidentes ocorridos e deu lugar a complicadas e conturbadas manobras de bastidores.
Aos 18 minutos do famigerado jogo, Guilhar (FCP) e Raul (ACD) agrediram-se e o árbitro, Vale Ramos, expulsou ambos. Logo de seguida, António Santos (FCP), ao ser desarmado com dureza por Eliseu, reagiu, abrindo novo burburinho. O árbitro expulsou Pinga!
No reatamento da partida, Pocas (FCP) carregou Marques, que teve de abandonar o terreno, e o portista recebeu ordem de expulsão. Carlos Pereira também foi expulso (saber-se lá porquê…) e o FC Porto punido com uma grande penalidade que Soares dos Reis defendeu. A partir deste momento instalou-se a confusão total e deixou de se jogar futebol. O público insultava árbitro e jogadores e “inundava” o campo de almofadas e... aos 30 minutos, o portista Lopes Carneiro saiu do campo em braços. Dois minutos depois, foi o árbitro a abandonar o terreno com a cabeça a escorrer sangue, vítima de agressão vinda das bancadas, sendo substituído pelo seu juiz de linha. Que em braços, também, sairia do relvado, aos 43 minutos. E o fiscal de linha que ascendera a árbitro deu o jogo por terminado, por o FC Porto ter apenas cinco homens (Soares dos Reis, Zeca, António Santos, Pacheco e Carlos Nunes), decidindo, arbitrariamente, conceder a vitória ao Académico. (Nota: os regulamentos não consideravam, então, que equipa em flagrantíssima inferioridade numérica devesse ser, de imediato, declarada vencida).
Após a partida definitivamente interrompida, mantiveram-se os confrontos com cenas de farta pancadaria entre adeptos em sectores vários do campo.
• Leixões recusa o título e a FPF alargou o Campeonato Nacional
O erro técnico do juiz que deu o jogo por terminado foi, claro, bem e justamente aproveitado pelo FC Porto que protestou junto da Associação de Futebol do Porto. E, sem grande surpresa, a AFP mandou repetir a partida. O FC Porto venceu por 1-0. Parecia, assim, outra vez a caminho da vitória no Campeonato do Porto. Surpreendentemente deixou tudo em suspenso, baqueando, na Constituição, ante o Leixões (1-2). O sucesso no Campeonato ficaria irremediavelmente comprometido se lhe fossem retirados os pontos da vitória sobre o Académico, que recorrera para a FPF da decisão da AFP.
Sem espanto (pois claro…), Lisboa decidiu deferir o protesto do Académico, anular a decisão da APF e, contas feitas, o FC Porto descia, administrativamente, de primeiro para terceiro ficando fora do apuramento para o Nacional. Leixões (o Campeão) e Académico (vice-campeão) tinham, assim, direito à inclusão na prova.
Fazendo eco da ilógica e aberrante decisão federativa, o Leixões recusou o título de Campeão do Porto. Edmundo Ferreira, presidente leixonense, comunicou com voz forte e determinada: “O Leixões repudia a benesse. O meu clube não aceita título que não ganhou! O Leixões não quer ser campeão por favor. Não lhe assenta bem um título usurpado a outrem. Acho que foi infeliz a decisão da FPF! O FC Porto não merecia semelhante castigo, apenas para ser beneficiado um terceiro. Afinal, veio parar ao Leixões, que não sente nenhuma honra com o facto”. Que bela lição de desportivismo! Que bela lição do magnífico Leixões aos usurpadores da capital do Império!
A FPF, que abrira, afinal, a boceta de Pandora, que espalhara os maus ventos e colhera as tempestades, acabou por decidir alargar o Campeonato Nacional da I Divisão (de 8 para 10 equipas), para que o FC Porto pudesse ter acesso a ele, simplesmente porque as receitas dos seus jogos eram as que mais enchiam os cofres da Federação. Em 1938-39, por exemplo, o FC Porto batera o record de receitas de bilheteira, arrecadando 312 contos ao longo de todo o Campeonato. Os portistas, num impulso de orgulho, ainda contestaram o Campeonato alargado, ameaçando boicotá-lo se o Académico o disputasse, por defenderem que apenas o FC Porto e o Leixões tinham ganho tal direito em campo. Mas, os próprios interesses financeiros e o dinheiro que perderiam com o boicote, demoveram de tal intento os dirigentes azuis-e-brancos.
O alargamento beneficiou o V. Setúbal, segundo classificado no seu regional atrás do Barreirense.
César com cabeça na guilhotina e o castigo de Pinga
A FPF, que ainda não tinha enviado para o Porto a taça e as medalhas referentes à brilhante conquista do Campeonato Nacional da I Divisão da época anterior (1938-39), propôs ao seu Congresso a irradiação do Dr. Ângelo César Machado, presidente do FC Porto, por ter instado a equipa a abandonar o campo nas Amoreiras, no jogo com o Benfica, e pelas declarações que fizera em defesa do seu clube na questão do encontro anulado com o Académico do Porto. Mas, quiçá em jeito de compensação, decidiu ratificar a amnistia ao castigo de 365 dias (!) de suspensão a Pinga, acusado de ter agredido o árbitro Vale Ramos no famigerado jogo com o Académico. Só dos senhores da alfacinha Federação…
As travessuras dos supercampeões antes dos jogos a sério e a “pesca” a Leste
• Antes do arranque para o Campeonato de 1939-40, o FC Porto realizou, em dois dias (!), dois jogos com o Sporting. Um no Porto, outro em Lisboa, para apresentação do seu novo reforço, o jugoslavo Petrak. Na Constituição, derrota por 2-7. No Lumiar, 2-5.
• Ângelo César, apesar de sentir sobre a cabeça a espada da FPF, continuava a gerir o clube, mantendo Miguel Siska como treinador. E decidiu criar no FC Porto o cargo de consultor técnico, atribuído a João Cal. Depois da contratação de Petrak, voltou a lançar redes para o mercado da Europa do Leste e acertou a vinda do também jugoslavo Kordnya e do guarda-redes húngaro Bela Andrasik.
