A minha homenagem a um grande capitão...

Não, não vou falar de Pedro Emanuel. Não que ele não merecesse esta crónica. Aquele olhar dele no Japão em 2004, antes do penalty decisivo, as lágrimas do meu irmão emocionado festejando a nossa vitória em penaltys, são coisas que uma pessoa guarda para a vida inteira. Mas, não. Deixo isso para um colega que aborde o futebol. Hoje é terça-feira. É dia das outras modalidades, de outros heróis.

Há outro capitão que encerrou a carreira de atleta. No andebol, Manuel Arezes, no FC Porto desde a época 93/94 (há 16 anos), colocou um ponto final na sua carreira de andebolista continuando, no entanto, em funções no clube, agora na área administrativa do departamento de andebol do FC Porto (como economista). Chegou ao FC Porto com 16 anos e na época 95/96 chegou à equipa sénior. Venceu no FC Porto 5 campeonatos (1999, 2002, 2003, 2004 e 2009), 2 taças de Portugal (2006 e 2007), 3 supertaças (2000, 2001 e 2003) e 3 taças da liga (2004, 2005 e 2008).

«Foi o momento mais intenso que vivi. O título em 1999, após 31 anos de jejum». São palavras de Manuel Arezes, que me confirmou pessoalmente que ao entrar no Américo de Sá, ele e os restantes atletas, ao verem aquela imensa multidão foi algo que marcou a equipa, que a segurou, que a motivou, que a empolgou. Eu estava lá no meio daquela multidão e também sofri e vibrei com toda aquela festa única e emocionante. Naquela equipa, na posição de pivot, lá estava Arezes que partilhava a função com Ricardo Tavares e Danilo Ferreira, muito mais experientes, na altura. Dez anos depois, Manuel Arezes despede-se dos pavilhões, enquanto atleta, encerrando a carreira com chave de ouro no ano de estreia do Dragão Caixa e onde a equipa de andebol capitaneada por Arezes se sagrou campeã Nacional, sendo a 1ª equipa do FC Porto a estrear o pavilhão novo e a sagrar-se campeã nesse novíssimo e encantador recinto. “Tenho pena de não jogar mais no novo pavilhão”. Disse Arezes, no dia da despedida.

Ao longo destes últimos 20/23 anos, tenho acompanhado intensamente todas as modalidades do FC Porto, mas há duas que sigo de forma mais apaixonada, o futebol e o andebol. Ao longo de todo este tempo, habituei-me a ver em Manuel Arezes um exímio defensor, um excelente atleta, bravo, poderoso, destemido, corajoso e extremamente leal. Era mais utilizado na defesa que no ataque, e era fundamentalmente aí que se notava a sua raça, em vários jogos se percebia a sua importância, fosse em acções defensivas, em recuperações de bola quase impossíveis e onde a sua garra era fundamental para garantir mais uma posse de bola, mais um ataque, mais um golo…

No Play-off de 2008, enquanto assistia ao FC Porto/São Bernardo (julgo que o Dragão Penafiel também lá estava) em Santo Tirso, jogo de má memória e em que se notou a falta de Arezes como voz de comando naquela defensiva, completamente à deriva, vislumbrei atrás da baliza, o capitão Arezes lesionado, a sofrer como um adepto anónimo como eu. Aproximei-me discretamente e perguntei-lhe quando estaria operacional para jogar. Foi aí que falei com ele pela 1ª vez. Percebeu o meu interesse na modalidade e trocamos algumas impressões sobre a equipa ficando a saber que eu escrevia neste espaço. Surpreendentemente, logo me confessou que seguia assiduamente o nosso blog e o fórum do portal dos Dragões onde sabia que também aí, o “lucho” mandava os seus “bitaites” sobre as outras modalidades do FC Porto. O outro contacto pessoal que tive com o Manuel Arezes foi à entrada do pavilhão de Fânzeres (num Porto/Benfica em hóquei) quando me encontrou e me apresentou ao Carlos Martingo, também ele extremamente simpático. São estas atitudes que deixam marcas no coração dos adeptos e, por isso, é com dor e até com uma certa estranheza que no início da nova temporada, não verei (fisicamente) o Arezes na frente da equipa quando esta entrar no recinto de jogo para ser ovacionada pelos adeptos.

A sua humildade, a sua disponibilidade, o seu amor ao clube ficou ainda mais claro para todos, se é que era preciso, quando acedeu (a meu pedido) em colaborar no convívio de membros do fórum do portal dos Dragões, apitando os vários desafios de futsal que fomos realizando ao longo da tarde de sábado, dia 11 de Julho do corrente ano. Esteve lá convivendo connosco de forma humilde, simpática e confessou-nos mesmo o quanto se divertiu nessa tarde, misturando-se num grupo de adeptos a que apelidou de “verdadeira alma do clube”.

