25 abril, 2015

O MEU FCPORTO.

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

O Meu FC Porto

Antes de começar, tenho que dizer que doeu. Doeu muito. Sabia que tinha calhado em sorte o pior adversário possível, mas porra, como não acreditar, como não ter esperança numa nova história do David contra Golias tendo em conta a histórica primeira mão?

Como conseguir entender a diferença entre a primeira e a segunda mão? Como não ir ao aeroporto desejar boa sorte aos nossos rapazes depois de terem derrotado e dizimado em casa a melhor equipa da Europa, composta pela espinha dorsal da selecção campeã do mundo? Como não acreditar numa reedição de 2004? Como não levar na bagagem a crença, a fé, a esperança depois do que se viveu no Dragão?

Esta foi provavelmente a derrota europeia que custou mais. A mais custosa de todas as mais custosas derrotas europeias. E já sofri (sofremos) na pele várias: tudo começa em Basileia, contra Platini e Boniek e ... Adolf Prokop. Depois, o golo blaugraña de Archibald, dizimando o hat-trick de Juary. Depois, mais para a frente, já do meu tempo, o penalty de Lombardo da Sampdória. O Aloísio a defesa-esquerdo em Barcelona. O fuzilamento do Jean-Pierre Papin ao Baía em San Siro. Oliveira a inventar e Costa a titular em Manchester e …pinga de 4 secos. O golo tardio de Linke no Olímpico de Munique. Wenger a rir-se de nós em Londres: outros 5. O frango do Helton, também em Londres, mas desta vez no bairro de Chelsea. A tremenda exibição de Neuer no Dragão pelo Schalke. A estupidez do Défour em Málaga. De novo em Manchester, desta feita com o City: outros 4 para contar. O ano passado a humilhação em Sevilha. Este ano o Municaço.

Dói muito. Custa muito. Mas este clube é o mesmo das vitórias e das derrotas. É o mesmo que ganhou em Viena com o calcanhar mágico de Madjer. É o mesmo clube que derrotou o grande Ajax dos anos 80. O mesmo clube que venceu em Tóquio com um golo enrolado na neve. Que venceu de forma dramática a Liga Europa em Sevilha. O dos golos de Jardel na reviravolta de San Siro. Que empatou em Manchester com um golo de Mariano González. Que espetou 5x0 em Bremen em casa do então campeão alemão. Que derrotou sem margem para dúvidas o Mónaco na Gelsenkirschen de boa memória. Que venceu nas penalidades, naquele olhar de Pedro Emanuel, o Once Caldas em Yokohama. O da cabeçada do Falcao em Dublin.

E, também internamente, o clube que esteve 19 anos sem ganhar um campeonato nacional, mas que se reergueu a tempo de, em 2015, ser o clube português com mais palmarés. O mesmo que goleou por 5x0 o maior rival na sua casa. Que repetiu a façanha no Dragão uns anos depois. Que entrou campeão em Alvalade. Que festejou um mítico Penta. Que festeja campeonatos às escuras e com a rega ligada. Que é recordista de participações na Champions League e que representa de forma grandiosa Portugal além-fronteiras.

O Municaço foi uma tragédia, uma hecatombe, uma desgraça. Mas é noite para recordar e não para esquecer. Toda a Vida É Caminho. Dias antes do jogo, aliás, fui-me preparando mentalmente. Vi jogos de noites europeias antigas, conquistas azuis e brancas, vídeos dos grandes protagonistas da nossa História.

Um deles chamou-me à atenção: o resumo do Bayern x Porto de 2000, arbitrado por um senhor chamado Hugh Dallas. O ano de 2000 e esse plantel parece recheado de nomes que hoje são quase de outra era do FC Porto. Na verdade os anos 90 acabavam de terminar, vivia-se aa viragem do século e do milénio. Esse era, de facto, outro FC Porto. Chaínho, Jardel, Drulovic, Capucho e...e agora peço a vossa atenção…Deco!

Deco, esse mesmo, o artífice e mago maior do moderno FC Porto, do FC Porto da era Mourinho, do FC Porto de novo conquistador da Europa. Esse mesmo Deco viveu, muito jovem, essa injustiça e esse roubo (sim, assumamos) no Olímpico de Munique, perante o grande Bayern de Hitzfeld, Kahn, Scholl, Effenberg, Santa Cruz, Paulo Sérgio e Elber.

Para se saber como se ganha, é preciso perder, perder muito. Pegamos talvez na conservadora e enigmática frase de Belmiro de Azevedo, grande empresário do Norte, “sempre que perdi, ganhei”.

Ao ver a cara de Deco, raivoso e enfurecido no final do jogo de Munique, lembrei-me imediatamente de Ruben Neves e Ricardo Pereira, dois meninos que, pese embora terem entrado já com a eliminatória praticamente decidida, jogaram afoitos e sem medo, quais anões lutando contra um exército de gigantes. É pouco provável que, no actual estado da Champions League e do futebol mundial, tal como Deco fez depois da desilusão no Olímpico, os dois jovens portistas estejam, dentro de 4 anos, a festejar uma Champions League. Não é impossível, não. No FC Porto não há impossíveis. Mas seria muito pouco provável, assumamos.

De Viena a Gelsenkirschen distam poucos quilómetros no mapa, mas do Prater ao Arena Aufschalke a viagem dura 16 anos. Não há, por isso, que dramatizar. Gelsenkirschen foi há… 11 anos (!). Esperemos pacientemente, portanto, mais 5 anos das nossas vidas.

Porque uma coisa é certa: não hei-de morrer sem ver de novo o meu Capitão erguer o troféu da Liga dos Campeões. E não me engano se disser que esse Capitão poderá ser perfeitamente Ruben Neves. Porque se é certo que toda a Vida é Caminho, mais certo ainda é que o Caminho faz-se caminhando. Derrotas leva-os o vento. Quando se decide ser do FC Porto e definimo-nos portistas, as vitórias e derrotas são acessórias. O Clube, esse, é eterno.

Domingo há um jogo para ganhar. E depois disso um título para erguer.

Vamos a eles, rapazes! Honrem o símbolo que trazem ao peito. Corram, suem e lutem até ao último minuto. Vençam por nós!

Rodrigo de Almada Martins

4 comentários:


  1. «
    sempre a cantar por ti
    contigo até ao fim
    tu és o nosso Amor
    »

    excelente prosa. como sempre.

    abr@ço
    Miguel Lima | Tomo III

    ResponderEliminar
  2. FC PORTO... contigo para além do fim!!!
    Até me vieram as lagrimas aos olhos com esta prosa.

    ResponderEliminar
  3. Muito bem o teu texto, só espero amanhã uma vitoria ...

    Bibó Porto

    ResponderEliminar
  4. o fuzilamento do papin foi nas antas e não em s siro. De resto brilhante o texto mesmo.
    Até os comemos hoje!!!

    ResponderEliminar