Abertura com vitória esmagadora e estreia auspiciosa de jogador de Leste
14 Jan.1940 – Na 1.ª jornada do Nacional da I Divisão, o FC Porto, perante o seu público, esmagou o Vitória de Setúbal por 11-0! Quem protagonizou estreia auspiciosa na equipa de Siska foi o avançado jugoslavo Slavkoo Kordnya, que, logo aos dois minutos, com um pontapé de mais de 20 metros, abriu o activo. O FC Porto teve um início de Campeonato prometedor e alinhou com:
Soares dos Reis; Fernando Sacadura e Vítor Guilhar; António Baptista, Carlos Pereira e Manuel Anjos (Pocas); Carlos Nunes, António Santos, Kordnya, Gomes das Costa e Petrak.
Franjo Petrak, o outro reforço jugoslavo contratado pelo Presidente Ângelo César e cuja apresentação ocorrera em jogo particular com o Sporting, também actuou no ataque portista evidenciando qualidades de grande futebolista.
Suspensões e multas, disciplina a imperar
• Soares dos Reis e Carlos Nunes envolveram-se em desordem, durante um treino, no campo da Constituição. Depois das averiguações, a mão pesada da direcção, sem complacências: o guarda-redes foi castigado (um mês de suspensão e 200 esc. de multa), o avançado e "capitão" suspenso de toda a actividade e multado em 750 escudos.
• Igualmente inibido dos seus direitos de jogador e suspenso de toda a actividade, Lopes Carneiro. Faltou a um treino sem motivo justificado e foi multado em 50 escudos. "Mas se devia acatar, com respeito, a decisão dos dirigentes", preferiu responder em termos insultuosos o que, inevitavelmente, lhe agravou a pena.
De vento em popa apesar dos contratempos
Rosado, guarda-redes do FC Porto, segura a bola protegido pelos seus defesas
• 18 Fev.1940 – À 5.ª jornada o FC Porto somava o máximo de pontos possíveis, 10! Na Constituição bateu o Sporting por 4-2, alinhando com: Rosado (no lugar de Soares dos Reis); Castro Ferreira e Guilhar; Pocas, Carlos Pereira e António Baptista; António Santos, Pinga, Kordnya, Gomes das Costa e Petrak.
• Após nova vitória (2-0) sobre a Académica, em Coimbra, Petrak mostrou-se agastado com a forma como os opositores jogavam: "Terrível o que se passou em Coimbra. Já joguei em França, na Itália, na Suiça e nunca vi tanta violência como a que os nossos adversários empregam. Agora percebo o que me disseram há tempos – quando jogam com o FC Porto, dizem de si para si: aquilo vai ser tudo a varrer… Os jogadores do FC Porto são para abater. Com mais nenhuns eles fazem isto! Nós somos profissionais, não podemos estar sujeitos à única intenção que é eliminar-nos de campo… Grave é que os árbitros condescendem".
A chegada de Bela Andrasik
Contratado há algum tempo, finalmente chegou ao Porto o guarda-redes húngaro Bela Andrasik, que jogava na Checoslováquia. Tinha 26 anos. Já na Cidade Invicta, esteve um mês sem poder alinhar pela sua nova equipa, devido a questões burocráticas e entraves colocados pela FPF, Federação Portuguesa de Futebol. Os "poderes" da capital…!!! Só no fim da primeira volta do Campeonato, depois dos jogos com o Belenenses (em Lisboa) e com o Benfica (no reduto portista) – saldados por mais duas vitórias portistas – Andrasik viu autorizada a sua utilização. Está-se mesmo a ver, sempre os poderes dos senhores da capital…!!!
A caminho do primeiro bi e nona vitória consecutiva
• Vitórias em Lisboa – Duas deslocações a Lisboa, nada fáceis, para o Campeonato Nacional de 1939-40. Em cima, golo do Carcavelinhos, mas o FC Porto triunfaria por 3-2. Em baixo, uma semana depois, nas Salésias, contra o Belenenses, novo triunfo por 1-0. O título estava perto.
Kordnya, o goleador, e Salvador – Kordnya não deixou os seus créditos por mãos alheias e, mais uma vez, deu a vitória (1-0) ao FC Porto frente ao Belenenses, em Lisboa. Para isso teve de bater Salvador, um excelente guarda-redes que não foi… o salvador de Belém.
• Vitória no Porto (17 Mar.1940) – A fechar a primeira metade do Campeonato, o FC Porto recebeu e venceu o Benfica por 4-2. Era a nona vitória consecutiva! Marcadores: António Santos, Kordnya (2) e Gomes da Costa, pelo FC Porto; Lourenço e Rodrigues, pelo Benfica.
Manobras de bastidores e castigo imposto a Petrak
10.ª jornada – O FC Porto jogou em Setúbal e ganhou por 4-0. Petrak foi castigado, pela FPF, com 45 dias de suspensão. Castigo polémico e misterioso. Petrak não foi expulso, mas… o relatório do árbitro anunciou que sim…!!! No jornal "Sport" escreveu-se:
"…Decorreram 24 horas, uma viagem de Setúbal até Santarém – através de Lisboa… – e um castigo de 45 dias aplicado ao jogador portuense. Se em qualquer altura uma penalidade destas pouco pode influir, neste momento em que dois clubes (FC Porto e Sporting) marcham quase a par para a conquista do título, ela representa um handicap formidável concedido a um dos interessados e é justamente essa dádiva que necessita de investigação, para ver como é possível a um árbitro mudar de opinião, sobre o que se passou, 24 horas após o jogo".
E o título do artigo permitia que se lançassem suspeições: “Quanto recebeu o árbitro do Vitória – FC Porto para mudar de opinião?”.
Bem, mais uma dos… “poderes” de Lisboa…!!!
