O FOTO-MÍSTICA é um espaço de registo e divulgação da história do FUTEBOL CLUBE DO PORTO. O objectivo é recordar os seus momentos, os seus valores, os seus princípios, a sua cultura, a sua marca, a sua dimensão, as suas gentes. Numa palavra: a sua MÍSTICA. Todos são convidados a participar nesta viagem. Se pretenderem ver divulgada uma fotografia em especial, podem enviar e-mail para rodalma@hotmail.com.
Em 2004, Jorge Costa e Vítor Baía, os dois grandes capitães, encabeçam a entrada do FC Porto no relvado inglês. Nunca, até aí, uma equipa portuguesa havia deixado as terras de Sua Majestade com um resultado que não a derrota.
Os primeiros minutos não desmentem a tradição e são de sufoco para o FC Porto, com Paul Scholes a abrir o activo. Pouco depois o mesmo Scholes bisa na partida, mas o golo é (mal) anulado. Van Nistelrooy, o melhor ponta-de-lança do mundo da altura, é uma autêntica seta apontada à baliza de Baía. Giggs, também ele, dá água pela barba à defensiva portista. Na segunda parte, o FC Porto finalmente cresce no jogo e começa a mostrar o porquê de ser o vencedor em título da Taça UEFA. A pressão aumenta e, nos minutos finais, os azuis-e-brancos cercam por completo a baliza do Manchester United, silenciando Old Trafford. O Ministro, como era chamado, decide então a eliminatória mesmo em cima dos 90 minutos, ficando para a posteridade como O Herói de Old Trafford. Enquadremos, pois, o momento da fotografia.
O cronómetro marca 89 minutos. Jankauskas, o gigante lituano, ganha uma falta a meia distância da baliza de Tim Howard. Era a última esperança da nação azul e branca. Não há com certeza um único portista de gema que não se lembre daqueles momentos: uns, como eu, ter-se-ão ajoelhado no tapete da sala, defronte do pequeno ecrã; outros terão acendido uma velinha; alguns terão voltado costas à televisão; uns poucos terão fechado os olhos. Sabíamos que para se ganhar uma Champions não bastava ter talento e bom futebol, era preciso também um pouco de sorte. Se não fosse naquele ano nunca mais seria, tinha de ser ali. Anos e anos de azares na Europa, de erros forçados, de oportunidades perdidas, de arbitragens mais que duvidosas (Hugh Dallas em Munique, quatro anos antes, ainda era uma espinha encravada na garganta)… a vingança teria que ser ali. Aquele era o momento!
Pressentia-se algo no ar. A força da história, a mística, algo surgia ali, invisível mas palpável. A televisão foca então dois miúdos tipicamente ingleses, ruivos, de sardas. Um deles junta as mãos e como que reza, para evitar o pior. Logo depois surge outro adepto britânico na imagem, dos seus cinquentas, a tapar metade da cara como uma criança, como que a não querer ver o que está prestes a suceder. No fundo, era o destino que ali se desenhava, impossível de contrariar. Junto à bola estão três homens: McCarthy, Ricardo Fernandes e Deco. O luso-brasileiro é o primeiro a afastar-se. Sobram dois, mas parece claro que será o sul-africano a bater. Benni McCarthy respira fundo e parte para a bola, o remate sai forte e tenso e o esférico parece ganhar velocidade e efeito à medida que se dirige para a baliza. Tim Howard não esperava um missíl com aquela trajectória e é com dificuldade que rechaça a bola para frente, antes de embater com violência no ferro da baliza.
E então é aí que se faz história, já em cima do minuto 90. Como tantas vezes com Mourinho, Costinha surge ao segundo poste para a recarga, como se estivesse à espera toda a sua vida que a bola ali fosse cair. O remate é feito meio no chão, a bola sai meio enrolada, mas entra a meia altura, perto do poste contrário, pese embora a agilidade de Howard.
Costinha voa então para a bandeirola de canto, de braços abertos, ciente que está de este ser o golo da sua vida. Vai com as golas da camisa levantadas como é seu timbre, fazendo lembrar outro herói daquele recinto – Cantona. Para cima dele correm todos os outros jogadores. José Mourinho, também ele, protagoniza então um dos mais míticos festejos de que há memória num treinador, saltando da tradicional área dos managers para mergulhar no mar de jogadores amontoados naquele canto do relvado. Nunca como aí o nome que Bobby Charlton inventou para Old Trafford fez tanto sentido: Teatro dos Sonhos. Um sonho, isso mesmo se tratava.
