11 dezembro, 2015

A FEIRA DAS VAIDADES (OU... O QUE É QUE ELE TEM QUE EU NÃO TENHA?)

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

    DRAGÃO DE OURO: “Figura mitológica, é o símbolo do vigor e da monumentalidade. Assim, marcado pela força, este dragão irrompe da bola de futebol, simbolizando a contínua ascensão do FC Porto. A estatueta, tendo como suporte a bola de futebol, representa a imagem clássica do dragão, com a cabeça de tigre, corpo de serpente e asas de morcego”.
Não ia falar. Juro que não ia. Pretendia deixar passar em (azul e) branco e fingir que foi tudo muito belo e lindo e oh tão maravilhoso. Também não posso deixar de dizer que foi uma festa digna, sóbria, competente. Isso foi. Muito. Nisso nada a apontar.

Gala dos Dragões de Ouro, pois. Há uma espécie de bling-bling no ar. A passadeira é azul glorioso e tudo, comme il faut, e fazem-se as entrevistas e fotos à entrada com alguns dos principais intervenientes que deslizam ufanos ou blasés por ali fora. As senhoras levam vestidos de griffe ou nem por isso, de maior ou menor gosto, de maior ou menor decote, os senhores vestem smoking ou fato e o ar é sóbrio, a atmosfera solene. Própria da ocasião. Há pompa e circunstância. Própria da ocasião. Faz-se a contagem decrescente para o início da Grande Gala. Transmissão em directo pelo canal do Clube, bons profissionais envolvidos e empenhados, anuncia-se uma noite de ouro, tal e qual as estatuetas que homenageiam as figuras que ao longo da época anterior mais contribuíram para o nosso sucesso e glória. Espera-se música, humor, sentimento e paixão sob a égide da azul e branca bandeira.

A música veio, o humor também (a parte que – confesso! – vi com maior entusiasmo, mais a mais pelos nomes dos humoristas convidados para esta 30ª edição), o sentimento foi igual ao que vi reflectido na cara do Adelino Caldeira, Supremo Dirigente do Ano e a paixão deve ter ficado retida nos camarins ou ter ido de malas e bagagens para as Maldivas. Urgente rever os figurinos da festa, urgente rever a dinâmica e vitalidade da festa, urgente rever os critérios de quem se convida para a festa, urgente rever os parâmetros que levam à nomeação deste ou daquele como vencedores da estatueta. I mean, a pessoa distinguida com a suprema honra de tal estatueta deverá sair do palco com orgulho, alegria e satisfação pela obra feita e ciente do dever cumprido e não com a nítida sensação de o ter conseguido pela patética exclusão de partes, naquela de ah-ya-não-havia-mais-ninguém-a-quem-entregar-a-cena-e-este-ano-calha-te-a-ti-oh-Herrera-está-bem?*

Confrangedor. Truly. Desconfortável. Damos por nós enterrados no sofá, agarrados à almofada mais próxima, olhos arregalados e descrentes. A forma patética como é processada a entrega do bichano de ouro ao galardoado, à pressa, sem palavras, brilho ou glória e onde só falta mesmo ouvir o som de um carimbo e um lacónico “NEXT!”. O modo oco e quase autómato, frio, com que a sala aplaude como que por favor ou Decreto-Real o que se desenvolve à sua frente. Será ditado pelo protocolo? Será considerado chique? Será para não correrem o risco de amarrotar as roupitas, partir as unhas de gel ou será apenas… puro desinteresse?

Feira das Vaidades. É o que me vem à cabeça. Considerado por muitos uma obra genial e um dos maiores clássicos da literatura mundial, o livro explora as fragilidades de uma sociedade corrompida pela ambição e ganância desmedidas. Estão a ver o paralelismo? Pois…

Como ler o vazio moral e sentimental daquela gala? O mutismo de todos? A generalizada mumificação? Como explicar a presença de um dos CRETINOS maiores do futebol português nessa noite? Um inimigo figadal, um assanhado de anos e anos e ainda mais anos e capas e capas contra a nossa bandeira, contra o próprio Presidente?!?!?!?!?!?!?!?!?!**. Quem bateu com a cabeça? Terei adormecido numa qualquer noite de sonho e acordei neste pesadelo de dias? Porque é isso o que isto é. Um pesadelo. Como que ensandeceram de vez na nossa SAD. Verdadeiramente incrível e inacreditável. SADístico. Muitos adeptos portistas da Velha Guarda estarão a dar voltas no túmulo por esta altura e, devo dizer com algum distanciamento, que sorte a deles que não têm de testemunhar estes dias de Fim do Mundo. O nosso Armagedão. A Ascensão e Queda de um Grande e Glorioso Império.