13 vitórias consecutivas: um recorde até hoje inigualável… não fosse Mourinho igualá-lo em 2002/2003 e… Villas Boas batê-lo em 2010/2011
No FC Porto os melhores registos de vitórias consecutivas num Campeonato pertencem a Miguel Siska e a José Mourinho (13 vitórias consecutivas)a António Oliveira (15) e, – recorde dos recordes – a André Villas Boas (16 vitórias consecutivas).
► 13 vitórias consecutivas - Miguel Siska, nesta época de 1939-1940, orientou e levou a equipa do FC Porto à impressionante marca no início do Campeonato Nacional (1.ª à 13.ª jornada);
► 13 vitórias consecutivas - José Mourinho, em 2002-2003, igualaria o feito de Siska: entre a 9.ª e a 21.ª jornada conduziu o FC Porto a vencer consecutivamente.
► 15 vitórias consecutivas – António Oliveira, em 1996-1997, bateu a marca anterior: entre a 6.ª e a 20.ª jornada levou a equipa portista a 15 vitórias seguidas.
► 16 vitórias consecutivas – André Villas Boas, em 2010-2011, ultrapassou espectacularmente as marcas de Siska, Mourinho e Oliveira. Entre a 13.ª e a 28.ª jornada os comandados de AVB conquistaram 16 triunfos. Magnífico!
Percalço no Lumiar e vitória em “casa” da águia
• 14.ª jornada (21 Abr.1940) – Percalço no Lumiar: a visita ao Sporting foi menos afortunada. Bateram-se bem as equipas, marcaram-se sete golos, mas a vitória sorriu aos leões (4-3) com o golo da vitória marcado a 20 segundos do fim. Depois de 13 vitórias consecutivas, o Porto sofria assim a única derrota no Campeonato mas continuava em primeiro. A última jornada seria decisiva com a visita ao Benfica, já afastado do título, mas com o Sporting à espreita. Na imagem, Bela Andrasik, o guardião portista, está em acção.
• 18.ª e última jornada (19 Mai.1940) – Preciosa vitória: os defesas do FC Porto em árduo despique com os avançados do Benfica. Jogava-se, para a última jornada do Campeonato, em “casa” dos encarnados, no campo das Amoreiras, Lisboa. Aos azuis-e-brancos bastava o empate. Com as bancadas à pinha, um mar de bandeiras portistas… Muitas bandeiras sportinguistas entre as poucas vermelhas... Em partida épica o FC Porto acabou por ganhar por 3-2; o FC Porto fazia o "bis" de Campeão Nacional!
Nota - 71 anos depois, na época de 2010-2011, o FC Porto reeditou a proeza: ir vencer ao bastião dos encarnados e sagrar-se Campeão Nacional! Mas, desta vez, os comandados de André Villas Boas tiveram direito a festa com apagar de luzes e bem regada… de água!
Triunfo suado e saudado pelos jogadores e adeptos; a festa do Povo
• Os jogadores portistas em campo, rostos cobertos de gotas de suor, lágrimas nos olhos, corações quentes de júbilo, foram, em bloco, saudar todos os adeptos que haviam viajado do Norte em comboio especial. No meio das felicitações, a emoção elevada ao seu expoente máximo. Todos sentiam que aquela vitória era a desforra por todos os contratempos – e era mais um triunfo do Porto sobre Lisboa. Com um toque eslavo (Andrasik, Petrak e Kordnya)...
• Outra vez impressionante a festa na Invicta. Recepção histórica dos portuenses e adeptos do FC Porto à equipa vitoriosa em Lisboa. Milhares de pessoas juntaram-se na estação de S. Bento numa das maiores concentrações de sempre na cidade. Oceano azul contagiante. Idolatria à solta por avenidas, quelhos, becos e bairros. Ruas cheias de gente em júbilo. Bandeiras tremulando ao vento, os heróis em passeio apoteótico, como se aquela mole de gente descobrisse a glória e o sentido de existir com a pronúncia do Norte nas pernas, nos golos e no êxito de todos os que jogaram lá dentro, mas que não venceram sozinhos... Esplêndida glorificação de um FC Porto porta-estandarte de uma luta, de uma alegoria casada com a abnegação. Outra vez a cidade transformada; agora, num grandioso Passeio Alegre. [Triunfo suado: In “Glória e Vida de Três Gigantes” – Adaptação]
Glória ao Bicampeão Nacional!
Campeonato Nacional da 1.ª Divisão (1939-1940)
FC Porto – Plantel Campeão
(18j, 17v, 0e, 1d, 76-21, 34p)
Treinador: Mihaly Siska (húngaro).
Jogadores/Jogos: Carlos Pereira (18j); Manuel Anjos (Pocas) (18j); Slavkoo Kordnya (18j); Vítor Guilhar (18j); António Santos (17j); Gomes da Costa (17j); Joaquim Pereira da Silva (17j); Artur Sousa (Pinga) (15j); Franjo Petrak (15j); António Baptista da Costa (9j); M. Pereira Silva (Rosado) (9j); José Baptista (9j); Bela Andrasik (8j); José Castro Ferreira (4j); Adélio Guilherme Pacheco (1j); Carlos Nunes (1j); Fernando de Sousa Sacadura (1j); Guilhermino Sárrea (1j); Lopes Carneiro (1j); Soares dos Reis (1j).
Golos: Slavkoo Kordnya (29g); Franjo Petrak (15g); Gomes da Costa (10g); António Santos (9g); Artur Sousa (Pinga) (8g); Castro Ferreira (2g); Carlos Nunes (1g); Carlos Pereira (1g); Guilherme Sárrea (1g).
FC Porto, Bicampeão! – A equipa do FC Porto bicampeã nacional na época 1939-40
De pé: Miguel Siska (treinador), Petrak, Carlos Pereira, Kordnya, Manuel Anjos (Poças), António Baptista, Vítor Guilhar e Francisco Gonçalves (massagista);
em baixo: António Santos, J. Pereira da Silva (?), Gomes da Costa, Bela Andrasik (guarda-redes) e Artur de Sousa "Pinga".
