18 agosto, 2018

FOTO MÍSTICA #12 - QUINZINHO [1995 ou 1996].


O FOTO-MÍSTICA é um espaço de registo e divulgação da história do FUTEBOL CLUBE DO PORTO. O objectivo é recordar os seus momentos, os seus valores, os seus princípios, a sua cultura, a sua marca, a sua dimensão, as suas gentes. Numa palavra: a sua MÍSTICA. Todos são convidados a participar nesta viagem. Se pretenderem ver divulgada uma fotografia em especial, podem enviar e-mail para rodalma@hotmail.com .


Época: 1995/1996
Local: impossível de confirmar
Data: 1995 ou 1996
Resultado: impossível de confirmar
Aparecem na fotografia: Quinzinho

Às vezes é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma, dizia um personagem d’O Leopardo, filme maior do mestre do cinema italiano Luchino Visconti.

Aos 88 minutos da primeira jornada do campeonato 2017/2018, diante do Chaves, lembrei-me disso mesmo quando Marius Mouandilmadji, avançado nascido no Chade, se estreou a marcar de azul-e-branco, dirigindo-se imediatamente à bandeirola de canto para celebrar o golo. O resultado sentenciava a partida nuns conclusivos 5x0 e os portistas sorriam. Desde logo porque é sempre bom começar a ganhar, mas também porque os avançados africanos têm um je ne sais quoi: eles trazem magia, imprevisibilidade, alegria, magia negra ao jogo. Ver Marius a correr para a bandeirola de canto e inventar um passo de dança traz à memória outros avançados africanos. A nível internacional podemos recordar Roger Milla no Mundial 90; a nível interno um nome ecoa no coração dos portistas: Quinzinho.

Quinzinho (de seu nome Joaquim Alberto da Silva) foi um avançado que se notabilizou ao serviço do FC Porto na década de 90, não tanto pelos golos marcados – que foram poucos (apenas 8 distribuídos por duas temporadas de azul e branco) – mas pela alegria que transmitia às bancadas. Era o chamado rebuçado dos adeptos.

Sir Bobby Robson mandava Quizinho aquecer atrás do banco de suplentes das Antas e como que as bancadas se agitavam. Rapidamente a turba se esquecia do jogo e pedia a Robson, alto e bom som, que fizesse entrar o angolano Quinzinho. A relação entre os dois era digna de figurar nos compêndios: de um lado estava um apaixonado pelo jogo, um homem que respirava futebol de ataque e que adorava o futebol sem “rodriguinhos”, ao primeiro toque. Tudo em Robson inspirava vertigem, tabelas, triangulações, futebol simples, rápido e com a baliza na mira. Um futebol de alta-voltagem, electrizante.

Só que Quinzinho era o ponta-de-lança africano celebrizado por Jorge Bem, o tal Umbabarauma. O seu mundo era outro. Quizinho adorava fintar, torcer os rins aos adversários, jingar no relvado, correr campo fora sem grandes preocupações tácticas ou defensivas. E, quando facturava, apressava-se a mostrar os seus dotes de dançarino de kuduro/kizomba. Sir Robson, no banco, exasperava-se com tais façanhas. Era um Sir, odiava esse tipo de festejos, não gostava de os ver, desesperava-se, tapava a cara, virava-se para a bancada e de costas para o jogo, protestava com Quinzinho. Era também, no fundo, uma encenação de Robson, que percebia como poucos o conceito cénico e artístico do jogo, o futebol como espectáculo de massas.

Óbvio que, perante um treinador britânico, um avançado africano teria sempre dificuldades em impôr-se. Quizinho nunca foi uma opção real para Robson, que o utilizava mais para responder aos caprichos da bancada do que para resolver reais problemas que o jogo trazia.

Quinzinho foi, sem dúvida, um personagem mítico dos anos 90 portistas. A sua áurea inspirava alegria, ânimo, imaginação. Os dragões sempre gostaram de jogadores objectivos e de toque simples, para a baliza. Mas Quizinho era a excepção que confirma a regra: a Quinzinho tudo era permitido, desde toques de calcanhar falhados, fintas em zona proibida, invenções que não lembravam ao diabo, toques habilidosos, a Quizinho tudo o adepto perdoava. Fossem Capucho ou Chainho a arriscar tais artes e seriam imediatamente vaiados e intimados a não repetir a proeza. Quizinho foi pois, de facto, um epifenóneno que ninguém é capaz de explicar. Já era assíduo das Antas na altura e, confesso, também eu pedia a plenos pulmões a entrada do Quinzinho. Aquela corrida desenfreada, aquela fome de bola, o sorriso rasgado quando estava quase a entrar, aquela magia sempre prestes a explodir, aquela imprevisibilidade e potência física, parecia que Quinzinho tinha sido ali colocado para apimentar o jogo e o espectáculo.

Numa reportagem da RTP dos anos 90, perguntaram a Quizinho como festejaria um golo marcado mesmo no final da partida. A resposta saiu natural: “Ao meu jeito de festejar... dançando!”

Rodrigo de Almada Martins

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