16 março, 2014

Porquê Só Agora?

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É sabido que Fonseca já tinha pedido para sair logo depois do jogo com a Académica. Estávamos ainda em 2013. Recebeu um voto de confiança e várias visitas do Presidente ao Olival, num claro sinal de apoio, além de uma entrevista onde ficou patente uma intenção de renovação (?). Seguiram-se meses penosos, difíceis de ver, com a equipa a alternar o mau com o miserável. Nunca se vislumbrou o mais ténue sinal de mudança, de esperança, de inversão do triângulo, de simplificação da confusão que foi criada, de estabilização de um onze base, de definição clara de um caminho a seguir, de um regresso ao passado feliz e à cultura do clube.

Até que chegou aquele jogo em casa frente ao Estoril, acabando com uma longa série de jogos sem perder no Dragão. A claque finalmente manifestou-se, ruidosa e clara, contra o treinador. Lenços brancos nas bancadas, um coro de assobios e de pedidos de demissão. A saída dos jogadores do P1 foi um chamariz para as televisões, fazendo longos directos sobre a cena, vomitando e regurgitando a famosa teoria do “fim de ciclo”, da “divisão na estrutura”, das “facções internas”, etc.

Fonseca, sem saber a quantas andava, pede para sair. De vez. De novo, é segurado, apoiado, recebe mais uma vida. Vai a Frankfurt, ou a Leverkusen, ou a Munique. Tanto faz, o que interessa é que se mantém no cargo e vai a jogo. Sem saber como, muito por culpa do brio dos jogadores e por um manifesto golpe do destino, fruto da mística do clube, o FC Porto consegue o empate ao cair do pano e mantém-se nas provas europeias. Fonseca passa ao nível seguinte.

Só que o nível seguinte é o Guimarães de Rui Vitória. Uma equipa sem grande talento, mas muito bem arrumadinha e combativa em campo. O esperado acontece: o FC Porto deixa-se empatar, de forma inglória, sem chama, sem bravura, sem alma. Finalmente, o pedido de Fonseca é atendido, não sem antes orientar dois treinos da equipa, com direito a rescindir no seu dia de anos.

Este texto poder-se-ia muito bem chamar “crónica de uma morte anunciada”. Mais dia menos dia a solução seria esta. Uma equipa feita em frangalhos, um público dividido e divorciado do clube, jogadores de semblante carregado, processo defensivo lastimoso, processo atacante dependente de fogachos, correrias e fé em Deus. Um romper total com o passado, com a cultura de jogo do clube, com a forma de jogar mais ou menos "institucionalizada".

A solução não foi bombástica. Veio da casa. De um homem da casa. Luís Castro, seu nome. Se foi boa ou má, só saberemos no fim. Se for óptima, o interino passa a definitivo. Se for má ou assim-assim, o interino deverá regressar ao ponto de partida. Os portistas não estão habituados a estas semi-decisões, do estilo “deixa ver se funciona”. O Presidente sempre nos habituou a apostas altas, de risco, mas corajosas e assumidas. A solução Luís Castro, interina, transitória, não deixa, pois, de surpreender.

Mas há sinais de melhorias, de facto. Isto é, não é nenhum drama ou vergonha trocar de treinador a meio da época. Uma vez não são vezes. A equipa joga mais alegre, mais viva, melhor espraiada em campo, com melhor povoação do terreno, maior pressão e mais atenta no processo defensivo. O jogo frente ao Nápoles, sem deixar margem para embandeirar em arco, é disso exemplo. Permite acreditar e sonhar com algo. E esse “algo” é muito importante.

O que o portista comum não percebe é como é que foi possível chegar-se a este ponto, como foi possível desvalorizar tanto uma equipa e chegar a esta fase da época com o objectivo do Tetra praticamente uma miragem. Como me disse o meu Pai no final do jogo do Nápoles, “a equipa foi mesmo deixada no osso”. As tradições nem sempre são para cumprir. A saída de Fonseca era obrigatória há muito tempo. Veremos se Castro tem engenho e arte suficientes para contornar esta missão quase impossível.

Rodrigo de Almada Martins

4 comentários:

  1. O ultimo parafrago diz tudo, e ainda hoje muitos de Nós não percebemos, nem nunca iremos perceber a quem interessou, ou quem danosamente deixou levar a equipa ao osso, como diz o amigo RAM,uns perdoarão e esquecerão, pela mim parte não esquecerei...NÓS NÃO MERECIAMOS ISTO E O NOSSO FC PORTO MUITO MENOS!!
    Dito isto, dizer que confio a 1000% em Luis Castro, simplesmente tem uma coisa que alguns nunca chegarão a ter , É UM DOS NOSSOS E NÃO PRECISA DE SE TRAVESTIR PARA SER PORTO!!!

    Eduardo

    Rio Tinto

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  2. Há coisas que ninguém entende mas que devem ser questionadas no local certo que é nas assembleias do clube, portanto apareçam na assembleia do clube e façam estas e muitas outras perguntas como esta a quem devido e esperemos as devidas respostas e não passar à frente como se nada fosse como já assisti.

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  3. Por um lado diz que está habituado a apostas de risco, por outro acha que se manteve o risco tempo demais! Decida-se homem! Ser bonito e rico e saudável é o que todos queriam... Isso dificilmente é uma escolha, è o jackpot!

    Não concordo consigo, além disso, por achar que o PF ficou tempo demais... Um qualquer outro treinador não teria trazido um empate épico de Frankfurt... e teria logo ficado queimado.
    Só digo, ainda bem que neste clube se manda de dentro para fora... No ano passado quando finalmente ganhámos esqueceram as exibições cheias de defeitos anteriores... Tanta euforia coincidiu com o início de época. Aí, ninguém pensou como os centro- e sul-americanos iriam estar durante o primeiro inverno europeu...
    Por alguma razão parece que chegou a primavera...
    Há gente que sabe o que faz; outros que especulam...

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  4. Por acaso concordo em absoluto
    c om o que foi escrito na crónica.

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