Depois de um atribulado jogo com o Académico do Porto (durou apenas… 43 minutos), depois dos protestos, recursos e mais recursos de ambas as partes, depois da decisão da APF (Associação de Futebol do Porto), a decisão contrária, "soberana" e definitiva decisão da FPF que relegava o FC Porto para o terceiro lugar no Campeonato do Porto e o afastava da disputa do Campeonato Nacional da I Divisão onde era colocado o Leixões. A ilógica da determinação federativa era tal, que a formação de Matosinhos recusou o lugar, alegando que a equipa que deveria estar por direito na fase final era o FC Porto. E o FC Porto acabou por participar no campeonato por causa de um artifício administrativo. A Federação Portuguesa de Futebol que espalhara os maus ventos, que fabricara o mal e a confusão, fez, por interesses de ordem financeira, o alargamento (de 8 para 10 equipas) à pressa e as portas abriram-se, repôs-se a justiça. O Porto, com Miguel Siska no comando técnico, provou então que era a melhor equipa nacional. Os portistas foram campeões e estiveram quase a consegui-lo sem derrotas mas, a 21 de Abril de 1940, perderam no Lumiar. O Sporting venceu por 4-3 com o golo da vitória a ser marcado a 20 segundos do fim. Nos restantes jogos, só vitórias (17) e 13 consecutivas – um recorde!
Na equipa distinguiam-se os croatas Petrak e Kordnya, este, juntamente com Peyroteu (Sporting), o melhor marcador do Campeonato (29 golos cada). Realce-se que os compatriotas só à sua conta apontaram 44 dos 76 golos da equipa na prova. O FC Porto sagrou-se Campeão com 2 pontos de avanço sobre o Sporting, 9 sobre o Belenenses e 11 sobre o Benfica.
Para a história: os Bicampeões!
Estes foram os 12 jogadores que estiveram nos dois títulos (1938-39 e 1939-40), os primeiros BICAMPEÕES do FC Porto:
António Baptista, António Santos, Carlos Nunes, Carlos Pereira, Castro Ferreira, Fernando Sacadura, M. Pereira da Silva (Rosado), Lopes Carneiro, Manuel Anjos (Pocas), Artur de Sousa “Pinga”, Soares dos Reis e Vítor Guilhar.
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XVII)
Época 1939-1940
Troféu “O Século”
A 1 de Outubro de 1939, na sequência do 50.º aniversário do futebol em Portugal, o jornal "O Século" institui a Taça Monumental Bodas de Ouro do futebol português, para ser disputada entre os campeões da 1.ª e 2.ª Divisões. Em jogo efectuado na cidade do Porto, o FC Porto, campeão da 1.ª Divisão vence, por 8-0, o Carcavelinhos, campeão da 2.ª Divisão.
O Campeonato do Porto e o acesso ao Campeonato Nacional
O acesso ao Campeonato Nacional era conquistado pelas equipas através do regional. Estava estipulado que participavam as 4 melhores de Lisboa, as 2 melhores do Porto e os campeões de Coimbra e Setúbal. Fruto dos incidentes da época anterior, no FC Porto lavrava a revolta e os ânimos andavam exaltados…
• O jogo Académico – FC Porto
O jogo do Campeonato do Porto entre o Académico e o FC Porto, no Estádio do Lima, ficou tristemente célebre pelos incidentes ocorridos e deu lugar a complicadas e conturbadas manobras de bastidores.
Aos 18 minutos do famigerado jogo, Guilhar (FCP) e Raul (ACD) agrediram-se e o árbitro, Vale Ramos, expulsou ambos. Logo de seguida, António Santos (FCP), ao ser desarmado com dureza por Eliseu, reagiu, abrindo novo burburinho. O árbitro expulsou Pinga!
No reatamento da partida, Pocas (FCP) carregou Marques, que teve de abandonar o terreno, e o portista recebeu ordem de expulsão. Carlos Pereira também foi expulso (saber-se lá porquê…) e o FC Porto punido com uma grande penalidade que Soares dos Reis defendeu. A partir deste momento instalou-se a confusão total e deixou de se jogar futebol. O público insultava árbitro e jogadores e “inundava” o campo de almofadas e... aos 30 minutos, o portista Lopes Carneiro saiu do campo em braços. Dois minutos depois, foi o árbitro a abandonar o terreno com a cabeça a escorrer sangue, vítima de agressão vinda das bancadas, sendo substituído pelo seu juiz de linha. Que em braços, também, sairia do relvado, aos 43 minutos. E o fiscal de linha que ascendera a árbitro deu o jogo por terminado, por o FC Porto ter apenas cinco homens (Soares dos Reis, Zeca, António Santos, Pacheco e Carlos Nunes), decidindo, arbitrariamente, conceder a vitória ao Académico. (Nota: os regulamentos não consideravam, então, que equipa em flagrantíssima inferioridade numérica devesse ser, de imediato, declarada vencida).
Após a partida definitivamente interrompida, mantiveram-se os confrontos com cenas de farta pancadaria entre adeptos em sectores vários do campo.
• Leixões recusa o título e a FPF alargou o Campeonato Nacional
O erro técnico do juiz que deu o jogo por terminado foi, claro, bem e justamente aproveitado pelo FC Porto que protestou junto da Associação de Futebol do Porto. E, sem grande surpresa, a AFP mandou repetir a partida. O FC Porto venceu por 1-0. Parecia, assim, outra vez a caminho da vitória no Campeonato do Porto. Surpreendentemente deixou tudo em suspenso, baqueando, na Constituição, ante o Leixões (1-2). O sucesso no Campeonato ficaria irremediavelmente comprometido se lhe fossem retirados os pontos da vitória sobre o Académico, que recorrera para a FPF da decisão da AFP.
Sem espanto (pois claro…), Lisboa decidiu deferir o protesto do Académico, anular a decisão da APF e, contas feitas, o FC Porto descia, administrativamente, de primeiro para terceiro ficando fora do apuramento para o Nacional. Leixões (o Campeão) e Académico (vice-campeão) tinham, assim, direito à inclusão na prova.