É um momento que marca tudo. Uma época, uma caminhada, uma carreira, um clube.
Tratavam-se apenas dos oitavos-de-final da competição, mas os portistas conheciam aquela equipa melhor que ninguém e sabiam bem do seu potencial. Depois daquilo, a final era o objectivo. Talvez por isso, e ao contrário do habitual, concentram-se nos Aliados não para festejar um troféu, mas sim uma mera vitória numa eliminatória. No entanto, no ar sentia-se outra coisa, o perfume era outro, os ventos eram de vitória. Quem não sente não entende. Quem não viveu, esperemos que viva para vivê-lo.
O avião que chega de Manchester é recebido por milhares de adeptos no Sá Carneiro. Os jogadores mostram-se felizes, embora não eufóricos. Sabiam que havia um longo caminho a percorrer, mas que o mais difícil estava feito. Os ventos sopravam a seu favor. Eram os ventos da história, blowing in the wind...
Olhando para trás, com a frieza que só o tempo permite, parece inegável que foi ali que o FC Porto ganhou a segunda Liga dos Campeões da sua história. Uma Equipa mítica, um Treinador mítico, um Presidente mítico. Depois deste golo de Costinha, um novo vocábulo entrava no dicionário dos portistas e todos os caminhos iam dar a Gelsenkirschen.
FONTES UTILIZADAS, A QUEM AGRADECEMOS:
Rodrigo de Almada Martins
Época: 2003/2004.Poucos golos na história recente do FC Porto serão tão decisivos e emblemáticos como este de Costinha, a 9 de Março de 2004. Na 1ª mão desses oitavos-de-final da Champions League, Benedict McCarthy havia semeado a esperança no coração dos portistas, ao protagonizar uma das mais belas reviravoltas europeias do Dragão, fazendo Sir Alex Ferguson corar de vergonha, ele que após o sorteio tinha referido que o FC Porto comprava os títulos no supermercado. Mas os red devils no seu reduto seriam uma prova dura de superar. Bastaria para isso lembrar o histórico de deslocações portistas àquela cidade britânica: 5x2 em 1977 (com 2 golos de Séninho) e 4x0 vinte anos depois, quando Oliveira decidiu inventar o centro-campista Costa a titular.
Local: Old Trafford, Manchester, Inglaterra.
Data: 09.03.2004.
Resultado: Manchester United 1 x 1 FC Porto.
Aparecem na fotografia: Costinha, Nuno Valente, Wes Brown, Phil Neville.
Em 2004, Jorge Costa e Vítor Baía, os dois grandes capitães, encabeçam a entrada do FC Porto no relvado inglês. Nunca, até aí, uma equipa portuguesa havia deixado as terras de Sua Majestade com um resultado que não a derrota.
Os primeiros minutos não desmentem a tradição e são de sufoco para o FC Porto, com Paul Scholes a abrir o activo. Pouco depois o mesmo Scholes bisa na partida, mas o golo é (mal) anulado. Van Nistelrooy, o melhor ponta-de-lança do mundo da altura, é uma autêntica seta apontada à baliza de Baía. Giggs, também ele, dá água pela barba à defensiva portista. Na segunda parte, o FC Porto finalmente cresce no jogo e começa a mostrar o porquê de ser o vencedor em título da Taça UEFA. A pressão aumenta e, nos minutos finais, os azuis-e-brancos cercam por completo a baliza do Manchester United, silenciando Old Trafford. O Ministro, como era chamado, decide então a eliminatória mesmo em cima dos 90 minutos, ficando para a posteridade como O Herói de Old Trafford. Enquadremos, pois, o momento da fotografia.