O palonço do Vítor Serpa na Gala dos Dragões de Ouro! E o meu pai não. O meu tio Abílio não, o vizinho Zé do segundo também não e o senhor dos CTT Expresso também não. O Hugo, não e a Bé não, e o Luciano não. A Patrícia não. O meu primo Ricardo? E o Rui? Não. E o Senhor Henrique que até chora com e pelo nosso Porto? Todos eles Portistas de alma e coração. De todos os momentos e para uma vida. Não foram convidados. Eu também não. E pergunto: o que é que aquele imbecil prostituto tem que eu não tenha? Eu, que até ficarei melhor num vestido!!! E que sei bater palminhas como ninguém e que canto o hino de pé e do princípio ao fim sem me enganar na letra… Era catita que alguém da SAD viesse explicar o fenómeno que excede em horrores o nosso (decerto limitado) entendimento. Podem sempre fazer-nos um desenho, se por palavras não chegarmos lá.

Depois disto, devo dizer que já acredito em tudo. Certamente que para a edição do próximo ano, e como toda a gente diz, poderemos ter a esperança de ver lá batidinho o Luís Filipe Vieira, na qualidade de Sócio do Ano. Quem sabe se até não pode trazer o Bruno de Carvalho pelo dengoso braço? O Vítor Pereira ou a inseparável APAF também podem e devem ser convocados. Não esquecer o Platini, esse traste humano mas com alguma utilidadezinha, estou certa.

Ao que chegamos. E o pior é que não se vê lu… Dragão ao fundo do túnel. Novas e ainda mais tenebrosas trevas se anunciam. Convidar para nossa casa, para o aconchego da nossa intimidade -- onde todos usamos pijama e pantufas e nos sentimos tipo-sofá -- um escroque sem escrúpulos que já deveria estar HÁ ANOS impedido de nela entrar, traduz na perfeição a crise de valores que grassa tipo erva daninha dentro de nós, tornada pior pela agonizante crise de resultados. E há coisas e atitudes bem mais dolorosas do que presenciar derrotas em campo. Já dou comigo a pensar que até nem me importo de perder tudo e todos os jogos. Ida, esgotada a ilusão, destruídos os sonhos em cacos, já nem custa tanto. Como que vamos ficando amorfos, subjugados, adormecidos. Agora… não suporto é ver desaparecer no espaço de meses o que ao longo dos tempos nos foi tornando no que somos e de que imensamente nos orgulhamos!

Não vale a pena iludirmo-nos: definhamos. Lenta e dramaticamente. Já o vaticinava o gosmento do Rui Santos há uns três anos atrás. Ri-me então na fuça dele, temendo no entanto que estivesse certo, quando anunciava ao país o fim de ciclo do Porto e do seu Presidente. Como poderia ele saber? Como? Ou muito percebe ele de futebol ou… something wicked this way came. E instalou-se.

Fofos da nossa querida SAD, que tanto, tanto(!) amam e desinteressadamente o clube, convençam-se de uma coisa: o Porto é e continua nosso, por muito que nos desrespeitem e afrontem e optem por nos ignorar. O’ para nós aqui. Nós, cujos sorrisos ficam em suspenso quando o nosso clube não ganha, nós, cuja vida como que empalidece brutalmente quando o nosso clube -- pela mão de quem o dirige -- se vende, se achincalha, se verga. Não nos identificamos de todo com a actual política de silêncio e cinismo, com a treta do politicamente correcto que apenas tem o dom de violar uma sagrada e orgulhosa identidade e o mais profundo do nosso ser. Há que pôr um ponto final nisto. De uma forma ou de outra. A bem ou a mal. Quem não está connosco está contra nós. Sempre assim foi e sempre assim será. É fundamental começar a mudança, levantar de novo o estandarte e abrir caminho, doa a quem doer. Os Infiéis têm de voltar a ajoelhar. Dragões de Ouro? Ok. Desde que seja na tola, visando directamente a moleirinha.

P.S. Stamford Bridge?! Oi? No entiendo.