Fazendo eco da ilógica e aberrante decisão federativa, o Leixões recusou o título de Campeão do Porto. Edmundo Ferreira, presidente leixonense, comunicou com voz forte e determinada: “O Leixões repudia a benesse. O meu clube não aceita título que não ganhou! O Leixões não quer ser campeão por favor. Não lhe assenta bem um título usurpado a outrem. Acho que foi infeliz a decisão da FPF! O FC Porto não merecia semelhante castigo, apenas para ser beneficiado um terceiro. Afinal, veio parar ao Leixões, que não sente nenhuma honra com o facto”. Que bela lição de desportivismo! Que bela lição do magnífico Leixões aos usurpadores da capital do Império!
A FPF, que abrira, afinal, a boceta de Pandora, que espalhara os maus ventos e colhera as tempestades, acabou por decidir alargar o Campeonato Nacional da I Divisão (de 8 para 10 equipas), para que o FC Porto pudesse ter acesso a ele, simplesmente porque as receitas dos seus jogos eram as que mais enchiam os cofres da Federação. Em 1938-39, por exemplo, o FC Porto batera o record de receitas de bilheteira, arrecadando 312 contos ao longo de todo o Campeonato. Os portistas, num impulso de orgulho, ainda contestaram o Campeonato alargado, ameaçando boicotá-lo se o Académico o disputasse, por defenderem que apenas o FC Porto e o Leixões tinham ganho tal direito em campo. Mas, os próprios interesses financeiros e o dinheiro que perderiam com o boicote, demoveram de tal intento os dirigentes azuis-e-brancos.
O alargamento beneficiou o V. Setúbal, segundo classificado no seu regional atrás do Barreirense.
César com cabeça na guilhotina e o castigo de Pinga
A FPF, que ainda não tinha enviado para o Porto a taça e as medalhas referentes à brilhante conquista do Campeonato Nacional da I Divisão da época anterior (1938-39), propôs ao seu Congresso a irradiação do Dr. Ângelo César Machado, presidente do FC Porto, por ter instado a equipa a abandonar o campo nas Amoreiras, no jogo com o Benfica, e pelas declarações que fizera em defesa do seu clube na questão do encontro anulado com o Académico do Porto. Mas, quiçá em jeito de compensação, decidiu ratificar a amnistia ao castigo de 365 dias (!) de suspensão a Pinga, acusado de ter agredido o árbitro Vale Ramos no famigerado jogo com o Académico. Só dos senhores da alfacinha Federação…
As travessuras dos supercampeões antes dos jogos a sério e a “pesca” a Leste
• Antes do arranque para o Campeonato de 1939-40, o FC Porto realizou, em dois dias (!), dois jogos com o Sporting. Um no Porto, outro em Lisboa, para apresentação do seu novo reforço, o jugoslavo Petrak. Na Constituição, derrota por 2-7. No Lumiar, 2-5.
• Ângelo César, apesar de sentir sobre a cabeça a espada da FPF, continuava a gerir o clube, mantendo Miguel Siska como treinador. E decidiu criar no FC Porto o cargo de consultor técnico, atribuído a João Cal. Depois da contratação de Petrak, voltou a lançar redes para o mercado da Europa do Leste e acertou a vinda do também jugoslavo Kordnya e do guarda-redes húngaro Bela Andrasik.
Abertura com vitória esmagadora e estreia auspiciosa de jogador de Leste
14 Jan.1940 – Na 1.ª jornada do Nacional da I Divisão, o FC Porto, perante o seu público, esmagou o Vitória de Setúbal por 11-0! Quem protagonizou estreia auspiciosa na equipa de Siska foi o avançado jugoslavo Slavkoo Kordnya, que, logo aos dois minutos, com um pontapé de mais de 20 metros, abriu o activo. O FC Porto teve um início de Campeonato prometedor e alinhou com:
Soares dos Reis; Fernando Sacadura e Vítor Guilhar; António Baptista, Carlos Pereira e Manuel Anjos (Pocas); Carlos Nunes, António Santos, Kordnya, Gomes das Costa e Petrak.
Franjo Petrak, o outro reforço jugoslavo contratado pelo Presidente Ângelo César e cuja apresentação ocorrera em jogo particular com o Sporting, também actuou no ataque portista evidenciando qualidades de grande futebolista.
Suspensões e multas, disciplina a imperar
• Soares dos Reis e Carlos Nunes envolveram-se em desordem, durante um treino, no campo da Constituição. Depois das averiguações, a mão pesada da direcção, sem complacências: o guarda-redes foi castigado (um mês de suspensão e 200 esc. de multa), o avançado e "capitão" suspenso de toda a actividade e multado em 750 escudos.
• Igualmente inibido dos seus direitos de jogador e suspenso de toda a actividade, Lopes Carneiro. Faltou a um treino sem motivo justificado e foi multado em 50 escudos. "Mas se devia acatar, com respeito, a decisão dos dirigentes", preferiu responder em termos insultuosos o que, inevitavelmente, lhe agravou a pena.
De vento em popa apesar dos contratempos
Rosado, guarda-redes do FC Porto, segura a bola protegido pelos seus defesas
• 18 Fev.1940 – À 5.ª jornada o FC Porto somava o máximo de pontos possíveis, 10! Na Constituição bateu o Sporting por 4-2, alinhando com: Rosado (no lugar de Soares dos Reis); Castro Ferreira e Guilhar; Pocas, Carlos Pereira e António Baptista; António Santos, Pinga, Kordnya, Gomes das Costa e Petrak.
• Após nova vitória (2-0) sobre a Académica, em Coimbra, Petrak mostrou-se agastado com a forma como os opositores jogavam: "Terrível o que se passou em Coimbra. Já joguei em França, na Itália, na Suiça e nunca vi tanta violência como a que os nossos adversários empregam. Agora percebo o que me disseram há tempos – quando jogam com o FC Porto, dizem de si para si: aquilo vai ser tudo a varrer… Os jogadores do FC Porto são para abater. Com mais nenhuns eles fazem isto! Nós somos profissionais, não podemos estar sujeitos à única intenção que é eliminar-nos de campo… Grave é que os árbitros condescendem".