O cronómetro marca 89 minutos. Jankauskas, o gigante lituano, ganha uma falta a meia distância da baliza de Tim Howard. Era a última esperança da nação azul e branca. Não há com certeza um único portista de gema que não se lembre daqueles momentos: uns, como eu, ter-se-ão ajoelhado no tapete da sala, defronte do pequeno ecrã; outros terão acendido uma velinha; alguns terão voltado costas à televisão; uns poucos terão fechado os olhos. Sabíamos que para se ganhar uma Champions não bastava ter talento e bom futebol, era preciso também um pouco de sorte. Se não fosse naquele ano nunca mais seria, tinha de ser ali. Anos e anos de azares na Europa, de erros forçados, de oportunidades perdidas, de arbitragens mais que duvidosas (Hugh Dallas em Munique, quatro anos antes, ainda era uma espinha encravada na garganta)… a vingança teria que ser ali. Aquele era o momento!
Pressentia-se algo no ar. A força da história, a mística, algo surgia ali, invisível mas palpável. A televisão foca então dois miúdos tipicamente ingleses, ruivos, de sardas. Um deles junta as mãos e como que reza, para evitar o pior. Logo depois surge outro adepto britânico na imagem, dos seus cinquentas, a tapar metade da cara como uma criança, como que a não querer ver o que está prestes a suceder. No fundo, era o destino que ali se desenhava, impossível de contrariar. Junto à bola estão três homens: McCarthy, Ricardo Fernandes e Deco. O luso-brasileiro é o primeiro a afastar-se. Sobram dois, mas parece claro que será o sul-africano a bater. Benni McCarthy respira fundo e parte para a bola, o remate sai forte e tenso e o esférico parece ganhar velocidade e efeito à medida que se dirige para a baliza. Tim Howard não esperava um missíl com aquela trajectória e é com dificuldade que rechaça a bola para frente, antes de embater com violência no ferro da baliza.
E então é aí que se faz história, já em cima do minuto 90. Como tantas vezes com Mourinho, Costinha surge ao segundo poste para a recarga, como se estivesse à espera toda a sua vida que a bola ali fosse cair. O remate é feito meio no chão, a bola sai meio enrolada, mas entra a meia altura, perto do poste contrário, pese embora a agilidade de Howard.
Costinha voa então para a bandeirola de canto, de braços abertos, ciente que está de este ser o golo da sua vida. Vai com as golas da camisa levantadas como é seu timbre, fazendo lembrar outro herói daquele recinto – Cantona. Para cima dele correm todos os outros jogadores. José Mourinho, também ele, protagoniza então um dos mais míticos festejos de que há memória num treinador, saltando da tradicional área dos managers para mergulhar no mar de jogadores amontoados naquele canto do relvado. Nunca como aí o nome que Bobby Charlton inventou para Old Trafford fez tanto sentido: Teatro dos Sonhos. Um sonho, isso mesmo se tratava.
É um momento que marca tudo. Uma época, uma caminhada, uma carreira, um clube.
Tratavam-se apenas dos oitavos-de-final da competição, mas os portistas conheciam aquela equipa melhor que ninguém e sabiam bem do seu potencial. Depois daquilo, a final era o objectivo. Talvez por isso, e ao contrário do habitual, concentram-se nos Aliados não para festejar um troféu, mas sim uma mera vitória numa eliminatória. No entanto, no ar sentia-se outra coisa, o perfume era outro, os ventos eram de vitória. Quem não sente não entende. Quem não viveu, esperemos que viva para vivê-lo.
O avião que chega de Manchester é recebido por milhares de adeptos no Sá Carneiro. Os jogadores mostram-se felizes, embora não eufóricos. Sabiam que havia um longo caminho a percorrer, mas que o mais difícil estava feito. Os ventos sopravam a seu favor. Eram os ventos da história, blowing in the wind...
Olhando para trás, com a frieza que só o tempo permite, parece inegável que foi ali que o FC Porto ganhou a segunda Liga dos Campeões da sua história. Uma Equipa mítica, um Treinador mítico, um Presidente mítico. Depois deste golo de Costinha, um novo vocábulo entrava no dicionário dos portistas e todos os caminhos iam dar a Gelsenkirschen.
FONTES UTILIZADAS, A QUEM AGRADECEMOS:
- BBC News
- MaisFutebol
- UEFA
- Filhos do Dragão
- Malha Azul e Branca
- Basculação
A própria imagem acima descreve a libertação das asas do Dragão (braços do Costinha) num voo para as conquistas que depois vieram a ser ganhas.
ResponderEliminarExcelente texto a pormenorizar todo aquele lance.
Abraços.