* Nada a obstar às estatuetas entregues ao inesquecível Domingos Pereira (Recordação do Ano), ao Enorme Gilberto Duarte e ao consensualíssimo Moncho López.
** (Reparem na quantidade de pontuação usada para expressar a revolta e asco que me vão na alma. Mesmo grandes).

21 comentários:

  1. Isto há uns anos atrás, no auge da era Pinto da Costa seria impensável, mas há uns anos atrás, na era de Pinto da Costa eramos temidos por tudo e por todos. Agora acontece isto e se olharmos aos reflexos espelhados nos resultados desportivos (sobretudo ao nível do futebol) acaba por ser sintomático. Basta apenas fazermos um exercício de comparação para percebermos as diferenças e não é assim tão difícil descobri-las. Tal como alguém uma vez disse: Não é redundante, é pertinente. Infelizmente cada vez mais. Parabéns. A crónica está excelente, pois além de maravilhosamente bem escrita, as usual, o tema é mais que ajustado. Não podemos deixar nada cair no esquecimento, mesmo que, isso não nos adiante de nada. Muitos parabéns.

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  2. Muito bom o texto. O Porto de hoje quer é clientes e não sócios, quando assim é o que fazer?

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  3. Um primor de oportunidade e realismo este post. Subscrevo TUDO e assino se fôr preciso.

    Parabéns!

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  4. Quadro a óleo do nosso Porto actual. Uma obra de arte que deverá alertar quem é realmente Porto.

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  5. Os meus parabens. Assino por baixo, bato palmas, aclamo e curvo-me perante este texto.

    Isto devia ser enviado para a SAD. Vezes sem conta.

    Raoc

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  6. Na mouche, dear Miss!!!

    O Porto somos nós!!!

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  7. Maravilhoso texto, tradução perfeita do estado em que a SAD está e que arrasta o nome do clube com ele. Já não somos o clube do "antes quebrar que torcer", das lutas várias contra poderes instituídos. Agora, reina o silêncio cúmplice e temos de ver escroques a entrarem-nos em casa. Este não é o Porto que amamos, é um clube dominado por uma oligarquia autista e que, se ontem congregava em si o portismo, hoje isola-se dele e prefere passerelles e champanhe.

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  8. Excelente!

    Há já alguns anos que deixamos de ser o Futebol Clube do Porto. Passamos a Football Corporate do Porto.

    Ainda sou do tempo que nos conseguíamos mobilizar contra Lisboa, porque um qualquer funcionário manhoso do fisco lembrou-se de penhorar uma sanita. Guerra civil seria se necessário.
    Impensável nos tempos correntes.
    Atitudes dessas nestes tempos modernos, podem comprometer uma nomeação para marca de excelência, podem desagradar a parceiros institucionais ou podem afastar comissionistas e demais alcateias.
    Qual o elo mais fraco disto tudo? Os adeptos.
    Esses podem-se chatear, ignorar, desdenhar, abusar, que sempre manterão o Amor ao seu emblema.
    Receio que este Abominável Mundo Novo seja para manter, independentemente do nome que se sente na cadeira de CEO.
    Pobres de nós românticos adeptos, que já soubemos o que era viver uma camisola. Nostalgia...

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  9. Excelente, o facto de mudar as modalidades do pavilhão para a gala está ao nivel dos insultos dos adeptos ao treiandor que sai sozinho...

    "Verdadeiramente incrível e inacreditável. SADístico. Muitos adeptos portistas da Velha Guarda estarão a dar voltas no túmulo por esta altura e, devo dizer com algum distanciamento, que sorte a deles que não têm de testemunhar estes dias de Fim do Mundo. O nosso Armagedão. A Ascensão e Queda de um Grande e Glorioso Império."

    O que fazer agora?

    Esperar pelo fim da queda?

    Apressar a queda? Retardar a queda?

    Lançar já um candidato nas proximas eleições contra o Presidente?

    Porquê não percebe Pinto da Costa o que está a fazer ao FCPORTO?
    O que o impede de agir?

    Muitas perguntas, poucas respostas...

    Um áparte: Não moro no Norte, ando pela Beira (primeiro alta, Guarda, Viseu), (agora baixa, Castelo Branco, Fundão, Covilhã), acreditem, defender o FCP por estes lados é quase uma heresia...
    Mas se até quem nos preside se cala perante todas as desfaçatez e até as promove (como se viu pela Gala deste ano...)

