04 março, 2015

O CREPÚSCULO DOS DEUSES? (Sunset Boulevard)

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/


Hummmmm, the perfect bliss... Sabem como é?
Anos e meses e meses e meses de dias perfeitos, pintados de azul e branco ora entre suaves ora fortes tons de rosa e derivados... sempre em tons pastel. E era reclinarmo-nos nas nossas fofas nuvens predilectas a cheirar a lavadinhas, era predispor em camadas pequenas e delicadas almofadas de algodão puro sob a nossa cabecinha despreocupada e era fechar os olhos e sentir um calorzinho danado de bom a invadir-nos a alma, nas pálpebras cerradas uma leve luz dourada do Verão de todo um ano e nas narinas um aroma subtil e agradável a rosas, frésias, magnólias, madressilvas e a frescas flores campestres.

Em stereo e mega-bass nos nossos headphones dourados - no volume adequado à maturidade de cada um – passavam as músicas das nossas vidas. Na mão direita, um sumo de laranja, fresquinho (apenas com três pedras de gelo), que sorvíamos a nosso bel-prazer pela palhinha verde e rosa fluorescente que alguém, um dia, nos colocou no elegante copo de cristal. Se tacteássemos à nossa volta, podíamos sentir o toque reconfortante do livro que andávamos a ler e que alguém, um dia, escreveu para nós.

Se fizéssemos o esforço supremo de semi-abrir um olho, descerrando as pestanas debruadas com rímel dourado e prateado da melhor marca, poderíamos ver, bem ao nosso lado, um rapaz com uma enorme e faustosa pena de avestruz na mão a abanar-nos, paulatina e levemente, rosto impenetrável fixo no horizonte, e lá ao fundo, já na linha do horizonte belo, uma outra pessoa que zelosa se aproximava, tabuleirinho de bambu decorado com pano de linho e provido de óleos essenciais para a repimpada massagem que se seguiria.

E ali... bancadas de taças e troféus repletos de acepipes e mesas de frutas e néctares exóticos à espera do nosso real apetite... Não tínhamos de fazer pela vida, aparecia-nos tudo feito. Em maravilhosas obras acabadas com resultados que pensávamos serem de sonho mas que não o eram. E sorríamos. Acenávamos do alto, atirávamos beijos... Endossávamos cheques... Queríamos vender, vendíamos... bastando para isso estalar os dedinhos anelados, interrompendo o seu tamborilar constante. De bem com o mundo. Porque ele era nosso.

Um dia...
Um dia dormimos demais, sentimos que nos retiravam os auriculares ao mesmo tempo que uma vozinha sardónica - mas não antipática - nos sussurra ao ouvido: “Senhoras e senhores, bem-vindos à realidade!”
Um gongo força-nos a abrir os olhos. DOING!!!!!!!!!
Os óculos de sol de lentes cor-de-rosa em formato de coração caem-nos no colo.
Os tons azuis e brancos empalideceram: o horizonte ficou acinzentado. Ameaça chover. Sente-se frio. Como custa. Acordar do que não queríamos quando queríamos querer ainda muito mais, descer à força de um mundo que queríamos fosse sempre o nosso, de um mundo que era, afinal, nosso, para cair na nossa rudimentar dimensão humana. Como custa, porra!

Falo por mim. Não gosto desta realidade. Nada mesmo.
Mas sabia que num (longínquo) tínhamos de voltar a sentir como vive a outra parte do mundo. A não-iluminada. A terráquea. Tenho saudades dos salamaleques dos últimos anos em que me deram tantas vezes o melhor. Suspiro muito, porque sempre fui de sonhos e eles foram-nos (quase todos) garantidos por Alguém que eu pensava gostava muito de nós...
Já não estava habituada a carpir, a bulir, a fazer pela vidinha e esta a não ajudar em nada de nada. Não há nuvem, já. A almofada que me atazana os pesadelos é dura como um calhau e a música saloia que ouço em meu redor é pimba, muito pimba e chega até aqui com mais intensidade encavalitada nos ventos cortantes e gélidos que sopram de Sul.
Não há quem nos refresque, não há quem nos massaje, não há quem nos apaparique.
Não há papinha já pronta. Já nada cai do céu.
E não podemos já dormir à sombra das taças e títulos conquistados.

Esta é a nossa realidade. É vê-la a desenrolar-se friamente diante dos nossos olhos desprevenidos. Temos crises existenciais e de resultados, promessas negadas e adiadas, subvalorizações, sobrevalorizações, treinadores contestados, chicotadas psicológicas por força de deslumbradas Alices no País das Maravilhas, experiências mal-sucedidas, períodos de experimentação, falhanços retumbantes, os muito na moda “erros de casting” num filme que antes era o grande, o maior, (o único) favorito para Óscar, dispensas e desumanidades, empates e empatas, faltas de atitude e de humildade, mas também de organização aqui e ali. Grassam os parasitas, rondam os abutres, à espera do Grande Ocaso.

Temos impacientes, temos os demasiado pacientes e os mal-agradecidos. Parvos, que também aqui os há. Sobrancerias... azar. Falta de sorte. E novamente os parasitas. Realidade pura. Há que aceitá-la. E juntos lutarmos para que esta realidade volte a ser o sonho que já foi a nossa realidade. Não atiremos a toalha para o chão. Já fizemos isto. Já estivemos aqui, assim e chegamos às nuvens, lembram-se? Tivemos o nosso conto de fadas. Com dragões fabulosos, aguerridos, místicos, príncipes e heróis de lenda e de BD. E nem foi assim há tanto tempo como isso.

O campeonato parece distante, por isto ou aquilo, maroscas apafianas, mas vejo o nosso plantel, a nossa equipa técnica, vejo o que temos entre mãos... e vou acreditando. Claro que estou triste, saudosa e melancólica, mas haveremos de ressurgir e voltar a ensombrar o País que Ri. O que é o Selebe neste momento? Fogo de vista. Marcha imensa de saloiada. Falso portentado. A mesma merdinha e imbecilidade de sempre. A Nacional Paroleira. Os lagartos? Please... *

* Escrito antes do Porto-sporting de 1 de Março de 2015.

5 comentários:

  1. mas que enorme prosa.
    fantástico! bravo! muitos parabéns!

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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  2. estupenda crónica! muitos parabéns!!!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. E num ápice voltei a reviver a traumática época passada. Tudo se resume a isso. Doeu e ainda faz doer e mesmo as melhorias notórias a qualquer adepto friamente consciente nos parecem uma mão cheia de nada. Mas não é, estamos a regenerar, e vamos surgir em força. Ainda esta época? Acredito piamente que sim, mas e se não for? Há que continuar neste caminho e não atirar todo o trabalho feito neste ano 0. Custa? Ó se custa, mas por vezes por mais paradoxal que seja, se calhar também precisamos de esfriar um pouco para renovar o arsenal de alegria e euforia que eu acredito que em breve vai explodir. Crónica estupenda, as usual. E escrever um livro? Já li autores bem piores. Bem piores mesmo.
    Obs: Esta crónica fez-me lembrar de episódios como um certo "banco de suplentes" absolutamente criativo que imaginamos para o mágico Porto, ou uma noite de Óscares onde além da gala, a expectativa para ver se ELE Saía também era grande. Foi difícil, mas foi uma época onde partilhamos agonias e desilusões, mas que criou união entre Portistas. Sobrevivemos e é isso que importa. Parabéns.

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  5. ESPECTACULAR DIVINAL

    VIVA O FUTEBOL CLUBE DO PORTO

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