06 agosto, 2015

O CHEIRO DE MEDO PELA MANHÃ.

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/


Ainda falta muito para começar?

Bem-vindos ao estranho mundo de mim. É invariavelmente assim nos anos atípicos em que nada ganhamos. Acabo de rastos, morta de preocupação, peso do mundo aos ombros, exaurida, desgastada, agastada, amarga, catártica e piursa e chego a esta altura do campeon… da pré-época completamente renovada, mal conseguindo conter o entusiasmo e a excitação pelo que se avizinha que será oh tão lindo. Saltando num pé e no outro. Sou assim… coerente.

Ainda falta muito para começar? Suspiro, muito, tanto!, horrores e olho para o relógio ali, parado, na parede à minha frente, que parece, como o outro, estar de mal comigo. Porque com alma inquieta e desassossegada, ansiosa e destrambelhada, dá a sensação de esta ser a maior das pré-épocas futebolísticas de todos os tempos, numa perfeita anti-silly season em que tudo ou muito ou imenso se passa. E a todos os nanossegundos. Os fóruns, as redes sociais, os adeptos portistas estão ao rubro, não no sentido de estarem vermelhos mas muito quentinhos, em brasa. As “fontes seguras” reproduzem-se como coelhos, e os pseudo-reforços são anunciados com data certa no aeroporto que acaba por não se confirmar, jogadores são dados como certos para depois lermos notícias a dizer que afinal nem por isso. Informações e contra-informações. Há ameaças de bomba. Chegam charters de novos nomes, da China, Japão passando pela ilha de Samoa e Burkina Faso, alguns deles bombásticos mas o plantel ainda tem menos de 30 jogadores de futebol + o Maxi Pereira, o Uruguaio.

Multiplicam-se as críticas provenientes de cérebros de todos os tamanhos, de todos os credos e quadrantes e também do sofisticado bairro londrino de Chelsea aos gastos mirabolantes do nosso clube, questionando se foi descoberto algum poço de petróleo e o resto do endividado país não sabe. Digam o que disserem, ladrem, cacarejem ou zurrem, grunhem, grasnem, uivem, sibilem ou ululem, sente-se o cheiro de medo pela manhã.

Ainda falta muito para começar? A ansiedade miudinha e roedora instalou-se por culpa do Iker Casillas, esse Monstro, Guarda-redes Extraordinnaire. Que para continuar a sua galáctica carreira decidiu vir jogar para o Dragão. O Dragão. Entre tantos outros estádios e públicos que poderia escolher. O Dragão. Como não ficarmos honrados? Orgulhosos? Vocês não? Eu cá fiquei. Provavelmente sou uma vendida. Censuro-me por isso frequentemente. Não o consigo mudar. Ouvindo os primeiros rumores, duvidei, gargalhei, desdenhei mas ao aprofundar-se o interesse e a intensificar-se o bruá da notícia, dei por mim a quase rebentar de entusiasmo. Ávida de defesas, resultados, golos, exibições, títulos, milhões de euros e de novos adeptos à escala mundial.

Porque esta foi uma estrondosa, fabulosa, maravilhosa -- e outras coisas acabadas em .osa -- jogada de marketing dos nossos responsáveis. Se eu usasse chapéu, tirava-o em reconhecimento. Como cereja vermelhinha e redondinha e vermelho brilhante no cimo do colossal bolo passámos a ter os olhos de toda a Espanha, todo o mundo, de toda a vasta imensidão estratosférica do Universo IkerCasilliano centrados na gloriosa bandalheira que é a Liga Portuguesa. Atentos a tudo. Até direitos dos jogos da pré-época adquiriram, for Christ sake! Podem dizer que sou inocente (aceito!), crente (aceito!), que nada ou pouco percebo de futebol (aceito!) mas acredito que os senhores que encomendaram e fabricaram o inaceitável campeonato do último ano vão ter um pouco mais de timidez na hora de urdir os seus sórdidos estratagemas.

O plantel não está ainda fechado. Alguns jogadores vão ainda sair. Os nossos negociadores andam no mercado, uma vez mais com uma postura agressiva, quase felina, que surpreende tudo e todos. Desespera-se pela ausência de patrocinador, desespera-se pelo Óliver ou pelo João Moutinho, desespera-se pela surpresa que será anunciada na Apresentação aos Sócios, Sábado próximo. Claro que adoro surpresas, mas na verdade a maior surpresa que me/nos podem oferecer esta época que vai agora começar é trabalho, muito trabalho, vontade, garra, dedicação e rores de vitórias e “ganas y ilusión”. Amanhã é tarde para começara ganhar e a servir – fria, congelada! – a deliciosa, sumarenta e doce vingança à gloriosa moda da casa.