    FCPORTO sempre.
    Gil Lopes

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  10. Não concordo com tudo e nem assim de caras-éissomesmo-tálátudo. Mas a prosa...a prosa é uma delícia. Uma guloseima. Gosto de a ler, é isso. E também conta, digo eu.

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  11. Já o disse e volto a repetir, tudo tem o seu tempo e o tempo do Pinto da Costa esgotou-se, temos que lhe agradecer pelo muito que fez pelo nosso Clube, mas a mudança é necessária e urgente pelo bem do grande FCP.

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  12. José Rodrigues11 dezembro, 2015

    Parabéns pelo texto, mt bom mesmo, mas o que mais me custa é o sentimento de impotência, deixamos aqui a nossa mágoa, mas na realidade pouco podemos fazer, excepto ter a esperança que os nossos dirigentes acordem deste turpor e voltem ao trilho que nos levou a ser respeitados mundialmente

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  13. Nunca me enganaste! Muito bem!
    Isto de levar com o vítor serpa foi a suprema humilhação.
    Por alguma razão, foi a primeira gala que não vi!
    E pelo andar da carruagem, não foi a última, que não verei...
    Quanto ao outro, - que agora, de azul, só vê os comprimidos, em forma de losango dos laboratórios Pfizer - vai acabar por sair, quase empurrado, quando deveria sair em ombros!!! Palerma...

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  14. A gala do ano passado já foi fraquinha...Este ano não vi,prepositadamente, não vi...Feira de Vaidades é o termo correcto. Uma gala de entrega de Dragões de Ouro, teria de ter Portismo, Hino cantado de pé, palmas constantes...gritos de apoio ao Clube,do fundo da alma! Este ano houve o desplante de cá ter entrada um dos arautos do anti-portismo! Como é possível?!Não se admite!! É insultar quem ama o FCPorto! Responsabilidades? Quem o permitiu? Uma boa pergunta para uma próxima assembleia geral...
    Sobre o treinador. Desde o início que suscitou dúvidas e não houve consenso na contratação. Tenho pena pelo nosso Clube pelos resultados(att.: estamos quase a meia da 2ªépoca do Lopetegui) e pelo treinador ( não tem medo de falar em roubos, em mantos protectores ) e mais uma vez fica a falar sozinho, não tem apoio visível e forte da sad. Porquê?? Anteontem, o treinador está rodeado de 2 seguranças! Onde andavam os da sad? Lá atrás...Se sair Lopetegui, em que se exigia que fizesse muito mais,pela boa qualidade do plantel, o treinador que assumir, terá de lidar com a mesma sad que não acarinha treinadores como Jesualdo ou Vitor Pereira. Alimento a idéia e aguardo que poderemos fazer uma época de vitórias sem igual mas se nada conquistarmos, no final da época, terá de existir consequências.A começar na estrutura. Força Porto.

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  15. Como é que se pode discordar do que está escrito neste texto? Não pode, infelizmente para nós é esta a realidade que nos está a amargurar.
    Manuel da Silva Moutinho

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  16. Boa noite
    Sou frequentador assíduo de um outro blogue DA e vim cá dar uma espreitadela... excelente texto e q traduz exame te o que me vai na alma....
    Prometo que passo cá mais vezes
    Ricardo Samagaio

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  17. Mais um excelente artigo da nossa amiga.
    Perdemos tudo mas ganhamos uma grande comentadora. Valha-nos isso! Bjinho

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  18. Toda uma alma descrita num texto com mais valor do que muito dinheiro que vai dançando na nossa SAD.
    SAD que tem sido very sad.
    Como na Terra é imperioso, alguém ou algo que envelheça/morra tem de ser renovada ou recuperada.

    How I miss those times...

    Excelente como sempre o texto cara Miss BlueBay.

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  19. Por favor....
    Imprimir e colar em todas as portas do estádio do Dragão!!!!
    O meu pai com 60 anos de sócio (!!!!!) deixou de poder ir ao Dragão. Portuga como é, deixou de se preocupar em pagar as quotas (jão não as paga há uns 3/4 anos)....
    Pensam que alguém do clube (já não digo SAD) se preocupou em saber porque é que sócio tão antigo desapareceu assim de repente? Apenas e só o riscaram do mapa!!!!

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  20. Excelente post é pena os srs da Sad não o lerem. Muitos parabéns. Tal como já alguém antes disse devia ser fixado nas portas do estádio.

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