30 agosto, 2018

OS 5 PROBLEMAS QUE ESTÃO A AFECTAR O ARRANQUE DO FC PORTO.


1. Ausência de Marcano
Uns apontam as falhas de Maxi, outros lembram a displicência de Telles. Para mim, nem uma coisa nem outra. Maxi começou a época, aliás, a todo o gás, enquanto que Telles é somente um lateral de calibre selecção brasileira. O maior problema tem dois nomes: Ivan Marcano. Todos os grandes centrais do FC Porto – e eles foram ENORMES – afirmaram-se já depois dos 24 anos.
Estava nas Antas quando vi a estreia desastrosa de Ricardo Carvalho, com as nossas cores, oferencendo um golo de bandeja a um avançado adversário. Viria a ser o melhor defesa do mundo (o melhor de sempre na Premier League), mas naquele dia ainda não estava preparado. Jorge Costa andou por vários empréstimos antes de chegar ao FC Porto e, mesmo quando teve lugar no plantel, suportou ser uma segunda escolha, atrás de Aloísio, Couto e José Carlos. Pepe era fortemente assobiado nos inícios de Dragão e Bruno Alves, também ele, demorou bastante a afirmar-se de azul-e-branco. Dizendo isto, Diogo Leite tem todas as qualidades para ser um central à Porto, mas ainda tem que amadurecer.
Felipe é um grande central, mas vemos hoje que o líder da defesa era claramente Marcano, central rodado, experiente e que, sem necessitar de chamar a atenção, limpava a área com categoria e eficácia.

2. Falta Músculo a meio-campo
O Porto de Conceição é capaz de passar 80% dos jogos a atacar e a carregar nos adversários. No entanto, nenhuma equipa no mundo pode dispensar um verdadeiro carregador de piano. Isso ficou bastante claro desde aquela mítica saída de Makelelé do Real Madrid. O clube madrileno aprendeu isso e hoje em dia não dispensa Casemiro à frente da defesa. O Barcelona não admite vender Busquets. O City de Guardiola utiliza Fernandinho, o Bayern joga com Javi Martínez. O FC Porto, fruto da difícil lesão de Danilo, joga com dois médios box-to-box, mas que não apresentam, nenhum deles, as normais características de um trinco.
Mesmo a nível de cultura FC Porto, o chamado trinco que protege a zona defronte dos centrais assume já uma importância histórica. Vários nomes de eleição fizeram essa posição: Paulinho, Paredes, Costinha, Assunção, Fernando e agora Danilo.
Herrera e Sérgio Oliveira vinham dando conta do recado, mas, para um campeonato inteiro, a falta de um trinco na verdadeira acepção da palavra é dramática para qualquer equipa. A ausência do português tem até uma dupla consequência: além de não termos ninguém fadado para proteger a zona 6, temos Herrera mais preocupado em defender e incapaz de pressionar mais à frente. Assim, o regresso de Danilo poderá soltar Herrera para funções mais adiantadas, dando-lhe liberdade de pressionar e de iniciar a construção em terrenos mais próximos da baliza.

3. O Fantasma chamado Abou
No ano passado, Abou e Soares apareceram como a dupla de eleição do ataque de pré-época do FC Porto. Notava-se no camaronês uma enorme alegria em campo. Entretanto, Soares lesionou-se (tal como agora…) e Marega saltou para o 11. Nesse arranque demolidor, Abou fez quease a totalidade dos 30 tentos com que viria a acabar a época. Este Aboubakar é um jogador totalmente diferente: triste, acabrunhado, lento, de ombros caídos, sem chama, incapaz de surgir desmarcado para armar o remate. Nenhuma equipa grande resiste à ausência de um grande avançado.

4. As Lesões e a Menor Concorrência
Começar uma época sem Danilo não é fácil; ver um reforço como Mbemba chegar e lesionar-se no 1º treino muito menos; depois foi a vez de Soares, num filme já com demasiadas repetições; agora são as queixas musculares de Brahimi e Corona. Ou os jogadores estão a trabalhar pouco ou estão a trabalhar com cargas demasiado pesadas. A rever com atenção.
No ano passado, Iker teve em José Sá uma sombra. Ricardo Pereira nunca pôde descansar, pois Maxi é um profissional de corpo inteiro. Alex Telles tinha em Dalot uma alternativa mais do que viável. Felipe, Marcano e Reyes tinham todos estatuto de titulares. Danilo tinha Sérgio Oliveira a morder-lhe os calcanhares. Abou, Soares e Marega degladiavam-se por um lugar no 11. Hoje em dia, fruto de saídas importantes e de lesões, há jogadores em claro sub-rendimento e de alguma forma acomodados. Esperemos que João Pedro, Mbemba e Militão sejam opções credíveis e comecem a lutar por um lugar no 11, tal como Oliver já agora.

5. Incapacidade de controlar o jogo
Há uma diferença entre dominar um jogo e controlá-lo. Sérgio Conceição é especialista na primeira arte, mas ainda é um treinador tenro na segunda. Sou um dos maiores apreciadores do estilo de Conceição, pois veio trazer ao FC Porto aquilo que lhe faltava nos últimos 4 anos: capacidade de rasgar e dinamitar os autocarros adversários, fruto de uma maior capacidade de explosão no último terço do terreno, aliando a isso uma alma e um carácter à Porto.
Se no capítulo ofensivo, Sérgio Conceição só poderá ser comparado a Bobby Robson e a André Villas-Boas, tal é a velocidade e dinamismo que imprime no último terço do terreno, no capítulo de controlo do jogo já desde o ano passado que se notam lacunas evidentes. Este Porto só vê baliza e parece só saber divertir-se quando a ordem é atacar. Ora, uma das maiores qualidades da equipa de José Mourinho era essa mesma: ser mestre em baixar o ritmo, arrefecer os ânimos e dar o domínio do jogo ao adversário, mantendo ainda assim o controlo do mesmo. Com Mourinho a ganhar 2x0, os jogos entravam naquela toada morna, de faltas e faltinhas a meio-campo, com jogadores no chão a simular lesões, trocas de bola entre os centrais e o guarda-redes, e, de tanto sono que dava, os 90 minutos surgiam como um alívio para todos. Não era tão bonito como agora, mas era mais eficaz.

Rodrigo de Almada Martins

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