13 novembro, 2010

Capítulo 3: 1921 a 1930 – Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte II)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 3: 1921 a 1930 – Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte II)

Época 1921-1922

Ago.1921 – A campanha pelo Campeonato
Na cidade do Porto abriu-se a campanha a favor da disputa do Campeonato de Portugal de Futebol. Em Agosto de 1921, Ernesto de Oliveira, que fora dirigente do FC Porto e director da AFP e que tentara lançar o Campeonato de Portugal... com organização e tino, escreveu num jornal portuense, em jeito de manifesto e denúncia:

    “ (…) O Campeonato de Futebol de Portugal é uma coisa que está por iniciar, se bem que num livrete a que chamam ‘Estatutos da União Portuguesa de Futebol’, ali esteja consignada a sua realização anual. Não sei que espécie de trabalho produzem as Associações regionais para que, de braços cruzados, deixem passar anos sobre anos, numa apatia mórbida, sem cuidarem de dar forma e vulto a essa coisa da União, que só existe no papel. (…)”
Era o ataque cerrado de Ernesto de Oliveira à União Portuguesa de Futebol. Assim, do Porto partiu, em dura campanha, a ofensiva que criaria a Federação Portuguesa de Futebol. O Campeonato de Portugal era já um rastilho de sonhos e desejos que galgava... [In "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 - Adaptação]

A Selecção Nacional e a monstruosa afronta de Lisboa…
Assim nasceu, nada bem, como se pode concluir, a “equipa de todos nós”. A 18 de Dezembro de 1921, Portugal ia disputar o seu primeiro desafio internacional. Pensando bem, a formação da Selecção Portuguesa até nem fazia sentido, visto que nem existia uma competição de âmbito nacional e apenas os Regionais e jogos particulares exibiam os jogadores. A Espanha, já com apreciável experiência internacional, seria o adversário, em Madrid.
A escolha dos que integrariam a equipa estava a cargo da Comissão Técnica da Associação de Futebol de Lisboa. Logo de início foi notório o desentendimento no seio daquela comissão. E a polémica estalou à volta do afastamento de dois excelentes jogadores do Belenenses: Alberto Rio e Francisco Pereira. O irmão deste último, Artur José Pereira, também belenense e considerado o melhor futebolista português, solidarizou-se com os companheiros e negou o seu concurso à selecção.
Por outro lado, a Norte, a Associação de Futebol do Porto foi surpreendida (ou talvez nem por isso…) pela não chamada de dois atletas do FC Porto que eram apontados pela imprensa como indiscutíveis: António Lino Moreira, guarda-redes, e José Tavares Bastos um avançado de grande categoria. Apenas o portista Artur Augusto (por sinal… lisboeta) havia sido convocado.
O afrontamento provocou no Norte um clima de contestação sem precedentes e a emotividade atingiu níveis impensáveis. A revista “Sport”, na edição de 17 de Dezembro de 1921, véspera do jogo de Madrid, zurzia nos poderes de Lisboa publicando o seguinte artigo, sob o título “Uma selecção que nada representa”:

    “É para lamentar e até encher-se de pesar a alma de todos aqueles que amam o desporto e a sua terra, torrão abençoado digno de melhor sorte, levado pela ambição, pela vaidade de meia dúzia de criaturas onde morreu o sentimento da mais elementar dignidade, a fazer-se representar em terras estranhas, fora do solo que amamos, por uns elementos cujos nomes foram escolhidos por simpatia, demonstrando à evidência um desconhecimento profundo de patriotismo, ligado ao maior desprezo pela causa pela qual tanto trabalhamos. É triste pensá-lo, sequer, mas é verdade. Vivemos todos nós, desportistas, debaixo da vontade férrea de quem há muito devia reconhecer a sua incapacidade, tantos os erros cometidos, tantas as injustiças praticadas, injustiças que não só ferem o desporto como até a própria nacionalidade. São a dignidade, a honra e a sinceridade dos desportistas portugueses, que exigem uma satisfação clara dos factos que se passaram com a nossa representação. É em nome daqueles que trabalham em prol de uma causa, que pretendemos saber o que levou a Associação de Futebol de Lisboa a deixar entre nós, se não todos, dos melhores jogadores que possuímos e levar em sua substituição elementos escolhidos ao acaso sem que a sua competência, a sua forma científica, fossem postas à prova no decorrer da época...”
Artur Augusto, defesa e interior à esquerda ou à direita, converteu-se no primeiro futebolista internacional do FC Porto ao alinhar pela Selecção Nacional, em 18-12-1921, em Madrid, no I Espanha-Portugal (3-1). Actuando a interior direito, foi um dos melhores jogadores em campo.
• Chegou ao FC Porto vindo do Benfica (onde jogava ao lado do irmão, Alberto Augusto) e estreou-se com a camisola azul-e-branca num jogo contra o Casa Pia, a 25 de Julho de 1921.
• De grande disponibilidade, rápido e decidido era um atleta com uma enorme capacidade técnica e invulgar adaptação a qualquer lugar na equipa. Talvez tenha sido o primeiro jogador polivalente do futebol português. Os analistas da época consideraram-no um dos melhores interiores esquerdos da Europa.
• Foi um dos esteios da equipa no 1.º Campeonato de Portugal (1921-22) ganho pelo FC Porto. Na finalíssima contra o Sporting, em 18 Jun.1922, jogou a defesa esquerdo e protagonizou uma exibição portentosa.
• Na época seguinte ainda jogava no clube da camisola que com tanto garbo defendeu mas, após uma passagem breve pelo Carcavelinhos, doença incurável tirou-lhe prematuramente a vida.

A primeira Selecção Nacional que, em 18-12-1921, realizou, em Madrid, o encontro inaugural da sua história.

Da esquerda para a direita: Jorge Vieira (Sporting), José Maria Gralha (Casa Pia), Augusto Lopes (Casa Pia), António Pinho (Casa Pia), Ribeiro dos Reis (Benfica), Raul Nunes (dirigente), Cândido de Oliveira, cap. (Casa Pia), Artur Augusto (FC Porto), Vítor Gonçalves (Benfica), João Francisco Maia (Sporting), Carlos Guimarães (CIF) e Alberto Augusto (Benfica). Os espanhóis venceram por 3-1.

O passaporte colectivo da Selecção Nacional de futebol, que pela primeira vez participou num jogo internacional. (©FPF)

ndido de Oliveira – O capitão da equipa de Portugal com Manuel Arrate (capitão espanhol), no baptismo internacional da selecção com a Espanha, em Madrid.
Em 1922, Cândido de Oliveira, jogador do Casa Pia, integrou a equipa do FC Porto numa digressão ao país vizinho. Na década de 50, seria treinador do clube.

1922 – Eurico de Brites, Presidente do FC Porto entre 1922 e 1923 e sucessor de António Cardoso Pinto de Faria, testemunhou a primeira conquista do Campeonato de Portugal de Futebol, na época 1921/22, o primeiro título nacional atribuído. Durante o seu mandato mais dois eventos de grande relevância: a criação do emblema definitivo e a criação do hino do Clube.

  • no próximo post: Capítulo 3 (Continuação) – A criação de Associações Regionais e o 1.º Campeonato de Portugal; primeiro título nacional atribuído no futebol português, primeiro Campeão de Portugal, FC PORTO!; biografias de Tavares Bastos e Lino Moreira.

9 comentários:

  1. Mais um bom bocado da História do nosso F. C. Porto, mais... eu até já nem sei o que dizer,embora apeteça sempre dizer mais... até vir o dia em que possa ter este grande trabalho na minha estante / biblioteca, entre o material que guardo religiosamente - conforme ja tive oportunidade de partilhar através do meu blog e agora voltei a colocar no meu mais recente post.
    Continue amigo Fernando Moreira, e honremos sempre o F. C. Porto, que o Porto nos contempla.
    Abraço
    http://longara.blogspot.com/

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  2. Caro Fernando Moreira, mais uma vez muito obrigado.

    Tenho este apontamento que retirei, penso que do jornal ABola, referindo o golo ter sido apontado pelo "nosso" Artur Augusto. Será lapso do jornal?