Ainda falta muito para começar? Uma semana, 3 dias, 00 horas, 39 minutos, 29 segundos… and counting!!!!

7 comentários:

  1. Nunca mais começa..Não me interessa quem joga ou a tactica, só quero voltar a ver os meus jogadores envergar a camisola azul e branca em jogos a serio..Estou optimista que esta epoca poderá ser histórica..Que comece rápido.

    ResponderEliminar
  2. Acho engraçado como ficou no imaginário portista a ideia de "surpresa" no jogo de apresentação. Todos ansiosos por um craque de renome, a ser efusivamente anunciado pelo speaker de serviço.
    Contudo, qual D. Sebastião, esse verdadeiro craque nunca apareceu. Quer dizer, talvez tenha aparecido (?), eu é que ainda estou em estado pós-comatoso desde a apresentação do Chippo.
    Para este sábado, não espero surpresas desse género (ok, talvez tenha a secreta esperança de NÃO ver o Angel e o Adrien).
    Quanto ao resto, partilho do mesmo formigueiro da Miss Bluebay. Esta parece ser a pré-época mais importante de todos os tempos.
    A expectativa está nos píncaros, confiante de múltiplas alegrias.
    Que a bola comece a rolar, e rápido!


    Hugo

    ResponderEliminar
  3. Todos os anos é o mesmo ritual. Se a época foi boa, maravilhosa, andamos de peito cheio e orgulho nos píncaros, como que somos os reis do mundo, não é sobranceria, é apenas orgulho e mais orgulho que não cabem no coração e transborda. Se a época correu mal, andamos desiludidos, tristes, resmungões, de mal com o mundo e com tudo. Achamos que tudo vai acabar, que não há esperança e que mesmo quem é crente, até começa a duvidar da vida além da morte. Mas é temporário, tudo é temporário e mal as notícias começam a fervilhar, tudo muda, como que por mágica. Sentimos em nós uma vontade de ver o grande jogar, de ver a listadinha a espalhar classe em cada relvado e amontoámo-nos no aeroporto para partir para Milão para assistir á final da Champions logo no início de Setembro. Incurável, isto é incurável, nem eu quero que seja diferente. Parabéns, excelente como sempre.
    Ainda falta muito para começar?

    ResponderEliminar
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  5. Estou de carne, alma e espirito de acordo com este texto.
    Nunca mais começa!!
    Que a força do Sol nos ajude a por o tempo a passar mais depressa!
    Come quick!

    ResponderEliminar
  6. Cara Miss Bluebay
    Sem marketing era uma sensaboria ninguém pensava comprar Grandes Marcas a Preços Baixos, ou se havemos de vestir Armani ou Dutti no casamento. Subjugados pela informação constante, cabeça sem tempo de agarrar a ideia que nos tolhe o pensamento, a jigajoga das transferências, Jesus vai p’ra lá, Vitória vem p’ra cá, cada Kit é um amigo, blá, blá, blá. Eles inventam os slogans o target somos nós.
    Continuam as falhas ao BES, os pagamentos ao fisco, Di Maria vai impingido na imensa teia, lá foi mais um brinca na areia. Sábado é dia de bola, rebente uma trovoada faça sol ou o raio que os parta, a esposa no carro a fazer croché, o marido arranjou uma borla no camarote da MEO. Um polícia estreia o bastão na mona do espectador logo empandeirado para os enfermeiros atarefados com as madrugadas domingueiras dos acidentes na marginal, os bêbados de sábado à noite intoxicados pelos cartazes meios descolados das paredes dos pontões. Compre isto faça aquilo, a saúde está primeiro beba água do Vimeiro.
    Venha a nós o vosso reino, mesmo com jogos simulados, processos viciados, juízes aldrabados, vamos ganhar outra vez, venha mais um de Espanha e outro do Gerez. A nossa mais-valia também foi empandeirada. Siga a rusga das cotadas, a marcha do Benfica leva a Cinha, coitada, com a fantasia alugada. Chegam novos jogadores nem precisam mudar as pilhas, joga o Helton ou o Casillas.
    Sábado lá estamos. É entrar, é entrar! O espetáculo está quase a começar. Bjinho

    ResponderEliminar

  7. mas que biolência de prosa (no bom sentido, claro!)
    fantástico!

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

    ResponderEliminar