A chegada de Bela Andrasik
Contratado há algum tempo, finalmente chegou ao Porto o guarda-redes húngaro Bela Andrasik, que jogava na Checoslováquia. Tinha 26 anos. Já na Cidade Invicta, esteve um mês sem poder alinhar pela sua nova equipa, devido a questões burocráticas e entraves colocados pela FPF, Federação Portuguesa de Futebol. Os "poderes" da capital…!!! Só no fim da primeira volta do Campeonato, depois dos jogos com o Belenenses (em Lisboa) e com o Benfica (no reduto portista) – saldados por mais duas vitórias portistas – Andrasik viu autorizada a sua utilização. Está-se mesmo a ver, sempre os poderes dos senhores da capital…!!!
A caminho do primeiro bi e nona vitória consecutiva
• Vitórias em Lisboa – Duas deslocações a Lisboa, nada fáceis, para o Campeonato Nacional de 1939-40. Em cima, golo do Carcavelinhos, mas o FC Porto triunfaria por 3-2. Em baixo, uma semana depois, nas Salésias, contra o Belenenses, novo triunfo por 1-0. O título estava perto.
Kordnya, o goleador, e Salvador – Kordnya não deixou os seus créditos por mãos alheias e, mais uma vez, deu a vitória (1-0) ao FC Porto frente ao Belenenses, em Lisboa. Para isso teve de bater Salvador, um excelente guarda-redes que não foi… o salvador de Belém.
• Vitória no Porto (17 Mar.1940) – A fechar a primeira metade do Campeonato, o FC Porto recebeu e venceu o Benfica por 4-2. Era a nona vitória consecutiva! Marcadores: António Santos, Kordnya (2) e Gomes da Costa, pelo FC Porto; Lourenço e Rodrigues, pelo Benfica.
Manobras de bastidores e castigo imposto a Petrak
10.ª jornada – O FC Porto jogou em Setúbal e ganhou por 4-0. Petrak foi castigado, pela FPF, com 45 dias de suspensão. Castigo polémico e misterioso. Petrak não foi expulso, mas… o relatório do árbitro anunciou que sim…!!! No jornal "Sport" escreveu-se:
"…Decorreram 24 horas, uma viagem de Setúbal até Santarém – através de Lisboa… – e um castigo de 45 dias aplicado ao jogador portuense. Se em qualquer altura uma penalidade destas pouco pode influir, neste momento em que dois clubes (FC Porto e Sporting) marcham quase a par para a conquista do título, ela representa um handicap formidável concedido a um dos interessados e é justamente essa dádiva que necessita de investigação, para ver como é possível a um árbitro mudar de opinião, sobre o que se passou, 24 horas após o jogo".
E o título do artigo permitia que se lançassem suspeições: “Quanto recebeu o árbitro do Vitória – FC Porto para mudar de opinião?”.
Bem, mais uma dos… “poderes” de Lisboa…!!!
13 vitórias consecutivas: um recorde até hoje inigualável… não fosse Mourinho igualá-lo em 2002/2003 e… Villas Boas batê-lo em 2010/2011
No FC Porto os melhores registos de vitórias consecutivas num Campeonato pertencem a Miguel Siska e a José Mourinho (13 vitórias consecutivas)a António Oliveira (15) e, – recorde dos recordes – a André Villas Boas (16 vitórias consecutivas).
► 13 vitórias consecutivas - Miguel Siska, nesta época de 1939-1940, orientou e levou a equipa do FC Porto à impressionante marca no início do Campeonato Nacional (1.ª à 13.ª jornada);
► 13 vitórias consecutivas - José Mourinho, em 2002-2003, igualaria o feito de Siska: entre a 9.ª e a 21.ª jornada conduziu o FC Porto a vencer consecutivamente.
► 15 vitórias consecutivas – António Oliveira, em 1996-1997, bateu a marca anterior: entre a 6.ª e a 20.ª jornada levou a equipa portista a 15 vitórias seguidas.
► 16 vitórias consecutivas – André Villas Boas, em 2010-2011, ultrapassou espectacularmente as marcas de Siska, Mourinho e Oliveira. Entre a 13.ª e a 28.ª jornada os comandados de AVB conquistaram 16 triunfos. Magnífico!
Percalço no Lumiar e vitória em “casa” da águia
• 14.ª jornada (21 Abr.1940) – Percalço no Lumiar: a visita ao Sporting foi menos afortunada. Bateram-se bem as equipas, marcaram-se sete golos, mas a vitória sorriu aos leões (4-3) com o golo da vitória marcado a 20 segundos do fim. Depois de 13 vitórias consecutivas, o Porto sofria assim a única derrota no Campeonato mas continuava em primeiro. A última jornada seria decisiva com a visita ao Benfica, já afastado do título, mas com o Sporting à espreita. Na imagem, Bela Andrasik, o guardião portista, está em acção.
• 18.ª e última jornada (19 Mai.1940) – Preciosa vitória: os defesas do FC Porto em árduo despique com os avançados do Benfica. Jogava-se, para a última jornada do Campeonato, em “casa” dos encarnados, no campo das Amoreiras, Lisboa. Aos azuis-e-brancos bastava o empate. Com as bancadas à pinha, um mar de bandeiras portistas… Muitas bandeiras sportinguistas entre as poucas vermelhas... Em partida épica o FC Porto acabou por ganhar por 3-2; o FC Porto fazia o "bis" de Campeão Nacional!
Nota - 71 anos depois, na época de 2010-2011, o FC Porto reeditou a proeza: ir vencer ao bastião dos encarnados e sagrar-se Campeão Nacional! Mas, desta vez, os comandados de André Villas Boas tiveram direito a festa com apagar de luzes e bem regada… de água!