    "E, no dia seguinte, a notícia do desfecho, ponteada de ironia e voltando a falar na vitória sobre... Lisboa: «A ansiedade dos desportistas portuenses em conhecer o resultado do desafio de Madrid foi satisfeita pelas 6 horas da tarde quando os nossos placards noticiaram que a Espanha tinha vencido o onze de Lisboa por 3-1. O resultado bastante honroso que o telégrafo nos anunciava era de molde a entusiasmar pessimistas e optimistas...». Anunciava-se que o «onze de Lisboa» jogara com Carlos Guimarães (CIF); António Pinho (Casa Pia) e Jorge Vieira (Sporting), João Francisco (Sporting), Vítor Gonçalves (Benfica) e Cândido de Oliveira (Casa Pia), António Augusto Lopes (Casa Pia), José Maria Gralha (Casa Pia), Ribeiro dos Reis (Benfica), Artur Augusto (F. C. Porto) e Alberto Augusto (Benfica) — e pouco ou nenhum destaque se dava ao facto de o golo de Portugal (ou de Lisboa!...) — e que, naturalmente, seria o primeiro das Selecções Nacionais — ter sido apontado por Artur Augusto, que, exultando, considerou que o momento mais sublime da sua vida fora aquele, ao ver a bola no fundo das redes, «batendo o mítico Zamora»."

    Um abraço

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  3. Caríssimo Rogério Almeida:
    Obrigado pelas suas palavras. A sua asserção tem pertinência, pois tive que fazer pesquisa aturada para resolver o “imbróglio”. Com efeito, também tenho nos meus arquivos o texto que reproduz e que dá o Artur Augusto como marcador do golo da Selecção Nacional. Contudo é a única fonte que assim reza, embora um ou outro blogue de cariz azul-e-branco tenha adoptado essa notícia.
    Todas as outras fontes (incluindo publicações em livro) dão o Alberto Augusto como o primeiro marcador de um golo pela Selecção. O sítio oficial da FPF faz o mesmo.
    A confusão terá surgido por causa do apelido dos dois jogadores (eram irmãos, como se refere no post).
    Obrigado pela sua participação que, espero, não se esgote aqui. Muito obrigado.
    Um abração.
    F. Moreira

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  4. Mais um pedaço… Irra, Lisboa sempre a fazer trapalhada e a gozar com o Norte. Está visto que a perseguição vem de longe. Pois, depois temos de lhes ensinar (aos senhores da capital do Império) como é… em campo. Nada melhor que 5 “bofetadas” para aprenderem a respeitar-nos. Mas não aprendem…

    Ah, aproxima-se o primeiro título nacional; quem o conquistou, quem foi? Foi… Claro, vão ver no próximo post.

    Obrigado, Papá, ensina-nos mais. E Bibó Porto

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  5. Fernando mais umas belas páginas de um livro que ficará para memória futura.

    Aproveito para lhe dizer que o Alfredo Barbosa continua vivinho da silva.

    Um abraço

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  6. Amigo Vila Pouca:
    Folgo muito em saber que o Alfredo Barbosa (ilustre jornalista, cronista e portista) está entre nós. Devo ter feito confusão aquando de notícia lida.
    Obrigado pela sua informação.
    Um abraço.

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  7. fico muito, mas muito satisfeito mesmo, que este «cantinho» do blog, tenha já uma assistência muito assídua e até participativa nas discussão das dúvidas d'outros tempos.

    e sim, é verdade, este «trabalho», aliás, esta «obra prima», merece capa dura e arquivo em prateleira... d'oiro!!!

    aMIGO Fernando, excelente trabalhO!!!

    venham mais como estes até aqui!

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  8. É sempre um prazer ler este poste, algo que faço quando estou com tempo, para ler e voltar a ler com toda a calma...

    Obrigado Fernando Moreira!;)


    BIBÓ PORTO

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  9. Fantástico trabalho a evidenciar a nossa nobre história que começou cedo a ser gloriosa pois o 1º campeão nacional nessa finalissima com o scp em 1922 foi mesmo o nosso fcp!!!

    abraço

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