Ao Manuel Arezes, quero-lhe dizer, e em jeito de conclusão, que lhe agradeço todo o seu esforço, toda a sua garra, tudo o que lutou, todas as gotas de suor que deixou cair na defesa do nosso clube. É de Homens como ele que o FC Porto precisa. Eu diria mais, se quiserem encontrar o perfil ideal para um atleta do FC Porto, é só copiarem o seu exemplo. No dia 12 de Setembro, à entrada da equipa no FC Porto-Sporting da 1ª jornada do campeonato de andebol, o teu espírito vai lá estar Manuel, vais ser tu na mesma que entrarás à frente de todos, naquele teu jeito humilde, mas decidido. Mesmo que estejas na bancada, nós vamos-te imaginar ainda assim a dar conselhos ao Tiago Rocha, a incentivar o Ricardo Moreira e a dar moral ao Laurentino. Dedico-te esta crónica e as lágrimas sentidas que teimosamente me escorreram pelo rosto nesses dois jogos que mais te marcaram, o de 1999 e agora este último de 2009 já no Dragãozinho. Obrigado por tudo, capitão! “Ó Captain! My Captain!", frase célebre de um filme que me marcou...

Uma última nota para dizer que estou muito confiante para a próxima temporada, onde já se sabe, o andebol do FC Porto terá como treinador, o Sérvio Obradovic, campeão pelo Belenenses em 1994 e ex-seleccionador sub21 da Sérvia, Selecção que conduziu ao título Europeu em 2000. Como adjunto do nosso bem conhecido Pokrajac, foi medalha de bronze no Mundial de França em 2001 (pela Selecção A da Sérvia). É um técnico com algum conhecimento do andebol Nacional (onde esteve no activo pela última vez em 2006) e com grau "mestre" em andebol, pela Universidade de Belgrado. Tem 55 anos, assinou por 2 anos e foi apresentado no último sábado por Pinto da Costa, Vítor Santos e José Magalhães.

Substitui no cargo, o melhor andebolista Português de todos os tempos (Carlos Resende) e promete "fazer um bom campeonato e ganhar todas as provas internas", ao mesmo tempo em que procurará o melhor possível nas competições Europeias. É verdade que Carlos Resende é uma referência do clube, nesta última época demonstrou estar mais seguro de si, levou o FC Porto ao triunfo no campeonato, mas a aposta do Clube (inclusivamente a nível Europeu) bem visível para esta nova temporada (Dario Andrade, Nuno Grilo, Filipe Martins, Pedro Spínola...) exigia um técnico com mais experiência e com "outro distanciamento" relativamente aos jogadores. Ainda na última final da taça de Portugal, se viu que o FC Porto não soube assumir o seu papel de favorito e de Campeão. Os adeptos receberam a equipa ao som de "campeões, nós somos campeões" e quando se esperava que fosse o ABC a vacilar, aconteceu o contrário. A equipa por vezes "desligava o interruptor" (aconteceu, menos vezes está época, é verdade) e perdia vantagens consideráveis (lembro-me do jogo com o Madeira na meia final da taça e com o Sporting fora na fase regular) e nessas alturas, era preciso "aquela voz" que os fizesse despertar e isso não sucedia sempre. Estou certo que Resende regressará pela porta grande, como merece, aliás a mesma porta, por onde agora saiu, como Campeão.

Estou também convencido que o Sr. Obradovic vai saber levar esta equipa ao sucesso que todos esperamos, num ano em que o Sporting apostou na modalidade, como há muito não se via...

Como adjunto de Obradovic, teremos o nosso ex-jogador Luís Graça (dos tempos daquela equipa treinada pelo Prof. António Cunha), ex-director executivo da LPA e adjunto de José Magalhães em 99, quando se conseguiu o título 31 anos depois. Por confirmar ainda, está a renovação com Eduardo Filipe, absolutamente fundamental, para que o plantel tenha as mais valias que a competição exigirá... de saída do FC Porto, estão já confirmados os nomes de Carlos Martingo e Ricardo Candeias, dois valiosos jogadores que procurarão agora sucesso noutros clubes. Deram sempre o máximo pelo clube, o seu empenho pela causa colectiva foi sempre total e por isso lhes desejo toda a sorte do Mundo, menos quando jogarem contra o FC Porto, como é evidente.

Saudações Portistas,

Lucho.