Triunfo suado e saudado pelos jogadores e adeptos; a festa do Povo
• Os jogadores portistas em campo, rostos cobertos de gotas de suor, lágrimas nos olhos, corações quentes de júbilo, foram, em bloco, saudar todos os adeptos que haviam viajado do Norte em comboio especial. No meio das felicitações, a emoção elevada ao seu expoente máximo. Todos sentiam que aquela vitória era a desforra por todos os contratempos – e era mais um triunfo do Porto sobre Lisboa. Com um toque eslavo (Andrasik, Petrak e Kordnya)...
• Outra vez impressionante a festa na Invicta. Recepção histórica dos portuenses e adeptos do FC Porto à equipa vitoriosa em Lisboa. Milhares de pessoas juntaram-se na estação de S. Bento numa das maiores concentrações de sempre na cidade. Oceano azul contagiante. Idolatria à solta por avenidas, quelhos, becos e bairros. Ruas cheias de gente em júbilo. Bandeiras tremulando ao vento, os heróis em passeio apoteótico, como se aquela mole de gente descobrisse a glória e o sentido de existir com a pronúncia do Norte nas pernas, nos golos e no êxito de todos os que jogaram lá dentro, mas que não venceram sozinhos... Esplêndida glorificação de um FC Porto porta-estandarte de uma luta, de uma alegoria casada com a abnegação. Outra vez a cidade transformada; agora, num grandioso Passeio Alegre. [Triunfo suado: In “Glória e Vida de Três Gigantes” – Adaptação]
Glória ao Bicampeão Nacional!
Campeonato Nacional da 1.ª Divisão (1939-1940)
FC Porto – Plantel Campeão
(18j, 17v, 0e, 1d, 76-21, 34p)
Treinador: Mihaly Siska (húngaro).
Jogadores/Jogos: Carlos Pereira (18j); Manuel Anjos (Pocas) (18j); Slavkoo Kordnya (18j); Vítor Guilhar (18j); António Santos (17j); Gomes da Costa (17j); Joaquim Pereira da Silva (17j); Artur Sousa (Pinga) (15j); Franjo Petrak (15j); António Baptista da Costa (9j); M. Pereira Silva (Rosado) (9j); José Baptista (9j); Bela Andrasik (8j); José Castro Ferreira (4j); Adélio Guilherme Pacheco (1j); Carlos Nunes (1j); Fernando de Sousa Sacadura (1j); Guilhermino Sárrea (1j); Lopes Carneiro (1j); Soares dos Reis (1j).
Golos: Slavkoo Kordnya (29g); Franjo Petrak (15g); Gomes da Costa (10g); António Santos (9g); Artur Sousa (Pinga) (8g); Castro Ferreira (2g); Carlos Nunes (1g); Carlos Pereira (1g); Guilherme Sárrea (1g).
FC Porto, Bicampeão! – A equipa do FC Porto bicampeã nacional na época 1939-40
De pé: Miguel Siska (treinador), Petrak, Carlos Pereira, Kordnya, Manuel Anjos (Poças), António Baptista, Vítor Guilhar e Francisco Gonçalves (massagista);
em baixo: António Santos, J. Pereira da Silva (?), Gomes da Costa, Bela Andrasik (guarda-redes) e Artur de Sousa "Pinga".
Depois de um atribulado jogo com o Académico do Porto (durou apenas… 43 minutos), depois dos protestos, recursos e mais recursos de ambas as partes, depois da decisão da APF (Associação de Futebol do Porto), a decisão contrária, "soberana" e definitiva decisão da FPF que relegava o FC Porto para o terceiro lugar no Campeonato do Porto e o afastava da disputa do Campeonato Nacional da I Divisão onde era colocado o Leixões. A ilógica da determinação federativa era tal, que a formação de Matosinhos recusou o lugar, alegando que a equipa que deveria estar por direito na fase final era o FC Porto. E o FC Porto acabou por participar no campeonato por causa de um artifício administrativo. A Federação Portuguesa de Futebol que espalhara os maus ventos, que fabricara o mal e a confusão, fez, por interesses de ordem financeira, o alargamento (de 8 para 10 equipas) à pressa e as portas abriram-se, repôs-se a justiça. O Porto, com Miguel Siska no comando técnico, provou então que era a melhor equipa nacional. Os portistas foram campeões e estiveram quase a consegui-lo sem derrotas mas, a 21 de Abril de 1940, perderam no Lumiar. O Sporting venceu por 4-3 com o golo da vitória a ser marcado a 20 segundos do fim. Nos restantes jogos, só vitórias (17) e 13 consecutivas – um recorde!
Na equipa distinguiam-se os croatas Petrak e Kordnya, este, juntamente com Peyroteu (Sporting), o melhor marcador do Campeonato (29 golos cada). Realce-se que os compatriotas só à sua conta apontaram 44 dos 76 golos da equipa na prova. O FC Porto sagrou-se Campeão com 2 pontos de avanço sobre o Sporting, 9 sobre o Belenenses e 11 sobre o Benfica.
Para a história: os Bicampeões!
Estes foram os 12 jogadores que estiveram nos dois títulos (1938-39 e 1939-40), os primeiros BICAMPEÕES do FC Porto:
António Baptista, António Santos, Carlos Nunes, Carlos Pereira, Castro Ferreira, Fernando Sacadura, M. Pereira da Silva (Rosado), Lopes Carneiro, Manuel Anjos (Pocas), Artur de Sousa “Pinga”, Soares dos Reis e Vítor Guilhar.
- No próximo post.: Capítulo 4, 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte XVIII) – Taça de Portugal 1939-40; biografias de Kordnya, Petrak, Andrasik, António Santos e Pinga.
Mais uma e que boa parcela da nossa História do F. C. Porto, com tantos pormenores curiosos, narrações de episódios recambulescos e demonstrações de jogos de bastidores dos que sempre procuraram prejudicar o FCP. Tal qual se vê que as taças e reconhecimentos tardam, desde tempos remotos, a ser entregues e a honrarem os devidos reconhecidos, enfim. Isto tem mesmo pernas para andar!
ResponderEliminarAbraço.
Magnifico post com fotos belíssimas e um final feliz com os festejos do Porto na luz em 1940... 71 anos depois a história repetiu-se:)
ResponderEliminarabraço
ps- essa história do leixões ter recusado o título é deliciosa e um acto nobre sem dúvida...
Belíssimo post, talvez o melhor de todos desta estupenda narração que fazes para nós. Parabéns!
ResponderEliminarE, como bem diz o Lucho, 71 anos depois repetiu-se a história: conquistámos o Campeonato no ninho da águia. Ainda não havia Luz, para cortarem a luz… Mas levaram uma rega de categoria dos Bicampeões Nacionais.
Espero pelo próximo. Beijos.
BIBÓ PORTO!
Ah, esqueci-me:
ResponderEliminarO Leixões mostrou uma nobreza de enaltecer. Disse aos de Lisboa que o Norte é dos do Norte. Não é uma coutada da "capital do Império"...
Ainda hoje, e a todos os níveis, precisamos de demostrar isso.
Bjo.
Provavelmente nenhum de nós, leitores, tem a verdadeira consciência da enorme valia que o Fernando está a prestar, a nós, ao FC Porto e ao Futebol Português. Porque isto também conta um pouco da história do futebol em Portugal. Muito obrigado.
ResponderEliminarAbraço
Caros Amigos:
ResponderEliminar- Pela segunda vez (e porque o post estava preparado desde 2010) me esqueci das 15 vitórias consecutivas do FC Porto de António Oliveira em 1996-1997. Como é devido, já dei conta do feito e incluí essa brilhante marca no texto.
- Outra nota foi inserida por mérito do Lucho. Lembrou, e muito bem, que após 71 anos o FC Porto reeditou a proeza de, com Villas Boas, ir conquistar o título ao reduto dos encornados.
Assim se faz história.
Abraço a todos.
F. Moreira (Dragão Azul Forte)
Será possível ao distinto portista e leitor deste blogue, Rogério Paulo Almeida, profundo conhecedor da história do FC Porto, contactar-me? É que eu gostaria de lhe fazer um pequeno/grande pedido relacionado com o período 1940-1943 da história do nosso Clube.
ResponderEliminarPermita-me que proponha: o BlueBoy enviava-lhe o meu email e, se achasse bem, contactava-me a autorizar-me que estabelecesse comunicação consigo.
Grato pela atenção que possa dispensar-me,
Um abraço.
F. Moreira (Dragão Azul Forte)
...a tal História do descer de divisão (coisa mesmo de mouro),quando na realidade foi apenas o alargamento de e 8 para 10!
ResponderEliminarE mais não era a descida de divisão ,mas sim apenas a não participação da fase final do campeonato.
Depois tem o tal apuramento de 4 equipas de Lisboa,já agora o porquê de 4 equipas em Lisboa e apenas 2 do Porto?
HOHOHOHOHO MAGICO PORTO GRAÇAS A DEUS NÃO NASCI LAMPIÃO ,PORTO MEU GRANDE AMOR EU DOU A VIDA PARA SERES CAMPEÃO!
oBRIGADO Dragão Azul Forte pelo fantástico ,brilhante ,sublime ...texto.
Claro amigo, esteja à vontade.
ResponderEliminarAbraço
O campeonato de 1939/1940, com algumas coincidências com o campeonato desta época!
ResponderEliminarTambém nos castigos aos nossos jogadores não mudou muito os critérios, sobra sempre o pior para nós...
Digna postura do Leixões, coisa que com toda a certeza nos nossos dias isso não aconteceria!
Dragão Azul Forte, mais um trabalho fantástico!:)
BIBÓ PORTO
Dragão Azul Forte, que belo post e deliciosas fotos!
ResponderEliminarA história está escrita para que ninguém esqueça. Para que ninguém perca a noção de que a perseguição de que somos alvo não é de hoje, nem de ontem, nem só dos anos 80 em diante!
Quanto à postura honrada do Leixões, fico a pensar se não foi mesmo a atitude das pessoas no futebol que mudou. Porque concordo com a Mafaldinha: não estou a ver isso a acontecer no presente. Agora, perante uma situação semelhante, são todos abutres à espera de se aproveitarem da desgraça alheia. E não falo só dos enc@rnados e do Guimarães no episódio da Liga dos Campeões, mas também de outras situações. Agora vive-se o futebol de maneira diferente.
É verdade, Enid. A história reporta o passado para que não o esqueçamos, no presente. Nós temos argumentos (mais que muitos…) para atirar às ventas dos “paladinos” da “justiça desportiva” de hoje.
ResponderEliminarO pior é que, com nuances e outras formas de concretização, continua o “mais do mesmo”.
Obrigado a todos pelas V/palavras.
BIBO PORTO!
as semanas vão-se passando e cada vez mais, esta história do nosso fcPORTO se vai tornando como que um vicio a ser consumido com muito prazer e muita ansiedade para que a próxima semana chegue logo rápido.
ResponderEliminardaí que, FMoreira, os meus parabéns por este trabalho que é de valor incalculável, só mesmo ao alcance daqueles que nutrem uma paixão louca pelas nossas origens... bem hajas e jamais essa força de vontade e de prazer se acabe.
aBRAÇO.
Sabem me dizer se por volta dos anos 40 existiu um guarda redes do FCPorto chamado Julio Rodrigues Rodrigues?
ResponderEliminarCara Marina Araújo:
ResponderEliminarNão tenho conhecimento de nenhum jogador com esse nome que tenha feito parte dos quadros da equipa principal do FC Porto.
No FC Porto (equipa principal) apenas jogaram 3 futebolistas com nome "Júlio". Todos eram avançados.
Cumprimentos.
Este post está maravilhoso a todos os aspetos e deve ser aprensentado a lampiões asiados.
ResponderEliminarIsto demonstra a grandeza do ngc que mesmo prejudicado de forma brusca nos anos 40 50 60 , em sentido contrário para os de lisboa.